Capítulo 4 - Segunda Temporada

Conto de Tyler Langdon como (Seguir)

Parte da série Os Dois Lados do Espelho

A manhã de hoje não estava sendo muito diferente das anteriores. Acordei o mesmo horário de sempre, fiz as mesmas coisas de sempre antes de vir trabalhar. Felipe continua com a mesma expressão fechada, e eu continuo no meu lugar fazendo minhas atividades e lendo um pouco nos intervalos.

Gostaria de encontrar livros sobre bruxas e magia, igual os que lia com o Charlie antes. Acredito que poderia me ajudar muito nesse momento. As vezes eu podia sentir que tinha algo diferente em mim, como se as vezes minha mente estivesse sempre em conflito com algo. É difícil explicar isso sem parecer estranho.

- Como vocês pegam mercadorias para vender? - pergunto a Felipe me direcionando para perto do balcão onde ele estava sentado.

- Quando falta algo aqui meu pai vai buscar na cidade, pelo menos uma vez no mês. As vezes em quinze dias. E se tem novidades por lá ele trás. - explicou ele com mais calma e atenção. Cheguei a estranhar um pouco, mas preferi não comentar nada.

- E quanto aos livros, como ele faz pra pegar? - solto a pergunta que parece não ter agradado tanto pela expressão de tédio que se formou em seu rosto.

- Bem, como eu acabei de falar, meu pai trás da cidade. - disse em um tom impaciente dessa vez.

- Entendi. Então se eu pedir a ele para verificar algo pra mim ele faria? - fico um pouco retraído após perguntar. Eu sei que ele não gosta de conversar comigo, mas precisava dessa informação.

- Pergunta a ele. - respondeu me olhando e voltou a fitar o lado de fora da loja.

Voltei a me sentar onde estava antes para continuar lendo o livro que havia começado. Desde que comecei a trabalhar aqui já li quatro livros, e se continuasse nesse ritmo, logo terminaria de ler todos.

Eu gosto da sensação que a leitura me trás, de poder viajar pra outros lugares, ser outras pessoas, conhecer outras histórias. E principalmente fugir um pouco da realidade em que vivo. Caótica e cheia de problemas.

- Você não tem vontade de lembrar de onde veio? - pergunta Felipe me tirando da leitura.

- Sim, bastante. - estava cada vez mais fácil mentir nessas situações.

- Sei. E o que eu poderia fazer pra lhe ajudar a lembrar. - pergunta ele, só que dessa vez me olhando. O que me deixa surpreso. Não por ele me olhar, mas por me oferecer ajuda.

- Eu realmente não sei. - não há necessidade de ajuda, então não tenho outra coisa para responder. E mesmo se eu estivesse com a memória apagada, também não iria saber o que responder.

- É complicado assim. Dessa maneira vai passar muito mais tempo conosco. - disse com expressão de desdém.

- Eu realmente não queria incomodar você, muito menos a sua família que tem me apoiado nesse tempo difícil... - disse sendo sincero dessa vez. - Mas se eu realmente lhe incomodo, posso procurar um lugar pra ficar, já que estou trabalhando aqui poderia pagar algo. Não sei.

- Finalmente disse algo que fosse útil. - eu realmente não esperava que ele fosse levar a sério o que eu havia dito.

Tudo bem que eu era um desconhecido que cheguei de uma hora pra outra na sua casa, tomei seu espaço e poderia por em risco a segurança deles. Mas eu já havia demonstrado nesse tempo todo em que estava lá que eu não sou alguém que possa vir a fazer mal a outras pessoas. E eu sei que ele sabe disso. Então porque continua implicando comigo?

A tarde, ao contrário da manhã, o comércio estava parado. Não haviam muitas pessoas entrando na venda, e as coisas que estavam para ser limpas já havia limpado mais cedo.  Então continuei lendo meu livro enquanto Felipe ficava escrevendo algumas coisas em seu caderno.

- Boa Tarde. - soou uma voz feminina após o barulho da porta de entrada se abrir.

- Olá. - disse Felipe.

- O Arthur está? - pergunta a voz chamando por meu nome.

- Sim. Estou aqui. - digo me levantando da cadeira que havia atrás de uma prateleira.

Era a Helena. Estava sorridente com as mãos segurando uma a outra por cima do vestido de cor azul claro. Ela era realmente muito bonita, e seu jeito doce a deixava ainda mais bela.

- Oi Helena, como você está? - disse sorrindo de volta pra ela.

- Eu estou bem e você?

- Também estou bem. - respondeu. - Você não gostaria de passear um pouco? Se estiver desocupado claro. - pergunta ela.

Olho para Arthur como quem busca um pedido de autorização e ele sequer olha pra mim.

- Posso ir um pouco? - pergunto.

- Já acabou seu serviço de hoje? - questiona olhando para alguns pontos de dentro da venda.

- Já sim, acabei tudo mais cedo. - respondo.

- Tudo bem, mas volte antes da hora de ir embora. Senão vou sem você.

Sinalizo em afirmação com a cabeça e saio com a Helena pela porta da frente em direção a rua.

- E então, alguma notícia de seu pai?

- Ainda não. - responde enquanto uma expressão triste surge em seu semblante, o que me faz questionar se era realmente necessário fazer essa pergunta. - Mas minha mãe falou que é normal não ter notícias nessa situação. Notícias ruins chegam depressa. Estou mais tranquila, apesar da saudade.

- Que bom então. Sua mãe precisa de você forte ao lado dela. - disse sorrindo e arrancando um sorriso de seu rosto.

Era bom estar com Helena. Ela tinha minha idade e sonhava bastante com coisas bobas, que me faziam sonhar junto com ela as vezes. Nossas conversas fluíam bem. Era uma amizade que eu gostaria de cultivar.

Estava na cama deitado esperando Felipe sair do banho para irmos todos jantar. Dalila já havia nos chamado. Fiquei um pouco tenso no caminho de volta para casa hoje. Felipe realmente me intimidou com a maneira que ele me olhava serrando os olhos, era como se quisesse me jogar no meio da floresta e me deixar lá. Talvez fosse impressão minha pela conversa que tivemos a tarde.

Quando desci Pedro, Paula e Dalila já estavam na mesa para jantar. Sento em minha cadeira e Felipe chega logo em seguida.

- Gostaria de perguntar algo a vocês. - disse enquanto colocava um pouco de comida em meu prato.

- Sim querido, pode perguntar. - responde Dalila me dando um pouco de atenção enquanto ajuda a sua filha a por um pouco de comida em seu prato.

- Estava pensando... - dou uma pausa. Mas todos já estão me olhando esperando com que eu continue - Eu sei que a ideia é apenas ajudar, e eu nem espero dinheiro em troca do meu serviço. Mas já que estou trabalhando, eu poderia procurar um lugar pra ficar morando. Só assim não atrapalho o espaço de vocês. - concluo minha fala e todos continuam me olhando. O que me faz ficar um pouco constrangido.

- Você não está atrapalhando, pode ficar até quando quiser. Porque essa preocupação agora? - indagou Pedro.

- Fale apenas por você, Pai. - dispara Felipe logo em seguida. Eu realmente não me importava tanto para o que el falava antes, mas ultimamente tudo que ele diz tem me causado incômodo.

- Já falamos sobre isso Felipe, você tem de deixar de ser egoísta um pouco. Não criamos você assim, e sei muito bem que você não é assim. - dessa vez era a Dalila que falava.

Eu sou muito agradecido por eles, de verdade. Possuem um coração genuíno e bondoso, não é fácil encontrar pessoas assim.

E pelo caminhar da conversa, não teve acordo. Eles não acharam a ideia uma boa, e nem comentei nada sobre o que Felipe falou a tarde. Apenas aceitei o que eles falaram, afinal era só uma sugestão e se eles realmente fazem questão que eu fique aqui, não iria mais me opor.

Após o jantar todos foram para o quintal, mas preferi me deitar na cama. Estava com um pouco de frio e uma fraqueza no corpo surgia. Talvez estivesse pegando algum resfriado.

Alguns minutos se passavam e meu corpo começava a tremer, e o suor já molhava minha camisa. Me enrolo com a manta que estava em cima da cama e tento concentrar minha mente para dormir. Mas assim que fecho os olhos, lembro da minha última noite no castelo, e da forma que acordei. Assim, como estava agora. Suando frio, e flutuando.

Sinto calafrios só em pensar nisso novamente. Uma dor no peito aparece, e é como se eu não tivesse mais controle sobre o meu corpo. Tento retirar a manta que estava por cima de meu corpo, mas meus braços não me obedecem. Por alguns segundos novamente eu sinto minha mente apagar e tudo fica escuro.

Só volta a clarear quando sinto uma mão sobre minha testa.

- Nossa, você está pegando fogo. - dizia Felipe analisando com sua mão a minha temperatura. O embaçado que se formou quando voltei a ver começa a desaparecer e percebo uma expressão de espanto formada no rosto dele. - Vou chamar a mãe.

- Espera. - seguro seu braço impedindo que saia do quarto. - Não fala nada, não quero causar preocupação.

- Você está doente, pode morrer aqui. Preciso avisar sim. - disse ele dando as costas.

Antes que pudesse passar pela porta, uma corrente de vento entra no quarto e faz com que a porta se feche bem a sua frente. Deixando-o paralisado, assim como eu.

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• Bianucci Devonne - estou bem, estou cheio de coisas da faculdade. Por isso demorei dessa vez, mas continuarei tentando postar de 3 a 4 capitulos por semana. Espero que continue acompanhando mesmo, motiva bastante. E obrigado desde sempre por me acompanhar lindo ❤❤

Comentários

Há 1 comentários.

Por Bianucci Devonne em 2018-07-09 05:50:30
Hahaha adoro essa série e você foi um dos unicos que me acompanhou nas minhas séries até onde parei. Vou continuar até o fim.