Capítulo 6

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Finalmente terminamos a louça, mas o Nicolas e eu fomos tão lentos que as duas se sentaram na mesa e ficaram conversando, e boa parte da louça ficou acumulada ali.

Molhei bem a mão, cheguei por trás da Angélica e passei a mão molhada no seu rosto enquanto falava brincando: "Por que não guardaram a louça? Heein?".

Angélica: Sai, seu chato. Porque vocês são muito lerdos!

Nicolas: Não, senhora! - Ele disse zombando - Somos caprichosos!

Dei risada e batemos as mãos, sua mão estava quente apesar de estar mexendo com água fria há poucos instantes. E então foi nossa vez de sentar enquanto as duas guardavam a louça. Como elas iam muito em casa, e me ajudavam muito com louça, sabiam bem onde minha mãe gostava que guardasse as coisas, foi até bom o Nicolas não ter guardado, porque meu pai sempre ficava reclamando quando ele não encontrava algo!

Bianca: Vontade de ficar pelada...

Percebi o Nicolas ficando vermelho igual um pimentão, e até mesmo eu fiquei com vergonha, não esperava uma coisa dessas tão de repente! O Lucas me olhou com uma cara tão engraçada, olhos esbugalhados e a boca tipo com um "sorriso invertido", igual aquele meme "Not Bad", eu não aguentei e comecei a dar risada junto com ele.

Bianca: Que foi? É por causa do calor, seus bestas. E eu sei que nenhum dos dois gosta...

Ela parou de falar de repente, não sei se se ficou com medo de levantar suspeitas sobre mim ou se simplesmente parou de falar por parar, só sei que nenhum de nós dois respondeu, eu fiquei um pouco constrangido, não olhei pro Nicolas nessa hora, e paramos de rir dela. Depois de um tempo de silêncio, ele falou: "podemos ir pra minha casa já, tem uma piscina no fundo".

Bianca: Aaai, rico é outra coisa! Até que enfiiim um amigo rico na minha viiida!

O Nicolas riu.

Nicolas: Não sou rico...

Bianca: É, seus pais é que são, conheço essa história...

Nicolas: Não, ninguém é rico... – Ele riu.

Bianca: Só tô brincando, Nicolas... relaxa!

Ele não respondeu, parecia não ter gostado dessa brincadeira de ser rico.

Felipe: Por mim, sem problema! Aqui em casa nem vamos ter muito o que fazer, mesmo...

Angélica: Aah, mas preciso passar de casa pegar um biquíni, então!

Bianca: Achei que véia usava maiô! Não queremos ver suas pelancas!

A Angélica deu risada e virou um tapa leve na Bianca.

Angélica: Idiota!

Bianca: Eu preciso passar de casa também! Mas o shoffer do pai do Nicolas vem buscar a gente né? - ela disse com um sorrisinho. Ele deu uma risadinha e balançou a cabeça num gesto de "não".

Bianca: Não pode ser pão duro, migo! - Ela disse se sentando ao lado dele.

Nicolas: Vamos pra lá, então?

Felipe: Vamos, só vou pegar minhas coisas.

Então saí da cozinha e fui pro meu quarto, logo depois o Nicolas apareceu atrás, acompanhado das duas.

Nicolas: É bom levar uma toalha e roupa seca pra ficar de noite, assim não tem que voltar aqui depois tirar a roupa molhada.

Bianca: Você vai com aquela sunguinha de onça? – Ela perguntou num tom sério.

Nicolas: De onça? - Ele começou a rir alto.

A Angélica, que estava com um copo bebendo água bem na hora, quase cuspiu a água, largou o copo em cima da minha escrivaninha e foi ao banheiro. Provavelmente não conseguiu engolir água e teve que cuspir, depois de fazer isso, ela começou a rir sem controle.

Felipe: Da sossego, Bianca! - Falei envergonhado.

Nicolas: Você tem uma sunga de onça?

Felipe: Não! - Falei sentindo meu rosto queimar.

Ele riu ainda mais.

Angélica: Vai de bermuda mesmo, Felipe. Você sempre vai de bermuda em piscina... - ela disse voltando do banheiro.

Bianca: Nossa, esqueceu seu bom humor no banheiro? Ele foi embora na descarga?

Nicolas: Gente, vocês são sempre assim? Nunca sei se tão brigando, brincando, falando a verdade... – Ele riu.

Eu não aguentei e também comecei a rir.

Felipe: É assim a maior parte do tempo. Mas fica tranquilo, a gente nunca briga.

Nicolas: Ah, que bom!

Peguei minha mochila, tirei os livros e as outras coisas da escola e coloquei uma toalha e roupa seca, depois só peguei meu celular e fomos pra casa da Bianca a pé, era bem perto, então não precisamos andar muito.

Lá nós deixamos as duas irem ao quarto sozinhas, ficamos na sala com a tia da Bianca enquanto esperávamos. Ela se chamava Tânia, era baixinha, um pouco gordinha e tinha cabelos encaracolados e ruivos.

Tânia: Aonde vocês vão, moços bonitos?

Nicolas: Na minha casa, piscina... – Ele falou meio tímido.

Tânia: Entendi! Que gostoso nesse calor! - Ela sorriu - E fica muito longe?

Ele parou e pensou um pouco, torceu os lábios e disse: "é, acho que um pouquinho".

Tânia: Ah, eu dou uma carona, então... Não vão sair por aí andando nesse sol quente!

Interrompi ele antes que falasse que não precisava: "Obrigado, Tânia". Não por querer me aproveitar dela, mas a Tânia era aquele tipo de pessoa que não aceita um "não", e se você teima e recusa o que ela oferecer, ela fica "chateada".

Então ela sorriu e saiu da sala dizendo que ia pegar as chaves do carro. Um pouco depois a Angélica e a Bianca voltaram à sala dando risadinhas e sussurrando algo. Mas pararam logo que chegaram mais perto, nem pude entender do que estavam falando.

Bianca: Vamos? Ainda temos que passar da casa da Angélica!

Felipe: Sua tia quer nos dar carona...

Bianca: Aí, que tudo! - Ela disse passando a mão no cabelo e olhando pra trás.

Tânia: Vamos, moçada! - Disse entrando na sala.

A Bianca foi na frente com a Tânia, e eu me espremi atrás do carro com a Angélica e o Nicolas! Eu fiquei no meio, a Angélica a esquerda e o Nicolas a direita. Não ficamos tão apertados, o que mais incomodou foi minha mochila.

Na casa da Angélica foi bem rápido, menos de cinco minutos, acho! E depois o Nicolas foi ensinando como chegar na casa dele, não era tão longe assim, mas já que conseguimos uma carona, eu fiquei quieto e só agradeci na hora de descer do carro. Claro que em um certo momento ele ficou um pouco perdido, não sabia direito pra onde ir... Mas era algo aceitável, ele tinha acabado de se mudar pra cá, não conhecia tudo ainda.

Bianca: Seus pais estão em casa? - Ela disse enquanto ele destrancava o portão.

Nicolas: Não, só chegam depois das cinco horas...

Bianca: Bom, eles sabem que a gente vinha, né?

Nicolas: Sabem sim, e não se preocupe, eles são bem tranquilos.

Bianca: Que bom...

Nicolas: Mas é melhor evitar ficar pelada!

Ela ficou um pouco vermelha e deu risada.

Bianca: Eu falei aquilo brincando!

A casa dele não era grande como eu imaginei, tinha a sala, cozinha, banheiro e dois quartos. Ah, tinha também um outro cômodo que era a lavanderia. Ficava nos fundos, e era um cômodo bem aberto, com janelas grandes de vidro.

Bianca: Tem um quarto que a gente possa se trocar?

Nicolas: Claro!

Não sei para onde ele levou as duas. Logo depois ele voltou, e por um instante me segurou pelo pulso e me puxou, soltando logo em seguida, entendi que era para eu segui-lo... E acabamos num quarto bem espaçoso, com uma cama, mesa, computador, guarda roupa. A cama estava desarrumada e tinha uma bermuda de tactel jogada em cima.

Felipe: É seu quarto?

Nicolas: É sim! Por que?

Felipe: Só curiosidade. - Falei sorrindo.

Nicolas: Esperava encontrar uma bagunça total?

Fiz que sim com a cabeça. Fazendo ele rir.

Nicolas: Eu sou bem organizado. Pelo jeito você também é!

Fiquei em silêncio, e logo ele disse de novo: "Não é?".

Felipe: Ah, sou... As pessoas dizem que meu quarto nem parece quarto de moleque, porque é muito organizado...

Nicolas: Dizem o mesmo do meu! - Ele riu – Só que eu nunca arrumo a cama.

Felipe: Eu arrumo de vez em quando. Quando estamos esperando visita.

Ele deu risada.

Nicolas: Nesses casos eu também arrumo!

Ficamos por um instante nos olhando.

Nicolas: Bom, você vai se trocar né?

Felipe: Aham...

Nicolas: Fica à vontade, então! Depois eu me troco... - ele disse saindo do quarto e fechando a porta.

Deixei minha mochila encostada na parede, tirei a camisa, a bermuda e depois peguei uma bermuda mais velha que tinha colocado na mochila, uma que não teria problema se o cloro da piscina desbotasse. Quando pensei em sair, eu vi alguns retratos na mesa dele. Me aproximei mais, fiquei curioso e quis ver as fotos. Em todas o Nicolas estava presente, em um ele estava com um casal que eu arriscaria dizer que eram seus pais, em outro, ele estava com três meninas que pareciam ter mais ou menos a mesma idade que nós... E no terceiro ele estava com uma turma de mais ou menos 30 pessoas, embaixo da foto, tinha um texto dizendo "8º A"...

Peguei a foto na mão e fiquei olhando as pessoas que estavam nela... Justo nessa hora o Nicolas bateu na porta e abriu dizendo "pronto?". Não tive tempo de colocar o porta-retratos de volta na mesa. Ele entrou e sorriu quando me viu olhando a foto e disse: "é, minha turma da oitava série".

Felipe: Desculpa, eu não devia xeretar... - falei guardando a foto.

Nicolas: Relaxa. Não tem problema... - disse chegando mais perto - Mas eu preciso me trocar também. – Ele sorriu.

Felipe: Aah, claro! - Falei sem jeito - Vou indo...

Sai do quarto e fechei a porta, as duas estavam na sala.

Bianca: Achei que iam se trocar juntos... - Ela disse baixo.

Felipe: Nada a ver...

Bianca: Sei... A Angélica disse o mesmo...

Olhei pra ela, que ergueu as mãos e sussurrou "Culpada".

Felipe: Qual é a de vocês?

Angélica: Vocês ficam lindos juntos. – Ela sorriu.

Bianca: Senti um climaço entre vocês... – Disse rindo.

Logo o Nicolas saiu do quarto, estava com a bermuda que eu vi em cima da sua cama, descalço e sem camisa... Ele não era bombado nem tinha um corpo definido. Tinha um corpo normal, sem barriga, e sem pelos...

Nicolas: Ainda estão aqui? - Ele riu, vamos lá...

Acompanhamos ele até os fundos, onde tinha a piscina e um lugar bem espaçoso.

Fiquei olhando muito em volta e de repente ouvi barulho de alguém caindo na água. Era o próprio Nicolas, a Bianca pulou atrás, mas a Angélica e eu só sentamos na beirada. Notei que a Angélica tinha um frasco de protetor solar nas mãos... Ela passou no peito, barriga, pernas e onde pôde, depois me olhou e me entregou o frasco...

Angélica: Passa nas minhas costas?

Felipe: Tá, vira aí...

Ela ficou de costas pra mim e eu passei protetor! Quando terminei, ela sentou-se normalmente e falou: "Passa você também, você é muito branquinho!". Fiz que não com a cabeça, mas ela insistiu, colocou o frasco de volta na minha mão, e eu passei com pouca vontade, um tempo depois ela tomou o protetor da minha mão e sussurrou: "Vira de costas". Fiquei de costas pra ela, que passou protetor devagar, espalhou bem, diferente de como eu passei na frente. Nessa hora eu e o Nicolas trocamos olhares, ele estava na outra beirada da piscina, sentado com a Bianca um pouco mais ao lado.

Felipe: Você tem mãos leves... - Sussurrei pra ela.

Angélica: Obrigada! E você tem mãos pesadas, mas macias iguais a uma moça...

Demos risada juntos.

Felipe: A sua é áspera igual a mão de uma gorila...

Angélica: E uma gorila já passou a mão em você, seu chato? - Ela disse dando um puxão no meu cabelo. Me virei, abracei-a e me joguei na água, puxando a Angélica junto. Ela caiu na água dando risada, depois ficou em pé, jogou o cabelo para trás e bateu a mão no meu peito.

Angélica: Você é muito chato, Felipe!

Bianca: Acabou o romance? - Ela disse do outro lado.

Olhamos eles, o Nicolas nos olhava um pouco sério. A Angélica mergulhou e eu cheguei mais perto dos dois.

Bianca: Só faltou o beijo... - Ela riu.

Felipe: Não enche!

Me sentei ao lado do Nicolas e logo a Angélica apareceu na nossa frente, ficou ali em pé.

Angélica: Sabe o que nós não fizemos?

Felipe: O que?

Angélica: As compras... - ela riu.

Bianca: Era sua responsabilidade, véia gagá!

Felipe: Aah, tem um mercado aqui perto, não tem, Nicolas?

Nicolas: Tem sim...

Felipe: Então, resolvido!

Bianca: Depois nós vamos lá, né Angélica?

Angélica: Mais tarde! - Ela disse se soltando na água.

A Bianca entrou também e começou a tentar afogar a Angélica.

Felipe: Não vai entrar?

Nicolas: Agora não, não sou fã de piscina. Tô aqui por causa de vocês.

Felipe: Por que não gosta?

Nicolas: Ah, por nenhum motivo específico. Só não gosto, não sei explicar.

Felipe: Mas não vai ter graça se você ficar aqui sentado enquanto a gente se diverte.

Nicolas: Então fica... - mas ele parou de falar porque a Angélica espirrou água em nós. Ela não deve ter percebido que estávamos conversando um pouco sério.

Angélica: Os dois, entrem na água! Agora!

Bianca: A propósito, eu não passei protetor, obrigado por se importar comigo também!

Angélica: Alguém tem que cuidar do Felipe, ele ainda não sabe cuidar de si mesmo.

Felipe: Ei, que história é essa? – Perguntei com o Nicolas dando uma risadinha do meu lado.

Me sentei ao lado dele e tentei puxar assunto. Percebi a Angélica e a Bianca trocando uns olhares.

Felipe: Vamos ver, você não gosta de piscina e nem gosta de sair. O que você faz pra se divertir?

Nicolas: Eu adoro ouvir música, conversar com alguém legal, ver filme, passar o tempo na internet, e sei lá o que mais eu faço... - Ele riu - E você?

Felipe: Quase as mesmas coisas, mas muitas vezes eu tenho companhia... – Falei apontando as duas.

Nicolas: Entendi.

Felipe: E também muitas vezes eu passo a tarde ajeitando a casa pra minha mãe, limpando alguma coisa, sei lá. Ela não tem muito tempo livre.

Nicolas: Sei, é legal da sua parte ajudar ela...

Felipe: É o mínimo que eu deveria fazer por ela...

Ele deu uma risadinha.

Nicolas: Posso perguntar uma coisa?

Felipe: O que quiser.

Nicolas: Por que disseram que você é depressivo?

Felipe: Ah, eu andei um pouco de mal com a vida esses tempos. Mas sei lá. Hoje eu paro pra pensar e vejo que era besteira.

Nicolas: Vida amorosa?

Felipe: Também.

Nicolas: O que mais?

Felipe: Acho que as duas ali tem razão, eu tenho um sério problema de estima...

Nicolas: O que te incomoda?

Felipe: Ah, deixa pra lá. Você vai falar que é bobagem...

Nicolas: Não vou, prometo...

Olhei a Angélica, ela estava sentada do outro lado da piscina com a Bianca, as duas sussurravam entre si, mas a Angélica olhava pra nós dois quase o tempo todo.

Nicolas: Me fala? Confia em mim.

Felipe: Às vezes eu acho que nada do que eu faço fica bom, que eu não tenho nenhum talento, e que ninguém gosta de mim de verdade. Tenho a impressão que eu não tenho nenhum atrativo.

Nicolas: Elas parecem gostar muito de você. Você deve ter algo muito bom pra atrair amizades tão boas.

Fiquei em silêncio.

Nicolas: Não te conheço há muito tempo, mas com certeza tudo isso é besteira da sua imaginação. Você é um cara legal, e com certeza tem muitos atrativos.

Felipe: Se eu fosse tão legal, teria alguém querendo ficar comigo.

Ele pensou por um momento, e pareceu finalmente entender.

Nicolas: Você não tá falando de amizade, né?

Fiz que não com a cabeça.

Nicolas: Eu costumava pensar assim, mas olha, me dei conta de que se eu não gostar de mim estando sozinho, ninguém vai gostar de estar comigo. Eu tenho que saber o que tenho de bom pra mostrar aos outros.

Felipe: Então você não se importa de estar sozinho?

Nicolas: Não é isso. Às vezes eu me incomodo, sim! Solidão dói... - ele fez uma pausa, e depois continuou - Olha, pode parecer clichê, mas não adianta nada correr atrás das borboletas. É muito melhor cuidar do seu jardim e deixar que elas venham...

Nos entreolhamos, eu estaria rindo se qualquer outra pessoa tivesse dito aquilo, mas ele parecia tão sério, e sua voz era tão firme dizendo aquilo. Sem contar que a metáfora foi bem usada.

Felipe: É, você tá certo...

Comentários

Há 2 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-02-22 11:50:04
Amando mais à cada capítulo.😍😍😍😍😘😘😘
Por Eu Mesmo em 2017-02-15 17:06:55
To curtndo o seu conto.