capitulo 03 - brincando de medico.

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Não, eu não desisti da série, eu apenas mudei o nome. Os capítulos novos serão postados aqui. Obrigado e continue lendo e comentando. Eu estou tendo algumas dificuldades com o capitulo inédito, mas tudo isso é para dar mais realismo e, ao mesmo tempo, misticismo à trama. O capitulo inédito terá muita influencia em toda a série.

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Eu já estava a mil com a historia do beco, imagina como eu estava depois do susto que levei naquela noite. Eu corri tão rápido que na manhã seguinte quase não me lembrava de ter chegado em casa e voltado pra cama. O dia me trouxe mais duvidas, fiquei mais de uma hora deitado na cama e é porque eu nem lembrava que era sábado e não haveria aula. Eu pensei muito e resolvi que eu teria que falar com o Matheus, mas não foi preciso muito esforço, pois a minha mãe, sem querer, já cuidou de tudo para mim. Essa tarde nós iríamos almoçar com os novos vizinhos para lhes dar as boas vindas, já que não tivemos tempo de conhecê-los. A minha alegria por se só já falava e cantava.

Eu tive sim muitas alucinações, mas dessa vez, elas eram lindas e adoráveis, o mundo todo estava azul bebe; a casa estava cheia de trepadeiras cobertas de flores e o sangue e a dor tinham sido exorcizados da minha mente. Eu tentei disfarçar, no entanto, todos perceberam o meu vislumbre, eles sempre percebiam, porem, Victor ficou feliz pela minha alegria. Ele me carregava nas costas pra cima e pra baixo. Minha mãe gritava dizendo para nós não nos machucarmos, mas ela não queria que parássemos, ela também estava feliz.

O meu pai tinha mudado de emprego e sempre fazia hora extra, minha mãe desconfiava que ele não nos aguentava mais e iria nos deixar, pois todo mundo brigava pelo meu problema. O Victor sempre discutida com a nossa mãe porque ele não gostava da forma com que ela lidava com a situação, ela fingia que nada estava acontecendo e, em fim, brigava com o meu pai por ele não estar presente. Ela só não percebia que isso o afastava mais. Tudo isso mantinha meu pai longe de casa, mas aquele dia era especial e ele percebeu. Ele ligou para seu chefe e finalmente aceitou o dia de folga que ele tanto insistia para que tirasse. O chefe do meu pai era um homem muito bom e já estava ficando preocupado com o meu pai.

Na hora do almoço minha mãe disse que os vizinhos tinham mudado de ideia e disseram que ao invés de virem aqui, eles preferiam que conhecêssemos a sua nova casa. A caminho da casa dos vizinhos, a minha família não parava de olhar pra mim, eles observavam o meu olhar de fantasia. Tudo mudou quando eu entrei na casa e pus meus olhos daquele belo rosto e naqueles lindos olhos azuis, minha mãe ficou me olhando estranho e logo depois riu para mim. Ela parecia ter percebido que eu tinha saído do meu mundo de fantasia. Ela começa a falar sobre isso com a mãe do meu amor platônico enquanto eu o via tentando ensinar o cachorra a jogar damas (e isso não era uma alucinação, a família dele tinha o costume de perder seu tempo ensinando truques ao cão).

-Boa tarde. Como vai, querida?

- Boa tarde. Vou bem, obrigada por perguntar. Mas e você? Como vai?

- Eu vou bem, obrigada. Eu não deixei de reparar, eu não via o Rodrigo assim há meses. Acho que os garotos estão se dando bem.

- Eu fico feliz. O meu pobre filho tem dificuldades em conseguir amigos.

- Oh! Não fique pensando nisso, agora tudo vai mudar - era obvio que ela disse isso pesando no futuro e vendo isso como uma solução para os problemas das duas.

- Muito obrigada, querida. Você me dá esperanças. Espero vê-la na missa amanhã.

- Oh! É claro que sim, querida... Com a condição de seu padre mudar o cardápio de hóstia para lagosta. Hahaha – minha mãe não era religiosa, ela já havia perdido a sua fé há muito tempo.

- Oh meu Deus! Uma descrente hahaha... Eu tenho certeza de que iremos mudar isso.

- Não tenha tanta certeza. Ha ha ha - era o que ela pensava – A propósito, Gloria, você não me disse o seu sobrenome. Eu tenho que saber se nos tornarmos grandes amigas.

- ah é claro, eu uso o sobrenome do meu marido. Nós somos a gentil e modesta família Ramos. Você já deve ter ouvido esse sobrenome, o meu cunhado é medico e parece que ele é muito conhecido por aqui.

parece que o delegado tinha mais um motivo para ter escolhido o Dr. Ramos, ele era o tio do Matheus.

- oh meu Deus! Você é muito falastrona. Nos daremos muito bem hahaha.

- sim e já estou provocando mudanças na sua vida, você disse “meu Deus”.

-haha... Ora! não tenha esperanças. É só força do hábito.

Eu tentei conversar com o Matheus sobre o que aconteceu quando nós nos conhecemos, mas ele parecia estar mais interessado no cachorro e eu não podia competir com ele. Eu pensei em puxar assunto, falar sobre outra coisa qualquer, mas ele não me dava bola.

- oi, eu sou o Rodrigo. Tá lembrado de mim?

- não, eu não me lembro de você. Eu nem te conheço.

- o que está fazendo? Posso te ajudar?

- você não está vendo? Além disso, você não tem como ajudar.

- você tem certeza que não se lembra de mim e nem do que aconteceu?

- eu já disse, eu não te conheço.

- o que acha de mudarmos de assunto? Gosta de rock?

- eu não quero falar com você e não quero ser seu amigo – com isso ele quase me desiludiu.

Eu admito, o que ele disse cortou o meu coração e até saiu um pouco de lagrimas, mas isso só serviu para que eu ficasse cada vez mais determinado. Ele continuou sendo um mala o dia todo, mas antes que eu percebesse isso, me deparo com uma visão do céu. Ela era um anjo e foi a única garota por quem eu já fiquei mexido, mas ela também não contava, porque, como eu disse, ela era um anjo e anjos não tem sexo. Seu nome era Ana e ela era uma dos três filhos do casal incluindo o Matheus, ela era um ano mais velha que eu. Eu até tive um pouco de esperança, mas ela não me fazia sentir o mesmo que o seu irmão. Apesar de eu ser um pouco mais novo que ela, eu notei que ela não tirava os olhos de mim e isso pareceu ter atraído a atenção de seu irmão.

Eu saí da casa dos vizinhos com muitos sonhos e vontade de realiza-los, mas para isso eu precisaria do garoto que estava em todos eles. Na segunda feira eu finalmente o encontrei no ponto de ônibus. Todas as meninas queriam tirar uma casquinha dele e ele parecia não estar gostando disso. Como eu era o único que ele conhecia, ele não pensou duas vezes e se escondeu atrás de mim (como se ninguém não pudesse vê-lo). Se fosse um garoto dentuço gordo e com orelhas de abano, todos achariam estranho, mas as meninas acharam a timidez dele muito fofa. Eu ainda me dei ao trabalho de explicar que ele era muito tímido e que por isso não saia de casa. Os garotos até tentaram zoa-lo, mas a essa altura, ele parecia um superstar entre as garotas. Eu fiquei vermelho e bufei. Eu teria feito um escândalo mirim se o ônibus não tivesse chegado.

Chegando na escola recebo uma super novidade, o Matheus tinha se mudado para nossa classe. Parece que ele não estava se dando bem nas aulas, ele não falava nem com a professora. Seus pais achavam que talvez a mudança de classe lhe traria bons resultados, mas a minha ilusão me fazia acreditar que era por mim. Eu, mais uma vez, tentei falar com o Matheus e meio que deu certo, não do jeito que eu esperava, mas ao menos ele não me fez chorar.

- Matheus, Matheus. – chamei-o aos sussurros.

- o que é? Você é chato, heim indiozinho – para mim foi como uma demonstração de carinho.

- por que você me chama assim?

- porque é o que você parece e também é muito tagarela, mas isso é outra historia. Você me chamou pra isso?

- não, eu só queria saber por que você não fala com as pessoas e também queria saber por que mudou de sala. Foi por mim?

- mas o que você...

- parece que você se deu muito bem nessa sala, senhor Matheus; bem até demais. – interrompeu a nossa “adorável” professora.

O tempo passa e não consigo tirar da cabeça a conversa “civilizada” que tive com o Matheus, tanto que a cada dia, eu invento uma desculpa diferente para ter que ir na casa dele. Tinha uma que eu usava bastante. Como eu disse, o menino era muito tímido e eu era o seu único “quase amigo”, por conta disso os nossos trabalhos em dupla da escola eram feitos por eu e ele. Eu não estava indo tão bem assim, mas eu era muito esperançoso e acreditava que podia fazê-lo meu amigo ou, se não for pedir demais, me amar.

Eu continuava tentando, até que, um fim de semana desses, eu acordo com ele me chamando pra brincar. A novidade? Ele ganhou uma bicicleta nova e não tinha com quem dividir a alegria. Ele veio todo feliz, pulava muito e eu também não conseguia disfarçar o sorriso, era tudo que eu queria, que ele me desse um pouco mais de importância na sua vida. Agora eu era o seu melhor amigo ou o único. Agora nós pedalávamos e cantávamos juntos e ainda tive mais uma surpresa, ele pediu pra pegar minha mão enquanto pedalamos. Só me restava esclarecer minhas duvidas, que não eram poucas, e foi exatamente o que eu fiz.

- Matheus, posso te fazer uma pergunta?

- Sim, pergunta o que quiser?

- Agora nós somos amigos?

- Acho que sim. Mas posso te fazer outra pergunta?

- O que?

- Você gosta da Ana? Quer dizer, como namorados.

- Eu não sei.

- Mas porque se ela é tão linda? Ela é minha irmã preferida. Ela é muito mais legal que o babaca do meu irmão.

- Você quer que eu fique com ela?

- Sei lá, eu só quis perguntar.

Eu brinquei o dia inteiro e estava muito cansado então tomei banho e fui dormir um pouco mais cedo. Tudo estava no lugar, o universo estava ao meu favor. De manhã eu acordo com os barulhos do Matheus entrando no meu quarto pra fugir da missa. A mãe dele pediu desculpas a minha e foi direto pro meu quarto buscar ele.

- Mas que historia é essa, Matheus? Eu já disse pra você se vestir. Agora vamos chegar atrasados.

- Mãe, por favor, me deixa ficar aqui. Você disse que eu tinha que fazer amigos. – isso foi uma jogada de mestre.

- Ai! Está bem, mas só desta vez. Olhe lá, juízo, heim Matheus.

Brincamos um pouco no meu quarto, depois fomos tomar café e, logo em seguida, fomos para casa dele. Ele disse que tinha uma surpresa para mim. Ele colocou uma venda nos meus olhos e me pediu para ficar esperando do lado de fora da casa. Enquanto eu esperava pela surpresa, alguns amigos meus se aproximam e me chamam.

- Oi, Ro! Você não quer ir com a gente? Nós vamos falar com as garotas.

- Eu não posso, eu to brincando com o Matheus.

- Ah! Ro. Você não prefere brincar de medico? Você sabe, fazer bagunça, dar o seu primeiro beijo. Todos sabem que você ainda não deu. – o moleque tinha onze e estava perto de fazer doze, mas, na verdade, quase todos os garotos são assim, a idade não muda isso.

- Eu não posso, minha mãe disse para eu não ir muito longe por que posso me perder.

- Tudo bem, pode ficar ai com seu príncipe encantado.

Eu pus a venda novamente e o meu “príncipe encantado” chegou. Ele se aproximou de mim, parou e depois começou a ficar cada vez mais perto. Eu cheguei a sentir o calor de sua respiração em meus lábios, mas ele deu meia volta, dobrou pra detrás de mim e me vestiu algo com muita delicadeza. Eu esperei até ele me dizer pra tirar a venda, quando olhei era uma jaqueta com o nome Guns n’ Roses escrito atrás; nome que era acompanhado pelo logo da banda. Eu olhei pra ele e vi que ele estava com uma jaqueta idêntica.

Eu fiquei muito feliz, agradeci e, involuntariamente, lhe dei um beijo na bochecha. Ele me olhou estranho, abriu a boca, pegou na bochecha, deu um sorriso e me disse: “o que acha de brincarmos de medico?”. Eu estava muito nervoso, não sabia o que fazer. Será que naquele domingo eu iria dar o meu primeiro beijo? Ele me disse pra não ter medo, mas ele não se referia ao beijo, ele se referia ao lugar onde iríamos brincar, era a casa na arvore. A casa na arvore era muito velha e cheia de cupins, ela já estava lá antes deles se mudarem.

Nós subimos até a casa na arvore, já estava tudo preparado, isso explica a demora dele, parece que ele não foi só pegar as jaquetas. Na pequena casinha havia apenas um balde coberto com um pano, uma mesinha também coberta com um pano e um kit médico muito realista (acho que ele tinha roubado do tio). Ele põe a mão por debaixo do pano que estava sobre a mesa, levanta um pouco o pano e, com a outra mão, pega um bisturi. Eu tremi, fiquei gelado, quase não consegui me mexer. Embaixo do pano tinha um pequeno cãozinho filhote que gritava de dor enquanto sua barriga era cortada. Eu mandei ele parar, mas ele não me ouvia, só queria saber de ver as tripas do cachorro pularem para fora da barriga, foi assustador. Eu não aguentei, vomitei e fui embora. Eu só esperei ele dar as ultimas palavras do dia: “espere, se você for embora agora, é melhor nem voltar depois”, disse ele. Eu não liguei e continuei correndo até chegar em casa.

CONTINUA...

Comentários

Há 2 comentários.

Por Klaytton em 2015-03-31 03:31:44
por enquanto estou adorando, poste mais capítulos, e o Matheus é meio sádico, adorei.... to torcendo.
Por carlosjulio em 2015-03-30 17:12:24
bom rs como você deve ter percebido não tinha lido os cap...rs mas continua postando hehe e o mais rápido possível....e aliás tem algum contato?