capitulo 11 - magic cube

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Esse é o maior e, na minha opinião, o melhor capitulo da serie. Ele é muito grande, por isso me desculpem se acabar sendo muito cansativo. Eu também peço desculpas por ter nomeado o capitulo 10 como 01. Eu me enganei na hora de digitar. Eu espero que gostem e comentem. Se depois de um capitulo tão grande assim eu não merecer um sequer...

__________________________________________________________

Tudo nesse mundo se resume a uma grande, mas ao mesmo tempo frágil ilusão; essa era a minha nova visão da vida. A minha historia voltou ao ponto que conheci aquele lindo garoto de olhos azuis. Na infância eu aceitava tudo que ele fazia e ainda era arrastado a embarcar nessa viagem sem volta. Eu disse "na infância"? Eu quis dizer sempre, pois era o que ele estava fazendo comigo agora. Eu sabia que ele não havia mudado e que agora estava pior do que nunca, mas eu não sabia o que fazer.

Eu estava bem incerto do que eu iria fazer depois, mesmo assim, eu decidi investigar o que estava acontecendo. Já que eu não poderia resolver o problema do meu pai, tudo que me restava era resolver outros assuntos. Eu me lembrei do que a aparição (Lilith) havia me dito e logo tive uma ideia de onde eu deveria ir primeiro. A Igreja ainda estava em reforma, no entanto, a casa paroquial já estava em ótimas condições e o padre já a habitava.

- Bom dia, Sr. Padre.

- Bom dia, filho. Desculpe, mas o que faz aqui? E tão sedo ainda.

- Me desculpe, eu não tenho uma noção de tempo muito boa. Bem, eu fico até com vergonha de pedir.

- Se estiver ao meu alcance... Mas você não me disse o seu nome.

- Me perdoe. Eu me chamo Rodrigo.

- Mas é claro que perdoo, afinal, é o dever de um padre. Bem, eu sou o Padre Raphael e estou ás ordens.

- Você vai achar meio bobo, mas eu vim pedir informações sobre alguém ou algo.

- Alguém ou algo? Do que se trata?

- O nome Lilith o faz lembrar de alguma coisa?

- Lilith, heim. Sim eu sei um pouco sobre Lilith.

- O que o senhor sabe, padre?

- Tudo o que sei é que ela é um demônio muito antigo.

- Um demônio antigo?

- Sim. Porque a pergunta?

- Eu, na verdade, estou fazendo uma pesquisa. O nome Lilith apareceu em um dos livros, mas havia paginas faltando.

- Eu creio que não seja a pessoa certa para informa-lo sobre o assunto.

- Isso já me ajudou muito, mas eu bem que gostaria de saber mais sobre o assunto.

- Eu não deveria fazer isso, mas já que está interessado. Nessa cidade há um rabino judeu que pode ajuda-lo. Ele não é apenas um rabino, ele também é um estudioso no assunto.

- Espere, padre. Como um padre católico pode conhecer um rabino judeu e ainda manter contato?

- Nós dois éramos seminaristas e amigos na época. Certo dia, ele encontrou a marca de uma suástica na parede debaixo de sua cama. A sua obsessão por procurar respostas de porque aquela suástica estava ali, acabou por fazê-lo descobrir que seus avos eram judeus.

- Mas ele descobriu porque a suástica estava ali?

- Você terá que me desculpar, mas eu já falei demais.

- Tudo bem, eu já estou de saída. O senhor pode me dar o endereço do rabino? Ah! E também o nome, você não me disse.

- Que cabeça a minha. Ele não costumava se chamar assim, mas mudou o seu nome para Absalom - ele pegou uma caneta e escreveu em um papel que já estava na mesa. – Tome, aqui está o endereço.

- Muito obrigado, o senhor foi muito paciente. Até a próxima.

- Até mais, meu jovem. Vá com Deus.

O rabino era um homem barbado, que me parecia bem vestido. Ele me recebeu como se estivesse sendo forçado, mas ainda assim, parecia interessado em esclarecer minhas duvidas. Ele também se interessou em saber porque eu queria entender de um assunto como esse. Eu tentava, mas era muito difícil me esconder daqueles olhos severos e curiosos. Ele tentou agir com leveza, porem, para mim a sua calma me parecia mecânica e muito obvia.

- Boa tarde, senhor rabino. Eu me chamo Rodri... - eu fui interrompido.

- Eu sei como você se chama e creio que você também já sabe o meu nome. Vamos logo direto ao assunto.

- Eu soube que o senhor pode me ajudar com o meu trabalho de historia.

- Ora! Mas não seja tão cara de pau. Vamos, eu já vi de tudo nesse mundo.

- Não sei do que senhor está falando.

- Tudo bem, já que prefere assim.

- Eu só quero terminar isso logo.

- Você está com muita pressa pra quem só veio por uma pesquisa sem importância.

- Essa pesquisa vai me dar muitos pontos, só isso.

- Certo, certo. Mas antes, onde está seu caderno de anotações? Você veio fazer uma pesquisa escolar sem fazer anotações?

- Eu devo ter me esquecido, mas não importa, eu tenho boa memória.

- Que ironia. Eu sei que isso é só uma desculpa esfarrapada, mas eu tenho muito prazer em falar sobre o assunto.

- O padre Raphael me disse que ela é um demônio.

- Sim, um demônio do sexo feminino, mas isso não é tudo. Você já ouviu a historia da criação do homem?

- Sim. Adão e Eva, certo?

- Talvez sim, talvez não. A historia tem duas versões. A primeira: o homem e a mulher foram criados do barro e Deus os deu o sopro de vida. A segunda: Deus criou Adão do barro e da costela de Adão, Deus criou Eva.

- Eu não entendi o que tem haver.

- Tem tudo haver. Veja bem, se eu lhe perguntar qual das duas historia seria a mais correta, o que você diria?

- Eu diria que não faço ideia.

- Pois eu digo que as duas estão corretas. Isso porque a primeira mulher não era Eva e sim Lilith.

- Eu nunca ouvi falar disso.

- Lilith foi a primeira esposa de Adão. Dizem que ela teria se rebelado, pois queria ter mais influencia que seu marido Adão. Lilith foi expulsa do Paraíso e se tornou um demônio. Alguns ainda dizem que quem tentou Adão e Eva a comerem o fruto proibido foi Lilith e não Lucifer como todos pensavam.

- Obrigado, rabino.

- Não há o que agradecer.

Como eu esperava, o que eu descobri não era o suficiente para formular uma solução. O meu foco agora era o Matheus e as gêmeas desaparecidas. Como estávamos no lago quando ele me atacou e me levou para a cabana, eu imaginei que ela ficava ali por perto, provavelmente, na floresta, escondida em uma zona distante e de vegetação densa. Eu não tive que vasculhar a floresta inteira, pois só bastou que eu seguisse o aumento dos cipós, trepadeiras e galhos. Eu andei muito, passando até por o que parecia ser uma cidadezinha abandonada perto da estrada, quer dizer, tava mais pra uma pequena vila. Há dez anos, quando a estrada foi construída, houve uma grande movimentação e muitas construções foram feitas junto com ela: um posto de gasolina, um motel, algumas lojas e até algumas poucas casas. A maioria das pessoas que passavam pela estrada, eram turistas que estavam indo para a nossa cidade. A nossa cidade foi conhecida por ter linchado e assassinado um assassino em serie, ou pelo menos era o que todos ouviam falar. Dois anos depois, foi descoberto que ele foi acusado injustamente e que o verdadeiro assassino já teria até morrido de velhice, mas antes de morrer, ele enviou uma carta para a irmã explicando como matou as vitimas. Uma das vitimas foi o seu próprio cunhado, marido de sua irmã. Parece que os turistas da época não se interessaram pela historia de um assassino idoso e decrépito (parece até piada) e foram deixando de frequentar a cidade. A pequena vila acabou se desfazendo com a falência do motel e do posto de gasolina.

Parece que eu não podia mais continuar a confiar na vegetação, porque isso me levou até a beira da estrada. Isso era evidente, eu teria que continuar caminhando, mas na direção contraria a estrada, e sumir floresta adentro. Eu prossegui até chegar ao que parecia ser o fim da linha. Na minha frente havia uma enorme cerca com arame farpado e eletricidade, na mesma estava duas placas de aviso, uma escrita “alta tensão” e a outra ”propriedade privada". Eu já estava desistindo, quando me veio algo a minha visão; um buraco enorme do lado direito da cerca. Como eu não havia percebido antes? Eu atravessei a cerca e fui me escondendo detrás das arvores, até chegar perto de uma enorme mansão. Quando tentei chegar ainda mais perto, me assustei com dois cães que vigiavam a propriedade, mas nem devia, pois os cães estavam muito fracos para correr. Assim que pus os pés na casa, senti mais uma vez o fedor de cadáver podre. Deitado sobre uma cama de casal, estava o corpo morto de um senhor idoso. Eu não pude ficar muito porque haviam urubus tentando entrar no quarto e eles já estavam conseguindo quebrar as janelas.

Nos fundos, atrás da mansão tinha mantida ao natural uma grande parte da floresta, mas sobe o mesmo regime de propriedade privada. Já exausto, cambaleando e com a visão embaçada, eu finalmente encontrei o que estava procurando; era uma humilde cabana de madeira, madeira já acinzentada de tão velha.

Dentro da cabana, além de instrumentos cirúrgicos, eu encontrei dois objetos que chamaram muito a minha atenção: um quadro e um cubo mágico 6x6 cheio de símbolos. No quadro estava representada a imagem de duas meninas usando um vestido rosa e o outro azul. A menina da direita usava um crucifixo no pescoço. O cubo mágico tinha as cores azul, branco, rosa, marrom, bege e verde limão; o que era bastante exótico e chamativo. Eu não podia levar muita coisa, então pensei em levar os instrumentos cirúrgicos, mas alguma coisa me dizia para levar o cubo e o quadro; eu preferi seguir meus instintos.

Eu escondi o quadro e o cubo e fui direto para a casa do Matheus.Duas meninas, rosa e azul, gêmeas, vestidos; isso era suficiente. Aquele garoto conseguiu me meter em outra de suas loucuras.

Ato 02

- Oi, Ro. Você está bem? Não parece bem.

- E eu não estou. Você sabe o que fez?

- Do que você tá falando? Eu to ficando preocupado.

- Não se faça de inocente. Droga! Elas eram apenas crianças.

- Você pode me dizer do que você ta falando, por favor?

- Estou falando das gêmeas que você matou.

- Rodrigo, eu não matei ninguém. Você entendeu tudo errado.

- Então porque não tenta me explicar? Eu sabia, você me enganou mais uma vez.

- Você quer me ouvir, por favor? Eu não fiz isso, eu juro.

- Eu pensei que você... deixa pra lá. Você nunca vai mudar mesmo.

- Eu acho melhor você falar baixo. Toda essa pinta de macho e, ainda assim, fica fazendo showzinho.

- E você ainda reclama de mim. Chega! Eu vou te ensinar uma lição.

- Você vai começar de novo?

- Não. Pensando bem, não vale a pena.

- Olha, eu só te peço um minuto.

- Cara, por favor, me deixa em paz.

- Confie em mim - ele me agarrou as mãos e apertou-as.

- Você tem três minutos, nada mais.

- Obrigado. Eu sabia que você confiaria em mim.

- Eu não disse isso. O tempo está correndo.

- No interrogatório, eu não disse tudo.

- Como assim você não disse tudo?

- Eu estava mesmo triste e por isso eu fugi, mas eu tinha um lugar em mente antes disso. A minha mãe estava cuidando da minha avó doente, os meus irmãos na escola e o meu pai no trabalho; eu estava só. Aquele "amigo" do meu tio chegou em casa depois de muito tempo sem nos visitar. Ele me viu olhando para você e me disse que eu não precisava ter vergon...

- Peraí... Você disse que me observava antes de me conhecer?

- Foram poucos dias, mas eu sempre imaginava o que você iria me dizer quando nos conhecêssemos.

- O que ele disse?

- Ele me disse que eu não era como os outros garotos e que notava que eu não gostava daquele lugar. Eu nunca iria gostar daquele lugar. Nunca iria gostar daquelas pessoas. Eu entendi que eu não seria feliz sendo tão diferente, quer dizer, era isso o que eu pensava.

- Tem algo mais?

- Sim. No segundo sequestro, na realidade, eu não fui pego no beco, eu fui surpreendido em uma rua qualquer.

- E como você quer que eu acredite em você se só o que você faz ê mentir e omitir?

- Eu estou tentando fazer a coisa certa agora.

- Eu tenho que lembra-lo de que o seu tempo está acabando?

- Está bem. Eles me amarraram, me amordaçaram e me vendaram os olhos. Antes de chegar, eu lembro que estávamos na estrada, quando eu ouvi o som de uma buzina de caminhão quebrada. Eles tiraram a venda dos meus olhos e eu vi que estávamos em uma cabana, a mesma onde levei você. Depois de uma hora, eles me levaram pro beco para me encontrar com alguém; você sabe o que aconteceu. Um dia depois, eu vi o mesmo caminhão e reconheci pelo barulho da buzina, mas só um ano depois, eu tive coragem para seguir o caminhão.

- E como eu poderia acreditar em você? Você tem provas?

- Não, eu não tenho, não mais, mas você tem. O cubo mágico e o quadro eram as únicas pistas que eu tinha. Eu poderia descobrir tudo, mas você fez o favor de me tira-los.

- Se você estiver por trás disso, eu descobrirei. Você ainda parece suspeito para mim.

- Então é assim. Na próxima vez que nos encontrarmos, você terá que me pedir desculpas.

- Isso é o que veremos.

O único que podia me ajudar era o tio Ramos. Depois de muitas conversas com ele, eu consegui a dádiva de Deus para alegra-lo às vezes, no entanto, a maior parte do tempo ele demonstrava infelicidade, mas mesmo sabendo que aquele assunto o incomodava, eu não tive nenhuma escolha.

- Rodrigo? Você aqui? Você não disse que estava ocupado com as provas e a doença do seu pai?

- Eu não posso fazer nada quanto à doença do meu pai e a escola que se dane. Mas há algo que eu gostaria de tirar das minhas costas e você é o único que pode me ajudar.

- Isso novamente? Eu já não disse que isso não me interessa?

- Como sabe do que eu estou falando?

- Olha pra você. Você leva isso mais a sério que a saúde do seu próprio pai. Diga-me, pra que te serviu toda essa sua obsessão?

- Quem falou pra você? Foi ele?

- Não foi preciso. Todos os dias em que você esteve aqui, eu não ouvi outra coisa se não você falando dele. Vai por mim, isso vai acabar mal.

- Você não podia acreditar que eu poderia estar apenas magoado? Quer dizer, ele era meu amigo, não era?

- Isso não parece amizade, nunca me pareceu. Você não percebe que esse sentimento só serve para matar as pessoas de desgosto e overdose de melancolia? Você não aprendeu com seus pais? Não aprendeu comigo?

- Sim e é por isso que eu preciso me afastar, mas antes eu preciso ter certeza. Eu preciso da sua ajuda.

- Você sabe que sempre poderá contar comigo. Eu só não espero poder te ajudar.

- Não, você pode, porque você é quem tem mais chances. Eu confio em você e você conhece essa historia. Você fez parte dessa confusão toda.

- Você quer que eu volte à velha historia de crimes e organizações – ele disse de uma forma que me deixou em duvida se era uma afirmação ou pergunta.

- Você pode ajudar muito mais gente. Você me disse que se tornou medico para ajudar as pessoas e mesmo depois de ter completado o curso de medicina, você continuou estudando e se especializando e fez o curso de cirurgia geral para ajudar mais gente ainda. É um lindo sonho.

- Você é só uma criança. O que saberia sobre isso tudo?

- Se eu tiver vivido tudo isso, todo esse sofrimento e não saber de nada, do que me serviu a vida então? Não dizem que a vida serve para nos ensinar o que é certo e errado.

- Você cresceu. Seria muita arrogância se eu não admitisse o quanto de maturidade você adquiriu em tão pouco tempo.

- Então você vai me ajudar?

- Eu preciso ajuda-lo, é um dever pessoal.

Foram horas e dias tentando combinar as cores do maldito cubo mágico. Eu não sei porque, mas pensei em comunicar a Lara O' Conaill. Ela certamente daria com a língua nos dentes, afinal, ela era uma repórter. Mas eu nem tive chance, pois graças a Gloria, Ramos pegou uma cisma por alemães e descendentes de alemães. "Eu não confio nesses discípulos de Hitler", disse. Estava claro que precisávamos de ajuda, por isso e para não chamar O'Conaill, ele pediu a ajuda de um amigo técnico em informática. Eu não entendi essa do "técnico em informática". Ele era o seu amigo mais inteligente, só isso. Não tinha nada a ver com informática. Ele poderia resolver o cubo facilmente, segundo o doutor.

Esperamos a chegada do amigo. Ele chegou por volta das seis e meia. Ele não fez muitas perguntas por que tinha um compromisso e estava atrasado. Ele resolveu o cubo em menos de vinte segundos e foi embora correndo. Nós tentamos pedir a ele que nos ajudasse a decifrar os símbolos estranhos, entretanto, isso não era uma opção diante de um solteirão com um encontro marcado.

Com o cubo finalmente formado, nós descobrimos... Nada. Não sabíamos o que aqueles símbolos queriam dizer. Procuramos por diversas vezes, até que o tio Ramos resolveu chamar o amigo por e-mail. Já estava muito tarde da noite e eu havia fugido de casa, mas como o técnico estava feliz, ele não teimou em nos ajudar.

- Boa noite, Ramos. Que hora, heim.

- Me desculpe, meu amigo. Eu preciso de sua ajuda sua novamente.

- Hoje eu estou nas nuvens, então pode pedir o que quiser.

- O encontro rendeu muito?

- Mais do que você pensa. Eu estou namorando.

- Eu fico muito feliz por você, mas eu tenho que te pedir uma coisa.

- Pode pedir.

- Eu quero que você traduza isso – ele entregou o cubo.

- Poxa! Cara, eu não sou tradutor. Você tem que parar de chamar pra resolver esse tipo de coisa. Eu sou técnico em informática – ele disse de forma humorada.

- Você sabe que é meu quebra galho. Se for possível, faça o mais rápido que puder. O garoto já está quase caindo de sono – eu fiz um sinal de positivo confirmando. Era o que eu podia fazer no momento, pois eu estava mesmo caindo de sono.

- Está bem, mas pare de fazer exigências. Você me chama há essa hora e ainda quer fazer exigências. Eu vou pesquisar o que são esses símbolos. O resto é com vocês.

Como antes, o técnico resolveu tudo muito rápido e foi embora. Ele fez um desenho editorial de alguns símbolos e depois inseriu em um site de pesquisa. Os símbolos eram do alfabeto grego. Colocamos algumas formações de palavras em um tradutor online, no entanto, as palavras não faziam sentido.

- Doutor?

- Não me chame assim - ele estava muito cansado para brigar comigo - Isso não importa. Mas, o que? Descobriu algo?

- Até agora nós só damos importância ao cubo porque ele parecia difícil de resolver. Nós deveríamos dar mais atenção ao quadro.

- Você tem razão. O que estamos esperando? Vamos logo pesquisar.

Com algumas palavras chave no site de pesquisa, nós acabamos descobrindo que o quadro era uma replica de uma quadro chamado rosa e azul. As duas garotas eram filhas de um banqueiro judeu. Procurando por pistas, eu reparei que tinha algo de diferente no quadro.

- Olhe, veja!- O que foi? Pare de gritar.

- Eu encontrei algo.

- Finalmente. Vamos, me diga.

- Uma das garotas tem um crucifixo no pescoço e no quadro original não tem.

- É claro que não. O que uma judia faria com um crucifixo no pescoço?

- Mas como isso ajudaria?

- Bingo! Eu já sei o que temos que fazer. Dê-me aqui o cubo. Eu fiquei tanto tempo revirando esse cubo que agora posso até maneja-lo um pouco.

- O que você vai fazer?

- Você verá.

Ele alinhou as cores de forma que o azul ficasse cruzado dentro do rosa, como uma cruz azul em um fundo rosa. Inserimos a palavra da horizontal no tradutor excluindo letras da esquerda e da direita até formar uma palavra que fizesse sentido e obtemos a palavra júpiter. Não era apenas um planeta, também era como Zeus era conhecido em Roma. Tivemos que nos dividir, então fizemos assim: eu fiquei com a parte da astronomia e Ramos ficou com a mitologia. Uma das luas de júpiter era ganimedes. Tio Ramos me explicou como ganimedes poderia ser uma pista em potencial.

- Ganimedes, heim. É uma ótima pista.

- Porque diz isso?

- O Fernando tinha uma tatuagem do rapto de Ganimedes.

- O rapto de Ganimedes? O que é isso?

- Na mitologia Ganimedes era o amante masculino de Zeus e um príncipe troiano. Diz a lenda que quando Zeus viu o jovem, ele enlouqueceu com sua beleza e quis o garoto para si. Zeus se transformou em águia e possuiu Ganimedes ainda em voo. Por ordem de Zeus, Ganimedes ganhou imortalidade e a função de servir o néctar dos deuses que até então pertencia à deusa Hebe.

- O que faremos com essa informação?

- Eu conheci Fernando em um bairro cheio de travestis, prostitutas, barzinhos e casas noturnas. Ele sempre ficava de conversinha com um amigo, Apolo. Apolo era um bêbado alcoólatra e algo me diz que continua sendo. Nesta cidade não há muitos lugares para alguém se divertir. Essas pessoas são muito hipocristas e escondem tudo debaixo do tapete.

- Então o mais provável é que ele continue frequentando o local?

- Não, mas é a única esperança que temos.

- e quando vamos?

- Somente no sábado da semana que vem?

- Mas porque não nesse sábado ou em outro dia dessa semana?

- Você tem que estudar. Essa semana você tem provas; não pode continuar madrugando. Ele só será encontrado a noite.

- Eu estou cansado disso. Amanhã nós conversamos sobre isso.

- Boa noite.

- Boa noite.

Até parece que eu iria aguentar a curiosidade, além do mais, acho que ele estava tentando me enganar. Ele aceitou muito fácil que um adolescente se metesse em um bairro tão perigoso. Eu não tinha o resto da semana como era para ser, pois ele poderia ir sem mim a qualquer dia, por isso eu fui na noite seguinte. Tive que pegar um taxi em outro bairro próximo, porque nenhum ônibus passava naquele lugar a essa hora e no meu bairro dificilmente se encontrava um taxi. Eu estava meio perdido. Passei por prostitutas, garotos de programa e travestis e mais da maioria me assediaram. Eu não pude evitar me sentir atraído por um daqueles garotos de programa. Eu passava pela calçada quando alguém me parou tocando a minha perna; era um belo garoto ruivo de olhos verdes tão claros quanto a água de uma gruta subterrânea. A coisa mais estranha foi que quando me virei ele estava... como dizer? Fazendo sexo oral em um cara, aliás, um cara bem mais velho e com bigode grisalho. O garoto tinha mais ou menos a minha idade, talvez um pouco menos, talvez um pouco mais.

- Ei, você! Pare ai mesmo.

- Eu? Você está falando comigo?

- Sim. Você não quer entrar na fila? Eu deixo você furar.

- Pare de conversa e volte já a colocar essa boquinha linda aqui - o homem de bigode grisalho reclamou, nos interrompendo.

- Escuta aqui, coroa, eu acho melhor você parar de ficar segurando esse gozo para se fazer de resistente e me dar logo o meu dinheiro.

- Esses bonitinhos são sempre os mais atrevidos. Toma aqui essa sua droga de dinheiro.

- Pronto, agora eu posso começar com você.

- Não, eu não gosto de vivi... Via... viadinhos.

- Ora! Vejam só, um hetero machão e homofóbico. Você não me engana. Eu sei que você está louco pra sentir a minha boca encima... - ele ameaçou me beijar – ...e embaixo - ele se agachou e mirou minha virilha com os olhos.

- Você está certo, eu vim atrás de sexo, mas não com você.

- É mesmo? E quem você procura?

- Eu procuro Apolo. Não é um nome tão comum, então não correrá risco de você se confundir.

- Acho que você ainda está mentindo.

- E como tem tanta certeza?

- Se você conhecesse mesmo o Apolo, você saberia que ele não é desse ramo. Vamos, diga logo. O que você faz aqui, cordeirinho?

- Não me chame de cordeirinho. Você está em desvantagem.

- Você pode ser até mais forte, mas o lobo anda sempre em bando. Minha alcateia está te observando.

- Eu não quero problemas. Eu estou aqui à procura desse homem.

- Eu já esperava isso. Todos nós esperávamos isso, quer dizer, eu achei que seria a policia, mas...

- Como assim?

- Ele é um homem cheio de problemas. Todos nós queremos nos livrar dele, mas Aretha não deixa. Ela diz que a policia acharia que estamos envolvidos.

- Então me diga onde posso acha-lo?

- Você não assiste filmes de ação e suspense? Um bar é sempre um bom lugar para encontrar um informante.

- Obrigado.

- Não há o que agradecer. Boa sorte.

Eu me arrisquei em entrar no primeiro bar que vi pela frente; era um bar gay. Eu me sentei perto do balcão, junto com um cara barrigudo e barbudo estilo urso motoqueiro. Era evidente a forma de como ele me olhava. A situação ficou tão explicita que ele se agachava e chegava mais perto para me ver.

- Ei! Eu nunca te vi por aqui.

- Eu sempre venho aqui.

- E eu moro aqui.

- Droga! Eu nunca acerto uma.

- E pelo que vejo, acaba até entregando o jogo. Eu não moro aqui, mas eu sim estou aqui todo dia.

- Chega disso! Eu cansei. Eu vim para procurar um tal de Apolo e se você e os outros aqui o odeiam tanto como dizem, você vai me dizer onde ele está.

- Eu sinto muito, mas isso não depende de mim. Ninguém aqui pode ajuda-lo. Só a Aretha pode dizer onde ele está.

- Quem é essa tal de Aretha de quem todos estão falando?

- Aretha é uma mulher de alma e coração, mas há um empecilho para ela, ou melhor, tem uma coisa entre suas pernas que contradiz a sua feminilidade.

- Você quer dizer que ela é um travesti? Que surpresa - fiz-me encher de ironia.

- O melhor e mais glamoroso de todos.

- Onde eu posso encontrar essa tal de Aretha?

- Ela mora em um prédio a duas quadras daqui.

- Eu já estou indo. Muito obrigado.

- Tome cuidado, garoto. Você não sabe com quem está se metendo. Aquele homem é perigoso.

- Sim, eu sei com quem eu estou me metendo. Eu posso nunca tê-lo visto, mas eu sei que tipo de pessoa ele é. Boa noite.

- Boa noite.

Eu fui ao encontro da tal Aretha, mas antes eu tinha que passar pela recepção. Toda aquela organização me deixou intrigado. Como eles conseguiram criar toda aquela burocracia? E para que tudo isso em um bairro em que a prostituição era a principal fonte de renda? Toda aquela espera não me serviu de nada, Aretha não queria me receber. O que me foi dito foi que sem hora marcada ficaria muito difícil dela me receber. No ultimo momento, quando eu estava indo embora, o recepcionista me chamou. O recepcionista tinha dezoito anos de idade, pele clara e olhos castanhos escuros.

- Ei, garoto! Vem aqui.

- Ele mudou de ideia? Quer dizer, ela mudou de ideia.

- Não, mas eu posso dar um jeito.

- Pode? Por favor faça isso.

- Eu acho que posso resolver o seu problema. Você pode esperar um pouquinho.

- Pra ser sincero, não, mas se for preciso esperar, eu espero.

Dez minutos depois, ele voltou. Eu nem soube o que dizer. Ele estava usando apenas uma sunga, um colete a prova de balas e um quepe policial. Um minuto de silencio e ele já estava fazendo um striptease na minha frente. Ele colocou os polegares nos cantos da sunga, dando a entender que iria tira-la. Eu consegui impedi-lo de tirar a sunga, mas algo me fez consentir com os próximos movimentos. Ele se colocou encima de mim e começou a simular uma transa, como uma cavalgada. Eu entrei no clima e, timidamente, segurei em sua cintura, indo mais abaixo, colocando as mãos por debaixo de sua sunga e começando a apertar aos poucos. A excitação começou a tomar conta do meu corpo. Eu senti-o duro, duro como pedra, reagindo a cada movimento, seguindo o ritmo de seu corpo, pulsando sangue a cada gota de suor.

- Você já fez isso antes?

- Eu não vou fazer isso agora, então acho que se me perguntarem amanhã, eu irei dizer que nunca fiz isso antes.

- Vamos, garoto. Essa é pra você – Ainda encima de mim, ele virou-se de costas e abaixou a sunga um pouco.

- Não, eu não posso.

- Se o que você quer é me evitar, você pode começar tirando as suas mãos da minha cintura – Ele riu e virou o rosto para eu perceber que ele estava brincando.

- Desculpa, eu não percebi.

- Parece que ele quer brincar.

- Ele quem?

- Seu amiguinho. Eu também estou louco para brincar.

- Por favor, saia de cima de mim.

- Eu só vou sair quando o seu amigo pedir.

- Eu não quero fazer isso.

- Não é o que parece. Ele está duro, eu posso sentir. Por que não me deixa inaugura-lo.

- Eu não quero chegar a esse ponto.

- O que você quis dizer com isso? - ele parou de se movimentar e ficou serio.

- Eu não quero passar o resto dos meus dias fazendo sexo com pessoas desconhecidas.

- Você ainda vai se decepcionar muito. O amor não existe, não nesse mundo.

- Eu já estou me decepcionando. Se esse tal de amor não existe nesse mundo, o que eu sinto não é desse planeta ou desse universo, e mesmo que for, eu irei até o outro mundo busca-lo.

- Boa sorte. O mundo não tem paciência com garotos inocentes como você - ele se levantou e começou a vestir-se.

CONTINUA...

Comentários

Há 0 comentários.