Capítulo 50

Parte da série Tribulações

Estávamos deitados juntos no sofá da sala, assistindo DVD’s de animações que o Vinícius tinha (pois é, eu sei). Minha tia avisava todos os seus movimentos por mensagens, então saberíamos quando ela estivesse chegando e poderíamos nos separar um pouco para que ela não ficasse ainda mais atenta sobre nós.

Ainda chovia e fazia frio, estávamos cobertos por um edredom, e havia outro já preparado no outro sofá, para que um de nós pudesse rapidamente pular para lá quando minha tia chegasse.

O Vinícius mexia carinhosamente no meu cabelo, o que estava me deixando com sono. Sua mão era macia e quente, seu toque era indescritível.

Vinícius: Minha mãe acabou de sair do aeroporto. - ele disse olhando o celular logo depois de chegar uma nova mensagem.

Felipe: Será que é melhor já ir pro outro sofá?

Vinícius: Ah, não posso ficar aqui?

Felipe: Achei que eu ia pra lá…

Vinícius: Não, aquele edredom deve estar gelado, você fica aqui, já tá quentinho.

Felipe: Você é incrível. - falei fechando os olhos e segurando sua mão que até então acariciava meu cabelo.

Vinícius: Tô aprendendo com você. - Ele beijou meu pescoço.

Felipe: Respondendo sua pergunta anterior, você não precisa ir, se não se importar que sua mãe nos veja deitados assim.

Ele bufou.

Vinícius: Ela não vai querer nos ver assim nem quando souber do nosso namoro. Pelo menos não nessa casa.

Dei uma risadinha forçada enquanto ele se levantou um tempo depois. Mas em vez de sair do sofá, ele se sentou em cima de mim e se inclinou.

Vinícius: Minha mãe podia viajar todo fim de semana…

Felipe: Eu adoraria.

Ele sorriu e me beijou, passei as mãos pelos seus braços e segurei sua cintura.

No mesmo instante ouvimos o portão sendo destravado, o Vinícius pulou de cima de mim e se enfiou rapidamente debaixo do outro edredom, minha tia abriu a porta com sua chave e entrou apressada com sua mala.

Izaura: Jesus, que frio, que chuva, socorro!

Dei risada do jeito dela, que fechou a porta logo que pôde.

Izaura: Oooooi, meus amores!

Vinícius: Oi, mãe! - ele disse quando ela se aproximou e deu-lhe um beijo na bochecha. E então ela veio até mim, passou a mão pelo edredom, o que achei estranho, e me deu um beijo na bochecha. Ela estava gelada!

Felipe: Oi, tia! Como foi?

Izaura: Ah, foi quente! Calor! Aí chego aqui e pego esse frio, meu Deus! Eu vou colocar uma roupa mais quente, esperem um minuto.

Ela deixou a sala apressada, e voltou alguns minutos depois, sentou-se nos pés do Vinícius, bem agasalhada agora.

Izaura: Aí, foi tudo de bom lá! Um curso muito produtivo, muito informativo, aprendi tanta coisa! Um pessoal muito bacana…

Vinícius: Que bom, mãe!

Izaura: Foi mesmo… Mas e vocês, sobreviveram bem?

Vinícius: Sem erro, estamos bem crescidos.

Ela riu.

Izaura: Tem certeza que comeram? Não tem uma pilha de louça na pia.

Vinícius: Ué, como assim, mãe? Nós lavamos!

Ela riu.

Izaura: Só estou brincando, mocinho. - ela fez uma pausa - O que fizeram de bom?

Algumas coisas se passaram pela minha cabeça, mas eu não podia contar nenhuma delas.

Vinícius: Dormimos. - Ele riu - Tá chovendo desde sexta, não dá nem pra sair de casa!

Izaura: Ah, pra você tá bom, então, você adora chuva e frio.

Felipe: E eu também. - sussurrei sem pensar.

Izaura: Então foi um paraíso pros dois.

Dei risada.

Duas semanas mais tarde, em uma manhã ensolarada, porém fria, de quinta feira, eu estava sentado no sofá da sala aguardando o Vinícius se aprontar. Não tínhamos aula naquela quinta, e não teríamos na sexta, devido algumas reuniões na escola ou algo assim.

Vinícius: Vamos? - ele perguntou finalmente vindo do quarto.

Felipe: Vamos.

Saímos e fomos andando devagar.

Vinícius: Já percebeu que fazemos tudo juntos desde o primeiro dia que você apareceu aqui?

Dei risada.

Felipe: Sim, já pensei muitas vezes nisso. Vamos para a aula, fazemos tarefas, academia e até fizemos as tatuagens juntos.

Vinícius: Pois é. - ele riu - Mas pela primeira vez vamos fazer algo separados.

Felipe: Aleluia. - brinquei, e ele riu.

Vinícius: Mas é só por alguns minutos, só vou fazer esse depósito pra minha mãe e depois volto.

Felipe: Sim senhor.

Vinícius: Comporte-se nesse tempo, mocinho.

Felipe: Sempre me comporto. - pisquei para ele.

Vinícius: Rum. - ele sorriu - É aqui, eu já venho.

Felipe: Tá, vai lá. Até já. - falei piscando.

Ele seguiu andando e eu entrei no cabeleireiro. Não era a minha primeira vez lá, então eu conhecia algumas moças que trabalhavam ali.

Felipe: Bom dia! - chamei a atenção delas quando entrei.

Suzana: Olha quem apareceu!

Thalita: Cadê seu primo grudento? - ela sorriu, não perguntou com malícia.

Felipe: Foi ao banco. Ele vem depois.

Suzana: Aah, milagre que ele te deixou sozinho.

Dei risada.

Thalita: O Vinícius tava sempre sozinho, agora o Vinícius tá sempre com o Felipe.

Felipe: Moramos juntos, vou fazer o que? - brinquei.

Elas sorriram, todas estavam ocupadas cortando o cabelo de pessoas que eu não conhecia.

Juliana: E você não deveria estar na escola?

Felipe: Hoje não tem aula, tem uma reunião dos professores.

Thalita: Conselho? Algo assim, né?

Felipe: Uhum.

Thalita: Nossa chefe podia fazer um conselho de vez em quando.

Dei risada.

Juliana: Garotos da sua idade deveriam ter barba? - Ela perguntou quando me sentei para cortar.

Felipe: Alguns, eu acho…

Juliana: E o que vai ser hoje? Vamos finalmente fazer um corte decente nesse cabelo?

Todas as vezes ela me perturbava com isso, eu me incomodava um pouco, mas estava começando a concordar com ela.

Felipe: O que você tanto quer mudar no meu cabelo, Juliana?

Juliana: Aaaah, tudo! - ela riu - Vamos aproveitar melhor essa loirice.

Dei risada, mas fiquei um pouco indeciso.

Felipe: Não sei.

Juliana: Aaaah, por favor!? Vai ficar tão lindo, esse cabelo não combina com você, principalmente com barba. Por falar nisso, vamos fazer um design nessa barba também, nada de século vinte, querido! Vamos modernizar! Vai?

Respirei fundo, eu nunca fui fã de mudanças visuais.

Felipe: Tá, tá. - concordei.

Juliana: Sério???

Fiz que sim com a cabeça.

Felipe: Mas e se não ficar legal?

Juliana: Confia em mim! Se não ficar legal eu corto seu cabelo de graça por um ano!

Felipe: Fechado!

Juliana: Agora sim! - Ela riu.

Thalita: Lá vamos nós pra mais uma transformação da Jú!

Juliana: Não liga pra ela! Só quer pôr medo em você!

Felipe: Bom, pelo menos não é a primeira vez que faz algo do tipo.

Juliana: Faço isso o tempo todo, meu bem! Vamos fazer igual na TV? - ela disse virando a cadeira, para que eu não pudesse me ver no espelho - Você só vai ver quando estiver finalizado!

Felipe: Quanto drama, Juliana! - Dei risada.

Juliana: Um dia eu ainda vou ser atriz, meu querido! Até lá eu me contento mantendo você com um visual bonito.

Dei risada, ela era muito animada e engraçada, era jovem, talvez uns vinte e cinco anos, por volta disso.

Eu ainda não estava totalmente convencido quando ela começou a cortar meu cabelo, mas aí já não tinha volta, e acabei me convencendo de que uma mudança seria bem vinda.

Juliana: Se eu te disser pra descolorir o cabelo, o que você diria? - ela perguntou enquanto cortava.

Felipe: Definitivamente não.

Juliana: Bom garoto! - ela riu - Seu cabelo tem uma cor muito bonita, seria um crime você fazer isso.

Juliana: Olha que gato! Thalita? - ela chamou quando terminou.

Thalita: Nossa, dá outra aparência! Ficou muito bom, Felipe!

Fiquei um pouco sem graça, e então ela chamou a atenção de todas as funcionárias para mim, eu quis me enfiar embaixo da cadeira. Mas todas elogiaram.

Juliana: Pronto pra ver? - Ela me perguntou.

Felipe: Depois de tudo o que disseram, nem sei se preciso.

Ela deu risada e virou a cadeira para que eu pudesse me ver no espelho.

Felipe: Caramba.

Juliana: Aha, mais um cliente satisfeito. Eu disse que ficaria bom.

Dei risada.

Felipe: Você conseguiu algo que me agradou logo de cara, tem ideia como isso difícil?

Juliana: Aaaah, meu querido, eu confio na minha tesoura! - ela brincou.

Felipe: Jú, mew, não sei nem o que te falar.

Juliana: Não precisa dizer nada, Felipe-san, apenas diga que eu estava certa e que não terei que cortar seu cabelo de graça por um ano!

Fechei um pouco os olhos, como quem não queria dar o braço a torcer.

Felipe: Você estava certa, e não precisa cortar meu cabelo de graça por um ano.

Juliana: Que alívio, porque agora é a hora de me pagar.

Muitas pessoas ali riram, eu me levantei da cadeira e paguei, não resisti e passei a mão pelo rosto para sentir a barba, ela sorriu quando percebeu.

Juliana: Seu primo se atrasou.

Felipe: Parece que sim. - falei pegando o celular e enviando uma mensagem.

Felipe: “cadê você? já terminei”.

Vinícius: “Tô chegando, fila enorme no banco”.

Felipe: Aguenta aí, Jú. Ele tá chegando.

Juliana: Vamos ver a reação dele quando te ver.

Fiquei ansioso, será que ele ia gostar? Aquele cabelo caído e bagunçado que ele gostava de acariciar já não existia.

Em menos de cinco minutos ele entrou, eu estava sentado, fiquei observando-o se aproximar.

Vinícius: Oi, Jú! - ele disse quando chegou perto, e então ele me viu sentado. Foi engraçado, ele arregalou os olhos e sua boca parou um pouco aberta. E então ele sorriu, o que arrancou outro sorriso de mim.

Juliana: Aaai que fofo, ele aprovou! - ela riu.

Vinícius: Eu te deixo por alguns minutos, e você já parece outra pessoa quando volto… - ele brincou.

Dei risada.

Felipe: Aprovado?

Vinícius: Demais… - ele disse sem disfarçar, o que me deixou tímido.

Sorri e olhei a Juliana ao lado dele.

Juliana: Não se preocupa, boy, tenho uma proposta de mudança pra você também. Senta aqui. Vou acabar com esses cabelos lambidos que vocês usam. - ela terminou brincando fingindo uma risada diabólica.

Vinícius: Já se olhou no espelho? - Ele perguntou no caminho de volta pra casa.

Felipe: E você? - perguntei sem graça.

Vinícius: Lipe, pode parecer exagero, mas você parece outro cara… - ele riu - Quero ver a reação dos seus pais e das suas amigas!

Felipe: Pára, tô com vergonha já! - sorri - Você também tá bonitão.

Vinícius: Ah, ela disse que ia mudar, mas não mudou quase nada… - ele riu.

Felipe: Foi pra você não ficar com inveja.

Vinícius: Besta! - Ele sorriu.

Chegamos em casa e fomos até o quarto, minha tia chegou logo depois e apareceu na porta, ela me olhou surpresa.

Izaura: Meu Deus, quem é você?

Desviei o olhar, eu não ia aguentar outro comentário desses.

Vinícius: Ele tá envergonhado, mãe.

Izaura: Por que? Tá tão lindo.

Vinícius: Vai ver é por isso mesmo.

Ela riu e saiu do quarto.

Vinícius: Eu te disse, ela nem percebeu mudança nenhuma em mim.

Izaura: Bom, vocês se comportem, juízo, e não dê trabalho pros seus tios, Vinícius! - ela disse depois de almoçar, quando já estava saindo para o trabalho.

Vinícius: Pode deixar, mãe! - ele riu.

Izaura: Rum. Eu levo vocês até a rodoviária, vamos lá!

Pegamos nossas malas e levamos até o carro, o Vinícius foi no banco da frente, ele finalmente estava indo conhecer minha antiga casa e minha antiga cidade.

Ele deu um beijo na minha tia antes de descer do carro, ela então virou para trás e eu me espremi entre os bancos para poder dar-lhe um beijo de despedida.

Vinícius: Bom, vamos lá? - ele disse quando minha tia já havia saído com o carro.

Felipe: Simbora!

Vinícius: Agora eu tenho a impressão de que todo mundo te olha.

Felipe: Awn, tá com ciúmes! Que fofo.

Vinícius: Tô mesmo.

Sorri.

Felipe: Relaxa, eu só tenho olhos pra uma pessoa nesse mundo todo.

Ele sorriu, pareceu tímido.

Compramos as passagens e fomos direto para o embarque, o ônibus já estava lá. Guardamos nossas malas e subimos, eu fiquei na janela. Olhei o movimento do lado de fora.

Felipe: Posso fazer uma pergunta?

Vinícius: Claro.

Felipe: Qual você acha que vai ser sua reação se encontrar o Nícolas?

Vinícius: Desprezo, vou agredi-lo na frente dos amigos dele.

Felipe: Hãm?

Vinícius: É brincadeira! - ele riu - Relaxa, Lipe. Vou agir da maneira que ele agir comigo.

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Bom, galera... De agora em diante eu vou tentar postar um capítulo por semana, todas as sextas ou sábados por volta da meia noite. Combinado? =D

Se eu puder postar mais que um, bom pra vocês... Mas pelo menos um eu garanto!