capitulo 17 - você mudou

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Quero me desculpar. No momento estou na minha casa porque consegui dar uma escapadela, mas o lugar para onde estou indo, na verdade, voltando, não me dá acesso a quase nenhum tipo de tecnologia. Tentei digitar antes da viagem e não consegui. Digitei o resto no celular. Não vou explicar o resto do processo que tive que fazer, porque sei que não estão interessados. O mais provável é que só voltarei em agosto.

Felipe Fernandes: Não sei se ainda tenho tempo ou terei. Estou em um lugar sem internet e sinal no celular. Tive que digitar no celular e, aproveitando que meu primo esqueceu algumas coisas na cidade onde moramos, fui junto e pude finalmente usar a internet para postar. Infelizmente não saio daqui antes de agosto, mas já estou planejando milhares de desculpas para sair daquele lugar. Se ainda der tempo e estiver disposto a esperar até agosto, ficarei feliz em entrar em contato. Se estiver disposto a esperar, me avise.

Edu: Obrigado. Voltou a comentar, hein? Senti sua falta aqui.

Salvatore: Se você perceber, não está tão difícil de resolver essa charada. É só ligar uma coisa a outra. Você já pode ver qual das irmãs tem mais para contar.

Lhes devo desculpas. Para compensar, preparei uma lista para explicar tudo que está acontecendo e que vai acontecer. Aí vai uma breve lista:

★ Matilda é, na verdade, tia avó do Rodrigo, assim como Carmen e Aurora.

★ As investigações oficiais do caso que envolvia, entre outras coisas, o sequestro do Matheus, foram encerradas. Necroline e o delegado cotinuaram as investigações por conta própria, e, é claro, Lara O'Connail continua se intrometendo.

★ A avó paterna de Rodrigo se chama Cecília (referência)

★ As tias Carmen (referência) e Aurora (referência) já foram freiras, mas, por motivos desconhecidos, abandonaram o hábito. Como já estavam velhas demais para terem filhos, acabaram se apegando á sobrinha.

★ O bairro onde Rodrigo mora, dentro do contexto do conto, já foi famoso por manter as tradições burlescas, mesmo depois da época.

★ A história, apesar de parecer às vezes, não se passa nem sequer a pouco tempo depois da década de 50.

★ Dr. Ramos é bissexual, mas teve uma decepção com mulheres, que para ele foi pior que Fernando. Ele é meio exagerado.

★ Aurora (sobrinha) já foi mencionada antes em outro capítulo.

★ O acidente de Diego ocorreu antes de Rodrigo voltar á cabana e depois da primeira vez que a viu. Se Rodrigo não tivesse dado atenção ao recado que Matheus mandou por Diego, isso não teria acontecido, mas, por outro lado, se não fosse por Diego, o acidente teria acontecido com Rodrigo, pois a mina ainda estaria lá. Isso trouxe mais culpa.

★ Não foi nenhum erro não por um nome no pai de Rodrigo. Eu realmente não quis que ele tivesse um nome próprio.

★ O nome de Helena já havia sido planejado desde o começo, mas assim como o pai de Rodrigo, eu queria essa primeira impressão infantil de que as mães são mães, os pais são pais e não há outro nome para defini-los.

★ O cadáver do coronel foi encontrado no mesmo dia em que Rodrigo também o encontrou. Havia sal e amônia dentro e fora de seu corpo. Apenas seu braço esquerdo foi devorado pelos urubus. Inclusive, foi o corpo aberto (reaberto) no necrotério. Rodrigo não deu nenhuma informação que podese ter levado a acharem o corpo.

★ Beatriz tentou comunicar à polícia o que aconteceu com seu filho, mas devido a influência do coronel, os polícias tentaram contacta-lo primeiro. Depois de alguns telefonemas, eles não tiveram outra opção senão ir até a mansão. Isso os levou a descoberta do cadáver.

______________________________________________________________________

— Você não sabe o que está dizendo. Está louca.

— Sim, eu estou louca. Adivinha de quem é a culpa? Seu pai irá morrer e não será de tuberculose, eu garanto.

— Quer dizer que você irá matá-lo? Não me faça rir.

— Não, será o espírito santo. Ele já está cuidando disso. Eu juro que em menos de um ano, ele estará no inferno.

— Eu nunca vi tanta baboseira saindo da boca de uma mulher. Você pode ir embora, velha rabugenta. Da próxima vez que resolver nos visitar, é melhor esperar o pior.

— Acha que sou louca de voltar à esse ninho de vespas?

Minha visão sumiu nas luvas negras e nos vestidos de mesma cor. Meus dedos se moveram junto aos três pares de sapatos pretos. Aos poucos, a medida que se distanciavam, vi o preto clarear ao marrom e depois ao vermelho. Á minha vista, como o vídeo de uma câmera sendo manchada, vi um líquido avermelhado descendo e cobrindo a minha visão. O líquido passa, e me deparo com um cenário totalmente diferente. Tudo que era sólido estava coberto por uma camada negra e lisa semelhante a um tipo de cobertura de pixe. O céu estava de um vermelho intenso, me causando hematofobia de tanto que lembrava sangue. Vendo de longe, parecia um teatro de sombras em um fundo vermelho. Me pareceram alguns segundos, mas foram quarenta minutos até minha mãe me despertar do transe.

— Rodrigo! Rodrigo! Rodrigo! O que está havendo com você? Não me deixe preocupada.

— O que? O que houve?

— É o que quero saber. Você ficou quase uma hora parado aí.

— Eu não. Acho que me distraí.

— Quarenta minutos distraído? E qual seria a distração?

Procurei o táxi. Que tolice! São quarenta minutos. Quarenta minutos. Todos até imaginam a porcentagem de alguém aparecer no mesmo lugar. Bem, para mim 100%. Não é tão difícil imaginar quem. A alguns poucos metros de onde estava o táxi, parados e encostados em um carro, estavam duas pessoas das poucas que já conheceram minha boca.

— Os filhos da Glória? Aquela é mesmo uma bela garota.

— Eu não disse que estava olhando para ela.

— E nem precisa. Eu não estou vendo nenhuma outra distração tão tentadora quanto aquela.

— Mãe? Eu nunca poderia imaginar.

— Não ouse insinuar esse tipo de coisa para mim. Eu sou sua mãe, ouviu?

— Você sabe que não precisa fazer isso o tempo todo. Eles não estão tão longe.

— Faz um tempo que estou notando alguma coisa de diferente entre vocês dois. Aconteceu alguma coisa? Se aconteceu, fique sabendo que vocês dois formam o par ideal.

— Ok, mãe. Você está certa. Você sabe de tudo. Você é a dona da razão. — disse me retirando.

— Espere. Não precisa ter vergonha. Espere! Quero saber o que houve com suas tias.

Fui ao quarto do meu pai procurar alguma coisa que possa me dizer porque tudo isso aconteceu. Nada, só um monte de coisas sem valor: Revistas científicas, recortes, livros velhos e folhetos. Só pude me surpreender com uma coisa, havia religião naquele quarto. Ele nunca foi muito fã de religião. Encontrei uma bíblia embaixo da cama. Os recortes eram contraditorios quando postos juntos: JESUS SALVA MAIS UMA ALMA; BACTÉRIAS PODEM SER A CURA PARA DOENÇAS ANTES CONSIDERADAS INCURAVEIS; VIVENDO INTENSAMENTE; MENINA SONHA COM ANJO E É CURADA DE CÂNCER; DEUS NÃO ESTÁ AQUI; MAIS UMA CRIANÇA VÍTIMA DA IRRESPONSABILIDADE DOS PAIS; LUXÚRIA MATA; PEREGRINO VIAJA PELO MUNDO FAZENDO MILAGRES; A CIÊNCIA É O DEUS DESTE MUNDO; PADRE CURA SÍNDROME DE OSSOS DE VIDRO. A situação não se mostrava tão resolvida quanto parecia. Talvez no silêncio do meu quarto, eu teria mais sorte em desvendar este mistério.

Olhei para o teto, e um pesamento se reavivou na minha cabeça e este derrubou todos os outros. Eu morreria com tudo isso. Eu precisava de alguém para me consolar. Aquela droga de olhar violento sempre me lembrava de quem eu deveria ser, mas, uma vez que já havia tocado, era difícil manter minhas mãos longe. Fiquei de frente para o espelho, tirei minha roupa, olhei um pouco, virei de costas, inclinei o rosto para olhar de novo. O reflexo no espelho não me trouxe nenhum desagrado, a não ser pelo modo como ele me encarava, ou melhor, eu, e isso já era o suficiente. Impulsionado por uma raiva que não consigo explicar, me choquei contra o espelho. O sangue desceu da minha testa e cobriu os meus olhos. Quase abafado por meus palavrões, ouço um suspiro mal contido.

— Quem é?

— Você se machucou? — pôs sua mão nas minhas costas.

— Não me toque.

— Sabe quem sou?

— Não interessa. O que está fazendo aqui?

— Pelo visto você sabe. Olha, eu queria saber se você não gostaria de ir ao cinema. Minha irmã e Amanda também irão.

— Não, obrigado.

— O que foi? Não combinamos de sermos amigos? Amigos andam juntos.

— Não, obrigado! — repeti com agressividade.

— Ok, tudo certo. Você não quer ir. Não sabe o que está perdendo. Acho que também não vou saber.

— Diga logo o que quer dizer com isso. Eu não tenho o dia todo.

— Quero dizer que agora vou ficar aqui com você.

— Não lembro de ter pedido.

— Por que não baixa a guarda um pouquinho?

— Você não vê? Isso é sangue. Droga! É tudo culpa sua.

— Minha? Por acaso estava se masturbando quando bateu de frente com o espelho?

— Eu deveria esgana-lo até ficar roxo. Eu deveria? Eu devo. É o que vou fazer agora.

— Por que não ten... — agarrei seu pescoço, interrompendo a frase.

Ele estava rindo, e quanto mais eu apertava, mais ele ria. Eu estava deitado sobre ele, com o sangue pingando em sua testa, e ainda nú. Larguei seu pescoço, fui para um canto da parede e fiquei tentando recuperar minhas forças. Ele se levantou, tocou minha cabeça e disse: "Agora é minha vez". Com suas mãos, espalhou o sangue pelo meu corpo. Ameaçando, sua boca pergunta ao meu ouvido:

— Isso vai ficar ainda mais divertido se você quiser — sussurrou.

— Você vai fazer como antes.

— Não, vou fazer melhor. Dizem que a parte boa está além do beijo.

— Sabe o que quis dizer.

— Mas você gosta. Esse jogo está longe de acabar. Só a morte pode acabar com ele, e no fim, ninguém sairá ganhando. Então que tal aproveitar?

— Eu juro que vou mudar ainda mais. Eu tenho que me livrar disto.

— Certo, mas por enquanto não consegue nem se livrar dos meus braços.

Ele tirou a camisa, deitou por cima de mim e me beijou lentamente. Seu corpo estava mudado, mais adulto, forte, definido, com músculos bem formados e um belo peitoral. O suor se misturou ao sangue e me causou um leve ardor, principalmente na testa onde estava o ferimento. Ainda com as calças no lugar, me pegou pelos cabelos e encostou minha cabeça na parede, me pondo de costas para ele. Segurei sua mão tentando tirá-la do meu cabelo. Ele se posicionou atrás de mim, atacando meu lado vulnerável. Eu não gostei nada daquilo. Até então deixei que ele fizesse um pouco do que queria, mas agora ele passou dos limites. Eu não estava me fazendo de ofendido. Eu estava mesmo com raiva. O golpiei com o cotovelo, virei de frente, mordi seu lábio inferior e corri para o banheiro.

— Olha o que você fez! O que você tem na cabeça? Vem aqui e veja oque fez. Abre essa porta.

— Você é o culpado. Você está mesmo preparado para apanhar? Porque é isso que vai acontecer se eu sair daqui.

— Tem certeza? Então por que está fugindo de mim? Eu não vou te machucar, se é o que está pensando.

— Eu só não quero te machucar.

— Jura? E o que você fez na minha boca?

— Tá legal, eu quero muito te machucar agora, mas sei que vou me arrepender depois.

— De onde vem tanto ódio?

— Isso... Não era pra ser assim. Quer que eu sinta nojo de você, ou só ódio?

— Não, não é isso. Eu conheço você. Por que não me diz?2

— Você não tem conserto. Eu gostaria de dizer que desejo sua morte.

— Não é por causa da Amanda, é?

— Não, é você. Agora sei que é você.

— posso imaginar o que quer dizer, mas...

— Não sou uma garota e nem nunca quis ser. Eu gosto de não ter peitões, e não usaria maquiagem nem se fosse.

— Isso não me surpreende. Você me diverte.

— A intenção não é essa. Vou te dar um conselho: fique com sua garota. Se eu tivesse uma misera chance sequer de me livrar dessa maldição, pode apostar, eu a agarraria.

— Pois então... Hoje eu pude ver sua fraqueza. Até a próxima rodada. Foi divertido brincar com você. Não se esqueça de se preparar dessa vez. Como sei que vai me evitar a semana toda, te vejo segunda na escola. Vou guardar o seu lugar.

— Vai embora logo!

Nem me dei conta de que as férias já estavam acabando. Eu teria que aguentá-lo, e, dessa vez, o bullying não estaria do meu lado. Se ele já não era tão magricela assim, imagine agora. Para me garantir, preparei algumas coisinhas. A noite peguei a máquina e raspei de uma vez o meu cabelo. Saí cedo no outro dia. No centro da cidade havia um estúdio de tatuagens. Eu estava prevendo que aquele seria o meu fim. Se for isso, ao menos eu terei perdido com estilo. Tudo valeu a pena. Não me arrependo de nada. Se eu fui tirano? Sim, muito, mas isso não é problema meu.

O dia chegou. Estava indo direto para o matadouro. Já que cheguei uma hora e meia atrasado, já era de se esperar que os corredores estariam limpos. As portas não estavam trancadas nem nada. Até o porteiro queria me ver ferrado. Estava tudo muito calmo pro meu gosto. Comecei por lá mesmo. Fiz barulho usando o bastão de basebol para bater nos armários. A diretora foi a única que ouviu, ou a única que se prontificou a verificar. O bater dos sapatos no chão se intensificava no corredor vazio. Ela estava quase correndo. Diminuí meus passos, esperando que ela fosse até mim. Imaginei que seria interessante.

— Escute-me, rapazinho. Você está violando as normas de vestuário da escola. É melhor você não usar regata, a não ser que esteja na aula de educação física.

— Não me diga. Não quero facilitar tanto o seu trabalho, pois o objetivo é justamente o contrário, mas isso é o de menos, não acha?

— Não me questione. Isso lhe custará caro.

— Ok, ok. O que posso fazer? Que tal assim — tirei a camiseta — Está bom assim?

— Não seja insolente. Vista-se já!

— Mas já? Não quer admirar um pouco mais?

— Como disse?

— Sra. diretora, acha mesmo tão fácil esconder algo de alguém hoje em dia? Você sabe como todos a chamam na escola?

— Não sei e nem quero saber, e não se meta em minha vida particular.

— ...Papa anjo. E olha que isso não é tudo.

— Você mudou muito. Sinceramente, eu espero que esteja satisfeito com essas mudanças. Eu conheço seus pais e dei aulas para você e seu irmão. Parece que foi ontem. O que aconteceu em pouco tempo que mudou tudo?

— Você envelheceu.

— Eu tenho coisas a fazer. Comporte-se — com aspides ignorou minhas palavras.

— Vai me deixar sair assim, sem suspensão, detenção, nada.

— Pra que? Não é isso que você quer? Atenção.

Geralmente para saber onde ficava minha sala era só seguir o caminho de bolas de papel. Não mais. A escola estava impecável. Isso era normal porque era o primeiro dia. O que acontece é que, naquele momento, qualquer alteração me deixava desconfiado. Cheguei à porta; vagarosamente aproximei minha mão da maçaneta, encostando os primeiros dois dedos. Não pude abrir, pois Yuri e Tabatha me deram um susto, vindos do outro lado do corredor. Timidamente, da mesma direção, por detrás deles, foi surgindo um tipo alto e negro com o físico de jogador de futebol americano.

— Olá, garotão. Pronto pra zoar?

— Oi, Tabatha. Acho que o dia não está pra zoar.

— Se engana, meu caro. O que temos aqui é uma bela demonstração de que nossas mentes estão em sintonia - disse Yuri.

— Não enrole tanto, amor. Não é bom se gabar das páginas grudentas do seu dicionário. As palavras o excitam.

— Esqueçam o que ela acabou de dizer. Esse baixinho aqui se chama Romeo. Foi transferido porque brigou com uns caras da escola onde estudava. O recrutamos por suas referências no currículo.

— Não é verdade. Aqueles garotos sempre implicavam comigo — interviu Romeo.

— Não seja mentiroso, Yuri. Eu já disse para parar de exagerar. Romeo é meu primo. Meus tios o mudaram de escola, porque, apesar do tamanho, é tímido e apanhava muito dos outros garotos.

— Um dinossauro desse tamanho? Ele por acaso sabe que é um gigante? — disse, apontando meu dedo para o nariz de Romeo, o fazendo ficar vesgo.

— Não acredite nela, Rodriguinho meu amigo. Veja, ele nem tem cabelo azul.

— Ele me lembra o Arthur.

— Claro que sim, Rodrigo. São idênticos. Primeiro ele é primo da Tabatha; depois, irmão gêmeo do Arthur. Talvez até seja minha tia-avó disfarçada.

— Não estava falando do corpo. Arthur também era tímido e também apanhava muito.

— Apanhava? Apanha, você quer dizer. Mas, pensando bem, pode ser que seja "apanhava" mesmo.

— Isso que você disse tem a ver com o fato dele não estar aqui agora?

— Eu não sei dizer. Liguei e fui na casa dele, e nada. Em uma dessas vezes que fui, até ouví vozes, mas ninguém respondia. Voltei outra vez e encontrei apenas o pai do Arthur falando no telefone da cozinha. Ele não percebeu que eu estava lá. Pelo que entendi, ele estava falando com o irmão sobre problemas com imigração. Talvez estivessem se referindo à garota pra lá de esquisita com sotaque estranho, que vi um dia na casa dele.

— Uma garota esquisita?

— Sim. Era ruiva, pálida e usava um chapéu até que bonito. Me disseram que era prima dele. É tudo muito simples e óbvio, mas minha pespicacia me sugere outra teoria.

— La vem mais uma. Vai, fala logo, sabichão.

— Agora eu não falo mesmo. Quando tudo que estou prevendo acontecer, todos irão saber o quanto precisam de mim.

— Esse drama de novo...

A segunda aula acaba e a professora deixa a sala. Entramos e esperámos o próximo professor. Um pouco mais de dois minutos depois, o professor chega. Tabatha lhe fazia perguntas idiotas que ele, de tão ingênuo, respondia com toda paciência possível. Yuri dormiu a aula inteira. Já havíamos perdido duas aulas, sendo assim, depois daquela seria o intervalo. Minha ansiedade se movia acompanhando os movimentos dos ponteiros do relógio. Matheus aproveitou que o professor estava de frente para o quadro para virar a cadeira, me encarando de frente. Com força, cravei o lápis entre seus dedos na mesa. Ele levantou a sobrancelha esquerda e, antes que podese dizer alguma coisa, o sinal tocou.

Fui o primeiro a chegar no refeitório. Sentei na mesma mesa

em que sentava todos os dias e esperei meus amigos. Matheus e os amigos chegaram e sentaram três mesas depois da minha. Vendo que Yuri e os outros já estavam chegando, Matheus convida sua turma a se sentarem na mesma mesa que eu. Amanda, estando mais perto, percebe a situação e também convida seu grupo de patricinhas virgens boazinhas. Eu nem pensava em fugir. Engraçado ninguém ter percebido logo que nós não entramos na fila do lanche. Fui até a fila. Atrás de mim estava Amanda.

— Garoto bobo. Não me diga que não percebeu?

— Você está aí, é? Perceber o que?

— Dá muito trabalho proteger você.

— Por que não se contenta em proteger seu namorado?

— Namorado? Deixa pra lá. Aqueles garotos mudaram. Você deve começar a se cuidar de agora em diante.

— Amanda minha querida amante de filhotes de coelho, você anda muito tensa. Porquê não se acalma e espera o lanche?

— Está ficando muito deboxado.

— Eu não estou preocupado com aquela gente. Não é nenhum deboxe.

— Não sei se entendi direito. Está desistindo?

— É o que está parecendo, então acho que sim. Não tenho certeza. Acha que planejo meus movimentos?

— Como eu queria que você tivesse dito isso antes. Agora é tarde demais.

— Você leva a escola a sério demais. Se você soubesse qual é o verdadeiro problema...

— De que problema está falando?

— Estou deixando você ser você mesma por enquanto, ou seja, uma intrometida. Não se atreva a ir além. Acho melhor você conversar com suas amigas patricinhas sobre a próxima sessão de compras, por exemplo.

— Você está cometendo um erro. Fazer besteira já está virando abto. Apenas tome cuidado, por favor. Não vire as costas para quem está tentando ajudar.

Acabado o lanche, fomos eu, Yuri, Tabatha e Romeo nos sentar nos degraus de uma escada enorme de largura, que ligava as salas de cima a um corredor que ficava antes do pátio. Amanda nos segui, trouxe suas amigas, e, de quebra, deu uma desculpa para o Matheus também me seguir. Tudo que os amigos sabiam era que ele sentia ciúmes de Amanda. Encostei minha cabeça no ombro de Tabatha, e Yuri, no colo. Romeo se distanciou, demostrando estranhamento. Inclinei minha cabeça para cima, podendo ver quem estivesse atrás. No último degrau de cima estava Matheus, com um dos olhos tremendo, pressionando os dentes superiores contra os inferiores. Ele saiu e pediu que os outros não fossem junto com ele. Disse ao Yuri e os outros que precisava ir ao banheiro.

Não pensei realmente que iria ao banheiro. Que ironia. Era para lá que ele estava indo. Meus ombros logo caíram. Ele deixou a porta aberta. Entrei com as mãos no bolso e dando voltas, já dando indícios de que queria falar com ele. Com essa atitude, praticamente me convidou, então estava bem claro que era o que ele queria também.

— O que você quer?

— O que eu quero? Não me lembro de ter chamado.

— Vamos parar logo com isso. Você não lembra? Fizemos um acordo.

— Estou tentando tanto. Tanto que você nem imagina.

— Não parece.

— É porque não estou falando do acordo.

— Do que está falando então?

— Acho que você sentirá falta de rir. Tentei fazer uma coisa boa por você. Eu não sei fazer isso. Você ainda vai passar por tanta coisa e nem sabe. Acho melhor acabarmos logo com isso.

— Quer dizer que você acha que ainda somos amigos depois de tudo? Isso acabou no instante em que você virou as costas e foi para casa, depois do "acordo". Cara, eu nem sei se gosto de você por perto.3

— Quem disse que falei de amizade? A verdade é que nunca quis você como amigo. Eu tentei forçar a barra, assim como você, mas não rola. Quero propor outra coisa. Você disse que isso é uma maldição. Acho que sei como quebrá-la. Eu andei pesquisando e acho que consegui encontrar uma solução.

— Você? Você consegue ser mais burro que eu.

— Você não é burro, mas adora bancar.

— Por que não desembucha logo?

— Crianças e pré-adolescentes costumam fazer coisas estranhas. Alguns sentem coisas estranhas, e nem por isso são "aquela palavra com g".

— Se estiver querendo dizer o que estou pensando, fique sabendo que acho que somos velhos demais pra esse negócio de fase, mas prefiro acreditar nisso.

— Pelo visto é exatamente isso, mas eu tenho uma teoria. Temos que parar de fugir e acabar com isto de uma vez por todas. Se fizermos isso, nunca mais teremos que fazer de novo.

— O que você quer que eu faça?

— Naquela época não fazíamos ideia do que era, mas por mais que me doa admitir, era atração. Nós a evitamos quando deveríamos ter deixado tudo rolar naturalmente. Se tivesse acontecido, hoje não teríamos mais esse problema. Só restaria o nojo e a vergonha. Lembrar disso seria como assistir ao vídeo do seu parto enquanto passeia de carro.

— Não enrola. O que você quer de mim?

— Sexo, sexo e sexo. Apenas isso.

Comentários

Há 3 comentários.

Por Salvatore em 2015-08-01 09:32:34
Oi, eu voltei pra dizer que eu resolvi reler todo o conto mais uma vez porque eu realmente estava perdido na narração, mas agora tudo ficou claro, menos uma coisa: como vai ser o fim da série. Mas isso só o autor poderá dizer né? Como disse antes, foi impossível não reler esse ultimo cap e não me excitar com essa fala de Matheus: Sexo, sexo e sexo. Quem me dera ter um amigo assim kkkk Mas por outro lado, na mesma fala, ele deixou claro o que eu temia, e temo: Apenas isso. Ele vai usar o Ro? Ou o Ro vai se sentir usado? A minha real esperança é que, Matheus tem em mente sexo, mas na Hora H ele vai sentir mais do que ele poderia achar que sentiria. E o mesmo vai acontecer com o Ro, visto que ele se recusa a aceitar o que sente. Mais uma coisa, qual a chance do Dr. Ramos ter um caso com o tecnico de informática? kkkk Esquece isso, bobeira minha. Bjo.
Por Salvatore em 2015-07-29 08:23:29
Perfeito pra mim. Sexo e mais sexo. Com esse pedido eu não sei qual será a resposta de imediato, mas eu espero que seja positiva. Ansioso pelo seu conto e admito que você deu uma melhorada tremenda desde o inicio de sua série. Abraço!
Por Felipe Fernandes em 2015-07-13 19:33:15
Minha previsao pra publicar o romance é pra agosto msm pois estou esperando a temporada de cada serie terminar para publicar o romance. Entao quado der envia uma msg no whats pra planejar td. Já te dei o numero entao é isso e ótimo capitulo parabens. Ate breve.