O INÍCIO

Conto de Wsin como (Seguir)

Parte da série Estrada instável - O INÍCIO

Felipe e Renato

“O que esse cara quer de mim? Não suporto mais ficar somente observando-o sem fazer nada. Tenho, devo, necessito tomar alguma atitude agora!”

--##--##--dream—happiness—beggining—--##--#--

Olá, meu nome é Felipe. Tenho 18 anos, cabelos cacheados castanhos e curtos, 1,74, corpo atlético, moreno. Faço academia nas horas vagas, estudo e curto tentar entender como o mundo funciona. Sou gay, porém minha família não sabe ainda. Isso me empata porque sinto que sempre tem uma trave no meu crescimento. Relatarei como tem sido na prática e como a introdução do Renato fez um bom efeito para mim.

05:23 da manhã do dia x de março de 2016

Riptide de Vance Joy tocava na tentativa de me acordar, sem sucesso.

Após mais três vezes seguidas, decidi levantar.

—Bom dia, dia!— eu disse.

Estava sonolento, quase voltando a dormir, até que fixei por um segundo meu olhar pro teto do quarto, enquanto a música do despertador terminava. (É engraçado que em todo o meu dia, eu sempre medito de manhã, penso em tudo que ocorreu no dia anterior e fico ponderando se hoje vou fazer diferente).

Era hoje, o primeiro dia da faculdade, o famigerado primeiro dia.

Levantei e fui tomar banho, fiz minha refeição, escovei os dentes e vazei pro ponto com minha mochila de couro que eu tanto tinha chorado pra minha mãe. Lá me deparei com um grupinho que parecia estar se divertindo à custa de uns menos privilegiados. Avistei que nesse grupo tinha mais meninas do que meninos, só gente bem vestida, com cabelos bem arrumados e etc (white people). Por um instante me indaguei se me sentiria bem no meio de tantas pessoas como essas, mas me esforcei para julgá-los apenas após conhecê-los.

O ônibus já chegava. Quando subi, só tinha um lugar ao lado de uma menina (por sinal, bem parecida com uma do grupo que eu tinha visto, já fiquei com o pé atrás).

—bom dia! licença!

—oi, bom dia!—dizia ela com um sorriso fofo no rosto.

—pode me dizer, por favor, que horas são?

Peguei meu celular e disse: “são 15 pras 7h”.

—kkkkkkkk. você parece minha mãe dizendo as horas.

Rimos juntos dessa bobeira.

—a propósito, meu nome é Mary, muito prazer!!

—o prazer é completamente meu! Pode me chamar de Felipe.

—então, Felipe, é calouro? Nunca tinha te visto por aqui, acho.

—sou, sim! Você também é?

—GRAZADEOS, não! Tô no 3º ano de Direito e já quero que acabe!!!!

—ufa! também tô nessa. Haha. Mal cheguei e já quero estar no hospital!

—faz Medicina?

—aham.

—arrasou!! Já sei com quem vou pegar meus atestados futuros.

Demos uma boa gargalhada pensando sobre como um poderia ajudar o outro e isso durou toda a viagem hahaha.

Conversamos sobre o que poderia ocorrer hoje também e como era a universidade, inclusive, soube que ela também era do Vale. Acabou me prometendo que iria fazer uma tour comigo, dei meu número e tudo. Quando descemos do ônibus, nos despedimos e seguimos para campi diferentes. Saí do ônibus feliz por saber que ela não era como os do grupo, pelo menos não até então...

Cheguei na classe um pouco atrasado e tive que me apresentar em pé. Teve duas aulas introdutórias. Quando bateu o sinal do intervalo, fui comer algo. Na cantina, pesquisei por uma mesa livre. Só tinha uma quase-livre e nela tinha um garoto que, aliás, me chamou muito a atenção. Me aproximei e perguntei se podia me sentar junto a ele.

—pode, pô.

—valeu.

Comi meu 'pão de queso', fitando-o enquanto ele ficava mexendo no celular. Aquilo estava tão entediante que eu automaticamente comecei um diálogo comigo mesmo. "Que chato esse cara, por que eu não engulo logo esse pão e volto logo pra sala? Mania de mastigar, quem inventou esse negócio???"

—pensando na morte da bezerra?—dizia ele subitamente.

—e[..] (quase cuspo o pão de susto. Depois de um ano esse viado vem falar?)

—não—ri de nervoso—só viajando, mesmo.

—ah, sim!—disse soltando um riso quente.

—percebi que é novo por aqui.. Se tiver alguma dúvida sobre qualquer coisa, é só me contatar. Meu nome é Renato, sou meio que responsável pelos novatos desse campus.

—ah! Ótimo! Pode deixar, Nato.

Lembro que fiquei pensando: MDS, devo estar fazendo algo muito errado porque é o segundo que me diz ser novato."

—Renato—imediatamente corrigi—desculpe.

—pode deixar Nato mesmo.

—como tá indo o primeiro dia?

—tá bem lindo.

SOS, depois que eu falei que notei, como assim???????

Corei com o que eu disse e praticamente fiquei sem ter o que dizer, só esperava que ele não tivesse uma reação ruim. Que mancada!

Ele acabou dando um sorriso de canto que me deixou caidinho. Depois desse sorriso ele foi ver outra mensagem no celular. Aproveitei pra analisá-lo. Era lindo; cabelo militar castanho claro, alguns sinais no pescoço que o deixavam uma graça, além de ter um corpo desenhado. Subitamente ele olhou no relógio e deu um pulo.

—ah, tenho que ir, cara. Foi um prazer, qualquer coisa me chama, sou da sala TRMMMMMMMMMM.

Meu telefone tocou bem na hora, era minha mãe. Fiquei uma merda que mal pude prestar atenção no que ele disse. Enfim, voltei pra sala para assistir as últimas aulas. Fiquei me perguntado se valeria a pena procurar por ele, seu rosto vinha sempre em minha mente. Decidido, fui procurá-lo no final das aulas, sem êxito. Me dirigi para o portão e encontrei a Mary. Quando a encontrei, contei tudo que havia acontecido e ela se empenhou para me convencer de que o Renato era meu novo crush. Cara, nada a ver! Mas discordando, não me parecia ruim.

Cheguei em casa à noite e, como sempre, todos (tia, irmão mais novo e até meu cachorro) me perguntaram como foi o primeiro dia e blábláblá.

Depois de tomar um banho e comer alguma coisa perdida na geladeira, entrei no meu quarto e liguei o notebook pra pesquisar sobre anatomia I. Esqueci que estava muito desorientado pra estudar, resolvi entrar no Face pra ver o que estava rolando.

—Lipe, migo. Meus amigos já estão falando de você. Um já até pediu seu número, acredita?—dizia Mary no chat do FB.

—opa, tô bem assim na fita é? Shiuhadiudhsai.

—sempre, né?! Aqui a gente trabalha com agilidade, meu querido. Formadíssima em criação de casais pela USP, sim.

[GARGALHADA MÚTUA]

—e quem é esse aí que pediu meu número?

—ele estuda comigo, é formado em sedução e dá aulas ao vivo de como beijar.

—X-X. Você quis dizer o Leandro?

—ué. Você conhece

—conheço. Vi ele praticando os beijos no campus IV. Acabei perguntando quem é por curiosidade, e, bah, não vale a pena—disse meio desanimado.

—adiantado o sr. Vamos focar então no menino misterioso chamado Renato.

—sabe, tem uma festa de inclusão dos calouros no sábado. Se quiser, podemos ir juntos e procurá-lo.

—opa, claro. Vai ser bom inclusive pra me enturmar mais. E também com as coisas rotina daqui de casa, tô necessitando de um descanso.

—combinado, então. Vou aqui arrumar umas xérox pra levar para a facul amanhã. Qualquer coisa, te chamo.

—beijão, gata!

Depois disso resolvi deitar um pouco pra pensar sobre tudo que está acontecendo. Está tudo tão rápido... e eu achando que não ia me adapt[...] Minha mãe abriu a porta. Mania de não bater!

—filho, como foi a faculdade?

—oi, mãe, chegou agora? Foi muito interessante, até. Mesmo apesar dos professores terem tentado assustar a gente, foi de boa.. (chorando por dentro de nervorsor, “de boa” foi meu juízo sendo destruído tentando entender tanta palavra difícil).

Eu amo conversar com minha mãe; já tivemos muitas brigas, mas hoje temos uma ligação que me deixa super aberto pra ela, uma pena não tão aberto para contar o que sou de verdade.

—que bom, bb. Cheguei agora mesmo. Trouxe um bolinho pra ti, tá lá em cima da mesa. Vem comer, vem—dizia ela com uma carinha de ânimo.

—mãe, eu te amo, SÉRIO (kakkakk, amo essa mulher).

Enquanto eu comia, ela me olhava e acariciava meus cabelos, dizendo: “quem diria que meu filho iria cursar uma faculdade que eu não pude, e eu estaria aqui acompanhando isso e vendo como ele cresceu?”

Me segurei pra não chorar escutando isso, minha mãe é uma mulher batalhadora; sempre lutou por o que é dela, no caso, eu, haha, entre outras coisas, eu não consigo descrever ela aqui, é impossível.

—que isso, mãe. Fico até sem ter o que falar—eu disse, sem graça.

Ela me olhou com um sorriso de orgulho, me deu um beijo e disse: "come tudinho que eu quero meu médico forte." Em seguida levantou e foi colocar Nicolas, meu irmão mais novo, pra dormir.

Depois de comer, fui escovar os dentes, dei boa noite pra mom e pro maninho, depois fui deitar ouvindo Aonde Quer Que Eu Vá, Paralamas do Sucesso, ansioso pelo sábado.

-----------“-----------

SÁBADO

“EU PENSEI QUE VOCÊ FOSSE DIFERENTE DE TODOS AQUI, não acredito que fez isso comigo!”—eu disse gritando e, quando não pude mais controlar as emoções, desabei.

Comentários

Há 0 comentários.