S1 x E3 - A ira e o amor de Gabriel

Conto de ThiagoAraújo como (Seguir)

Parte da série Vida de Garotos

- Paulo... vou perguntar algo que pode parecer estranho.

- Diga.

- Os rapazes daqui... são... bonitos. Isso é coincidência?

Paulo o olhou de canto, analisando a pergunta. Ele riu baixinho e voltou a olhar para baixo.

- Não, não é. Você preencheu um formulário, fez uma prova e teve que entregar quatro fotos e um vídeo para efetuar a matrícula, não? – indagou.

- Ah... eu achei estranho pedir tantas fotos e pedindo de corpo inteiro. Eu pensei que era para mostrar se tinha alguma deficiência física. O vídeo eu achei forçado, mas esse colégio é muito rígido – comentou.

- A prova é realmente difícil e não entra qualquer um realmente. Não existem pessoas doentes e deficientes. Pois tem um exame antes. Eles falam que é para cuidar melhor do aluno, mas eles dão os resultados da prova depois de tudo. Eles mentem dizendo que você não passou – comentou, suspirando – são duzentas questões mais o questionário pessoal e sócio econômico. Você nem se lembra das questões e não pode ficar com o gabarito. Resumindo, você é enganado.

- Por que isso?

- Querem criar garotos lindos, inteligentes e com saúde. Por isso os alunos daqui conseguem bons empregos e trazem nome para a escola – disse – a mensalidade é cara e ela sempre ganha os títulos que estima. Sempre ganhamos nos esportes. Todos os anos alguém trás uma taça para casa.

- E por quê tem essa política de deixar os alunos sem regras? – indagou.

- Tem regras. Com relação a notas, provas e atrasos. Agora quanto essa relação entre rapazes, não existe. O diretor é um depravado, você deveria conhecê-lo, ou melhor, acho que não deveria – comentou – aqui é um circo. A maioria dos garotos é ignorada pelos seus parentes. Ninguém liga para nossa educação e o tratamento que recebemos.

- Que dramático – comentou, rindo baixinho.

- Uma comédia realmente – riu junto com Thiago. Definitivamente havia adorado o jeito do seu novo companheiro. Ele não era sentimentalista e não ficava dando comentários melodramáticos com frases e ditados populares.

- Eu quero sair um pouco – disse – quero ir à cidade.

- Eu estou realmente cansado. Podemos ir amanhã à tarde, se quiser – disse.

- Eu quero ir agora. Meus colegas estão indo – disse, apontando para Leon e os demais – “eu não acredito que estou pedindo permissão” – pensou em seguida.

- Hum... está no grupinho do Leon? Que infelicidade a sua – comentou – o pessoal do quarto ano os adora.

- Como assim?

- Eles fazem pose, mas são uns coitados. Aqueles gêmeos são loucos. Haziel é um dos favoritos quando a galera está animada, pois ele é briguento, mas depois de uns tapas ele fica quieto – comentou, rindo baixinho.

- “Talvez eu saiba mais dos outros através de Paulo do que de Anderson. Acho que tive sorte realmente” – pensou – e por quê ele usa aquele tapa-olho?

- Amín e Haziel brigam muito. Uma vez a briga foi tão feia que Amín pegou o guarda-chuva e apontou na direção de Haziel e deu no que deu. Anderson é o irmão bastardo, ele é muito zuado por todos os alunos por ser tão heterozinho. E Amín é um pouco doido.

- Doido como?

- Doido mesmo, ele fala sozinho às vezes. Ele é estranho, mas é uma graça na cama – comentou – e quanto a Hudi... bom, ele é esquentadinho, mas fácil de pegar também.

- Então já pegou todo mundo? – indagou, com um tom de deboche.

- Quase todos que me interessavam ou então eu assistia, pois fazemos festinhas em grupo – comentou.

- Hum... e quanto a Leon?

- Leon é primo de Willian, por isso mesmo ele tem um desconto. Ele tenta colocar banca no pessoal, mas só consegue por causa de Willian – disse – eu nunca o peguei, mas Willian adora ficar com ele.

- Mas... são primos. Que estranho – comentou.

- Achou estranho com primos? Então tem que ver Gabriel com o irmão dele.

- Irmãos? – indagou perplexo.

- Sim. Irmãos. Estranho não? Gabriel está no quarto ano e seu irmão está no segundo ano. Eles se pegam nervoso quando bebem – comentou – Gabriel é possessivo e seu irmão Alexis sempre deixa o mais velho fazer o que quer, afinal, ele que manda sempre.

- Você está saindo um belo de um fofoqueiro – Thiago comentou.

- Estou respondendo suas perguntas. Você não imagina o que eu sei daqui – disse.

Paulo apagou seu cigarro e virou-se indo até sua cama, deitando-se nela, ficando a olhar para o teto. Thiago queria sair daquele quarto, conhecer a cidade.

- Eu vou enlouquecer nesse quarto – comentou.

- Vai tomar um banho, leia algum livro... durma – disse – eu não quero sair hoje. Amanhã eu te levo com os meus amigos.

- E qual é a desse Willian? – indagou, voltando até sua cama, sentando-se nela, retirando sua calça jeans, ficando apenas de cueca.

- Nada demais, ele é que nem eu. Apenas agita mais as coisas. Nós estudamos juntos desde o primeiro ano – disse – mas Willian não é tão terrível quanto parece. Gabriel é pior que ele. Acho que dá para imaginar, ne? Ele pega até o irmão.

- Eu só ouvi falar do Willian até agora – comentou.

- Quem foi à fonte de suas informações? – indagou.

- Anderson – disse.

- Ah, claro. E aquele garoto sabe alguma coisa? Ele só sabe balbuciar nossos nomes... ele nem deve ter falado de mim para você – disse, suspirando em seguida.

- Hum... Por quê? Você é pior que todo aqui? – indagou, rindo baixinho.

Paulo não respondeu, ele não tinha que falar nada para Thiago. Que ele descobrisse sozinho. Mas no futuro Thiago teria que agradecer por ter um relacionamento saudável com Paulo. Ele era famoso por ser o cara mais briguento do colégio, e não era só fama, ele já havia mandado alguns garotos para o hospital. Ele era faixa preta no Karate, e tinha um bom relacionamento com o diretor. Além disso, Paulo adorava participar de festinhas sádicas com o pessoal do quarto ano, onde ele era um carrasco quando participava. Mas por enquanto, para Thiago, Paulo era apenas um lindo rapaz que fumava e tinha um péssimo humor.

- Paulo...

- Hum?

- E tem professores que... ficam com alunos? – indagou.

- Iago e Melchor – disse.

- Mas Anderson disse que nunca viu nenhum aluno com eles – comentou.

- Porque esse moleque é um idiota – comentou – se você notar, Iago é bem estranho. Melchor não fica atrás. Não os provoque.

- Eu já provoquei – disse, lembrando-se da aula de química.

- Já? Mas você é realmente um furacão – comentou, rindo baixinho – o que você fez?

- Eu falei que ia tirar dez na prova do Iago, pois ele veio falando que eu não ia conseguir fazer a prova. E eu realmente fiz o exercício corretamente e entreguei em cinco minutos – disse – ele me olhou com uma cara.

- Hum... ele deve te odiar – comentou – não fique sozinho com ele depois da aula. Se ele pedir para ficar depois da aula... humm... saia correndo.

- Correndo para onde? – indagou. Achando aquilo ridículo.

- Para qualquer lugar, oras. Ele não vai sair correndo atrás de você nos dormitórios como os alunos fazem – disse – na sala de aula ele é o terror, agora nos dormitórios e no pátio ele se comporta.

- E por quê você está cansado? Afinal, você nem foi assistir aula – indagou.

- Eu fiquei malhando na academia – comentou – você não viu a academia ainda?

- Não, nem sabia que tinha. É boa?

- Enorme, cheia de equipamentos. Amanhã eu te levo, assim você pode ir malhar também – comentou.

- Muitos garotos malham?

- Não sei se percebeu, mas como não tem muito que fazer aqui. Quase todos os garotos malham.

- “Pensando bem... todos são musculosos” – pensou, olhando para o abdômen de Paulo – “não são tão malhados como o Paulo... mas são” – concluiu, lembrando-se dos garotos na aula de natação.

Os dois continuaram a conversar até que Paulo acabou caindo no sono. Thiago levantou-se e colocou seu pijama, que era uma calça de algodão preta. Ele deitou-se na sua cama e cobriu-se com o lençol.

As horas foram passando e a noite começou a chegar no seu fim. O céu começou a ficar cada vez mais claro, permitindo que o sol aparecesse timidamente por de trás das nuvens, que ia se dissipando, permitindo que um tom azul claro fosse pintado no céu.

Uma brisa quente adentrou no quarto, acordando os dois rapazes que começaram a abrir seus olhos lentamente. Paulo foi o primeiro a sentar-se na cama, passando a mão por seus olhos, massageando-os. Ele olhou para seu companheiro de quarto, que estava com o travesseiro em cima da cabeça, tentado dormir novamente.

- Hum... sete horas – Paulo comentou baixinho, levantando-se.

A calça jeans de Paulo foi retirada de seu corpo que ficou todo marcado com aquele tecido. Ele adentrou no banheiro, deixando a porta aberta. Ele começou a fazer suas necessidades, quando terminou, lavou o rosto e voltou ao quarto, indo até seu cigarro, pegando um e o acendendo.

O odor daquela droga invadiu as narinas de Thiago que se remexeu na cama. Ele odiava cigarro, aos poucos viu que não conseguiria mais dormir. Ele sentou-se lentamente na cama e soltou um longo bocejo.

- “Esse cara não se importa de ficar andando pelado pelo quarto?” – Thiago pensou.

Tanto Thiago como Paulo não disseram nada. Thiago começou a caminhar pelo quarto, adentrando no banheiro e fechando a porta. Minutos depois ele saiu, indo até seu armário, pegando uma calça jeans preta e uma camiseta da mesma cor. Ele se vestiu e calçou um par de sandálias Havaianas da cor vermelha. Os cabelos de Thiago foram penteados com os dedos, deixando sua longa franja cair por seus olhos castanhos mel.

- Que horas ele servem o café? – Thiago indagou.

- De sábado às nove horas – respondeu secamente, dando uma longa tragada em seu cigarro.

- “Eu estou ficando louco... eu sinto vontade de beijá-lo” – pensou, lembrando-se da noite passada.

Thiago caminhou até a janela, aproximando-se de Paulo, tocando no ombro do maior que o olhou de canto, esperando ele perguntar alguma coisa. A mão de Thiago deslizou pelo pescoço de Paulo e o puxou para baixo. Thiago ficou na ponta dos pés e encostou seus lábios nos lábios de Paulo, que arregalou os olhos, surpreendendo-se com a investida do menor.

Os lábios de Thiago mordiscaram o lábio inferior de Paulo e depois fizeram o mesmo com o lábio superior. Ele se afastou em seguida, vendo que o veterano não se movia.

- Vou sair – Thiago disse, virando-se de costas, largando aquele homem que estava lhe seduzindo sem querer.

A mão de Paulo largou o cigarro, deixando-o cair para fora da janela. Ele avançou no rapaz que se afastava, fechando seus dedos em seus cabelos, puxando-o para trás. Paulo o abraçou por trás e afundou sua cabeça na curva do pescoço de Thiago, beijando-o com volúpia.

- Pelo jeito você gamou – Paulo comentou – cuidado para não se apaixonar.

- Não se preocupe. Eu sei diferenciar sexo e amor – disse – e digo o mesmo para você.

Paulo riu baixinho, continuando a beijar o pescoço do novato, passando sua língua por sua extensão. No entanto, Thiago esquivou-se do seu toque e caminhou até a porta, destrancando-a e saindo do quarto, ignorando o chamado do mais velho. Ele não queria ficar preso no quarto novamente.

No final do corredor estava Hudi e Amín conversando, Thiago foi aproximando-se lentamente, com as mãos no bolso e um olhar distraído. Quando se aproximou, ergueu a cabeça e sorriu, cumprimentando-os.

- Acordou cedo – Amín comentou, olhando para Thiago.

- Meu colega de quarto me acordou – disse, soltando um longo suspiro em seguida.

- E qual o nome dele? – Amín indagou. Ele mesmo não havia tido o interesse de verificar o colega de quarto de Thiago.

- Paulo – disse.

Tanto Amín quanto Hudi abriram suas bocas ficando um bom tempo com uma expressão assustada. Thiago passou a mão por seus cabelos e respirou fundo, pelo jeito seu colega de quarto era realmente um problema.

- E... bom, você se deu bem com ele? Digo... não brigaram? – Amín indagou.

- Eu estou com cara que briguei com alguém? Por quê eu brigaria? – indagou.

- Tem razão, você parece ser bem calmo. Mas Paulo é realmente bem nervoso, ele é o lutador de karate e participa de campeonatos pelo colégio. Desde que ele entrou no colégio, sempre ganhamos as medalhas de ouro – Hudi comentou.

- E soube que ontem Willian pediu para você ir ao dormitório do quarto ano. Por quê não foi? – Hudi perguntou, exibindo um olhar intrigado.

- Porque não quis – respondeu secamente.

- Mas... mas eles não vieram te buscar? – Amín indagou, lembrando-se do seu primeiro dia de aula. Não adiantava falar que não ia ou que não queria, se eles realmente quisessem, eles te buscavam.

- Não – disse – “Mas que saco...” – pensou em seguida.

- Por que não? – Hudi indagou.

- Porque eu tenho proteção de Paulo agora – disse.

Amín e Hudi se entreolharam pensando como Thiago tinha sorte de ter conseguido se dar bem com Paulo. Eles sentiram um pouco de inveja, afinal não era qualquer novato que tinha a chance de ficar ileso.

Os três continuaram conversando até que começaram a caminhar ao refeitório. Eles sentaram numa mesa de metal e ficaram olhando para o pessoal que passava, algumas pessoas vinham cumprimentar Amín e Hudi e acabavam conversando com Thiago também.

O café da manhã começou a ser servido. Tinha uma variedade de bebidas e pães. Os alunos pegavam uma bandeja de alumínio e caminhavam por um estreito espaço onde havia os produtos que queria consumir e depois de se servirem, voltavam aos seus lugares.

Leon e Haziel juntaram-se a eles na mesa quando chegaram, eles continuaram conversando animadamente. Thiago ficava quieto em algumas horas, pois não sabia como entrar no assunto. Afinal eles se conheciam há mais tempo e tinham muitos compromissos e histórias em comum.

Ao longe Thiago observou que Paulo havia chegado com mais três pessoas ao seu lado. Ele reconheceu o ruivo que era Willian; quanto aos outros dois nunca os havia visto antes.

Paulo passou pela mesa dos rapazes sem sequer dirigir o seu olhar para eles, sentando-se a uma mesa vazia ao lado. Thiago começou a suar frio, pois sentia alguns olhares para cima dele, entretanto, Amín e Hudi logo o chamaram para a conversa, distraindo-o.

Na mesa ao lado, Willian estava conversando com Gabriel e Romeu. Paulo não falava muito, ele deveria estar com seu mau humor matinal e todos respeitavam esse momento. Aquele era o grupo que Paulo andava, ele falava com quase todos os garotos do quarto ano, mas só andava com esse grupo em particular por motivo de afinidade.

Gabriel era o que mais se destacava do grupo. Ele tinha os cabelos curtos nas laterais que ficavam arrepiados e no meio seus cabelos eram cheios e compridos, chegando até um palmo abaixo do pescoço. Um moicano sem deixar as laterais raspadas. Ele tinha brincos nas orelhas e usava roupas despojadas e rasgadas. Seus olhos eram cor de mel com alguns traços esverdeados.

Romeu parecia ser o mais sério pela sua aparência. Ele usava um par de óculos quadrados e bem modernos, que cobriam seus olhos azuis escuros. Seu cabelo era castanho claro e ele não usava nenhum brinco e piercing por sinal. Ele era alto e usava o mesmo tipo de roupa que os demais. Parecia ser o mais certinho do grupo.

- Diga-me Paulo, como é seu companheiro de quarto? – Willian indagou.

- Hum, se eu te contar, vai ter que prometer que não vai me encher o saco depois – disse, olhando para o vapor que saia de sua xícara de café.

Gabriel parou de falar com Romeu e deu mais atenção para Paulo, ficando curioso com o que ele havia dito. Os três rapazes ficaram olhando para Paulo, esperando ele falar alguma coisa.

- Ele é resolvido sexualmente. Era ativo nos seus relacionamentos, mas eu mudei isso ontem. Ele é bem animado, faz o que tem vontade, não fica tímido e reclamando e o melhor... ele faz uma coisa com a boca... sem que eu pedisse – disse, vendo que seus colegas começaram a babar nas suas palavras.

- E... ele fez sem você pedir? – Willian indagou.

- Sim – respondeu – interessante, não? E mais... ele adora conversar, mesmo depois que fizemos. Ele ficou conversando normalmente comigo, sem infantilidade.

- Paulo... dá ele para mim! – Willian pediu, abrindo um largo sorriso.

- Não, dê para mim – Gabriel interrompeu, dando um soco no braço de Willian, que fez uma careta de dor para o loiro, que nem sequer se importou.

- Não, eu peguei primeiro – Paulo disse, rindo baixinho – hoje vou levá-lo para beber conosco. Vocês podem conversar com ele... mas apenas isso.

Willian fechou os seus olhos acinzentados e cruzou o braço, ele estava indignado com a sorte de Paulo. Ele havia conseguido cair no quarto do novato mais lindo dos últimos tempos e o melhor, ele era super animado e topava qualquer coisa.

- E Willian... só para te provocar mais – Paulo disse baixinho.

- O que? – indagou, abrindo apenas um olho.

- Ele pede permissão para sair e fazer as coisas, como eu pedi. Ele não é um garoto comportado? – indagou provocante. Paulo sabia que Willian adorava garotos que se comportavam, mostravam-se submissos e obediente.

Na mesa ao lado, Thiago ouviu seu nome várias vezes na mesa de Paulo, mas ele não podia impedir que falassem dele. Afinal ele era a novidade do colégio e olhando com atenção, muitos garotos o observavam a distância.

O café da manhã foi encerrado. Os garotos colocaram suas bandejas em cima da lixeira, onde havia um empregado limpando tudo. Eles se afastaram do refeitório e caminharam até um gramado livre, onde não havia nada. Eles sentaram-se na grama e ficaram olhando para o céu.

- Quem é aquele conversando com o Hiko? – Haziel indagou de repente, forçando sua vista na direção das mesas do refeitório.

- Eu acho que é o... – Amín começou a falar, observando mais o rapaz – acho que é o Alexis – disse.

- O irmão de Gabriel, não? – Haziel indagou, para ver se era ele mesmo.

- Esse mesmo – quem respondeu agora foi Leon.

Thiago começou a observar também, ele queria saber quem era o irmão do famoso Gabriel, que Paulo havia comentado. Ele tinha cabelos loiros, com algumas mechas mais claras, chegando a serem brancas, algumas mechas eram maiores e chegavam abaixo de sua orelha. Seus olhos eram castanhos escuros. Ele era alto e magro, mas era notável que ele estava começando a malhar, pois seus braços estavam com um pouco de músculos.

- “Anderson comentou que Haziel e esse tal de Hiko tinham um caso” – pensou, olhando discretamente para Haziel que parecia estar mordido de ciúme – “Esse Haziel parece ser louco... aliás, depois que o Paulo comentou... será que Amín é louco também? O Anderson deve ser o mais certinho dessa família”.

Haziel levantou-se rapidamente, e começou a caminhar na direção do refeitório. Amín olhou para Leon com certo desespero.

- Leon, o pare – Amín pediu.

- É o seu irmão, pare você – Leon disse – ou vai lá você Hudi.

- Eu não vou – Hudi respondeu rapidamente.

- “Qual o problema?” – Thiago indagou em pensamento – “Ontem no refeitório Leon puxou Haziel sem problema... Por quê agora ele está se recusando? E os demais também...”.

Thiago ficou observando Haziel se aproximar dos dois rapazes menor que conversavam ao longe. Haziel puxou o braço de Hiko para cima e o olhou feio, o outro garoto chamado Alexis foi ligeiramente empurrando para trás, tropeçando nas suas próprias pernas e caindo para trás.

- Pelos Deuses, meu irmão não fez isso – Amín comentou, colocando as mãos na cabeça em desespero.

- “Mas ele bateu nele ontem... e ninguém ligou. Mas... espera aí! Eles estão olhando para... o outro jogado no chão. O tal de Alexis... Hum ... Ah! O irmão de Gabriel! É mesmo, Paulo comentou comigo. Gabriel deve ser briguento e aquele é seu querido irmão” – concluiu em pensamento – “Ninguém quer se envolver... então é isso!” – concluiu com satisfação.

Haziel começou a puxar Hiko na direção do gramado, sendo observado por todos os garotos que estavam no refeitório.

- Ah, não vem aqui Haziel! – Hudi pediu em voz alta, olhando para o céu – pelos Deuses, eu não quero me envolver.

Thiago olhou para o lado e viu que Paulo aproximava-se deles com passos rápido. Segundos depois ele estava na sua frente com as mãos no bolso e o seu cigarro na boca, olhando para Thiago de cima.

- Vem comigo um pouco – pediu, virando-se de costas e postando-se a caminhar na direção que veio.

Após soltar um gemido preguiçoso, Thiago levantou-se lentamente, batendo a mão em sua calça, limpando-a. Ele acenou para seus colegas e caminhou até Paulo, que estava sentado há alguns metrôs de distância do seu lugar inicial.

Maccario sentou-se no gramado, encostando-se a uma grande árvore. Sentado junto com ele estava Willian e Romeu, que o observavam. Thiago sentou-se na frente deles e cruzou os braços, cumprimentando-os com um sorriso simpático, mas nada muito forçado.

- Ah, eu queria lhe apresentar a Willian e Romeu – disse, apontando para os garotos que lhe sorriram.

O quarteto ficou conversando tranqüilamente, Thiago conseguia levar a conversa tranqüilamente, rindo em momentos certos e fazendo alguns comentários engraçados em certos pontos. Ele era definitivamente bem agradável.

Thiago parou de falar por um minuto olhando para trás, onde estava sentado anteriormente, vendo que havia um garoto com um longo moicano conversando com Haziel seriamente.

- Quem é aquele? – Thiago indagou.

- Nosso companheiro Gabriel – Romeu respondeu.

- “Gabriel... falando com o Haziel? Ah! Deve ser porque Haziel jogou o irmão dele no chão” – pensou – “era para eu estar lá com Leon e os outros. Mas Paulo me tirou de lá... será que foi de propósito?”.

Willian abriu a boca para falar alguma coisa, mas calou-se ao ver ao ver Alexis aproximando-se deles com um olhar cabisbaixo. Ele sentou-se ao lado de Paulo e ficou em silêncio, olhando para o seu irmão ao longe.

- Ele pediu para você ficar aqui? – Willian indagou, olhando para Alexis.

- Pra variar – respondeu Alexis, parecendo contrariado – ele me quer embaixo de suas asinhas. Que saco, meu irmão poderia ser menos protetor.

- Não reclame – Romeu disse – ele se importa com você.

- E quem é você? – Alexis indagou, olhando diretamente para Thiago.

- Thiago e você? – indagou, usando o mesmo tom de voz que Alexis usou com ele.

- Alexis – respondeu – o irmão daquele idiota – disse em seguida, apontando para Gabriel.

Willian e Paulo levantaram-se de repente, chamando a atenção de Thiago. Eles começaram a caminhar na direção do grupo, Thiago fez a menção de levantar, mas a voz cortante de Paulo invadiu seus ouvidos.

- Fica aí até eu voltar. Faça companhia para Romeu e Alexis – disse, dando uma tragada no seu cigarro.

Thiago sentou-se de lado, assim poderia olhar para Romeu e Alexis e observar o seu grupo que já estavam de pé, tentando conversar com Gabriel. Quando Paulo e Willian se aproximaram, eles pareceram ficar quietos.

- Isso vai ser feio – Romeu comentou – eu vou lá também, apesar de saber que Gabriel poderia facilmente resolver sozinho. Ainda mais com Paulo ali para ajudar.

Romeu levantou-se lentamente, mas antes de se afastar, olhou para Alexis e Thiago.

- Fiquem aqui, até voltarmos – disse.

Thiago e Alexis bufaram, contrariados com aquelas ordens. Thiago levantou-se e caminhou até Alexis, sentando-se ao seu lado, encostando-se no tronco de árvore.

- Você está com Paulo, não é? – Alexis indagou, sem tirar os seus olhos de seu irmão.

- Sim – respondeu - E você... tem alguém? – indagou.

- Não – respondeu secamente.

- “Apenas o seu irmão...” – Thiago pensou, achando melhor não falar mais nada.

- Vai sair briga – Alexis murmurou.

Antes de Thiago perguntar o motivo dele achar isso, ao longe, Gabriel ergueu seu braço e desferiu um soco na face de Haziel, jogando o maior no chão e antes que ele pudesse se levantar, Gabriel sentou-se no seu tronco e começou a golpeá-lo a face. Tudo aconteceu num efeito dominó. Amín tentou proteger seu irmão, mas foi jogado no chão com uma cotovelada de Paulo, Hudi tentou ajudar Amín a se levantar, mas ao fazer isso acabou levando um chute de Romeu. Willian segurou Leon pelos braços, mantendo-o preso, abraçando-o por trás.

Thiago parecia estar horrorizado com toda aquela situação. Eles começaram a bater nos seus colegas sem nenhuma piedade, o único que havia se safado aparentemente era Leon, que estava com seu primo.

- Aonde você vai? – Alexis indagou, vendo Thiago se levantando.

- Embora. Não consigo ver isso – disse.

Com passos lentos e cabeça baixa Thiago começou a caminhar para fora do gramado, sumindo rapidamente daquele lugar. Alexis levantou-se correndo e resolveu ir atrás dele, pois ele mesmo não agüentava aquela situação.

- Eu vou com você – Alexis disse, alcançando Thiago que andava apressadamente.

Thiago não disse nada, deixando aquele garoto lhe seguir em silêncio. Eles foram caminhando até as quadras, onde havia alguns garotos jogando basquete em uma quadra e na outra estavam jogando futebol. Eles sentaram-se na arquibancada e ficaram olhando o jogo.

Um tempo depois, Thiago e Alexis não estavam mais sozinhos ali, ao lado dos dois rapazes estavam Paulo, Willian, Romeu e Gabriel que se sentaram em cada canto. Paulo sentou-se ao lado de Thiago, Gabriel do lado de seu irmão, Willian sentou um degrau acima atrás de Thiago e Romeu sentou ao lado de Willian.

- “Gabriel está com o rosto um pouco vermelho... Willian está com o braço arranhado, Romeu está com os braços vermelhos, mas Paulo... está ileso. Deve ser por causa do seu karate” – pensou, olhando discretamente para os garotos.

Maccario levou sua mão a até o bolso de sua calça, pegando seu maço de cigarros, puxando um cigarro para fora e o levando a boca, ele pegou seu isqueiro prateado e acendeu.

- Como consegue praticar fumando desse jeito? – Thiago indagou de repente, olhando para Paulo, que lhe sorriu de canto.

- Não sei, mas consigo – respondeu – “Interessante saber que você conversa comigo mesmo depois do que eu fiz com seus colegas... você é muito interessante Thiago. Devo cuidar melhor de você” – pensou em seguida.

Gabriel olhou de canto para Thiago, ele não teve a oportunidade de conversar com Thiago, e no momento não estava com vontade. Ele levantou-se, chamando a atenção dos demais.

- Vou indo – disse com sua voz grossa e baixa.

A mão de Gabriel fechou-se no braço de seu irmão menor, puxando-o para fora da arquibancada, praticamente arrastando seu irmão menor, que reclamava enquanto deixava-se ser levado.

O dia foi passando, Thiago acabou conhecendo mais alguns garotos do quarto ano com quem acabou conversando normalmente. Aparentemente ninguém era o terror que todos falavam, mas não podia analisá-los devidamente pelo fato de estar com a ‘proteção’ que Paulo lhe dava.

Eles jogaram um pouco de basquete e futebol com os garotos, Thiago sentiu um pouco de dificuldade de acompanhar o grupo, pois ele estava fora de forma. E nesse ritmo a noite foi chegando, eles estavam cansados e no momento estavam sentados nas mesas do refeitório, jogando baralho. Willian, Thiago, Paulo e Romeu estavam jogando truco.

- Cansei – Thiago disse, abaixando suas cartas, mostrando sua manilha, encerrando o jogo.

- Eu também – disse Willian, com um sorriso no rosto – boa parceiro! Fizemos doze finalmente – disse, dando uma piscada para Thiago que era seu parceiro.

- Da próxima vez eu jogo com você Thiago – Paulo comentou, apagando seu cigarro no cinzeiro.

- Ah, Paulo. Você não jogou nada também – Romeu reclamou, recolhendo as cartas e as colocando na caixa.

Os garotos estavam levantando-se para partir. Eles iam sair esta noite, mas antes precisavam urgentemente de um banho.

- Paulo! – um rapaz aproximou-se do grupo.

- Fala Marcus – disse Willian.

- Algum de vocês viu o masoquista do Gabriel? – indagou, rindo baixinho em seguida.

- Ele deve estar no dormitório – Romeu disse.

- Hum... vocês vão vê-lo depois? – indagou.

- Sim, por quê? – Paulo indagou.

- Pode entregar isso a ele? – indagou, estendendo a mão, revelando um bisturi.

Paulo pegou o objeto e colocou no bolso com cuidado para não se cortar.

- Valeu, galera. Até mais – disse, afastando-se.

- Um bisturi. Mas que louco – Willian comentou – temos um louco no nosso grupo.

- Louco? – Thiago indagou, intrigado.

Willian riu baixinho e olhou para Thiago, ele deu um passo à frente, ficando de frente para aquele garoto que estava lhe deixando cada vez mais louco e desejoso. Ele tocou no seu queixo, erguendo-o para cima, ficando a olhá-lo com atenção.

- Gabriel é louco. Sádico, masoquista, tem uma relação estranha com o seu irmão. E provavelmente foi o responsável por muitas agressões sérias contra alunos nessa escola. Se você vir alguém... Sem dedo... Ou sem alguma parte do corpo! Acredite... Foi o Gabriel.

- Sem dedo? – indagou, perplexo.

- Sim. Ele é mau! – disse baixinho, aproximando seus lábios do rosto de Thiago.

Paulo apenas observou a cena, ele esticou seu braço e puxou Thiago pelo ombro na sua direção, afastando-o de Willian que ficou frustrado. A mão de Maccario fechou-se no antebraço de Thiago e começou a puxá-lo.

- Nos vemos às dez horas lá na frente – Paulo disse.

Thiago deixou-se ser puxado pensando no que Willian havia lhe dito. Quando chegaram no quarto, Paulo fechou a porta e a trancou em seguida. Thiago sentou-se na sua cama, retirou seu chinelo e deixou seu tronco cair para trás, ele estava cansado e queria dormir.

- Vai dormir? – Paulo indagou.

- Estou cansado – disse.

- Vamos sair às dez horas – avisou.

- São seis horas ainda – resmungou, fechando os olhos.

Paulo pegou sua toalha e adentrou no banheiro. Thiago ouviu o chuveiro ser ligado, ele ouvia a água passando pelo cano e aquele som o estava deixando cada vez mais relaxado, aos poucos suas pálpebras foram fechando. Ele caiu no sono minutos depois.

A porta do banheiro foi aberta após um tempo, Paulo estava com uma toalha enrolada na cintura, ele olhou para Thiago que estava dormindo. No armário, Maccario pegou uma calça jeans clara toda desfiada, uma camiseta azul-marinho que ficou justa ao seu corpo, mas não colava a ele. Ele se vestiu e sentou-se na cama, olhando para o corpo de Thiago.

O travesseiro de Thiago foi puxado de repente, acordando o calouro que se sentou lentamente na cama, resmungando alguma coisa.

- Vai tomar banho – Paulo disse.

- Não quero – respondeu, com uma voz sonolenta, voltando a cair na cama.

Paulo levantou-se lentamente, ele puxou Thiago num tranco, levantando o rapaz que se assustou. Paulo começou a empurrá-lo em direção ao banheiro, no entanto, antes de conseguir empurrar Thiago para dentro, ele fechou suas mãos no batente da porta.

- Eu não vou – gritou.

- Ah, larga de ser teimoso – Paulo disse, continuando a empurrá-lo.

- Eu vou tomar banho depois, deixe-me dormir – disse.

Paulo o puxou para trás e fechou e puxou os braços de Thiago para baixo, abraçando-o por trás e o levantando do chão. Thiago movia seus pés tentando chutar Paulo, mas ele pareceu nem se importar. Quando adentrou no banheiro, Paulo caminhou com Thiago até o Box do banheiro, ele soltou um braço e girou a torneira.

- Eu desisto, me solta – disse.

- Desiste? – indagou.

- Sim, deixe-me tirar a roupa pelo menos.

A cabeça de Thiago foi empurrada na direção da água corrente. Ele abriu a boca tentando respirar, enquanto fechou seus olhos, não deixando a água adentrar por eles. Seus cabelos começaram a grudar na sua nuca.

Paulo resolveu soltá-lo, ele riu baixinho e saiu do banheiro em seguida, batendo a porta. Thiago afastou-se, com uma respiração ofegante. Ele começou a retirar sua roupa rapidamente, caso aquele maluco resolvesse voltar.

O banho foi demorado, Thiago não queria sair dele depois que entrou, a água quente relaxava seus músculos. Mas ele tinha que sair. Aos poucos foi fechando a torneira, saindo do Box, recebendo o ar frio do exterior. Ele secou seu corpo com uma toalha de algodão branca, quando terminou, a enrolou na cintura.

A mão de Thiago passou por seus fios negros, jogando-os para trás, deixando alguns fios caírem por seus olhos, lhe dando um ar misterioso e sensual. Ele abriu a porta do banheiro e saiu lentamente, olhando para o quarto, vendo que havia visita. Paulo estava em pé, fumando na janela e Willian estava sentado na sua cama.

Continua...

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