capitulo 16 - O tempo

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Desculpa, desculpa, desculpa. Eu não queria ter demorado tanto.

Devo desculpas a você, Salvatore. Espero que leia. Aquele capítulo. Eu tava louco, procurando uma forma de encerrar o capítulo. Kkkk... Acho que você não deixou muito claro quanto a qual é o seu casal favorito.

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O sol quase me tira a visão. A janela semiaberta parecia um farol incandescente mirando seu raio de luz nos meus olhos. Aquela casa não me era estranha. Ao ver Arthur deitado de barriga para baixo, usando apenas uma cueca e uma camiseta, tive a impressão de que alguma coisa aconteceu. Uma de suas mãos estava sobre minha barriga e seu pé, na minha perna, então, ao tentar me desvencilhar, acabei acordan-o.

— Bom dia.

— Bom dia. Hum, eu não sei.

— Não sabe oque?

— Onde estamos.

— Ah, isso? Você deve estar de ressaca. Você "está" de ressaca. Esse é o meu quarto.

— Você fez alguma reforma? Sei lá. As paredes parecem mais estreitas e o teto, mais distante do chão.

— Cara, isso não é bom. Eu liguei para avisar à sua mãe, mas minha familia não sabe que você está aqui.

— Oque aconteceu?

— Você não lembra?

— Até a parte da fogueira. Despois disso, tudo fica escuro.

— Eu achei melhor trazer você para minha casa. Sua mãe não ficaria muito feliz.

— Oque fizemos aqui?

— Como assim? dormimos. Porque fez essa pergunta?

— Nós não destruimos aquele lugar? Eu pensei que talvez a mesma coisa tivesse acontesido aqui.

— E você não acha que minha familia saberia? Além do que não destruímos aquele lugar. Foram só alguns cabuns.

— Se você diz.

— Sabe do que mais? Eu acho que você não estava se referindo a isso.

— E acha que eu me referia a que?

— Quem sabe um beijo roubado — disse ele, soando como malícia.

— Porquê logo um beijo? — quase gritei de pavor.

— Antes de você apagar, você me disse algo sobre Matheus e Amanda, e depois falou sobre o beijo apaixonado que recebeu de Ana.

— E você fala assim tão calmamente?

— E porque eu deveria falar de outra maneira? Já sei, aquele foi seu primeiro beijo.

— Não é nada disso.

— Eu acho que não quero nem saber. Você sempre faz segredo de tudo mesmo.

— Não me enche o saco, por favor. Você já não achou o suficiente ter me embebedado?

— Eu só queria ajudar. Você parecia tão inconsolavel.

— Desculpa por isso. Acho melhor ir embora.

— Você vai ficar aqui. Já resolvi que vou cuidar de você.

— Queria poder insistir mais, mas essa maldita dor de cabeça não me deixa.

Como de costume, Arthur mostrou sua generosidade controversamente careta. Ele era um diabinho com rabo longo e chifres afiados, mas sempre estava disposto a ajudar um amigo. Chegando a hora de ir embora, ele ligou para minha casa para avisar que eu já estava indo porque não me sentia bem. Não tenho certeza se Victor e "Helena Melão com Aveia" acreditaram, pois quando cheguei, as preocupações estavam voltadas para meu pai. Não fiz muito, além de dormir e pensar se o Arthur lembra ou não do beijo. Isso fez com que a noite eu não conseguisse dormir.

Caminhei perdido pela noite. O silêncio noturno só foi interrompido pelo tormentuoso piar/rosnado da coruja das torres. Para evitar o barulho, tive que me afastar da casa. Passei próximo ao terreno baldiu onde comecei a esconder os primeiros sinais de insanidade de Matheus. Andei mais um pouco até chegar ao cemitério.

Tive para mim que a coruja me direcionou ao cemitério de propósito, pois já estava à minha cola no cemitério. Avistei de longe um vulto que se movia entre as lapides. Me pareceu uma figura masculina segurando uma pá. Em instantes, as ruas se encheram de barulhentas viaturas da polícia. Doutor Ramos foi o primeiro a acordar e sair de sua casa. Ao seu chamado, me abriguei em sua casa.

— Você pode me dizer o que diabos fazia na rua a essa hora da noite?

— Nada. Eu não consigo dormir, é só isso. O que está acontecendo?

— Eu não sei. Porque não me diz você? Você esteve passando tanto tempo com aquele garoto.

— Ele é seu sobrinho. Você deveria confiar nele e deveria confiar em mim também. Seja lá o que tiver acontecido, nós não fizemos nada.

— Eu acredito em você, mas, por favor, fale por si mesmo.

— Me diga logo o que aconteceu. Não quero ser acusado de uma coisa que eu nem mesmo sei o que é.

— Dois corpos sumiram do necrotério.

— Você nunca pensou que isso está mais para coisa de alunos de medicina?

— Seria um bom palpite. Seria um bom palpite se não fosse pelo fato de que um outro corpo foi aberto e teve seus órgãos retirados.

— Boa noite. A polícia já se foi. Eu já estou indo.

— Acho que você está fugindo, mas se é o que quer, fique a vontade para se retirar. Depois não diga que não avisei.

Voltei para rua. A polícia não havia saído e estava acompanhada por uma multidão. Me misturei à multidão. Victor também estava, então esperei o momento certo para entrar sem que ele pudesse me ver.

O amanhã me prometeu um dia duro. Quem disse que dei bola pra isso? Evitei todo o tipo de esquisitice possível. O difícil estava em tentar driblar a minha ânsia por buscar resposta para tudo.

O irmão mais velho de Matheus acabou de chegar, depois de tanto tempo fora. Ninguém sabia o seu nome, porque todos o chamavam de Johnny. Dizem que a mãe odiava quando o chamavam assim, mas depois de tantas tentativas de trazer o filho para o caminho do bem, ela começou a aderir ao apelido para se referir ao filho, como sinal de que já havia desistido dele. Isso só piorou as coisas. No ano passado, Johnny saiu e disse que estava indo a um show. Ele deve ter se empolgado, porque, ou era um show muito longo, ou ele seguiu a turnê inteira. Ele estava de volta e com uma mulherzinha estranha a tira colo. Veio com milhões de promessas: que iria mudar, que seria um novo homem, que agora era um homem de bem.

Glória não deixou que ninguém o desse boas-vindas. Ouvindo o soar da buzina, ela se põe do lado de fora para recebê-los. E da palma de sua mão, veio a sua própria noção de boas-vindas. Pintando as bochechas de Johnny, Glória faz de sua mão um pincel, ao colorir com um tapa, o seu rosto. Não consegui ouvir o que estavam falando, mas eu sei que de algum jeito ele conseguiu convencê-la. Ele tinha muita lábia. Alguma coisa me dizia que daria muito trabalho. E a mulher que o acompanhava. Pelo amor de Deus! Muito bonita, porém, não tinha cara de ser uma pessoa decente. Tina era uma bela morena com um sorriso tão grande que cobria a maior parte de seu rosto. Sério, ela deveria ganhar um lugar no livro dos recordes por passar mais tempo rindo. Seus dentes eram brancos e brilhantes, causando até cegueira.

De tanto olhar na janela, alguém acabaria notando. Abaixei para que não me visse, mas Ana já tinha uma trajetória marcada, direto a mim. Encostei-me na parede, desistindo e esperando o caos chegar. A campainha avisa-me. Senti que ela já estava se aproximando, então fui logo abrindo a porta do quarto. Nos encontramos assim que abri. Não sei se havia planejado oque fazer. O silêncio me dizia que o mais provável é que sairia correndo dali. Penso que ela teria fugido se eu não tivesse me atrevido a quebrar o silêncio.

— Oi. Você está bem?

— Estou.

— ok. Você veio...

— Eu vim para... Eu vim para nada. Eu não devia ter vindo aqui. Me desculpe.

— Não precisa pedir desculpas. Eu nem sei o que dizer.

— Eu estou indo.

— Você não precisa ir, mas faça como quiser.

— Não, eu não vou. Não há vergonha nenhuma que me faça sair daqui nesse momento. Poxa! Eu já dei o primeiro passo. Agora só nos resta falar sobre isso.

— Você não vai gostar de me ter como namorado. Eu sou muito complicado.

— Eu sei. Mas o que eu faço com o que estou sentindo? Deve ter algum motivo para tanto amor. Isso machuca.

— Você está exagerando.

— Eu não quero pensar que estou exagerando. Eu quero pensar que ficaremos juntos para sempre.

— Qualquer um riria de você nessa situação. Eu quero fazer isso com você.

— Você seria capaz?

— É claro que não. Eu só acho que somos muito novos. Ainda há muito tempo para descobrir o que é esse tal de amor.

— Eu não me importo se você quiser curtir a vida. Não é o que eu quero, mas nós podemos ter um relacionamento moderno.

— Você tem que parar. Me escuta, por favor. Eu não posso.

— Por favor, se você sente o mesmo que eu, vamos tentar.

— Esse é o problema, eu não sinto. — digo em ponto seco e direito.

— Não, eu... Eu posso fazer mais. Posso mudar e ser como você quiser.

— Não estaria sendo você mesma.

— Diga-me quem.

— Quem? Isso digo?

— Diga-me quem tirou você de mim.

— Porquê é tão difícil pra você acreditar que simplesmente não existe explicação? Eu já disse que não sinto o mesmo que você.

— Eu não sei. Já faz algum tempo que você está agindo estranho. Você está parecendo a porra de um zumbi.

— Então, eu deveria trocar o meu desadorante ou o enchaguante bucal?

— Eu juro que mais uma gracinha dessas, e eu quebro o seu braço.

— Eu tentei ser sério e sincero com você, mas você não quer engolir. Agora depois de tanto carinho e promessas de amor, você quer me bater? Se for grosso com você, você vai chorar?

— Tudo bem. Você não quer nada comigo. Eu só tive a esperança de que tivesse um motivo que não fosse esse. Eu não sei. Esse negócio de amor impossível está tão em alta que... Mas parece que amor não correspondido está mais.

— Eu sinto muito. Ainda podemos ser amigos?

— Ah, essa pergunta. E fazer o que, não é memo? Eu gosto tanto de você, que não suportaria tê-lo longe.

— Você está exagerando outra vez.

— Se você diz...

Ana saiu de cabeça baixa e com os ombros arqueados. Sua sombra estava mais viva que a própria. Com isso, eu aprendi que não havia como fugir. Uma hora eu teria que falar com aqueles dois garotos. Ficou um pouco óbvio que o Arthur se lembrava de tudo. Se for isso, porquê negar? Matheus beijou Amanda ou Amanda beijou, ou pior ainda, os dois se beijaram. Sim, mas isso não é da minha conta. Eu estou pouco me lixando se é, ou não da minha conta.

Assim que pus o pé na rua, de imediato já senti as consequências do dia anterior. As meninas que há tempos não falavam comigo, enquanto, por acaso, passavam na frente da minha casa, me abordaram, dizendo coisas do tipo: "Hey! Rodrigo, eu soube da Ana. Parabéns! Vocês Forman um belo casal". Teve muito mais quando estava indo para a casa de Matheus. Com os olhos mais puxados que o normal e uma garota presa em seu pescoço como cabide na arara, Yuri me encontra no caminho.

— Oi, Rodrigo. Eu estava mesmo indo para sua casa. Você não é meu pai e nem nada, mas gostaria de apresentar minha namorada.

— Agora não, Yuri. Outra hora com certeza. Mas agora não.

— E o que seria tão importante assim?

— Tenho que falar com o Matheus.

— Com o Matheus ou com a irmã dele? Agora eu entendo toda aquela insistência em ser amigo daquele garoto. Queria uma desculpa para fazer uma visitinha à irmã dele, estou certo?

— Errado. Eu tenho outro assunto para falar com ele.

— Não me diga que são aquelas fofocas. Caramba! Você nunca foi de fofoco. Vai virar uma tia fofoqueira agora?

— Que fofocas?

— Você não soube? Ele e a Amanda se beijaram.

— Não, não é isso. Porquê eu daria importancia a isso?

— Não importa. Eu só quero um minutinho do seu tempo.

— Ok, ok, pode falar.

Yuri se desvencilhou da garota como se tira o carrapato de um cão velho. O azul de seus cabelos denunciava a natureza de sua personalidade. A que estava então calada, agora se aproxima de mim e procura defeitos e qualidades no meu corpo.

— Você não parece ser tudo o que disseram. Eu estou decepcionada, eu confesso.

— Como é que é?

— Rodrigo, essa é Tabata, minha namorada.

— Sim, Yuri. Mal conheci direito e já acho que é uma maluca.

— Você não é o único, garotão. Eu sempre procuro causar uma primeira boa impressão.

— O quê? Você tá me dizendo que pode ficar pior?

— Que nada. Só vai ficar melhor com o tempo.

— Sério, vocês foram feitos um para o outro. Só não esqueça de vacina-la.

— Gostei de você. Yuri, será que podemos levá-lo para casa e alimentá-lo? Só precisamos de uma plaquinha para avisar as pessoas. Ele já aprendeu até a dar a patinha, ou melhor, patadas.

— Adoraria ficar aqui Conversando e dando "patadas", mas eu tenho que ir.

— Ora! Nós também. Vamos ao parque de diversões — grita Yuri, já em uma distância um pouco maior em relação a de antes.

— Hum, ele nem se despediu direito — abaixa o tom de voz, com a intenção de que eu não ouça.

Isso pode ter parecido uma discussão, no entanto, não era exatamente. Era assim que eu socializava. Na verdade, ela me pareceu ser uma garota muito legal. A breve conversa me mostrou muito sobre a sua personalidade e temperamento. Em movimento algum, Tabatha perdeu a calma e me disse algo que pudesse me ofender de verdade. Sempre pensei que esse seria o tipo de garota para ele.

Continei meu percurso. Toquei a campainha, estava quebrada; bati na porta, me deparei com Glória de bobes no cabelo e máscara de abacate no rosto. Sua expressão estava neutra, então não tive certeza de que eu era bem-vindo. Deixar a porta aberta enquanto se vira de costas para entrar, para ela era como um convite para entrar. Sentei-me ao seu lado no sofá. Enquanto conversavamos, ela acertava as unhas com uma licha, fazendo questão de demonstrar que não estava interessada.

— Bom dia, Senhora Ramos.

— Bom dia. Acho que você me pegou desprevenida, heim.

— Desculpe por isso. Eu só queria falar um instantinho com seu filho.

— Falarão de garotas, não?

— Porquê a senhora diz isso?

— Que outro assunto dois garotos dessa idade teriam para falar? Ora! Por favor. Eu bem conheço a mente dos jovens de hoje em dia. Esse não é o meu primeiro filho.

— Você me pegou, Sra. Ramos. Falaremos de garotas.

— Muito bem. Eu aprecio a amizade que você tem com meu filho. Eu aprovo o seu envolvimento com a nossa família.

— Obrigado. Eu fico feliz por se sentir assim.

— Eu também. Eu, Matheus e... Ana, é claro.

— Desculpe. Não é que eu não queira falar com a senhora, mas eu preciso falar com seu filho.

— Oh! Minha nossa! Eu devo ter enrolado muito. Ele foi ao parque de diversões com Amanda. Sabe, ele ainda não quer me contar, mas uma mãe percebe esse tipo de coisa. Ela é uma boa menina. Quer deixar recado.

— Não, obrigado.

— Eu entendo. Coisa de jovens. Diga a sua mãe para que venha me visitar antes do meio-dia. Tenho algo para falar com ela.

Fui para casa me sentindo um idiota. Não, eu não quero esquecê-lo e também não quero ficar ao seu lado. Eu só desejo poder amá-lo pacificamente, sem toque, somente sonhando em ter seu corpo físico para mim. Toda vez que nos tocamos, algo de ruim acontece. Por isso não quero mais me render a esse desejo.

Os Ramos não foram os únicos a receber visitas de familiares. Vieram nos visitar: minha tia avó Matilda e suas irmãs Carmen e Aurora. As três velhotas, ambas muito intrometidas, vieram por causa do meu pai. Por um motivo que desconheço, nós não tínhamos contato com a parte da família que correspondia ao meu pai. Aquele era o primeiro desde que me lembro. As tias Carmen e Aurora não se cansavam de fofocar e sussurrar pelos cantos da casa. Tia Matilda não escondia a antipatia que tinha por meu pai. Estranho, minha geniosa mãe se fazia de pacífica.

— Que bom que chegou. Estas são são suas tias, Matilda, Carmen e Aurora.

— Perdão, não sabia que teríamos visitas. É um prazer conhecê-las.

— Sim, eu tenho certeza que é. Mas não somos visitas. Nós somos hóspedes. Iremos ficar até seu pai melhorar — com suas palavras, tia Matilda amarga as minhas.

— Mas, infelizmente, agora ele está internado. Vocês devem estar cansadas. Foram bem de voo?

— Acha que samos cacatuas ou o que? — com uma careta entortou o rosto, e sussurrou pelo canto da boca.

— Desculpe, acho que não ouvi bem.

— Nós não viemos de avião, querido. Moramos em uma cidade a poucos quilômetros desta. Pelo visto seu pai falou muito de nós. Que consideração.

— Ele me disse que foi... Como dizer? Expulso de casa. Que consideração.

— Você terá que me desculpar, querido. Mas você não sabe nada sobre isso.

— Rodrigo, pare de aborrecer sua tia — interviu minha mãe.

— Não se preocupe, Helena. Eu que me expresei mal.

Um breve riso de minha mãe ousou atrapalhar ainda mais o clima. Até eu achei estranho. Não cabia risadas naquela ocasião. Para todos soou como ousadia.

— O que eu disse lhe pareceu engraçado?

— De forma alguma. É que todos me chamam de mãe desde muito tempo. Até minha tia Martha me chama assim.

— Então há motivos de sobra para rir. Não espera que eu a chame assim também, não é?

— Eu realmente não queria atrapalhar, mas acabo de me lembrar que a Sra. Ramos me disse que precisa falar com você antes do meio-dia.

Era preciso muita paciência. Evitei um confronto muito pesado afastando uma de perto da outra. Agora eu só precisava me preocupar com o meu próprio confronto. O descaramento das três era de matar de raiva. Carmen e Aurora eram apenas bruxas. Matilda era o demônio que veneravam. Essa era a minha visão das coisas. Eu até que aguentei por muito tempo.

— Veja só, Carmen. Mais que falta de educação. Não se deve abandonar as visitas dessa maneira.

— Eu concordo, Aurora. Essa casa está precisando de disciplina.

— Eu ainda estou aqui, sabe?

— Sim, Sim, meu caro sobrinho. Isso me conforta.

— Não foi o que quis dizer.

— Então faça o favor de saciar nossa curiosidade. Você ainda não nos deu muitas palavras. Eu e Aurora estamos ansiosas para ouvir o que você tem a dizer.

— Carmen, Carmen, Carmen. O que eu faço com vocês duas? Vamos logo, suas velhas gagás, arrumem as malas.

— Mas já! Fiquem ao menos para o almoço.

— Não entendi direito se é sarcasmo ou hipocrisia, meu "querido sobrinho".

Fiquei algum tempo no quarto. Quando resolvi descer, três pequenas malas empilhadas atrapalharam o meu caminho. Matilda manda que as outras duas se apressem. Elas se faziam de surdas, pois estavam ocupadas atacando a geladeira. Já estavam de saída, e a minha consciência gritava em agonia. Mesmo sendo insuportáveis, aquelas eram minhas tias, sendo assim parte da minha família. Sentei na escada e esperei o momento de ficarmos frente a frente. Nos reunimos ao redor das malas. Sentindo o clima tenso, Carmen convida Aurora a encontrar um táxi.

— Deixamos as indiretas de lado. Eu esperava mais respeito. A consciência de seu pai deveria tê-los ensinado alguma coisa.

— Você espera respeito de mim? Você veio á minha casa só para ofender minha família. O pior é que meu pai é o alvo mais acertado. Porquê tem que ser assim?

— Pergunte ao seu pai. Pergunte se ainda der tempo.

— E por que eu não teria tempo?

— Você não sabe de nada. Talvez eu conte a verdade. Me diga, porquê acha que seu pai foi expulso de casa?

— Ele me contou que dormiu com a prima.

— A prima, minha filha.

— Sua filha?

— Sim. Aurora recebeu esse nome por causa de sua tia. Depois de sua morte, minhas irmãs abandonaram esse mundo, se tracaram em casa e passaram seus dias sem nada a fazer, a não ser, espiar da janela e fazer comentários maldosos sobre as outras pessoas.

— E que culpa eu tenho? Que culpa meu pai tem?

— Você pode não ter culpa, mas seu pai tem toda. Você não tem muito tempo para falar. O tempo de seu pai está acabando. O tempo foi tirado de Aurora. Vamos, me pergunte novamente porquê não tem tempo.

— Eu ainda estou confuso.

— Seu pai teve muito tempo e muita sorte. Ele se agarrou a sua miserável vida e tentou enganar a morte, mas Deus é mais forte que qualquer médico. Ele manda na vida e na morte. A justiça divina pode até tardar, mas nunca falhará. Apesar de tudo, valeu a pena esperar. Valeu a pena vê-lo sofrer, mesmo que de longe. E as tantas vezes que fingiu estar bem... Deus! Foi aí que eu recuperei minha fé. E o que é melhor, eu não precisei mover um dedo. Minhas mãos estão limpas. A enfermidade irá devorar seu corpo. Por aquele pecado, minha filha teve que pagar com a vida. Ele? Ele saiu impune.

— Do que está falando?

— A única coisa que me deu consolo foi a promessa de que com o alerta da morte de Aurora, outras mulheres não entregariam suas vidas a ele.

— O que está falando? Eu pensei que ele tivesse cortado contato com todos vocês. Você esteve o bservando? Você só pode ser louca. Porquê não fala sem rodeios?

— Está bem. Seu pai é um assassino e a ele cabe duas mortes no currículo.

CONTINUA...

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Me desculpem pela ausência de romance nesse capitulo. Ele é muito necessário. Já faz muito tempo que estou planejando algo. Eu estou fazendo o maximo para chegar nesse ponto do conto.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Felipe Fernandes em 2015-07-02 15:20:26
meu caro GibGab... eu queria ter algum tipo de contato com vc pois estou com uma proposta de um conto novo que terá a ajuda de alguns autores do site. me interessei pelo seu conto e quero q faça parte disso. para lhe dar mais informaçoes vou deixar meu e-mail e whats. vou aguardar sua mensagem. ff10091991@gmail.com (91)98148-4378
Por Salvatore em 2015-06-07 21:31:44
Acho que fiquei confuso com essas tias ai, mas esse mistério é muito bom. Ele é um assassinno? Isso me animou muito. Ancioso para o próximo capítulo!!!