capitulo 05 - the interrogation

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Pessoal, continuem comentando e me perguntem se tiverem duvidas. O meu e-mail tá em um comentário na “apresentação”.

Klaytton, na verdade, ela não é nazista, os pais dela são alemães, só isso. Eu quis mostrar que existe preconceito dos dois lados, ela com a homofobia e ele com a xenofobia. Os pais dela são alemães e mudarão de país na esperança de construir uma fabrica de cerveja no sul, mas fracassaram. Ele é xenófobo porque generaliza quando insinua que todos os alemães são nazistas. Ela é homofóbica e muito religiosa, mas não é racista. Qualquer duvida sobre os personagens é só me perguntar. Obrigado e continue lendo e comentando.

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O céu e o ambiente pareciam me convidar para uma lenta dança, dança que me excitava e me dava até arrepios, era o mistério. Aquele dia era bem apropriado para isso, descobrir o que iria me motivar futuramente, me livrar de todos os segredos, tirar um peso das minhas costas; tudo isso parece não ter haver uma coisa com a outra, mas, havia uma conexão. Hoje enquanto eu pensava ingenuamente em fazer algumas perguntas ao Dr. Ramos, eu tive uma revelação, uma revelação do que eu queria ser quando tivesse idade suficiente para seguir uma vida independente. Quando você pergunta a uma criança o que quer ser quanto crescer, na maioria das vezes, ela responde precipitadamente, mas aquele não era o caso e eu soube assim que pus os olhos nela. Ela era realmente linda e glamorosa, mas não era isso que me fazia admira-la; ela era fantástica inteligente e independente, eu queria ser como ela, quer dizer, não fisicamente, pois eu sempre aceitei muito bem o meu corpo e, sinceramente, não gostaria de ter nascido menina, seria muito fácil, não teria o desafio que me excitava tanto; eu só queria dedicar minha vida a algo como o seu trabalho.

Ela era uma jovem brilhante e bem sucedida repórter de um jornal respeitado e seu nome era Lara O’Conaill. Foi graças a senhorita O’Conaill que eu pude saber o que havia acontecido, em outras palavras, ela veio para investigar o sequestro do Matheus e tudo que girava em torno dessa historia, mas as investigações já haviam acabado. Ela esteve trabalhando disfarçada o tempo todo e ninguém percebeu, nem mesmo o detetive responsável pela investigação policial. Ela retornou para entrevistar os envolvidos no caso. Eu a vi pela primeira vez na frente da casa do doutor; ela estava acompanhada pelo investigador Alberto Necroline. Eles pareciam um casal de comedia romântica, sempre em pé de guerra, era admirável vê-los juntos. É meio engraçado, eles eram a minha definição de casal perfeito, talvez tenha sido só efeito das novelas da minha mãe. O ponto é que eles estavam na frente da casa do Dr. Ramos para li fazer perguntas sobre o caso, pois ele não estava totalmente resolvido, ainda faltavam nomes e endereços. O casal curioso saiu de lá com as mãos abanando com uma multidão de outros repórteres a tiracolo, mas eu não estava disposto a me limitar ao mesmo destino.

Esperei todos saírem para por o meu simples plano em pratica. Tudo que eu fiz foi usar como escada uma porteira velha de madeira que estava ali jogada. A janela estava fechada, a tranca era simples, de ferrolho, então eu peguei um pedaço de arame, fiz algo parecido com um nó da forca, empurrei pela brecha da janela até laçar o ferrolho, puxei para baixo, abri a janela e entrei. A casa estava cheia de cacos de vidro e fotos espalhados pelo carpete. Podia-se se ouvir gritos de melancolia vindos do quarto que se misturava ao do doutor, era lamentável. Minha reação foi instantânea, eu me dirigi ao quarto seguindo o choro e as palavras de lamentação e arrependimento; olhando para as fotos no chão, percebi que a maioria era de um rapaz barbado de olhos castanhos. Quando estava prestes a chegar no quarto, encontrei uma foto na frente da porta. Algo me dizia para pegar a foto e sair da casa, eu quase não dei ouvidos, mas a força da intuição conseguiu me convencer.

Esperei algum tempo, a manchete da senhorita O’Conaill finalmente foi publicada no jornal, não foi tanto tempo assim, a paciência era uma virtude que se variava em certos momentos da minha vida. Eu acordei bem cedo e corri para apanhar o jornal, quando desdobrei a pagina tomei um susto, para variar; havia uma foto de um rapaz de barba rala e olhos castanhos, não era só um simples rapaz com barba e olhos castanhos, era o mesmo que eu havia visto na foto que encontrei na casa do doutor. Ao ler o jornal não pude entender tanto quanto eu gostaria, mas pude entender que havia certas frases que defendiam o doutor Ramos, dizia que o doutor foi enganado por um criminoso membro de uma organização ligada a uma rede de pedofilia, além de sequestro e comercio de crianças e ainda teve sua sexualidade revelada publicamente. Apesar de muito ambiciosa, a jornalista era uma boa mulher. O criminoso prometeu amor e paixão ao pobre médico, mas o que ele queria era uma oportunidade de ficar a sós com o seu sobrinho. O tal criminoso usou o nome de Fernando Grande, seu verdadeiro nome era Albert Montgomery, ele era um americano poliglota que antes de se juntar a organização já havia morado dois anos na Inglaterra e três no Brasil, por isso foi escolhido e recrutado pela tal organização criminosa, ele já tinha uma certa experiências fora de seu país. É claro que na época eu não entendia metade daquelas palavras, mas já foi bastante para mim.

A noticia correu rápido e o garotinho de olhos azuis que estava ficando popular teve sua popularidade arrancada dos seus braços antes que pudesse me abandonar de vez e, como sempre, ele veio correndo chorar no meu ombro e, como eu era muito ingênuo, deixei que ele mais uma vez descarregasse sua carência em mim. Eu pensei que duraria para sempre, sem visões, sem sangue, sem pessoas para nos separar, era o paraíso e assim foram se passando os anos. Nossos onze anos foram felizes, nós ficamos muito mais próximos, sempre fomos muito carinhosos um com o outro, trocávamos caricias, mas eu nunca deixava claro que gostava dele de outra forma. Durante esse tempo nós nunca passamos da amizade. Era obvio que aquela historia não havia acabado. Quando chegamos aos doze anos de idade, eu comecei a ter uma visão diferente da confiança que depositávamos um no outro, ele estava cheio de segredinhos e eu não gostava nada disso, pra completar, quando voltamos pra escola não havia mais a estranheza que afastava todos do Matheus. Eu deveria estar feliz? Não, não deveria. O mundo havia mudado novamente e eu não sabia o que fazer naquele novo mundo.

O Matheus finalmente estava fazendo muitos amigos e também me deixando pra trás. Eu não sabia o quanto isso iria me incomodar até levar o golpe final. Todos os dias depois da escola eu me dedicava à visitar o tio Ramos (era assim que eu o chamava agora). Ele não era mais um médico, a maldita Gloria e minha mãe conseguiram afasta-lo do trabalho. Tudo corria bem, isso é, até os garotos descobrirem. Como eu já disse que era hábito, um dia eu fui visitar o tio Ramos; eu não sabia, mas todos os dias alguém me observava, era o meu velho amigo Matheus. Ele não falou nada pros seus amigos, porém, um certo dia, ele foi quase obrigado a dar com a língua nos dentes. Um de seus supostos amigos começou a falar de como nós éramos próximos, “próximos como dois bambis saltitantes na floresta”, foi o que ele disse e ainda mencionou o tio Ramos como tio bambi dele, por sua vez o pequeno galã da vida disse que tinha se afastado de mim por que eu tentei beija-lo e ainda disse que eu era namoradinho do seu tio e que me encontrava todos os dias com ele. Não deu outra, no dia seguinte quando fui saindo da casa do antigo médico, encontrei um monte de pivetes rindo e zombando de mim e entre eles estava o garoto pelo qual dediquei grande parte da minha curta vida; eu me desesperei e fui embora chorando, correndo e empurrando todo mundo.

Ah... a minha casa, o meu ponto seguro, o único lugar onde eu não me sentiria tão excluído, não era o suficiente, eu precisava ficar sozinho. Ao chegar em casa, fui direto pra garagem e lá permaneci, mesmo quando parei de chorar. A minha curiosidade me ajudou a me distrair e esquecer a parte ruim do meu dia, logo eu estava me misturando com a sujeira e as tralhas velhas da garagem que eu revirava de canto em canto. Depois de revirar tantas coisas, lembrar do passado e conhecer um outro lado da minha família, eu me deparo com uma das coisas mais legais que eu já vi, – ok, eu até posso parecer frágil e delicado, mas eu sei que sou um homem/menino. Eu gosto de jogar futebol, videogame e tudo mais. Eu não quero mudar de sexo ou coisa parecida, eu só tenho uma forma de amar diferente. Sim, eu sou gay e nunca me senti mulher – eram as luvas de boxe do meu pai, eram de uma época que eu nem sabia que existia e aquilo me impressionou. A bagunça e o choro anterior à bagunça tiraram toda a minha atenção, tanto que não percebi que meu pai estava na porta me observando todo esse tempo. Ele então veio em minha direção e disse algo que era familiar, mas foi como se eu ouvisse pela primeira vez.

- filho, eu te amo

- o que? Pai? O que está fazendo ai. Eu não sabia que o senhor estava perto?

- filho, preste atenção, eu estou dizendo que te amo. Eu sei que ultimamente eu não tenho dito muito isso, mas eu quero que você saiba que eu nunca mais vou te deixar sozinho.

- pai, eu estou bem. Eu...

- tudo bem, você não precisa me contar. Eu só quero nunca mais ter que ver você chorando desse jeito – ele colocou a mão direita no próprio ombro e apertou enquanto falava – essas luvas nas suas mãos, elas são um sinal da nossa nova vida.

- pai, do que o senhor está falando? Eu não entendo.

- sim, você entende. Eu demorei tanto tempo porque pensei que você não entenderia, mas é o que você precisa. Você precisa de amor e eu não posso dar-lhe amor nas condições em que me encontro e por isso eu preciso mudar as condições. Sabe, eu não imponho condições desde que deixei de usar essas luvas, é isso que eu preciso mudar. A sua mãe não irá continuar sugando nossas almas. Ela tirou a minha alma, tirou a minha vida de mim, mas hoje você as desenterrou, assim como fez quando desenterrou essas luvas debaixo de toda essa tralha.

- pai, eu te amo, mas não faça isso, não deixe a minha mãe.

- não pense que eu não sei. Ela não é mais aquela mãe dedicada e amorosa que costumava ser; ela é egoísta, egocêntrica e narcisista. Ela criou você como um projeto, por isso sempre te tratou bem.

- eu não quero mais ouvir isso! Você está sendo maldoso – disse eu me desfazendo em berros.

- eu sei que não é isso que você quer ouvir e que parece sedo para tomar essa decisão, mas você mais do que ninguém sabe o quanto ela nos maltrata. Você nunca reparou as tantas vezes que o Victor brigou com a sua mãe, era por você, era para ela voltar a ser sua mãe.

- eu não tenho culpa. Eu não queria ser assim. Eu prometo que vou tentar não ser assim.

- não queria ser como? Filho, você é perfeito para mim. Você não tem culpa, o que ela quer é que você sinta essa culpa. Não deixe ela te fazer pensar que você é o errado só porque ela se sente frustrada.

- mas, pai. Porque ela faria isso?

- e não queria ter que dizer isso para um garoto de doze anos, principalmente, sendo ele meu filho, mas a sua mãe não ama ninguém além de si mesma.

Eu abaixei a cabeça e me retirei depois fazer a pergunta crucial.

- o que você vai fazer agora?

Ele se silenciou e ficou na garagem usando o seu antigo material que usava pra treinar boxe. Algumas horas depois eu voltei à garagem e tive minha resposta.

- eu irei me libertar. Eu estou pronto.

Meu pai ficou horas conversando com a minha mãe, ela achava que ele não estava falando sério, pois na sua vida de casado ele não tinha nenhuma autoridade. Apesar de já ter previsto tudo antes e de saber que era o melhor para nós, o meu irmão aguentou e deixou escorrer as lagrimas pouco a pouco até desabar no choro. Eu apenas observava tudo atentamente como se estivesse vendo o mundo acabar na minha frente, sem poder fazer nada. Eu também já havia imaginado aquele dia, no entanto, não achei que chegaria tão rápido, pois desde pequeno eu já havia aprendido uma regra considerada sagrada entre os casais que pretendem se divorciar, não era normal se divorciar antes dos filhos completarem quatorze anos. O Victor já havia completado quatorze anos. Mas e eu? Ele não pensou em mim? Sim, ele pensou e mais do que eu pensei que pensaria; eu é que era muito tolo para não ver.

As coisas na escola não iam tão bem, eu nunca tinha sofrido nenhuma forma de bullying antes disso. Com o tempo a situação começou a se tornar tolerável, eu já não ligava para as ofensas bobas e, é claro, ficar me lembrando o tempo todo que eu era melhor me ajudou bastante. A nossa rotina mudou completamente, o meu pai treinava boxe todos os dias e isso me deixava interessado, eu queria ser como ele. A minha mãe, apesar de ter feito de tudo para ficar com os filhos (pura pocessividade), cedeu e virou uma espécie de senhora dos gatos, sem os gatos. Era sempre uma sena interessante, vê-la sentada na frente da casa usando um xale, ocolos escuros e fumando cigarros; parecia uma atriz falida dos anos 50, quer dizer, ela não era velha, meus pais eram jovens, mas aquele visual a fazia parecer algo difícil de ser definido, algo como uma glamorosa decaída, sim, esse é o termo que a definia, glamorosa decaída. Tudo isso era muito belo e muito inspirador, porem, tudo que vem da minha mãe sempre tem um propósito, eu sei disso porque ainda nem haviam se completado os três messes de separados dos meus pais, aliás, eles não estavam legalmente separados ainda. Eu admito, ela era incrível, incomparável, ninguém era tão manipuladora quanto ela.

O bullying estava acabando comigo e, um dia, enquanto o meu pai me buscava da escola, ele percebeu e levou tudo isso muito a sério. Ele me chamou pra coversar e me surpreendeu. Quando os pais descobrem que os filhos estão sofrendo bullying na escola, muito provavelmente eles tomam uma atitude pacífica como falar com os pais dos valentões ou com os professores, não o meu pai. Ele estava me esperando no carro, eu estava saindo da escola quando um garoto maior e mais velho puxou a minha mochila e sussurrou no meu ouvido “te vejo na nossa cama, mariquinha”; ele não poderia ter escutado, mas percebeu quando eu joguei a mochila nas costas do garoto. Mais tarde ele me disse o quanto era importante que minha atitude mudasse.

- filho, eu preciso conversar com você. Eu não gostei do que vi hoje.

- ah! Pai, se é sobre eu ter batido naquele garoto com a mochila, eu não quero falar.

- não, aquilo foi pouco. Aquele garoto tinha o dobro da sua altura. O que vai acontecer quando começarem a bater em você?

- será como hoje, como ontem e todos os malditos dias desse ano. Me desculpe.

- não se desculpe, eu é que tenho que pedir desculpas. Eu não sabia que você era maltratado na escola. O que mais eu não sei sobre o meu próprio filho?

- e... eu... eu não sei. Você sabe tudo. – eu gaguejei indicando sem querer que ele estava no caminho certo.

- não, eu preciso agir como um pai.

- mas você já faz isso. Você é um ótimo pai.

- se isso é ser um pai, então eu farei o contrario. Eu quero ser o seu exemplo.

A partir daquele dia, o meu pai começou a me ensinar como me defender sozinho, ele me ensinou à lutar boxe. Ensinar boxe para acabar com o bullying, as intenções do meu pai eram boas, mas tava na cara que ia dar em desgraça e desastre. Era o começo de uma nova fase na minha vida. Eu comecei a tentar me defender das surras, mas os garotos eram mais velhos e mais fortes; um dia isso iria mudar, era só uma questão de tempo.

As férias do primeiro semestre finalmente chegam e tudo que eu queria era esquecer as humilhações que tive com o garoto que só destruiu meu coração, isso não era possível. Naquela manhã eu senti que haveria algo de interessante pra fazer na rua, então sem pensar nos pivetes, saí para fora de casa e fui dar um passeio. A rua da minha nova casa era a ultima do bairro e depois desse bairro tinha outro bairro que nunca havia sido asfaltado; naquela área tinha um extenso matagal que eu não saberia calcular o total arredondado do tamanho deste. Eu estava na estrada já a ponto de entrar na mata, um carro chegou e parou bem perto de mim, era o carro do delegado e ele estava acompanhado do investigador Alberto Necroline, o mesmo que ficou responsável pelo caso do Matheus.

- aonde pensa que vai garoto? Temos umas perguntas para você – disse o investigador.

- não se preocupe, não é nada de mais. Você só tem que contar a verdade a ele. – o delegado explicou para que eu me acalmasse.

- ah! Tudo bem, fazer o que.

- não seja malcriado, moleque. Os garotos da sua idade não devem se dirigir aos mais velhos assim.

- pelo amor de Deus, Necroline! Ele é só um garoto, além disso, passou por um trauma muito forte.

-você tem razão, eu estou exagerando. Desculpe, garoto – disse ele seguido de uma longa respiração – e então, vamos?

Eu entrei no carro e tive uma surpresa, eles não estavam sozinhos, o Matheus estava no banco traseiro do carro. Eu não conseguia estar perto dele sem sentir carinho, eu não podia vê-lo sem sentir raiva; eu mordi os meus lábios, eu fechei o meu punho, eu revirei os meus olhos, eu me controlei e me acalmei por um tempo. Eu não pude deixar de notar o barulho irritante que ele fazia ao passar os dedos no banco do carro, isso me deixava com vontade de agarra-lo ( nos dois sentidos haha). Eu não aguentei e assim que chegamos ao nosso destino, eu me pus a agarra-lo e lhe dei uma boa surra. O delegado me tirou de cima dele e me deu um sermão daqueles, eu nem liguei, eu só queria ter tido mais tempo de ensinar uma lição a ele. Eu ainda amava aquele garoto e agora eu também o odiava, era uma confusão de sentimentos, mas o final era previsível, pelo menos para mim.

Acabado o meu surto, eu dei uma boa olhada no lugar e vi que não era uma delegacia. É claro que não seria uma delegacia, o que eles estavam fazendo era ilegal. Eu disse tudo o que sabia ao investigador, isso não é importante, pois todos já conhecem essa historia. Tudo que importava naquele momento era o depoimento do Matheus.

- muito bem, agora é a sua vez, senhor Matheus – disse “senhor” de forma sarcástica – me conte o que aconteceu naquele dia. Como você foi parar naquele beco?

- eu estava muito triste por ter mudado de casa, então eu pensei em fugir, mas quando eu passei perto do beco, três caras me agarraram e me vestiram com roupas de mulher. Dois dos caras foram embora e um ficou para esperar outra pessoa.

- você saberia me dizer o nome dessa pessoa que ele estava esperando?

- não, ele apenas o chamava de cliente.

- bem, eu tenho que fazer essa pergunta. Em algum momento um desses três homens mandou que você fizesse algo como se despir ou segurar algo? O que eu quero saber é: eles tentaram abusar de você?

- não, eles não tentaram nada. Um deles falou para os outros não tentarem nada, por que o cliente iria perceber.

- hum, parece que eles estavam vendendo sua virgindade – ele deixou escapar – esqueça o que eu disse, garoto. Você percebeu alguma relação desse acontecido com o outro sequestro?

- sim, eu não tinha certeza porque ele estava meio diferente, parecia disfarçado, mas eu tenho quase certeza de que ele estava no primeiro sequestro.

- no primeiro sequestro, eles também não abusaram de você?

- não, eles sempre diziam a mesma coisa.

- como você conseguiu matar um homem daquela idade?

- eu não sei, acho que ele não estava esperando. Eu só peguei uma garrafa quebrada e depois só lembro de ter visto ele sangrando no chão. Ele merecia, não era um homem bom.

- muito obrigado, garoto. Eu sei que deve ter sido horrível para você ter revivido tudo isso de novo.

- as suas perguntas não foram tão difíceis – ele foi frio.

O delegado nos levou até uma rua que ficava perto de nossas casas, ele não podia nos levar até elas porque não saberia o que explicar aos nossos pais. A essa altura, o céu não estava mais tão limpo, estava nublado e a chuva estava se aproximando,;nós corremos e o único abrigo que conseguimos encontrar era um orelhão velho que já estava até desativado. O mundo parou, a chuva parecia cair em câmera lenta, eu senti sua respiração, eu senti o seu halito. Eu pedi a Deus e ao universo para que aquela chuva não parasse para eu ter que ficar olhando para seus olhos por mais um tempo. Ele não parava de olhar para mim. Nós começamos a nos mexer como se estivesse ficando desconfortável e ele não soube fingir, ele continuou olhando para mim e então eu soube. Nós começamos a aproximar cada vez mais nossos rostos um no do outro até que...

CONTINUA...

Comentários

Há 1 comentários.

Por Klaytton em 2015-04-01 15:29:06
Eu sei que a mãe dele não é nazista, era sarcasmo, e eu estou adorando a sua história. Mas eu devo ter me perdido, não sabia que ele havia sido sequestrado duas vezes, é o que vai acontecer nesse orelhão? Muito curioso aqui.