capitulo 06 - the kiss

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Ok, pessoal, não se preocupem, a tortura vai acabar um dia. Eu só queria pedir um favor, que vocês façam a gentileza de comentar, nem que seja pra falar mal de mim ou xingar a série kkkk. Eu agradeço tanto os elogios, quanto os xingamentos. Espero que alguém se interesse.

Klaytton, no começo não foi mostrado o primeiro sequestro; isso só foi revelado depois, quando o Rodrigo ouviu uma conversa da Gloria com a mãe dele. O segundo sequestro não foi bem um sequestro ao pé da letra, mas já seria considerado como uma tentativa de sequestro; foi o que foi mostrado no primeiro capitulo.

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O delegado nos levou até uma rua que ficava perto de nossas casas; ele não podia nos levar até elas, porque não saberia o que explicar aos nossos pais. A essa altura o céu não estava mais tão limpo, estava nublado e a chuva estava se aproximando; nós corremos e o único abrigo que conseguimos encontrar era um orelhão velho que já estava até desativado. O mundo parou, a chuva parecia cair em câmera lenta, eu senti sua respiração, eu senti o seu halito. Eu pedi a Deus e ao universo para que aquela chuva não parasse para eu ter que ficar olhando para seus olhos por mais um tempo. Ele não parava de olhar para mim. Nós começamos a nos mexer como se estivesse ficando desconfortável e ele não soube fingir; ele continuou olhando para mim e então eu soube. Nós começamos a aproximar cada vez mais os nossos rostos um no do outro até que eu tentei beija-lo; ele virou o rosto e o beijo acertou sua bochecha. Havia algo de diferente, parecia que ele também queria, mas ao invés de deixar eu beija-lo, ele virou o rosto e saiu correndo. A única coisa que me deixou esperançoso foi aquele gesto de segurar a bochecha como se não quisesse que a chuva apagasse aquele beijo.

As mais belas horas e as mais belas tardes, ouvindo jazz, soul e blues com a minha mãe. Tudo o que eu fazia, fazia pensando naquele gesto. Eu senti como se eu estivesse em seu coração batalhando para continuar lá e dessa vez ele me defendeu, ele me defendeu das sombras do seu próprio coração quando guardou meu beijo, por isso as tardes eram belas, as manhãs eram tranquilas e a noite era mágica. A minha mãe percebeu algo de estranho em mim; ela parecia desconfiada, mas parecia feliz. Não sei se ela ficaria tão feliz se descobrisse o motivo da minha estranha alegria. Naquela tarde, ela me fez o favor de me apresentar a outro de seus gêneros musicais favoritos, o mambo. Tudo começou quando estávamos ouvindo musica e ela me mostrou duas musicas chamadas mambo baby e mambo baby to-nite. Eu lembro que a motivação não era as musicas em si, mesmo sendo muito boas, mas sim a palavra “mambo”, isso foi o suficiente para despertar minha curiosidade. Eu não ficava em uma fossa ouvindo Love of my life quando estava apaixonado, eu dançava mambo e ouvia Ruth Brown, the falcons, Perez Prado, Beny Moré e Tito Puente.

– Filho, não sei de onde você tirou tanta alegria, mas isso me contagia.

– Eu não sei. Eu to normal.

– Ah! Filho. “to”? Você deve ter tirado isso do seu pai.

– Desculpe

– Vamos. Esses passos não parecem difíceis para você, parecem?

– Alguns.

– Há algo de estranho em você, você parece mais livre e apaixonado.

– Apaixonado? Eu não estou apaixonado. Eu não conheço ninguém – eu imediatamente parei a dança.

– Hahaha. Hum, parece que estamos chegando a algum lugar – piscou um olho e virou-se para não demonstrar a sua expressão de “eu sabia” – Calma, eu me referia à dança. Vamos, continue dançando. Se não quiser dançar, eu terei que cantar para você.

– A senhora canta?

– Ora! por favor. A senhora está no céu. Você está olhando para a melhor cantora e atriz que essa cidade já viu. Os meus sonhos foram destruídos em Hollywood, mas eu sei que poderia ter tentado mais.

Ela inclinou seu rosto para cima, demonstrando uma superioridade divina e começou a cantar os primeiros versos. Eu tenho certeza de que teria sido perfeito se o Victor não tivesse aparecido e estragado tudo.

– Eu vim para buscar o meu irmão.

– Ok, Victor, mas não quer dar um abraço na mamãe?

– já estamos providenciando isso. Logo o meu pai terá alguém para eu e meu irmão chamarmos de mãe.

Ela tentou esconder o desgosto. Ela apanhou o xale no chão e se retirou. Dessa vez o Victor havia passado dos limites.

A magia da noite ficava por conta da minha imaginação. Eu sempre tive vergonha de ver o que eu via, pois ninguém via o mundo como eu. Naquela noite eu perderia grande parte da minha aversão aos meus próprios defeitos. Eu já me preparava para dormir, quando ouvi aquele som que sobia as escadas e viajava com a brisa noturna até o meu quarto. Ali estava, de pé, seminu, vestindo apenas uma cueca branca; ali estava ele, implorando para ter amor, para ser consumido e consumir; ali estava... Matheus. Ele veio a mim silencioso, mas sonoro, silencioso e sonoro como o sussurro do vento. Ele me pegou nos braços e eu pude sentir o calor do seu corpo. Nós nos pressionávamos um contra o outro. Algo estava acontecendo, nada batia com a realidade. Depois que finalmente pós suas primeiras palavras pra fora, eu entendi o que estava acontecendo.

– Eu... Te amo – sussurrou ele no meu ouvido.

– Eu não quero dizer isso, eu não posso.

– Você não precisa, eu sei – continuou falando em um tom baixo.

– Você, você pode... pode fazer.

Ele se pós em cima de mim e acariciou as minhas costas.

– Não, eu não posso.

O meu mundo de cristal se desfez diante de mim. No começo eu fiquei decepcionado, mas depois eu comecei a me viciar naquelas fantasias. Não foi apenas uma noite, foram varias durante muito tempo e não era só há noite, também acontecia quando eu estava sozinho durante o dia. Nessa idade o corpo e as atitudes começam a mudar. As pessoas dizem que as crianças são inocentes e não sentem desejo sexual, mas sabemos que isso não é verdade, ainda mais quando se está tão perto da adolescência. O desejo não é uma coisa que nós adquirimos com o tempo, ele é parte do pacote humano, ou seja, sempre está e esteve presente dentro de nós; o que acontece é que em algumas fazes da nossa vida, ele tende a crescer bastante.

As aulas estavam de volta. Em algum tempo eu percebi que nem todos me odiavam naquela escola. A professora pediu que todos formassem um grupo, o estranho foi que o Matheus queria fazer o trabalho comigo outra vez. Dessa vez tinha alguma coisa que me incomodava na sua atitude, quer dizer, antigamente isso era comum, mas agora era diferente. Pensei bem e analisei tudo, ele e os seus amigos estavam rindo como cinco hienas em meio à carcaça de um animal abatido. A minha sorte foi que alguém se propôs a me salvar de mais uma exposição publica.

– Olá, chefe. Não quer fazer o trabalho comigo?

– Chefe, eu? Espera... Com você? Eu não...

– Ah! Vamos lá, Ro.

– Eu ia dizer que não sei.

– Como assim você não sabe? Nós não fazíamos sempre juntos? Você mora até mais perto de mim agora.

– Não mais. Já faz um tempo, eu acho.

– Mas é por causa das férias, não é?

– É porque agora ele vai fazer o trabalho comigo? – um garoto; que confesso, não havia notado antes; o interrompeu – comigo e com Arthur.

– tudo bem pra mim – ele estava visivelmente decepcionado, mas ainda tentou disfarçar.

O garoto foi minha salvação, pois se não fosse ele, na certa eu teria caído em alguma armação. Ele se chama Yuri, era descendente de japoneses e era um dos melhores alunos da classe. O seu amigo Arthur já foi mencionado; era um garoto loiro, cheio de sardas no rosto, que usava óculos e que me causou muita raiva e decepção quando veio pela primeira vez à nossa sala, me fazendo pensar que seria o Matheus. Desde aquele dia, nós seriamos grandes amigos, mas eu ainda tinha algumas perguntas para o Yuri.

– Olá, eu me chamo Yuri. Eu sei que não deve ter me notado, ninguém nota – ele chegou bem perto e deu um sorriso simpático.

– Olá, eu sou o Rodrigo, mas todo mundo... minha família me chama de Ro – eu o retribuí com um sorriso meia boca.

– Eu sei. Todo mundo aqui conhece você.

– Escuta, por que você disso aquilo?

– Aquilo o que? – ele se fez de desentendido.

– Você sabe, o Matheus.

– Ele não gosta de você, não como antes.

–Como antes? – dessa vez era eu que estava me fazendo de desentendido.

–Ele era seu amigo, não era? – ele não esperou que eu respondesse a pergunta – pode até parecer, mas acho que ele não quer voltar a ser seu amigo.

–Eu sei, mas o que eu queria saber não era isso – parece grosseiro, mas foi dito em um tom educado.

– Tudo bem, os novos amigos dele já fizeram isso comigo ano passado, com O Arthur nesse primeiro semestre e agora tentaram fazer com você.

– O que eles queriam fazer comigo?

– Ninguém sabe, é sempre diferente, acontece pelo menos uma vez a cada dois meses; isso desde o ano passado. Tudo começou com brincadeiras bobas, mas deixa pra lá.

– O que eles fizeram com você

– Deixa pra lá. Vamos na sua casa ainda hoje – ele tentou mudar de assunto.

– Não precisa dizer o que fizeram com você, mas eles já fizeram algo de ruim comigo também.

– Não deve ter sido muito sério, porque eles ainda estão atrás de você.

Eu sabia o que aquilo queria dizer, ninguém além dos garotos sabia que eu visitava o tio Ramos. Eu meditei sobre o assunto e comecei a reunir fatos importantes, dois destes me ajudaram a esclarecer uma parte da historia; ninguém na escola tocava no nome do tio Ramos e a noticia nunca havia chegado aos meus pais. Se os garotos tivessem mesmo espalhado, a minha família saberia e teriam falado comigo, afinal, ele era um homem suspeito de pedofilia. Ninguém tocava no nome do Tio Ramos porque ninguém sabia que eu o visitava. O problema era que eu não fazia a mínima ideia do porque de eles terem permanecido calados

Eu já havia saído do ponto de ônibus, estava indo para casa; passei em frente a casa daquele garoto que não merecia que eu pronunciasse o seu nome. Ele já havia trocado de roupas, estava sentado na calçada conversando com a irmã, ela me vê e me chama. Apesar de que ainda tinha uma desavença com ele, eu não tinha nada contra a irmã dele, muito pelo contrario, eu até achava ela muito divertida.

– Oi, Ro. Posso falar com você?

– Pode, mas tem que ser rápido – eu falei com toda a inocência do mundo, tanto que o Matheus fez um gesto de reprovação com a cabeça, mas ela continuou insistindo.

– Você está com pressa?

– Um pouco. Por quê?

– Eu queria te dar algo. É muito importante que você receba primeiro de mim.

– O que é? Posso ver agora?

– Não, você tem que ir. Você estará em casa às 30h00min dessa tarde?

– Sim, eu não vou sair de casa. Os meus amigos virão para fazer um trabalho, mas será em casa e acho que vai acabar rápido.

– Tudo bem, eu estarei na sua casa às 30h00min. Espere-me, por favor – ela falou de uma forma que me intimidou. Já que ela era mais velha o efeito era duplo.

Os garotos chegaram cedo, por volta das 01h30min e foram embora às 02h20min, porque não estávamos muito concentrados no trabalho. A sorte era que o trabalho não era tão difícil. Antes de o Yuri ir embora, eu contei a ele o que aconteceu. Ele era muito mais esperto do que eu, ele não sacava muito de garotas, mas fingia bem e mesmo que não soubesse tanto, isso já era mais que eu.

– Yuri, espera. Você entende alguma coisa de garotas?

– Eu? – ele ficou nervoso – Bem, eu tive meus momentos – ele falou tentando parecer adulto. Atitude esperada de um pirralho metido a sabichão, que tem um dicionário como livro de cabeceira.

– É que tem uma garota, eu queria saber o que ela quis dizer.

– Me conte tudo. Eu esclarecerei a situação para você – de novo aquela arrogância infantil de tentar ser adulto.

Eu contei a ele tudo o que ela falou; ele me disse o obvio, obvio não para mim, mas para as testemunhas, ela, o próprio Yuri e seu irmão. A tal coisa ou presente seriam os seus lábios, um beijo, não, o primeiro beijo. Eu não esperava isso, não esperava “mesmo”.

Logo depois do Yuri sair, a campainha tocou. Eu estava nervoso, pois não sabia se era isso que eu queria. Eu abri a porta devagar, mas antes desviei o meu olhar da porta e verifiquei o relógio, era apenas 02h25min da tarde. Eu olhei para a porta e me surpreendi, não era Ana, e sim o seu irmão.

– Matheus? O que faz aqui?

– Eu vim pra ver você – ele parecia ansioso.

– O que você quer – fui grosso propositalmente.

– Eu só quero ser o primeiro.

CONTINUA...

Comentários

Há 1 comentários.

Por Klaytton em 2015-04-02 16:29:10
Uhhhhhhhhh, interessante. Tô adorando!