capítulo 02 - Nunca confie em ninguém

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série Seis níveis de tolerância

Pessoal, o capítulo de hoje não foi revisado por completo. Perdão pelo atraso.

Anônimo: Muito obrigado. Desculpe o leve atraso. Continue lendo e comentando.

Edward: Obrigado. No começo estava pensando em algo assim mesmo. Mas estou remodelando a estrutura dos capítulos, mudando algumas coisinhas. Eu prometi a mim mesmo que essa série transpiraria cultura pop.

Historiador: Fique sabendo que é mútuo. Adorei a sua escrita. Estive até pensando em um plano de boicote, mas aí pensei.... Não, não pensei em nada. Pensar não é meu forte kk. Certo, quando resolvi criar essa série me veio cultura pop em mente. Quero criar uma zona de diferenças entre os personagens. Cada personagem segue uma tendência diferente, mas ainda tendência. O que não é em um mundo onde tudo é apontado com o termo modinha? Adorei que tenha comentado. Vou acompanhar o seu. Espero que acompanhe o meu também. Caso não aconteça, não repare em um possível cara de capuz preto segurando o que poderia ser uma metralhadora, na frente da sua casa, à noite. Kk.... Lembre-se.

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CARLOS EDUARDO

Vamos ver. Eram duas da madrugada, eu usava as hashtag nasci_de_novo_nesse_caos e pondo_o_pé_no_tijolo para descrever a festa com minhas "amigas". Ok, aquela foi a primeira vez que já me diverti com aquelas vacas. Alice, a vaca rainha, só sabia encher o meu saco com convites bobos e me pedindo dicas de moda desde que resolvi me assumir. Nem era tão segredo assim.

Eu tinha exatos quatorze anos quando resolvi postar um textinho em meu blog só para dizer que meu negócio mesmo é .... Enfim, a verdade é que fui enxotado para fora do armário aos onze. Não gosto de lembrar disso, envolve uma enrustida do capeta, o filho da puta do Rafael. Por que será que ele tinha que dar com a língua nos dentes? E também não simpatizo com aquele Alex dele. Os dois só andam juntos. Aí tem coisa, com certeza.

Por isso criei o blog Satã Jr. (Não é um blog satânico, querida). O que? Não entendeu? Veja bem, minha vida foi completamente exposta por um garoto que, confesso, nunca achei que faria isso. Com isso, eu aprendi a não confiar tanto nas pessoas. Digamos que o meu dever como um cidadão do mundo consciente é ensinar a mesma lição à Analice, Bruno, Vinícius, Natália, Gabriel... uma infinidade. Não é só falar mal da vida dos outros. Semana passada postei uma megaentrevista com — bafão! — a sensação internacional Eliane Camargo do Canal do boi. Sou apenas um adolescente que não tem dinheiro ou contatos o suficiente para falar com um câmera da TV Gazeta.

Nesse caminho sofrido, pior que lavrador no Irã, minhas únicas amigas são minha mãe e Carol. Carol era uma das poucas pessoas em que eu podia confiar. Eu chorei horrores no seu ombro quando meu namoradinho secreto do fundamental me deixou para "virar macho", segundo ele. Ela é uma sapatona pra lá de puta, mas sei que posso contar com ela.

Minha mother é um doce, minha diva. I love you, mom! É a única mulher que me faz ficar todo meloso. Ela me aceitou muito bem, diferente do meu pai que até se divorciou da minha rainha "por não saber criar um filho homem", já que a culpa de longe era dele. Na verdade, foi minha mãe que deu um pé na bunda daquele cara, pois queria me agredir. "Você é uma criança, não sabe de nada. Quando estiver fora da minha casa, certo que morando debaixo da ponte, poderá soltar a franga o quanto quiser, mas enquanto estiver sob o meu teto...", bem isso. Agora, um ano depois, olha só, ele vem me pedir desculpas, diz que a culpa do divórcio não era minha e que já queria se divorciar. Isso graças a sua nova namorada dez anos mais nova, uma moderninha feminista defensora das causas LGBT. Que velho safado! Até eu posso ver o quanto ela é gostosa, e olha que nem gosto da fruta.

Não sou assim tão solitário, juro. Quem estou tentando enganar? Eu perdi todos os meus amigos. Só me restou mesmo Carol. Foi tudo de uma vez. Eu sou o tipo de cara a quem não se deve contar um segredo, fazer o que. E nem adianta me pedir descrição se eu lhe pegar em um momento embaraçoso.

•••

Bem espremido entre duas mulas de costas, que conversavam com outras duas mulas, estava uma pequena criaturinha, entretanto, de um nível muito mais elevado que toda aquela viadada, assistindo a um vídeo pornô GAY, é claro. Eu. Roberto, um branquelo rosado, muito mais que eu, sentado na cadeira atrás de mim, logo se pronunciou:

— Você é nojento, viado — ele disse fazendo cara de nojinho.

— Vai dar uma de hetero agora, "queridinho"?

— Não, eu só acho que a senhora deveria ser menos vulgar e discreta. Ou por acaso quer ser espancado no caminho de casa? Tu anda a pé, bicha burra. Se sair por aí dando pinta vai apanhar de pau, pedra e até chumbo — falou imitando um sotaque de não-sei-onde.

— Olha, eu não sei se a "senhora" sabe, mas eu posso pegar um taxi. E se eu quisesse sair por aí saltitante, posso e vou. É o que farei quando estiver indo embora.

— O que está acontecendo? Que fuzuê é esse aqui na minha casa?! — Jean, o anfitrião de nossa reuniãozinha, levanta a voz, pondo ordem na casa.

— É Dudinha pinga-fogo, que faz o rabo de tocha olímpica.

— Só se for o seu, megera.

— Calma aí todo mundo. Eduardo querido, por favor, ao menos tente — reclama o dono da casa — E você Daniel, controle o seu namorado.

Poxa! Daniel não é meu namorado. Conheci esse cara no facebook. Mal me deu um Oi, foi logo me mandando uma foto da ferramenta, que, por falar nisso, me deixou de queixo caído. Conversamos de verdade alguns dias após. Continuamos amigos, porque achei estranho termos tanto em comum. Carol vive me alertando a não me apaixonar. Ele é o mais gostoso e másculo do grupo.

— Eu sou mais jovem e mais bonito que ele, sem falar nessa roupa. Que modelito é esse? Lenhador executivo? é tudo o que tenho a dizer por enquanto.

— Arrasou, novinho! Vem aqui que vou te dar um beijo — gritou Marcos.

— E por ser mais jovem é também mais imaturo — completa Jean.

— Amiga, menos — Marcos se dirige a Roberto — Dudu não tem idade para dirigir. Olha só essa carinha de bebê, coisa fofa.

— Cuidado pra não sofrer abuso sexual, hein Dudu. O Marcos aí nem gosta de um novinho. Dudu é só meu amigo, para quem não sabe — Daniel fala pela primeira vez em uma hora e trinta e cinco minutos de Jean e suas sisters, contei. Ele me convenceu a estar naquela zona do arco-íris cheia de atores pornô amadores das webcams e garotos de programa, ou seja, me chama para conhecer seus amigos e quase não abre a boca até para me apresentar. Duvido que um daqueles bambis não tenha sido presa do lobo faminto.

•••

Rimos da vida e os ânimos com Roberto foram melhorando. Em poucas semanas já tirávamos sarro um do outro de forma pacífica. Roberto até me paquerava descaradamente na frente de Daniel. Descobri que a megera também tinha um blog. Faltava uma semana para o terminarmos.

— Ei, novinho! Vem sentar aqui comigo, vem. Quero ver esses seus vídeos.

— Calma aí, bicha. Te controla — ri para disfarçar o constrangimento.

— Cara, fica esperto. Tô de olho.

— O que? Eu e Dudu? Jamais.

— Quem falou em Dudu? Parece que estou chegando onde queria.

— Já estou acostumado com homens brigando por mim.

Até aí, com essa pequena tensão, dava para ir muito bem, tranquilo. Foi só uma questão de tempo para que tudo desse errado.

•••

Eu voltava para casa depois de me encontrar com as moças no cinema. Eles prometeram me levar ao meu primeiro beijaço na próxima saída, consistia em um monte de maricons e sapatons se beijando em público contra a intolerância dos machon. Eu perguntei porque não chamavam logo de marcha das vadias, visto ao qual muitos estavam enquadrados, no entanto, alguém já pensou nisso e ninguém quer ser confundido com quem defeca no meio da rua. Jean diz que o objetivo é massacrar a intolerância com o amor. Não entendeu? Pera aí que vou ver se encontro no Google. A grande maioria das pessoas não se importam tanto com um casal hétero se beijando em público, certo? E um casal gay? Aguardo seu cérebro processar.

Quando virava a esquina lá está Roberto me atazanando outra vez. Ele estava em um Audi A3 preto novinho em folha. Quem dirigia era um senhor de meia idade pronto para partir para a terceira. Foi meio decepcionante na primeira vez que ele fez isso, principalmente porque era o mesmo a

Se fazer de moralista na casa do Jean. Rob é um daqueles que adora enganar e se aproveitar de velhos ricos.

— Ei, bi! Não quer carona não?

— Não, obrigado. Não será carona se seu motorista resolver me cobrar depois.

Por dentro eu estava apavorado.

— Olha que eu cobro — o velho se apressou em falar às gargalhadas, me deixando ainda mais nervoso.

— Ele ainda é muito novo, papito — ele roça a boca na orelha do corôa.

— Mas é assim mesmo que eu gosto — o velho seboso lambe os lábios e entra com o carro na minha frente.

— Tá maluco, viado velho? Tá querendo me matar, é, dinossauro?

— Sossega aí, baitolinha. O titio aqui sabe do que você gosta. Faz assim: o tio vai dar uma carona e minha bichinha gostosa me dá outra coisa em troca. Vai virar mais uma putinha do papai.

— Que tal assim: você cai fora daqui ou o meu PAI é que vai te dar algo em troca... um soco no meio dessa sua cara sarnenta.

— Migo, não, não. Mas o que é isso? Que maneira de tratar um homem de "negócios" é essa? — Roberto já estava no banco de trás lhe fazendo uma massagem e mostrando algumas notas para mim.

— Ok, coisinha, por hoje já deu. Me deixa em paz.

— Já DEI e vou dar de novo daqui a pouquinho.

•••

Mamãe acariciava meus cabelos com uma mão e passava a outra no contorno do meu rosto. Minha cabeça está recostada no seu colo. Parei suas carícias no meu rosto, pegando em sua mão, levando à boca, a enchendo de beijos. Lembro do acontecido antes de chegar e aperto sua mão com força. Ela grita de dor. Fico tão puto que deixo escapar o meu "Rafael!" de costume, era meu xingamento pra tudo. Não estava me referindo àquela criatura em sí, sim ao que ele representa para mim. Quando quero usar um palavrão forte ou ofender alguém com adjetivos negativos leves digo RAFAEL.

— O que houve, querido?! — Minha deusa pula assustada com o aperto na mão e o "xingamento", quase me derrubando.

— Não é nada, mãe.

— Carlos Eduardo...

— Escute, querida filha de Vênus, não é nada. Eu só tive um dia cansativo.

— Olha — ela disse me pegando pela cintura, por pouco não me erguendo, ignorando a certeza de que não sou mais um bebê — Vem cá, senta aqui do lado da mãe — pediu com carinho — Você sabe que sempre pode contar comigo, pode me contar tudo. Não me esconda nada, está bem?

— Não estou escondendo — menti — Agora vem aqui comigo que quero mais carinho e abraços, sua linda.

— Não, não. Hoje você dorme cedo. Amanhã não terei tempo de fazer o café. Acompanharei sua avó no médico. Vou deixar o meu amor na casa do papai, ok?

— Rafael que pariu — resmunguei baixinho.

Não durmo tão fácil, tem todo um processo: primeiro verifico o resto de mensagens ainda não visualizadas no Whatsapp; depois abro o facebook no meu notebook em cima da cama; volto a verificar o Whats, de novo pro face; às vezes visito a minha conta no Twitter nas beiradas do abandono, alterno entre todas as minhas redes sociais, fecho todas as abas do navegador, desligando o note, por fim, dou uma última olhada no celular.

Com o notebook desligado, lembrei de avisar minha melhor amiga. Pego o celular novamente. Ela não está online, então deixo uma mensagem a convidando para vir comigo, Daniel e companhia.

•••

Só se via mulher pra tudo quanto é lado. Pensei que se me assumisse afugentaria as moças pré-púberes e em plena puberdade. Oh senhor, como estava enganado. Me esconder de Alice estava ficando cada vez mais difícil. Ainda bem que tinha minha superamiga/cobra-de-estimação para me ajudar. Carol era meu castigo e benção. Só Deus sabe como é aguentar aquela louca gritando no meu ouvido o quanto ela é maravilhosa.

— Bom dia, Dudinha meu amor.

— Hum.... Você vindo toda carinhosa pra cima de mim? Fala logo o que você quer, peçonhenta.

— Oh Dudinha, assim você me ofende — ela faz um biquinho apelativo — Sabe o que é? Sabe aquele cara que você me apresentou ontem?

— Sei, o Daniel.

— Pois então... eu estava pensando se ele é mesmo gay, inteiramente gay, se não sobrou nenhuma brechinha que me caiba.

— Como é que é? Você interessada em um garoto? Era só o que me faltava. Até onde sei, a senhorita é lésbica dos pés à cabeça.

— Não exagere. É que ouvi ele falando pra você que tinha ingressos para o show dos...

— Meu Deus! — Interrompo antes da besteira escorrer por completo — Você se prostituiria por um ingresso?! Me segura, meu pai, mas não me leve ainda.

— Deixa de ser exagerado, já falei. Serão apenas alguns beijinhos, nada demais.

— Não, não serão. Daniel é gay com G maiúsculo. Ele só não gosta de chamar atenção.

— Que droga! Eu quero tanto ir.

— Se fudeu.

— Deixe que eu resolvo. Você vai ver.

— Não quero saber.

— Você é tão deprimente. Não se cansa de ficar o tempo todo no computador e no celular? Você tem que sair um pouco, se dar pro mundo.

— Não, obrigado. Por enquanto só dou pro Daniel mesmo, e isso já é uma tentativa de suicídio.

— Oh my God! Não! — Ela berra pondo as mãos no rosto — Você é menor de idade. Ele tem dezoito.

— E daí? Você não pensou nisso quando queria a minha ajuda para se atracar com ele.

— Era por uma boa causa e eu não ia me ATRACAR com ele.

Após um silêncio danado provocado por nossos celulares vibrando ao mesmo tempo, ela volta a berrar, me dando um susto.

— Pedófilo! Ele é um pedófilo!

— Não é não. Se informe, querida.

— Hum, por pouco ele não é, segundo o Google — ela me surpreende com sua rapidez. Carol já digitava antes da minha última frase. Tive um longo debate mental com os duendes que moram no meu enorme cérebro sobre a facilidade da informação atual — Acorda, passivo suicida!

— O que?

— Você estava aí viajando.

— Novidade...

— Ok, mudamos de assunto.

— Certo — falei animado. Para mim é sempre uma diversão falar mal de alguém, não julgue — Aquele Rob é um saco. Imagina que ele veio de novo me atazanar por não ter um carro?

— Ai, essa história de novo não.

— Dessa vez foi muito pior. O carro não era dele ou daqueles seus AMIGOS fortões.

— Nasceu uma pontinha de interesse.

— Era de um velho tarado nojento.

— Agora me interessei.

— Ele e o Matusalém ficaram com essa de me oferecer uma carona.

— Você escapou de uma.

— Eu sei.

— O Daniel não te pegou? Com o carro, quero dizer.

— Não. Acho que ele tinha que visitar a avó ou alguma coisa assim.

— Isso me faz pensar uma coisa.

— O que?

— Você está ficando com Daniel só porque ele tem um carro?

— É claro que não — menti, pois até que tinha uma certa verdade no que Carol disse. O carro não foi o único, porém um dos motivos — Tá louca, Carol.

— Como se eu não te conhecesse.

— Rafael!!! — gritei de repetente.

— Onde?

— Não. Alice.

— Alice? Você confundiu Alice com Rafael?

— É claro que não.

— Já sei, é aquele lance de que ser comparado a Rafael é o pior dos palavrões. Que criancice.

— Vamos logo embora.

•••

O shopping era meu lugar preferido no mundo todo, o que não me tirava da cabeça a tortura que era estar com Alice. Essa "amizade"/acordo financeiro também tinha seus pontos altos. Alice não passava de uma patricinha oferecida, interesseira e RICA. $!!! Ela passaria o dia todo fazendo compras se seus pais deixassem, e já que deixam... Eu a cortei de uma vez para preservar minha própria sanidade.

— Ai ai... Disfarça, disfarça.

— O que foi?

— Ai migo, é o Ti.

— Thiago?

— Sim, aquele lindo.

Thiago Leandro é um garoto alto, forte, cabelo castanho claro, pele bronzeada, olhos azuis da cor do mar bla bla bla bla bla bla... um pedaço de mal caminho, e ele estava vindo em nossa direção.

— Oi, Thiago.

— Oi, Alice. E aí, Dudu.

— Oi — respondi fingindo estar muito ocupado com o celular.

— Que surpresa, não é? Como vão as coisas no primeiro ano? Vai passar sem precisar de ajuda dessa vez, Licinha? Ou preciso te dar mais algumas aulinhas?

— Ah, Ti, não precisa passar na minha cara. Estou me esforçando, juro.

— Não vai me decepcionar, hein — ele lhe manda uma leve piscadela — E você, Dudu?

— Eu o que?

— Haha... Essas crianças. Tá teclando com algum gato aí? — Ele riu e me ofereceu a mesma piscadela.

— Ha-Ha, muito engraçado.

— O que foi que eu fiz?

— Nesse momento há uma infinidade de homossexuais circulando por esse extenso planeta de outra dimensão chamado shopping. Quer que eu grite, lhe respondendo sobre o que você fez?

Ok, eu exagerei, queria mesmo armar um barraco. Pode-se dizer que era uma forma de me vingar da tagarelice da loira. Hoje você não vai pegar o bonitão, sua safada.

— Eu não quis dizer...

— Eu sei bem o que você quis dizer. Não acho que minha sexualidade seja assunto para piadas.

— Cara é que... Tipo... você é gay, logo se supõe que você esteja teclando com algum garoto, sei lá.

— E por que não poderia ser uma amiga? Acha que ser gay é alguma espécie de categoria bizarra da prostituição.

— Ele só está brincando, Ti. Que tal se você me convidar para dar uma passadinha no cinema? Está passando um filme de comédia romântica muito bom — implora Alice com sua voz enjoada.

— Só um instante, Licinha — falou — Você não me conhece mesmo, Dudu. Eu não sou preconceituoso, cara.

— Olha, eu adoraria ficar aqui segurando vela pro casal que irá gerar o anticristo. Mas tenho mais o que fazer, coisas de gay, como me encontrar com meus clientes, os mesmos do celular, sabe?

— Dudu! — Ele ainda tentou depois que me afastei 1m de distância.

— Deixa ele, Ti. Ele é assim brincalhão mesmo. Você sabe como gays gostam de chamar atenção, todos eles — escuto o som da merda saindo da boca de Alice antes de sumir de vista.

•••

Já era tarde da noite. Minha mãe ligou furiosa, perguntando onde eu estava. A verdade: Eu estava com Daniel. A mentira que tive de pôr na sua cabeça: Eu e Alice ficamos experimentando roupas para uma festa que ela iria no outro dia, e adormeci. Não era tão estranho assim. Acredite, a bruxa compra todos os dias um Impire State de roupas.

— Não vai ainda não, Dudinha. Não chegamos na parte boa.

— Acredite, essa é a parte boa.

— Está me dizendo que não vai rolar nada além de uns beijinhos? — Perguntou, esperando uma resposta por alguns segundos. Não me dei ao trabalho de respondê-lo — Vamos lá, Dudinha. Você quer, eu quero...

A historinha que contei para Carol não era exatamente uma afirmação cem por cento verídica. Não siga o meu exemplo e conte isso à ela.

— Eu nunca disse que queria.

— Sei... com essa cara de safado?

— Vou pensar no seu caso.

— Dudu, você é virgem?

— O que? Tá maluco? — Questiono ao mesmo tempo em que me pego rindo histericamente. É que não é bem assim — vou te mostrar o quanto sou virgem.

Estou em seu colo, abandonado ao desejo de Daniel em me penetrar. O volume que tocava minha bunda dava-me a certeza. Não fui tímido, tirei sua camisa de uma vez. Meus olhos saltaram ao ver aquele abdômen e peitorais sarados. Tratei logo de passar a língua em cada centímetro daquele corpo desesperadamente. Era tão delicioso que tinha medo de escapar das minhas garras de garoto maléfico. Você não sabe o que eu faria com uma piscina cheia de homens iguais a ele. Mostro um pouco disso quando cravo minhas unhas em suas costas.

— Ah! Eu estava certo, você é um garotinho malvado. Merece castigo.

— Mas antes disso vou te maltratar mais um pouquinho — Voltei ao seu colo em um pulo.

Daniel ía ao delírio. Eu rebolava no seu volume, esfregava-me, pressionava minha bunda contra. Teve um momento em que ele empurrou minha cintura para baixo, quem sabe desejando perfurar o tecido fino do meu calção com aquela maravilha assustadora de tão grande morro crescendo em contato com meu traseiro. Acabo por desabar, descer de seu colo lentamente enquanto minha boca de novo percorre seu tronco, do peito sarado, parando na barriga, até a virilha. Ele não perde tempo, tirando o calção, dando-me a oportunidade de torturá-lo mordendo a colina na cueca branca e úmida. Ela ficou completamente melecada com uma mistura de suor, saliva e pré-gozo.

— Você não presta.

— Só para foder, é o que dizem.

Quase tive um treco quando vi aquela pistola, ou melhor, bazuca apontada para minha boca. Beleza, para mim é bastante grande, considerando que não sou muito experiente como costumo dizer. Admito que sou um boqueteiro de marca maior, mas transar ao pé da letra só com dois garotos. Me entreguei perdidamente ao primeiro.

— Agora está se fazendo de tímido ou de difícil? Põe logo essa boquinha aí.

Obedeci as ordens do meu macho. Primeiro fui lambendo a pontinha da cabeça, o que o fazia se contorcer, depois tentei em vão abocanhar ao máximo daquela tora. Isso faria um estrago em mim, tenho certeza. Um dia todos nós passaremos por isso, não é mesmo? A parte mais horrível é quando ele empurra minha cabeça, forçando seu pau a entrar mais. Meus olhos marejaram-se, um desconforto começou a tomar minha mandíbula e o pior, a dor na garganta a ser invadida.

— Calma, minha putinha safada. Vou te dar leitinho, mas não nessa boca gostosa, não, não.

Pensando bem, essa não foi a pior parte. Ele me jogou de bruços na cama. Me sarrando, disse coisas sem o mínimo senso de vergonha no meu ouvido. Só ouço gemidos e pedidos de gemidos, é ele que tenta me excitar agora. Deixo-me prender envolto em seus braços. Uma vez que ele os afrouxa, descendo na minha cintura para encontrar o cós da minha cueca, consigo me soltar. O empurro; ele não cai, cambaleia para trás, permanecendo sentado. Ele está prestes a me atacar de novo, quando agarro seu amiguinho, massageio. Era divino sentir aquelas veias pulsando nestas mãos, a suavidade do prepúcio, a textura lisa da glande, o calor do nervo excitado de um macho forte.

— Caramba, Sr. Policial! Como o seu cassetete é grande — brinco. Não é nenhum fetiche, se é o que está pensando.

— E você vai apanhar com ele daqui a pouco.

Me posiciono de quatro, jogo a cueca em algum canto e encaixo o mastro grosso em meu rego, me movimentando aos poucos, indo e voltando. Daniel agarra minha cintura mais uma vez, saliva minha entrada e esfrega a cabeça sem entrar, era um jogo de provocações.

— Me come. Me come, por favor — sou o primeiro a ceder.

— É assim que eu gosto. Implora, implora pra levar nessa bunda macia. Nossa! É tão branca e lisinha.

O safado imediatamente forçou a entrada. Um gritinho, não, um berro escandaloso me escapa. É, essa é a pior parte. A dor me apropria. Aperto seu braço, mordo o travesseiro. Ha, como se isso pudesse afastar toda a dor de um ânus sendo invadido. Pensei em desistir. Meu Deus, como? Recuo, ele me puxa de volta; arranho e mordo o braço que deixou livre, ele não tem outra reação, continua. Choraminguei com a tal surra que Daniel já havia me prometido. Tipo assim, muita lágrima mesmo.

Não vou dizer que demorou pouco para passar. O bom é que Dani soube esperar o tempo certo de começar a bombar. Com as pulsações, o prazer, o desejo de que ele vá mais fundo e mais forte. Levanto-me sem desencaixar nossos corpos. Estou de novo sentado, rebolando, só que dessa vez nu, me deixando ser penetrado. Sem mais sussurros, safadezas agora são gritadas. O ativo toma a autoridade, segura minhas pernas, manda ver com toda força. Gritos mais altos. Quando me beijava parecia estar devorando minha boca. Diria que a estava dilacerando se não fosse a quem beijava. Aproveito a oportunidade para mudar de posição. Cavalgar.... Pergunto a toda hora se não será ele o primeiro a cair de joelhos. Não deu tempo de entender como ele me ergueu da cama.

— Agora vou ninar o bebê, vou te colocar para dormir, Dudinha.

Tão feroz. Nosso sexo era selvagem. Em pé, meu "namorado" me fodia, me segurando igual a um recém nascido sem ver o peso. Vi o fim da selvageria no instante em que ele volta ao chamado frango assado para me masturbar enquanto bomba mais rápido. Ainda ficamos um tempo engatados um no outro. E Daniel explode dentro de mim junto com minha ejaculação.

•••

— Olha, Eduardo, eu sei que não começamos muito bem nessa bagaça toda, mas saiba que de todos aqui... — Rob faz uma pausa. Ele parecia estar se emocionando — Você é especial para mim. Eu faço esse papel de irmão mais velho jato porque gosto de você e... — Ele fez mais uma pausa, não conseguindo mais esconder as lágrimas.

— Eu não sei o que dizer.

De fato.

— E você é tão doce e paciente — completa a frase. Rob já havia engolido grande parte da emoção — apesar de ser um pirralho tarado, é claro — observa. Rimos — Eu soube desde o primeiro momento que seríamos como irmãos — ele disse ainda tentando se controlar — Olha, essa porcaria de base é tão cara e está derretendo na minha cara — engata a chorar de vez — Oh meu Deus! E você é a minha cara, é tão lindo.

Senti que o choro estava mais por conta da base desperdiçada. Contar que eu não usava base só o fez desatinar ainda mais. Bêbado emotivo, é a única explicação.

•••

"Piriguetes X Patricinhas. Fique por dentro da guerra que está por vir. Terá muito salto quebrado e maquiagem borrada", digito no bloco de notas do celular para depois copiar e colar no blog. Desisti, pois o começo já era uma porcaria. Quando finalmente me vem uma ideia proveitosa, eis que meu demônio particular aparece.

— Oi — foi tudo o que aquele Rafael cara de pau disse, em seguida voltando para perto de seu namoradinho Alex.

•••

Certo, você tem que entender uma coisa: essa escola é uma bagunça e os piores bagunceiros estão sempre na sala dos professores ou na frente de um quadro. Esclarecido?

A professora foi na cantina tomar um café enquanto nós, os alunos, copiávamos um texto enorme do quadro. Rafael foi se arrastando até a cadeira ao meu lado, literalmente. Ele se apoiava nas mesas, meio abaixado.

"Ninguém quer ser visto falando com a bicha", pensei.

— Oi — ariscou mais uma vez. — Eu só...

— Você só o que?

— Eu sinto muito. Eu sei que você ainda fica bravo pelo fundamental, mas eu juro que não fui eu. Eu prometi que não ia contar, não é?

— Exatamente, você prometeu. O pior de tudo foi que você prometeu... E eu acreditei.

Sua cabeça girava, percorrendo a sala inteira com um olhar desconfiado.

Tive uma ideia, a rainha de todas as minhas ideias malévolas. Aquele seria o começo da minha vingança.

— Eduardo, por favor. Eu não aguento mais essa implicância sem sentido.

— SAI DAQUI CARA. EU JÁ FALEI QUE NÃO QUERO MAIS SAIR COM VOCÊ. NÃO DÁ CERTO DOIS PASSIVOS. VAMOS FICAR EM UM ESFREGA-BUNDA.

Os gritos tomaram a sala. Me esforcei para não rir, desse jeito ficaria mais convincente. Carol, que estava do meu lado esquerdo, me encarou com descrença. Também não vi nenhum sinal de graça em sua expressão, seu bom humor foi por água abaixo.

•••

— Pronto, você já levou sua lésbica de estimação à convenção de maricas. Agora você vai me explicar o que foi aquela babaquice que fez com o Rafa.

— Estou me libertando de verdade, minha cara. Sabe, quando me assumi achei que seria diferente. Eu estava totalmente ciente do desprezo de certas pessoas, inclusive de pessoas da minha própria família, não é isso. Eu só pensei que fosse me sentir livre. Não houve nenhuma pontinha de liberdade, porque, fala sério, todos já sabiam/desconfiavam, nada mudou. Hoje eu descobri o que me deixa com essa sensação de estar aprisionado em um mundo ao qual não pertenço. É Rafael, ele me irrita só por existir. Fico puto só de saber que dividimos o mesmo oxigênio.

— Poxa... — ela falou espantada, nada de muito exagero.

— Até amanhã, irmã — ainda busquei concertar as coisas, fingindo indiferença.

— Eu não sei não.

— Como é?

— Você está... estranho. Parece mais ácido do que o de costume.

— Está com medo de mim?

Não perdi minha melhor amiga por pouco. A garota não abria mão de um bom desafio. Se tem uma coisa que ela tem orgulho é de ser uma mulher corajosa, a própria se definia.

— Você só pode estar brincando. Nos vemos amanhã naquele seu bordel homossexual ao ar livre.

— Você não vai à escola?

— As pessoas frequentam a instituição a que o senhor se refere para ficarem inteligentes, certo? Meu amor, eu sou a reencarnação da deusa Atena.

Isso aí não me cheira bem. "A reencarnação da deusa Atena" tinha um certo talento para a guerra/confusão.

•••

Combinamos de nos encontrarmos na casa de Jean. Caminho solitário outra vez. Carol não deu sinal de vida o dia todo. Onde se meteu o Daniel? Só Deus sabe. Descontei a raiva no chão, nos pés, em cada passo pesado. A vida não é engraçada? Minha mãe sempre diz que coisas ruins acontecem para que as boas fiquem guardadas para o momento certo. Roberto passara em uma bicicleta rosa, provavelmente da irmã, sem me notar. Onde está o seu carrão chique com um bode velho rico, AMIGO? O melhor estava por vir.

— Ei, Rob! — Chamei — Espera aí.

— O que foi?! — Atende — Ai, me ajuda, bicha! — Exclama descendo ladeira abaixo.

A situação piora devido ao freio ter arrebentado. Roberto despencou, saiu rolando pela ladeira, bateu a cabeça em uma pedra, acertou um cão, não fez a curva, bateu na lixeira, entrou no mato e finalmente parou, acertando uma árvore. E pensar que, depois de tudo, este moço teve forças para falar choroso:

— Cobra, tu para de filmar e vem me ajudar.

Salvei o vídeo, guardei o celular e fui ajudar... O cachorro. Claro, publiquei o vídeo.

Separei seis coisas aprendidas:

1° - Nunca confie em um cara que manda nudes ao invés de um oi.

2° - Se o fizer, não queira conhecer seus amigos tarados.

3° - Certifique-se de que ele não come os amigos.

4° - Não transe com ele se não ter a plena certeza de que o verá no dia seguinte.

5° - Detone seus inimigos, é o que afasta os problemas.

6° - Nunca confie em ninguém.

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Infelizmente, prevejo que só conheceremos os seis níveis no capítulo 6. Ainda não escrevi este.

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