capitulo 04 - o medico

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Os capítulos inéditos estão chegando. Eu já planejei a criação de novos personagens.

carlosjulio, deixei o meu e-mail em comentário na “apresentação”. Continue lendo e comentando, eu agradeço.

Klaytton, obrigado por comentar. Continue lendo e comentando. E sim, ele é bastante sádico, mas, por enquanto, você ainda não viu nada. Ele irá se superar, acredite.

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Eu o amava, como eu o amava! Essa foi a primeira de muitas decepções, que eu ainda teria com ele. Eu não podia ama-lo; ele era nojento e maldoso, mas mesmo assim eu ainda via algo de bom nele. Era como se eu visse um lado positivo em cada defeito dele, mas eu não queria ver. Eu queria escutar a minha razão, mas os gritos dos meus sentimentos ofuscavam qualquer chamado de consciência. Eu já me decidi; há um garoto sensível dentro daquele monstro e preciso liberta-lo.

Eu estava ansioso e, ao mesmo tempo, receoso quanto a falar novamente com o Matheus. Eu finalmente criei coragem, me dirigi a casa dele com um olhar de determinação, mas ele já estava um passo a minha frente. Na frente de sua casa e vestido com a mesma roupa e jaqueta estava a minha obsessão. Ele estava com os olhos cheios de olheiras e, ainda por cima, segurava uma tesoura na mão; era o típico filme de terror. Eu tive vontade, mas não recuei; eu continuei seguindo em frente até o ponto de nos encontrarmos cara a cara. Ele estava quase rosnando de raiva. Eu não estava nem ai, por que sabia que não era raiva de verdade. Ficamos um tempo parados, sem dizer nenhuma palavra. Ele foi o primeiro a se pronunciar; ele largou a tesourara, me jogou no chão com um empurrão e tentou me bater, mas alguma coisa o impediu. Ele abaixou a cabeça e começou a se lamentar.

- Eu pensei que fossemos iguais. Desde que eu cheguei aqui, você foi meu único amigo.

- Eu quero que você sinta o que eu sinto. Eu não sei o que é, mas é bom.

- Você não vê? O que eu fiz de tão ruim? - ele fez um sinal com as mãos, demonstrando não entender a minha sensibilidade ou situação.

- Eu não sei, mas eu não gostei. - Eu também não sei por que fiquei horrorizado com aquilo, afinal, eu era uma criança e não podia entender a dor de um animal; um ser considerado inferior.

- Você tem que ir, eu não quero mais você aqui.

Eu fui embora com cara de “isso ainda não acabou" e ele continuou na frente da casa até a hora em que sua mãe o chamou para se apressar e ir à escola. No ponto de ônibus eu não tive mais tanta vontade de ficar perto dele, a minha consciência não deixava. Na escola ele fez de tudo para fazer dupla com outra pessoa, mas me olhou estranho quando percebeu que eu não estava ligando para isso; ele esperava uma reação negativa. Quando fui para casa vi que ele ficou um tempo dando uma volta de bike. Ele parou perto da minha casa, mas continuou pedalando quando me viu olhando pela janela.

Naquela noite eu sabia exatamente o que fazer. Todos já dormiam, era a oportunidade perfeita. Eu desci a escada, destranquei a porta e fui em frente correndo para a casa dos Ramos; eu pulei a cerca e fui até a casa na arvore. Já na casa na arvore, algo me incomodava, havia uma áurea meio demoníaca, mas eu sabia que era humana e isso era o motivo do meu incômodo. Eu respirei fundo e logo comecei a revirar tudo; tirei o pano que cobria a mesinha, não tinha nada além de sangue e pequenos pedaços de carne; tirei o pano do balde e encontrei vários órgãos e partes de animais mutilados. Eu precisava de algum lugar para esconder aquelas coisas. O que eu fiz? Parece maldade da minha parte, mas não há muitas pessoas que se importariam com animais mortos; eu simplesmente os enterrei perto de uma construção.

Eu acordei com a sensação de missão cumprida, porém, muito exausto e cheio de dores; eu não havia pensado na escola de manhã. As aulas continuavam como antes, era uma guerra de bolas de deve de tanto gelo que dávamos um no outro. Eu adoraria continuar ignorando-o, mas eu pensei bem e vi que eu nem sabia direito por que eu estava bravo com ele; não sei se foi pena dos animais ou o fato de ele ter me assustado muito, talvez os dois. Na hora do intervalo ele estava sozinho, mas quando eu estava prestes a me sentar perto dele, um monte de garotas o cercaram e eu não pude sentar. Ele riu e acho que tentou me fazer ciúmes conversando com elas, mas ele era um nerd disfarçado e só falava de Pokémon; isso nem fazia muita diferença, pois elas nem estavam prestando atenção no que ele dizia, elas estavam muito ocupadas olhando para seu rosto perfeito.

Chegando em casa, a primeira coisa que queria fazer, era quebrar o gelo e voltar à minha antiga batalha para conquistar a atenção do Matheus. Eu fui correndo para tentar convencê-lo a me perdoar, foi nesse momento que eu vi que tinha acontecido alguma coisa na casa dele. A casa estava cercada por vizinhos barulhentos; todos queriam saber como estava o garoto que caiu da casa na arvore desabada e teve a cocha perfurada por um pedaço de madeira. Eu não pude acreditar, não era possível, eu havia estado lá antes dele, podia ter sido eu e pra mim teria sido melhor se tivesse sido eu, pois eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com ele.

Eu tive que insistir muito aos meus pais para que deixassem eu ir ao hospital, visita-lo. Parecia que não valia apena, pois eu nem podia vê-lo, mas eu queria estar ao seu lado e mesmo que não me satisfizesse por completo, isso já me tranquilizava um pouco. O hospital estava muito movimentado e isso me dava mais medo e preocupação, não havia motivos porque quando cheguei ele já estava fora de perigo e já tinha até acordado. Eu pedi a seu pai que falasse com ele e dissesse que eu queria falar com ele, eu já esperava que a resposta iria ser negativa e foi exatamente como eu esperava, pois eu já sabia muito bem que ele não era uma pessoa fácil de conquistar. Eu saí de lá com a mesma sensação que entrei, exceto pela preocupação, a sensação de que estava perdendo algo que, mesmo eu não o tendo conhecido antes, sempre existiu em mim.

Eu esperava todos os dias que ele não tinha ido à escola, eu esperava poder vê-lo novamente; não esperava que ele se arrependesse, eu esperava que ele aceitasse as minhas desculpas, mesmo eu não estando errado. O momento que eu esperava não chegou tão cedo, pelo menos não na minha percepção. Foram dias que eu me atrevi há contar como horas e até milésimos de segundos de tanta impaciência. No fim, tudo parecia ter dado certo, ele já até falava comigo como se nada tivesse acontecido. Eu não estava nem ai se a mudança de atitude dele pareceu estranha; eu só queria poder estar perto dele novamente e isso estava acontecendo. Tudo tem um preço a ser cobrado e eu estava prestes a descobrir o preço do mérito de estar presente na vida do meu novo melhor-amigo.

Depois de um dia de aula daqueles, eu não queria saber de nada, exceto do meu príncipe encantado. Eu não precisava pensar muito e nem bolar uma desculpa satisfatória para ir a sua casa; ele já estava na janela me chamando para eu ir à casa dele. Eu devo admitir que tive um pouco de medo, mas eu já sabia o que me esperava. Eu tinha que fazer aquilo. Sem pensar em como eu iria reagir ao rever tudo novamente, ele me conduziu até o seu quarto e tirou uma taboa e uma gaiola de hamster de debaixo da sua cama; era muito tarde para fugir.

- vamos! Você sabe o que veio fazer aqui.

- tudo bem, mas...

- sem “mas”. Isso nos tornará iguais. Eu prometo que um dia você vai gostar.

- tudo bem, mas eu sei que não vou gostar. Eu só faço isso... Você sabe.

- vamos logo, tempos que terminar logo, depois vai começar a feder.

Eu me abaixei, segurei o bisturi e comecei a fazer uma pequena incisão na barriga do hamster. Eu me assustei; o pequeno corte que fiz no animal foi o bastante para tirar seus gritos e suas tripas para fora; há essa hora eu já chorava muito e ele abraçava me dizendo “eu sei que foi uma grande perda doutor. Você não perderá os próximos pacientes”. Depois que acabou, tudo parecia irrelevante; o chão parecia não pertencer aos meus pés; todas as formas e cores não pareciam pertencer a minha visão. Por quê? Por que eu não senti nenhuma culpa, nenhum vestígio de remorso sequer; foi nesse momento que eu entendi, o que eu senti antes não foi por causa dos animais feridos e mortos, era por mim mesmo; eu temia não poder sentir culpa, eu temia gostar da situação.

A vida já não era a mesma. Eu fazia sim por obrigação, mas também nunca me sentia desconfortável; era o começo de uma historia macabra. Depois de algum tempo, eu comecei a me perguntar o que eu estava ganhando em troca. Ele era o único que me fazia sentir são, mas agora ele fazia eu me sentir ainda pior. Por todo esse tempo eu tive muito o que pensar, eu já estava prestes a completar onze anos, só faltavam duas semanas, então resolvi que já que ele me mudou tanto, eu também poderia tentar muda-lo.

Pelo que eu sei o Matheus nunca teve amigos, nem mesmo em sua antiga cidade; eu era o primeiro. A minha ideia era fazê-lo gostar mais da vida e das pessoas, fazê-lo se sentir importante e amado; ele não precisava mais daquilo para fingir não ter medo, ele estava seguro comigo e estaria seguro com os outros também. Comecei a apresenta-lo aos meus amigos, foi muito difícil no começo, ele era muito tímido, mas depois eu pude sentir que houve uma mudança. Ele não queria mais saber de machucar animais, ele já saia pra brincar na rua com os amigos, ou melhor, agora ele tinha amigos além de mim. Foram grandes mudanças, grandes até demais.

Eu criei um monstro, cada vez que ele conseguia mais amigos, e ficava ainda mais distante de mim, isso não era tudo, eu estava prestes a conhecer o verdadeiro muro de rocha que nos separaria. Em uma daquelas noites em que seu sono te domina, meu sossego foi interrompido por um bêbado que gritava com a Sra. Ramos na frente da sua casa; todos ouviram e logo saíram de suas camas e foram ver o que estava acontecendo. O bêbado era o Dr. Ramos e parece que ele tinha muito o que falar.

- garoto, garoto! Onde estão minhas coisas? O que fez com o meu material?

- olha só pra você, está bêbado. Mas o que quer com o meu filho?

- ele andou fuçando o meu material e eu tenho certeza que também roubou. Você sabe por que ele precisa disso? – perguntou em tom de zombaria – ele é doente, um lunático, um lunático! Porque não pergunta o que ele esconde debaixo da cama?

- escute aqui, eu não quero você aqui entrando no quarto do meu filho.

- por quê? Do que você tem medo? Ah! Vamos lá, Gloria. Você sempre soube; as desculpas para eu não ter que examina-lo quando estava machucado, o jeito como você me distanciava do meu sobrinho. O que acha que eu sou? Um monstro? Acha que eu seria capaz de molestar seu precioso filho? Eu sou um homem maduro e só saio com homens maduros, não sou um pedófilo.

- fique longe do meu filho. Eu digo isso como uma mãe e uma mulher, uma mulher de verdade e não uma florzinha. Fique longe da minha família.

- ora bolas! Mas olha só, parece que uma família latina não é o suficiente para apagar as marcas do sangue de uma nazista alemã, Senhora Gloria D. Keller.

- se acha que me ofende usando o meu nome de solteira está muito enganado. Sim, meus pais eram alemães, mas eles nunca deram a surra merecida que seu grupinho de ralé gay tinha que levar.

- mas o que está acontecendo aqui? – interrompeu o Sr. Ramos – Gloria já pra dentro de casa! Agora vamos resolver isso entre homens, se é que posso chama-lo assim. Prefere que eu o chame de borboletinha? Eu não acredito que sou seu irmão.

Eu não estava acreditando, sem querer o Dr. Ramos acabou confessando em publico que é gay e ele ainda sabia do segredo do Matheus. Depois de todo aquele espetáculo o delegado foi chamado, mas como um bom amigo, ele apenas o levou para casa.

No outro dia, a minha mãe foi correndo ver sua “amiga” para saber o que tinha acontecido e eu não podia deixar essa passar. Enquanto as duas se cumprimentavam na porta, eu entrei sem que nenhuma das duas me notasse e depois pude ouvir tudo o que falavam.

- olá, Gloria. Desculpe-me, mas eu não pude deixar de ver como você está. Eu fiquei preocupada com o que aconteceu ontem à noite.

- não se preocupe, eu estou bem, eu só temo pelo meu filho. É por isso que preciso da sua ajuda.

- prossiga, por favor. Eu ficarei feliz em ajudar.

- eu quero que me ajude a acabar com a vida daquele canalha.

- o Dr. Ramos? Mas por que se você não tem certeza de que ele tenha feito alguma coisa?

- já não é o bastante? Ele se deita com homens.

- desculpe, mas não, isso não é o suficiente para mim.

- tudo bem, eu vou ter que contar um segredo. Há um ano e poucos meses atrás o meu filho foi sequestrado e foi nesse mesmo ano que o meu cunhado começou a nos visitar acompanhado de um “amigo”, provavelmente era um de seus amantes. O fato é que depois do sequestro, o meu filho nunca mais foi o mesmo e o “doutor” e seu amante não frequentavam mais a nossa casa.

- você me convenceu. Quando começamos?

Eu achei que ela estava falando do dia em que eu o encontrei no beco, mas não fazia tanto tempo assim. Algo de muito estranho estava acontecendo.

CONTINUA...

Comentários

Há 1 comentários.

Por Klaytton em 2015-03-31 17:00:39
Ihhhhhh, o bicho tá pegando, o filho é psicopata, a mãe é nazista, e o tio é gay, agora só quero ver como esse história vai terminar, espero que o amorzinho dele não vá pelo mesmo caminho. Adorando o conto aqui, esperando por mais.