Viver 16

Parte da série Viver

Olá, Nowere Man, obrigado por continuar acompanhando. Estou amadurecendo a ideia de postar no wattpad. 😍😘😘

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“Preciso passar no escritório.” Pensou Jay. Fazia quase dois meses que ele não ia até lá. A firma de investigação particular tinha sido formada pelo seu avô, Mark Le Roux. Depois passara para seu pai e posteriormente para ele e seu irmão, Rafael. Sempre fora uma empresa pequena, familiar e com poucos funcionários. Quando seu pai morreu, vítima de um infarto fulminante anos atrás, a empresa foi dividida por igual entre os dois. Porém Jay preferia o trabalho de campo a passar o dia envolvido com papéis e burocracia. Sendo assim, deixou que Rafael, cinco anos mais velho assumisse a diretoria e nomeou Alan, seu amigo de infância, como vice-diretor. Assim não se envolvia com assuntos da direção da empresa efetivamente, mas ficava por dentro dos acontecimentos e decisões. Embora fosse uma empresa pequena, tinha bons rendimentos, resultado da mão de ferro de seu irmão como administrador e da excelente ideia de Alan de unir aos serviços de investigação, o serviço de segurança privada. “Ideia rentável “, pensou, com um sorriso. Hoje, o serviços de proteção particular davam mais dinheiro do que a investigação em si. Como Jay tinha mais conhecimento do trabalho de campo, as contratações e entrevistas ficavam a seu cargo. “ Você sabe melhor do que nós o que acontece na prática, então você sabe exatamente o que está procurando”. Diziam Alan e Rafael. Foi assim que Mattew começou a trabalhar na firma. O treinador de artes marciais dos seguranças tinha resolvido se aposentar. Mattew era um ótimo candidato, ex-militar, lutador de jiu-jítsu, ficha impecável. Nunca, nem em seus piores pesadelos, poderia imaginar no que resultaria a decisão de contrata-lo. Mas o outro não tinha lhe dado motivos para desconfiar. Era aparentemente uma boa pessoa, tinha uma boa relação com todos, gentil, educado, bem-humorado. Nenhum histórico de agressão. Nada. Nenhuma pista. E Jay, com seus 28 anos, nunca tinha se enganado com relação a alguém assim antes. Sempre houvera aquela intuição, aquela pulguinha atrás da orelha, aquela sensação de desconfiança instintiva em relação a índole das pessoas. Foi o que o fez se tornar investigador. Era um dom natural. Mas não naquele caso. Ele não sabia o motivo. Tinha deixado passar alguma coisa. Mattew começou a trabalhar no dia posterior a entrevista. Se entrosou rápido com o restante da equipe. E ele era bom, muito bom mesmo no que fazia. Se aproximou rapidamente de Twiu, o rapaz era tímido, porém cativava as pessoas com facilidade.

Após algumas semanas os dois tinham se tornado amigos. Tudo certo. Ter uma equipe unida era ótimo. Twiu sempre tomava café pela metade da manhã com Mattew, ouvindo suas histórias do tempo do exército, tinha se tornado um hábito. Twiu era meio calado, mas gostava de ouvir as pessoas falando.

“ Você consegue deixar os relatórios na minha mesa antes das 10:00? To afim de ir mais cedo para casa?” Perguntou Jay se aproximando da mesa do instrutor. Ele era alto, tinha 1,88 cm, e músculos que dariam inveja a muitos marombeiros. Com certeza era alguém para se evitar uma briga.

“Claro, já estão prontos, logo levo até sua sala” Respondeu Mattew olhando fixamente para atrás de Jay.

“ certo” disse. Como outro não o olhou, virou o rosto procurando o que prendia a atenção de Mattew. Deu de cara com Twiu, na salinha minúscula dele, rodeada por janelas enormes de vidro que permitiam ver todo o interior, concentrado em alguma coisa no computador. Mão no queixo, testa franzida, completamente alheio ao que acontecia a sua volta e acompanhado pela sua inseparável colega de trabalho, Teca, uma térmica de café muito feia, velha e com manchas horríveis, que ele adorava. O rapaz tinha gostos estranhos.

“Tudo bem ?” Perguntou Jay .

“Ah..Sim.” Respondeu o outro lhe dirigindo o olhar pela primeira vez. “ Estou meio distraído hoje”

“ ok”

“ você sabe se o Twiu é solteiro? “ Perguntou.

“ É. Porque?” Quiz saber achando estranho a pergunta repentina de Mattew.

“Só curiosidade. Nunca vejo ele com nenhuma mulher... ou homem.”

“Mulher.” Falou levantando a sobrancelha. “Ele é muito tímido “ Disse dando de ombros. Na verdade , Jay achava que Twiu fosse virgem, mas nunca teve coragem de perguntar. Não era da conta dele. Se o rapaz quisesse, teria falado sobre o assunto. Eles moravam juntos a dois anos, mas nunca tinham tocado nesse assunto. Sabia que Twiu gostava de mulheres, pelos olhares que ele dirigia para a vizinha do escritório de baixo. Aquela mulher era um escândalo. Porém era casada. E as coisas só ficaram nos olhares mesmo.

“ Ah... vou dar os retoques no relatório e te levo” Mattew mudou de assunto.

Jay achou um pouco estranho, mas não deu muita atenção. Talvez Mattew fosse gay, e estivesse se interessando pelo outro. Não era da conta dele também, porém sentiu uma pontada de ciúmes. “ Bobagem “, pensou . Alguns meses se passaram na mais completa tranquilidade.

Em uma sexta-feira, Twiu não foi tomar café com Mattew como fazia sempre, preferiu ficar na sua sala trabalhando. Quando foram almoçar na cantina italiana da esquina como sempre faziam, Jay perguntou o porque.

“ Ele é meio grudento às vezes” Respondeu o outro.

“Como assim?”

“ Sei lá, ele me dá muita... atenção. É estranho.”

“Acho que ele está afim de você” Falou Jay, enfiando uma porção de capeletti na boca.

“ Tá bom”. Disse, revirando os olhos. “ Você sai com cada uma”

“To falando sério”. Retrucou rindo.

“ Melhor ele mudar de ideia”

“ De repente ele se toca que não vai rolar nada e desiste”

“ Tomara”

“ Ele nunca deu a entender que queria mais que amizade?”

“Não”

“ Vai ver até deu, você é meio tapado para essas coisas”

“ Nossa, valeu “ Respondeu Twiu fingindo magoa.

“ Você sabe que é verdade” Falou Jay rindo e jogando migalhas de pão nele.

“ Não, senhor Lê Roux, ele nunca deu a entender que queria sair comigo “

“ Talvez ele devesse desenhar” Retrucou baixinho.

“ Que?”

“ Nada”

Alguns dias depois, quando Jay chamou Twiu até sua sala para lhe ajudar com um programa no computador, notou que o rapaz parecia chateado, de mal humor.

“ O que aconteceu?”

“Nada”

“Isso aí não é cara de nada”

“ O Matt se declarou pra mim no banheiro.”

“Oh , sério ?” Perguntou fechando a cara. “E isso deixou você chateado?”

“Não. Isso não. Mas quando eu disse que não ia rolar nada mais que amizade, ele tentou me beijar à força.”

“ O que? Como assim? Que filho da puta.”

“ É. Foi muita sacanagem da parte dele. Depois ele me pediu desculpas. Mas ele foi um canalha.“

“Vou demiti-lo por assédio, aquele infeliz.” Disse cerrando os punhos.

“Não, tudo bem. Acho que ele entendeu. Me pediu desculpas, disse que não faz mais.” Falou Twiu, passando a mão no rosto. Jay parecia ter ficado com muita raiva.

“Tem certeza? Não quero um assediador trabalhando na minha empresa “

“Tenho, deixa pra lá. Qual o problema no computador?”

“ Tudo bem. Mas se ele ficar te importunando, me avise imediatamente tá bom?”

“Tá, não acho que ele vá fazer isso.”

“Não estou conseguindo logar nesse programa de rastreamento novo que você instalou.”

“ Me deixa dar uma olhada “

Twiu nunca mais reclamou de Mattew, os dois se afastaram um pouco, e Jay não percebeu mais nenhum comportamento ameaçador nele.

No final daquela semana, Mattew pediu demissão. Twiu lhe falou no caminho de casa que antes de ir embora, Mattew teria dito que ele iria se arrepender de tê-lo recusado. Na segunda-feira perto do meio dia, Twiu saiu, ia até uma loja de eletrônicos, na parte leste da cidade, comprar alguns equipamentos novos. Jay estranhou quando ele não tinha voltado ainda por volta das 15:00 horas. Ele nunca demorava tanto assim. Ligou, sendo atendido pela mensagem da caixa postal. “ De repente, ele resolveu ir em outra loja, ou foi pra casa mais cedo” Pensou, sem acreditar muito nisso e com uma preocupação crescente, quando deu 17:00 horas , e ele ainda não tinha voltado, nem atendido o celular. Resolveu ir para casa. Quando chegou lá, sentiu o coração apertar ao notar que o rapaz não tinha estado ali desde que saíram pela manhã. Ligou mais vezes para o celular, inutilmente. Ligou para alguns amigos, sem sucesso. Começou a entrar em pânico. Twiu sempre avisava aonde ia e nunca, com 21 anos, desde que fora morar com Jay, tinha ido dormir fora de casa. Respirou fundo, precisava se acalmar. Andando em círculos pela sala, tentava colocar os pensamentos em ordem. Tentou lembrar se ele tinha mencionado alguma coisa durante o dia. Não. O tempo passava rápido. Já era noite. Jay perdeu o chão quando admitiu que Twiu tinha sumido. Sua cabeça estava a mil. Será que tinha sido um assalto? Ele teria reagido? Ele tinha passado mal na rua? Ligou para o hospital. Ninguém com a descrição do rapaz tinha dado entrada. No necrotério também não. Já passava da meia-noite. De repente, pensou em Mattew. Atenção excessiva. Tentou beijar ele a força. “Disse que eu iria me arrepender de tê-lo recusado.” Tinha dito Twiu. Será? Será que ele tinha alguma coisa a ver com o sumiço repentino do Twiu? Ligou para o número que tinha de Mattew, caiu na caixa postal. Jay sentiu a raiva tomando conta, não sabia do que seria capaz se esse miserável tivesse feito alguma coisa com o rapaz. Ligou para seu irmão e para Christofer, seu contato na polícia. Cristofer foi até a casa de Mattew. Não tinha ninguém. Quando a vizinha o viu informou que ele tinha se mudado a alguns dias. Não tinham nenhum outro endereço. Ele não tinha família na cidade. Tentaram rastrear os celulares, sem sucesso. Continuaram procurando, enquanto os dias passavam. Quase uma semana. Ao reler os e-mails rackeados, Jay viu uma menção à um endereço no sul da cidade. Não estava em nome de Mattew, mas ele resolveu dar uma olhada mesmo assim. Era um chalé bem afastado da cidade, quase na parte rural, completamente isolado. Chegou mais perto pela lateral da casa. Tinham rastros de pneu recentes. Deu a volta na casa. Nos fundos, estacionado meio escondido, estava a picape de Mattew. “Filho da puta.” Jay ligou para Cristofer, informando o que havia descoberto. Este lhe pediu para esperar a polícia chegar, porém, Jay não lhe deu ouvidos. Twiu podia estar ali, com medo, ferido. Não ia esperar mais. Pegou a arma, verificou se estava carregada. Espiou pela janela, não havia ninguém no andar de baixo. Testou a fechadura. Estava aberta. Entrou devagar, com a arma a sua frente. Algumas sacolas tinham sido largadas às pressas pelo chão. “ Ele sabe que estou aqui.” Atravessou a pequena sala em poucos passos, havia uma escada de acesso ao segundo andar. Subiu rapidamente, dando de cara com um quarto, com a porta escancarada. Havia um cama no canto. Twiu estava jogado sobre ela. Mattew estava em cima dele. Com as mãos em seu pescoço. Jay apontou a arma para ele.

“Saia de perto dele!”

“ Ele é meu.”

“Mattew, sai de perto dele, agora !”

“ Não importa o que você faça, ele é meu, eu o marquei, ele nunca vai ser seu. Ele me pertence “

Jay foi tomado pela raiva, Mattew parecia completamente fora de si. “Ele me pertence.” Repetiu e apertou as mãos que estavam no pescoço do rapaz. Então, ele apertou o gatilho, duas vezes. Mattew caiu sobre o Twiu. Jay correu até eles e o jogou no chão. Twiu estava respirando. Jay ficou aliviado, só então se permitindo absorver todas as informações daquela cena horrenda. Twiu estava inconsciente, sem roupas, coberto parcialmente por um lençol. Cheio de hematomas. O cheiro de sangue e suor era nauseante. Havia sangue seco misturado com sangue recente em seu corpo, juntamente com esperma. O menino estava em estado lastimável. Jay o puxou para seu colo. “Eu te encontrei, está tudo bem agora. Tudo bem, meu anjinho.” Disse com lágrimas no olhos.

O rapaz foi arrancado de seus pensamentos pelo toque insistente do celular. Estava na cozinha. Olhou o visor e atendeu em seguida.

-Tiffani, onde você se enfiou?

-Bom dia pra você também, seu rabugento. Estou bem, obrigado por perguntar.

-Você simplesmente sumiu. Todo mundo ficou preocupado com você, sua desmiolada.

-Complicações, meu bem. Tive que sair de Londres e ir para Paris. Mas agora está tudo resolvido.

-Podia ter avisado.

-Own, xuxu, não fica assim.

-Quando você volta?

-Já voltei amor. Como está nosso bebê?

-Bem melhor. Melhor mesmo. Acho que ele ia ficar feliz em te ver.

-Vou à tarde. Mas antes precisamos conversar. Precisa ser no escritório, tudo bem?

-Sobre o que?

-Um novo cliente.

-Não pode ser aqui?

-Não, xuxu, o “cliente” vai estar junto. Pode ser lá pelas 10:00?

-Vou ver se consigo.

-Trate de aparecer aqui. E aperte aquela bundinha gostosa do Twiu por mim. Deu uma gargalhada e desligou.

-Maluca. Respondeu rindo.

Era 9:10 agora. Ele teria que sair em poucos minutos se quisesse estar lá as 10:00. Mas tinha o Twiu. Nesse momento o rapaz apareceu esfregando os olhos e meio descabelado.

-Bom dia. Disse com voz de sono.

-Bom dia. Tem certeza de que acordou? Perguntou rindo.

-Haha. Com quem você tava falando?

-Com a Tiffani. Lembra dela?

-Lembro. Faz tempo que eu não vejo aquela peste.

-Pois é, ela estava na França. E a gente achando que ela tinha morrido.

-Ela é muito louca. Disse rindo e balançando a cabeça.

-Ela disse que vem aqui hoje a tarde.

-Sério? Que ótimo. Estou com saudades.

Jay o olhou por um minuto em silêncio.

-Você está claramente caindo de sono. Por que levantou?

-Já é quase dez horas. Tenho que tentar retomar minha vida.

-Fico feliz em ouvir isso.

Twiu deu de ombros.

-Eu preciso ir ao escritório, tudo bem?

-Algum problema?

-Não, só uma reunião com um cliente novo que a Tiffani me arrumou.

-Tudo bem.

-Você quer vir junto?

-Não. Acho que é muito cedo ainda.

-E tudo bem você ficar sozinho um pouco?

-Sim, eu te ligo qualquer coisa.

-Tem certeza? Eu posso ficar se você quiser.

-Não, tudo bem, nossa vida tem que voltar ao normal.

-Me liga mesmo?

-Aham. Vou ficar bem. Sério.

-Ok. Disse Jay dando um abraço rápido no rapaz.

Jay colocou um casaco qualquer que estava a mão e saiu, com o coração apertado. Mas Twiu tinha razão, a vida deles tinha que voltar ao normal.