capitulo 08 - estrada para o inferno

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Aqui está o 8°capitulo. Nesse capitulo tudo vai mudar. Eu já havia prometido que haveria um pouco de misticismo nos capítulos mais a frente, esse é um bom exemplo. Eu vou fazer vocês pensarem um pouco. Será que tudo isso é real ou é apenas fruto da imaginação do Rodrigo? Não se preocupem o sequestro e tudo que aconteceu antes disso fazem parte da historia real da serie, mas o que vem depois vai lhes deixar uma duvida. Quem gosta de lidar com o tema sobrenatural, vai gostar desse capitulo. Por favor, comentem.

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Não estou falando de droga de separação nenhuma. Você não entende, eu não sou sua mãe.

– o que? Eu não entendo, eu tenho fotos de quando eu era um bebê.

– ah! Não seja tolo. Eu não me refiro á essa carcaça descartável. Eu admito, é um belo rosto em um belo corpo, mas no final não passa disso, uma carcaça descartável.

– você só pode estar brincando. Se você não é minha mãe, quem é você? E o que fez com ela?

– Mas foi ela mesma que me chamou aqui. Eu vim cumprir a minha parte do trato para que um dia ela me dê o que prometeu em troca, mas parece que encontrei algo melhor.

– O que você quer dizer com trato?

– São apenas negócios, logo você entenderá. Você não é tão inocente como eu disse. Um garoto que deseja outro desesperadamente? Mal saiu das fraldas e já é um pervertido.

– Eu não quero ouvir. Eu não fiz nada de mal.

– Tudo bem, continue se enganando. Eu vou quebrar o seu galho e me retirar antes que você chore. Nos vemos em breve.

Eu pisquei uma vez e tudo já estava diferente, as luzes estavam acesas e já não havia nem sinal da vela. A minha mãe me olhava com uma cara de preocupada, como se não soubesse o porquê de eu estar conversando com ela, como se estivesse falando sozinho o tempo todo, mas não ficou evidente se o problema era em mim ou nela. Quem seria o maluco dos dois?

– Filho, o que houve? O que está dizendo? – Ela demonstrava surpresa.

– Como assim? Agora pouco você falava de coisas estranhas.

– É melhor você ir para cama um pouco mais sedo. Eu vou ligar para seu pai e avisar que você irá dormir aqui essa noite.

– um pouco mais sedo? Está mais que sedo.

– Você está precisando dormir. Você se sente bem?

– Eu que deveria perguntar isso para você.

– Não seja mal-educado, Rodrigo. Vamos, vá para seu antigo quarto - ela se enfureceu.

– Desculpe, eu já estou indo – eu me dirigi ao quarto.

Eu nunca fui de dormir sedo, isso somando com aquela sena gravada na cabeça, eu não iria conseguir pregar o olho, essa era a minha previsão, concretizada aliás. Ao acordar não perdi tempo, me despedi com um beijo na bochecha e disparei para casa. Eu estava muito curioso. Afinal, o que estava acontecendo? A primeira coisa que pensei foi em conversar com meu pai sobre ela, sem dar bandeira, é claro.

– Olá, pai.

– Olá, filho. Chegou sedo, heim. Eu pensei que você fosse ficar mais algum tempo com a sua mãe. Ao menos tomou café?

– Não. Quando saí de lá, ela tava preparando, mas eu preferi comer aqui.

– Não sei por quê. Você sabe que não cozinho muito bem.

– Ah, mas eu já me acostumei.

– Como foi com ela?

– Normal – parecia que tinha a palavra 'mentira' estampada na minha cara.

– Sei, mas você voltou estranho, diferente.

- É que eu tava pensando, vocês nunca falam do passado, vocês nunca falam de vocês. Por exemplo, como se conheceram?

– Ah, essa é uma longa historia.

– Tudo bem, eu quero escutar.

– vou tentar resumir um pouco, está bem?

– Certo, pode começar.

– Nos conhecemos ainda no primeiro ano do colegial. Ela era o tipo de garota perfeita, bonita, alegre, popular e talentosa, talentosa porque era uma ótima cantora e ainda atuava em alguns papeis no teatro do pai. Eu era apenas um bronco que as garotas gostavam. Eu nunca me interessei pelos estudos.

– É só isso? Você não me disse como vocês ficaram juntos.

– bem, nós éramos jovens demais e é só isso.

– vamos, por favor, eu preciso saber.

– Você não acha que está sendo curioso demais, carinha.

– Não, eu não acho, 'carinha' - eu fui bastante irônico quanto ao 'carinha'.

– está bem, está bem, eu conto. Nós sempre nos víamos na escola, mas não nos falávamos. Eu era um pobre coitado que foi expulso de casa por dormir com a prima, tive que me mudar para esse bairro e arrumar um emprego.

– espera um pouco, você disse que não tinha interesse nos estudos. Então o que lhe prendia á escola?

– sim, eu não tinha muito interesse, mas, sabe, eu era popular e se eu acabasse como um fracassado seria deprimente.

– pode continuar, então.

– Ok. O único emprego que consegui foi como saxofonista em uma banda de soul e jazz, o boxe não estava me dando dinheiro naquele momento. A banda sempre se apresentava em um café-bar de musica negra. Eu admito, eu achei que eles iriam se irritar pela minha cor, eu estava certo, mas algo os fez mudar de ideia. A antiga cantora tinha conseguido um contrato com uma gravadora gospel. A banda não estava mais aguentando as vaias por minha conta, eu iria ser demitido. Eu lembro muito bem quando sua mãe entrou por aquela porta. Um amigo nosso havia a indicado e disse que ela viria, ele só não disse que ela era branca.

– Até já sei, as vaias só aumentaram - disse eu, esperando que ele dissesse o contrário.

– É, antes mesmo de ela começar a cantar, mas depois ela conseguiu calar a boca de todos. Acabou que as vaias não continuaram, nunca mais.

– Ainda estou esperando a parte em que vocês ficam juntos e se casam.

– Eu chegarei nessa parte. Desde aquele dia eu passei a provoca-la e logo nós já estávamos namorando. Namoramos por quase três anos, mas ela era ambiciosa e desesperada por fama. Ela me deixou para seguir seus sonhos nos EUA. No começo eu fiquei furioso, mas depois eu percebi que talvez eu nunca mais a veria novamente, então eu resolvi que nós teríamos a melhor noite de nossas vidas, antes que ela me deixasse.

– Você não se importa de falar essas coisas pra mim?

– Não, você já é um rapaz crescido hahaha.

– ah tá. É que minha mãe não é assim, ela se importaria.

– Mas nem sempre ela foi assim.

– O que aconteceu com ela?

– Foi na época que ela viajou para os EUA. Ela ficou um pouquinho famosa em duas cidadesinhas pequenas, mas nada de mais. Não sei como ela fez, mas ela ficou muito tempo para quem estava naquela situação.

– Que situação?

– Ela estava grávida, foi isso que a fez voltar.

– Grávida? Era o Victor?

– Não, não era o Victor. Vocês tinham outro irmão, ele não viveu muito, apenas dois anos e eu só tive três meses para conhecê-lo. Eu já havia prometido a sua mãe que iria me casar com ela, eu não podia deixa-la sozinha naquela situação.

– Por que você nunca contou pra mim e pro Victor?

– Na verdade, o Victor já sabe.

– Eu sempre sou o ultimo a saber.

– Desculpe por isso, mas você deve entender que é um assunto que me machuca muito. Eu deixei minha carreira por aquele lindo garotinho. Eu já até havia me acostumado com a ideia de que era um pai. "Eu me orgulho de ter um filho tão bonito", foi o que disse aos meus amigos.

- Puxa! eu não fazia ideia. Você poderia me dizer o que aconteceu quando ela voltou?

- Quando ela voltou tudo havia mudado, o café e o teatro haviam falido, os músicos da banda haviam morrido em um acidente a caminho de um show. Bem, aquela musica já não era do nosso tempo mesmo, por isso estava na cara que não teria a atenção merecida.

– E... Então, o que matou o bebê?

– Eu não posso contar agora.

– Você ainda esconde mais?

– Você tem que entender, eu não posso mesmo. Eu sei que um dia chegará o momento certo para você saber de tudo, mas eu sinto que não é agora. Confie em mim, por favor.

– Por você eu terei paciência, eu prometo.

Eu não me lamentei, não me queixei, não exigi a verdade; ele merecia a minha confiança. Naquele dia eu soube que minha vida nunca foi um mar de rosas, ou seja, desde o começo ela já estava errada. Eu pensei que o mundo que eu conhecia havia desmoronado, no entanto, ele nem existia. Isso ficou por muito tempo martelando na minha cabeça, duas semanas, pra ser mais exato. Só tinha uma forma de me tranquilizar, falando com a minha mãe sobre esse assunto. Eu fui até a minha antiga casa com a intenção de sair de lá com a verdade.

– Bom dia, mãe – eu estava sério.

– Bom dia, criança minha - ela estava fumando, com um cigarro em uma mão e um rosário na outra.

– Você parece estranha. se sente bem? – eu demonstrei, com uma expressão atônita, que eu a estava estranhando - Um rosário? Você estava rezando? - eu voltei a estranha-la porque desde que me entendo por gente, ela era ateia.

– Ora! Não me olhe assim. Eu apenas mudei de ideia.

– De ideia? Isso é mudar de vida.

– Sim, sim, eu sei, mas é necessário. Talvez assim eu me livre do castigo de sofrer eternamente na perdição.

– O que está falando? Você não acredita nisso.

– Agora eu acredito e, aliás, estou falando de castigo divino hahaha - o riso não era de deboche, estava mais para auto-deboche, como se estivesse rindo da ironia que sua vida se tornou.

– Castigo Divino? – eu me lembrei do meu primeiro beijo e como eu ignorei a existência de um inferno.

– Sim. Se existe Deus, é certeza de que também existe o diabo, è nisso que eu acredito agora.

– Eu não vim falar disso – recompus minha postura de antes.

– E então... – ela fez uma pausa e ergueu uma de suas sobrancelhas – Sobre o que você veio falar?

– Eu não queria fazer isso com você, mas...

– Então você sabe sobre a criança - ela não parecia surpresa.

– Como você sabe?

– Eu não sabia, eu pressenti. Esses dias de cão me obrigaram a fazer coisas terríveis para voltar aquele tempo e mudar tudo.

– Você poderia me contar como o bebê morreu? Qual foi a doença?

– Aqueles criolos, todos pensaram que eu os abandonei, mas a verdade é que eu ofereci partilhar meus sonhos com eles, mas não, eles riram e me deram apenas um 'boa sorte' - ela mudou de assunto.

– Então você não os abandonou? - eu caí no seu joguinho.

– É claro que não. Eu os amava - Ela se apoiou na mesa e começou a chorar - Ah ! Droga! Eu os amava.

Não parecia, mas deu para sentir o seu bafo de longe, ela estava bêbada. Além disso tinha duas garrafas vazias de whisky e uma de vinho também vazia.

– Olha só, aquele vinho era para uma ocasião especial. Você consegue imaginar algo mais especial do que a minha mudança de ideia? Ops! ...De vida - ela percebeu que eu estava olhando para as garrafas.

– Eu tenho que ir.

– Espere, ainda temos muito o que conversar.

– Não, preciso ir, de verdade.

– Está bem, mas volte mais tarde.

– Tudo bem, eu volto.

Ela sabia que eu estava mentindo, mas acho que ela gostava de pensar que iria me ter junto a ela para sempre, quando um pressentimento lhe dizia que ela não me veria por um bom tempo.

Eu voltei quase voando para casa. Não era medo, era algo até parecido, mas não era medo, era decepção. A decepção, o medo e a vergonha me pareciam iguais, pois eles me causavam a mesma sensação. Quando cheguei em casa, me deparei com algo curioso, o meu pai sentado no chão e encostado no sofá com um antigo gravador e uma fita nas mãos; eu me sentei ao lado dele sem emitir nenhum som sequer; ele ligou o gravador e começamos a ouvir. Era uma musica de tom agradável, com um instrumental maravilhoso e uma voz de cair o queixo, era doce e forte ao mesmo tempo. Eu ouvi o som do Victor descendo a escada e depois o vi sentar no braço do sofá, ele agora se juntava a nós. Aquela voz, em determinado momento, não me era estranha. A gravação começava com alguém apresentando uma banda, era mais ou menos assim: "Senhoras e senhores, o Aretha’s café-bar apresenta The supreme thunder , com sua nova voz, Helena Cruz"; e logo depois as vaias, a voz e finalmente os aplausos. Fazia muito tempo que não escutava esse nome, pois ela sempre o evitava; e nós, eu e meu irmão, a conhecíamos pelo nome que nós a chamávamos e pelo nome que meu pai chamava; exatamente, era o nome da minha mãe.

Faltando uma semana para as aulas começarem, eu recebo uma má noticia do meu pai, eu iria estudar em outra escola. Eu não conseguia acreditar, quando eu finalmente consigo encontrar amigos de verdade, o meu pai estraga tudo. Quando eu achava que poderia, vem o primeiro dia de aula e me deixa louco. O primeiro dia me trouxe a cena de um passado bem próximo. Não é difícil de esquecer da penúltima visita á minha mãe. A pessoa que me trouxe essa sensação de Déjà vu

foi uma professora de meia-idade, cabelos castanhos escuros, e uma boca tão pequena quanto um formigueiro. Ela não lembrava em nada a minha mãe, exceto pela cintura fina, mas não era a aparência que fazia lembrar daquele dia.

Bom dia, classe. Para quem não me conhece, eu sou a professora Lilith.

A classe inteira reagiu ao ouvir aquele nome. Todos estavam pálidos, pareciam zumbis. Ela, por sua vez, virou-se para mim.

– ora, ora, veja o que temos aqui. Como se chama, filho?

– Eu me chamo Rodrigo, professora.

– Bem, vejamos, ninguém nessa sala conhece você, ninguém, exceto, eu. Você só pode ser um aluno novo.

– Sim, eu sou. Mas você disse que me conhece?

– Sim, foi o que eu disse. Não me diga que não está me reconhecendo.

– Desculpe, mas não, eu não me lembro de você. Eu deveria?

– Mas é claro que sim. Eu sou uma grande amiga da sua mãe.

As palavras 'grande' e 'amiga' pareciam ter transformado a classe em chipanzés, todos gritavam e pulavam como macacos. Um deles até tirou a roupa, mas a professora continuava agindo como se tudo fosse normal.

– Amiga da minha mãe? Não, eu me lembraria - no mesmo momento eu desviei o meu olhar para o garoto despido.

– Não, não "amiga" dessa forma – ela se referia ao jeito como eu olhava para o garoto.

– Eu não falei de nenhuma outra forma – a minha testa franziu, mas eu não estava com raiva.

– Eu sei, eu só quis fazer uma referencia ao seu gosto por nudez masculina.

– Não! Eu não...

– Não precisa fingir para mim. Eu sei de tudo.

– Você está enganada, e eu não conheço você.

– Você por acaso não se lembra da visita que eu fiz à casa de sua mãe. Eu estava lá e nós, eu e você, ainda conversamos.

A classe voltou ao normal, foi como ver um vídeo voltando ao contrario. A professora olhou para mim, me examinou dos pés à cabeça.

– Sente-se. A aula já irá começar – disse ela como se não houvesse acontecido nada.

– Desculpe, professora – eu abaixei a cabeça e sentei.

– Bom dia, eu sou a professora Lívia e comigo vocês irão aprender historia.

Depois daquela experiência, eu tomei uma decisão, eu iria fazer de tudo para sair daquela escola. Eu não poderia ficar em um lugar tão longe dos meus amigos. O meu pai torcia o pé por cada travessura que eu aprontava, mas nunca desistia. Como o meu corpo já era bem mais desenvolvido que a maioria dos garotos da minha idade, eu sempre me metia em briga, pois já era certo que eu iria vencer. A minha ultima façanha foi demais para o meu pai, ele definitivamente entendeu que nunca deveria ter me tirado da escola anterior. Sem nenhuma noção do perigo, eu me meti no estacionamento e pichei todos os carros dos professores e, para garantir que iria ser pego, pichei o meu nome na porta da diretoria. O meu pai teve que desistir, mas não antes de me deixar duas semanas sem o boxe. O boxe já havia se tornado um vicio de família; eu, meu pai e meu irmão treinávamos todos os dias, mesmo assim, meu pai havia inscrito eu e meu irmão em um programa que ensina jovens a lutarem boxe.

O meu corpo havia mudado muito de um ano pro outro. É claro que eu não havia virado o Rambo, nem cheguei perto, mas parecia que eu era um pouco mais velho por conta do corpo. Eu almejava ainda mais mudanças. A parte física do meu corpo que o Matheus demonstrou gostar mais desde o começo era o meu cabelo, por isso ele sempre estava me chamando de indiozinho (isso me irritava), então eu cortei o mal pela raiz. O meu pai achou que já era hora, tanto que deixou eu escolher o corte. A minha mãe ficou nervosa, roendo as unhas e, às vezes, mordiscava a própria mão. Eu escolhi um corte meio retro, um pouco anos 50 com uma pegada mais moderna. As laterais do cabelo foram raspadas a maquina, os anos 50 ficava por conta do topete. Os meus pais adoraram por causa do topete que os vazia lembrar do Elvis, de quem eles gostavam muito aliás.

O segundo semestre começou e, como o meu pai cedeu, eu estava voltando a minha antiga escola. Eu olhava para os lados, todos me olhavam estranho de volta, eu nem ligava porque não era briga que eu estava procurando, era os meus amigos. As primeiras pessoas conhecidas que eu queria ver, os meus amigos, quem dera tê-los visto primeiro. A primeira pessoa conhecida que eu vi foi o Matheus. Eu já odiava tê-lo por perto, era muito incomodo ter que ser obrigado a sentir aquele sentimento acorrentado ao meu coração. Ele me olhava diferente, como se estivesse com raiva, no entanto a parte mais estranha foi que ele tentou ser simpático.

Olá, como vai? - ele estava tenso, com ar de mal-humorado - Bem vindo - ele mostrou um belo sorriso, acabando a impressão de mau-humor antes deixada.

– Olá, eu vou bem, obrigado. Mas e você?

– Não tão bem quanto você.

– Parece que você não mudou nada – eu pus as mãos no bolso e olhei fundo nos seus olhos.

– Não, você é que parece ter mudado demais.

– Você está lindo, gatão! – eu gritei já me afastando de costas, soando como uma piada, ao invés de uma cantada.

– Belo corte de cabelo! – ele gritou rindo e se afastando da mesma forma.

Eu coloquei os fones de ouvido, pus em highway to hell e me mandei corredor adentro. Havia varias pessoas correndo pelos corredores, eu não entendia porque; a explicação estava bem ao lado, nos dois lados, alguém encheu os armários com bombinhas. Eu tirei os fones de ouvido, assim eu pude ouvir o barulho das pequenas explosões que juntas causavam um barulho de matar. Mesmo com todo aquele barulho, eu consegui ouvir uma risada vinda de uma porta, o armário do selador, mas não era o selador que estava no armário. Eu abri a porta, a única coisa que ele conseguiu me dizer enquanto estava lá foi: “Você não vai contar pra ninguém, vai?” Aqueles cachos loiros, aqueles lábios rosados, aquela pele cheia de sardas, era o Arthur. Eu olhei para trás e lá estava ele com aqueles olhos puxados e o sorriso de boca cheia e inflada, o Yuri.

De imediato a afeição que eu tinha com aqueles dois garotos voltou a ser o que era, parecia que o tempo não havia passado para nós. O Arthur não usava mais óculos e agora era apaixonado por explosivos e fogos de artifício, já o Yuri, havia aprendido a usar sua genialidade para o mal, era uma péssima combinação e eu gostava disso. Esse dia valeu muito a pena, eu consegui tudo o que queria, provocar de leve o Matheus e reencontrar os meus amigos.

Antes de irmos para casa, o Arthur nos convidou para irmos assistir um filme de terror na casa dele naquela noite, eu aceitei, mas o Yuri inventou uma desculpa porque tava com medo. Eu cheguei bem no horário marcado, ele até ficou impressionado.

– Nossa! Na hora certa. Você tava contando os passos também?

– haha... Não, eu não faço isso.

– Pode entrar. Eu já vou por o filme.

– Pode deixar, foi pra isso que eu vim.

Depois do filme nós jogamos videogame e coisa e tal, não vimos o tempo passar. Quando acabamos já era muito tarde, o meu pai ligou e perguntou se eu iria ficar para dormir. Já era mais do que evidente que a minha resposta seria sim. A madrasta do Arthur fez questão de que eu dormisse na cama dele; o Arthur dormiu no chão em um saco de dormir. Eu já estava quase no décimo sono, quando o Arthur veio me chamar.

– Ro, Ro, Rodrigo – sussurrava enquanto sacudia os meus ombros.

– O que é? – eu perguntei meio sonolento.

– Eu não consigo dormir.

– Se for por causa do saco de dormir, eu troco, mas vai dormir logo.

– Não. Eu quero te mostrar uma coisa.

– Tudo bem – eu me levantei na hora.

Saímos na escuridão da noite e corremos pelo asfalto na ponta dos pés para evitar chamar a atenção dos vizinhos. Paramos em um lugar que parecia um lixão ou ferro velho, cheio de tralhas velhas e carros quebrados; por outro lado, ele tinha uma bela vista das estrelas. Ficamos ali, deitados na grama que havia antes do lixo e conversando sobre deus e o mundo, até que, o Arthur se levantou e pegou uma bateria de carro que, ironicamente, estava escondida embaixo de um dos carros quebrados. Eu segui o Arthur, ele estava indo na direção de alguma coisa coberta com uma lona. Ao chegar perto da lona, o garoto liga alguns fios na bateria e retira a lona. Aquilo não podia ser mais lindo e oportuno ao mesmo tempo, era uma placa com luzes formando o nome Aretha's Café-bar.

Depois do Arthur soltar alguns fogos de artifício que ele tinha escondido debaixo do mesmo carro, nós fomos dormir juntos, na mesma, apenas de cueca, com os corpo grudados um no outro. Apesar da pouca distancia que estávamos um do outro, não rolou nada a mais alem do toque dos nossos corpos. A minha barriga e o meu peito estavam encostados nos dele, a minha bochecha estava em cima da bochecha dele, mas nós não levamos isso como nada revelador ou indecente.

CONTINUA...

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