Capítulo 48

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Ficamos nos entreolhando por alguns segundos. Meu coração batia tão forte, eu não sabia se era devido ao “susto”, nervosismo ou se apenas estava feliz por ouvir tudo o que o Vinícius acabara de dizer. Eu queria dizer tantas coisas, mas todas queriam sair ao mesmo tempo, então fiquei encarando-o em silêncio.

Vinícius: Não vai falar nada? Nem pra me dar um fora? - Ele pareceu triste, porém conformado.

Felipe: Vini…

Percebi uma leve mudança em seu rosto, um leve sorriso esperançoso.

Vinícius: Pode falar o que tiver que falar, nada vai mudar.

Felipe: O que não vai mudar? - Perguntei confuso.

Vinícius: O que eu sinto! E também… não vou mudar meu jeito de ser com você, não vou me afastar ou te tratar como um estranho. Eu não conseguiria fazer isso… - Ele sorriu ao final da frase.

Felipe: Você…

Eu simplesmente não conseguia falar nada, fiquei paralisado ali, sem fala, sem reação.

Vinícius: Vou respeitar se ainda não se sente pronto pra ter algo com alguém de novo. Só fala algo, por favor!

Felipe: Por que eu?

Ele riu, eu sabia que a pergunta era idiota, mas foi a única coisa que consegui pronunciar.

Vinícius: Porque você… com seu jeito carinhoso, meigo, atencioso… você me fez entender muitas coisas a meu respeito quando veio morar aqui da outra vez. Eu não tinha certeza de nada, e depois de conhecer você… minha vida mudou, eu mudei. Você me fez ter confiança em mim mesmo, me fez acreditar num futuro que vale a pena…

Ele falava como se tivesse medo do que aquelas palavras poderiam causar. Eu não tinha ideia de como meu rosto estava! Vermelho, pálido? O que eu sei é que respirei fundo, coloquei os pensamentos e os sentimentos em ordem, ou, pelo menos, tentei.

Felipe: Vini, na primeira vez que eu vim pra cá… eu fiquei com medo, e até com um pouco de raiva. Eu achava que você seria um estorvo, um problema! Na primeira noite que eu fiquei aqui, você deve lembrar, eu estava dormindo quando você chegou…

Vinícius: Lembro. - Ele interrompeu.

Felipe: Na verdade, eu estava acordado. Mas fingindo dormir porque queria evitar ao máximo ter algum contato com você! - Sua expressão ficou séria, assustada. - Mas aí, no dia seguinte, tomamos o nosso primeiro café da manhã juntos… - Eu estava falando, não como se estivesse contando a ele o que aconteceu, mas como se estivesse apenas me lembrando. - E você me deu um tapa na cara com a sua educação e atenção, você foi exatamente o oposto do que eu imaginei que seria! - E então ele voltou a sorrir, ficou um pouco vermelho. - Você, senhor Vinícius, se tornou o melhor amigo que eu tive em toda a vida. Você conheceu tudo o que tinha pra conhecer a meu respeito, e ainda assim me incentivou, não saiu do meu lado nem por um minuto durante todo o tempo! Você demonstrou um carinho e uma dedicação que me assustavam, eu ficava completamente sem jeito, e ainda fico de vez em quando! Quando minha mãe me levou embora, eu já estava em dúvida, não tinha mais certeza do que eu tava fazendo… Mas aí, depois que eu vi que as coisas com o Nícolas não eram o que eu pensava, eu caí na real e bateu aquele arrependimento, eu só conseguia pensar em voltar pra cá… E agora eu só posso te dizer que é impossível não me apaixonar por você! Você é atencioso, dedicado, e lindo! E saber que você gosta de mim há tanto tempo, mas nunca tentou nada porque respeitava meu compromisso, e agora quis respeitar por eu não parecer bem… isso me dá mais um tapa na cara, com todo esse respeito que você tá demonstrando. Você me faz muito feliz, Vinícius, e se eu puder te fazer tão feliz quanto você me faz… - parei de falar, eu não soube direito como completar a frase.

Vinícius: Você já me faz feliz desde o primeiro dia que colocou os pés nessa casa! - Ele disse andando até mim e me abraçando com força!

Finalmente aquele abraço, a última vez que nos abraçamos daquele jeito foi no dia que minha mãe me levou embora.

Felipe: Nem acredito… - falei sorrindo, ainda abraçado.

Vinícius: Em que? - ele perguntou de um jeito engraçado.

Afastei meu rosto apenas o suficiente para poder olhar em seus olhos, comecei a achar que estava falando demais. Parecia muito custoso pronunciar mais alguma palavra, por menor que fosse. Então aproximei meu rosto até que pude sentir sua respiração, e nos beijamos.

Ele andou um pouco para trás até encostar na pia, era tão baixa que ele quase podia sentar-se nela sem precisar de um impulso com as pernas. Pude sentir suas mãos subindo pelas minhas costas, levando minha camisa junto.

Paramos de nos beijar, mas ficamos com os rostos bem próximos, então pude sentir sua respiração forte, suas mãos pararam na metade das minhas costas.

Vinícius: Eu não quero parecer apressado…

Engoli aquele desejo que ele havia acabado de despertar.

Felipe: Tá… Tudo bem, eu concordo.

Ele sorriu, eu me senti um pouco envergonhado. Ele colocou uma mão na minha cintura, e a outra ele pegou minha mão, e então balançou, cantarolando uma música, como se fosse uma dança. Foi uma coisa boba, mas serviu pra quebrar aquela vergonha boba, sorri olhando em seus olhos.

Felipe: Você sabe quebrar um clima.

Ele deu risada.

Vinícius: Nunca dancei assim antes.

Felipe: É uma honra ser o primeiro a dançar com você. - Dei risada.

Vinícius: Você é o primeiro em muitas coisas. - Ele sussurrou e me deu outro beijo.

Felipe: Por exemplo?

Vinícius: Huuuum… - Ele fingiu estar pensando. - Você é o primeiro a morar comigo, foi o primeiro a dormir no meu quarto, foi o primeiro que eu beijei.

Felipe: Sério?

Vinícius: É, por que? - Ele me soltou daquele abraço.

Felipe: Ah, não sei, achei que você já tinha ficado com alguém antes.

Vinícius: Saiba que não. - Ele pareceu sem graça.

Felipe: Que bom…

Vinícius: Que bom, é? - Ele sorriu.

Felipe: É, ué… - Dei risada.

Vinícius: Ah, meu Deus! Namorado ciumento!?

Felipe: Ainda não sou seu namorado.

Vinícius: Quer ser? - Ele perguntou seriamente, me olhando nos olhos.

Felipe: Quero ser o que?

Vinícius: Quer ser meu namorado? - Ele sorriu.

Felipe: Ah, fazer o que, né?

Vinícius: Como é? - Ele sorriu.

Felipe: Eu quero.

O resto daquele dia passou como nenhum outro. Tudo parecia um sonho, o Vinícius, suas brincadeiras, seus beijos, tudo na melhor hora! Fomos à academia um pouco mais tarde que o normal, pois ficamos enrolando pra sair de casa.

Quando voltamos, a Izaura já estava em casa, então fingimos que nada tinha acontecido. Tentamos manter distância, até evitamos contato físico enquanto ela estava perto. Precisávamos conversar sobre a Izaura, sobre meus pais, eu não sabia se era melhor contar ou manter aquele namoro em segredo. Principalmente por ser um namoro entre primos, eu tinha medo da reação deles.

Depois do jantar, a Izaura se concentrou em arrumar suas malas para a viagem no dia seguinte, e o Vinícius e eu lavamos a louça e arrumamos a cozinha. Estava chovendo muito!

Izaura: Vão ficar bem mesmo? - Ela disse voltando à cozinha depois de um tempo.

Vinícius: Vamos, mãe, pode ficar tranquila!

Izaura: Bom… - Ela disse pensativa. - Vou deixar dinheiro em cima da geladeira, caso precisem! Tem comida pra cozinharem, mas se preferirem, peçam uma pizza de noite ou um lanche! Só evitem sair de noite, não estarei na cidade caso aconteça algo! Me liguem se tiverem algum problema ou dúvida! Eu vou sair amanhã antes que voltem da escola, então provavelmente só vejo vocês de novo no domingo! Eu devo chegar no final da tarde!

Vinícius: Tá bom, mãe. Fica tranquila, sabemos nos virar!

Izaura: Rum. - Ela riu. - Só estou tranquila porque o Felipe está aqui. - Ela disse brincando.

Vinícius: Cuidado, vai cair do cavalo. - Ele zombou.

Felipe: Isso é inveja, tia!

Ele deu risada e ela saiu da cozinha rindo alto. Terminamos de guardar a louça e fomos pro quarto.

Vinícius: Quem vai tomar banho primeiro?

Nos entreolhamos, eu fiquei com receio de responder.

Felipe: Quer ir você?

Vinícius: Pode ser. Ou você quer ir?

Fiquei um pouco tímido com o que estava se passando na minha cabeça naquela hora.

Felipe: Pode ir, eu vou depois.

Ele concordou com a cabeça, pegou toalha, roupa e saiu do quarto. Eu fiquei deitado na minha cama, pensando em tudo aquilo, comecei a ter um pouco de medo sobre o que os outros pensariam sobre aquele namoro quando soubessem.

Vinícius: Sua vez, moço. - Ele disse entrando no quarto um tempo depois.

Eu estava muito feliz com ele, o posicionamento dele sobre sexo no começo me assustou um pouco, mas não quer dizer que me decepcionou, isso me fazia confiar mais nele, ou melhor, no sentimento dele. Talvez não fosse bem essa a realidade, mas eu interpretava assim, talvez por conta da minha desagradável primeira experiência com sexo.

Mas apesar de nunca ter me inclinado tanto ao envolvimento físico, imaginar o Vinícius me instigava, eu nunca sequer o vi sem camisa, apenas uma vez há muito tempo, e quase não me lembrava mais, sem contar que seu corpo já devia estar diferente. Durante aquele banho, eu não resisti à tentação, os pensamentos eram muito intensos.

Voltei ao quarto me sentindo envergonhado, como se o Vinícius soubesse o que eu fiz no banheiro.

Ele estava deitado na sua própria cama, olhava o teto, seus pensamentos pareciam estar longe.

Felipe: Acorda! - Falei batendo nele com a toalha.

Vinícius: Aí se doesse! - Ele riu.

Felipe: Não fiz pra doer. - Mostrei a língua.

Vinícius: Rum!

Quase no mesmo instante, a Izaura entrou no quarto, talvez estivesse apenas me esperando sair do banho para se despedir de nós.

Izaura: Meninos, é isso, então. Se comportem e, pelo amor de Deus, me liguem se tiverem algum problema!

Vinícius: Mãe, pode ir tranquila! - Ele se levantou da cama para que ela o abraçasse.

Izaura: Se comporte, mocinho.

Vinícius: Pode deixar. - Ele disse me olhando.

Izaura: Se ele aprontar algo, me ligue, Fê! - ela riu.

Dei risada e concordei, eu sabia que ele não seria o único a aprontar durante a ausência dela, ela me abraçou também e desejei boa viagem.

Izaura: Nos vemos domingo! Boa noite! - Ela deixou o quarto, fechando a porta ao sair.

Me sentei na cama do Vinícius, e ele se deitou com a cabeça no meu colo.

Vinícius: Vamos sobreviver, né? - Ele riu.

Felipe: Ainda não tenho certeza. - Dei risada.

Vinícius: Sabe que eu sou responsável por você, então trate de se comportar!

Felipe: Vou quebrar a casa toda e colocar a culpa em você!

Ele deu risada e eu comecei a mexer no seu cabelo.

Vinícius: Quer ficar em casa amanhã? Podemos faltar, aproveitar melhor o tempo só nosso aqui.

Felipe: Amanhã tem trabalho, senhor Vinícius, quer perder?

Vinícius: Maldita língua portuguesa! - Ele disse brincando.

Felipe: É, mas a matéria é fácil!

Vinícius: Concordo, mas o professor sempre pode tornar difícil na prova!

Felipe: Pra você, talvez… mas eu não terei dificuldades.

Ele riu e deu um leve tapa na minha barriga.

Felipe: Posso fazer uma pergunta?

Vinícius: Você sabe que pode. - Ele sorriu.

Felipe: Quarta feira… antes que eu saísse… eu voltei pro quarto pensando em ficar em casa… - Ele ficou vermelho antes mesmo que eu terminasse de falar. - Mas você tava deitado na minha cama…

Vinícius: Você viu? - Ele ficou sem graça.

Felipe: Eu vi! - Dei risada. - Mas fiquei um pouco assustado… sei lá. Eu não soube direito o que fazer, aí acabei indo pra aula mesmo.

Vinícius: Sei lá o que foi aquilo, acho que um jeito de me sentir mais próximo de você. E eu adoro seu cheiro no travesseiro… - Ele admitiu parecendo muito tímido.

Fiquei envergonhado, ele percebeu e sorriu me olhando nos olhos. Eu continuei mexendo no seu cabelo até que ele pegou no sono, começou a falar menos, fechou os olhos devagar, e dormiu com a cabeça no meu colo. Fiquei ali mais um tempo, até ele entrar em um sono mais pesado, então saí devagar, apaguei a luz e me deitei para dormir.

Acordei na sexta com o Vini sentado na minha cama, ele não me chacoalhou nem tentou me acordar, ele apenas estava sentado me olhando.

Vinícius: Bom dia. - Ele sorriu.

Felipe: Bom dia, Vini!

Vinícius: Dormiu bem?

Felipe: Dormi, e você?

Vinícius: Também.

Ele parecia querer se inclinar e me dar um beijo, mas estava com vergonha de fazer isso.

Felipe: Ainda não tomou banho?

Vinícius: Nossa, tô fedido? - Ele brincou.

Felipe: Não, besta! - Dei risada. - Só não tá com aquele cheiro de banho que eu sinto quando você me acorda. Além disso, tá de pijama ainda.

Vinícius: Huum. - Ele sorriu. - Tá ventando e chovendo muito lá fora!

Parei pra prestar atenção ao barulho da chuva.

Felipe: E você vai aproveitar a água da chuva pra tomar banho?

Vinícius: Besta. - Ele riu muito. - Não! Só acho que vamos ter que ficar em casa hoje… não tem como sair!

Felipe: Ah, tá! Eu faço esse sacrifício. - Falei puxando o edredom até o pescoço. - Sua mãe já saiu?

Vinícius: Já! Deixou um beijo e um abraço pra você.

Felipe: Viu ela?

Ele fez que sim com a cabeça.

Vinícius: Todas as manhãs ela ainda está aqui quando eu acordo.

Felipe: Que hora você acorda? Como consegue acordar tão cedo todos os dias?

Vinícius: Acostumei. - Ele sorriu.

Felipe: Hum, então tá, né… vamos ficar em casa mesmo?

Vinícius: Ué, você não vai me deixar aqui hoje? Vai lá pra aula. - Ele provocou.

Felipe: Não, eu vou ficar aqui com você! - Dei risada.

Nossos olhares se prenderam um ao outro, eu me sentia tão bem com ele por perto! Me sentia feliz, como se ali fosse o melhor lugar para estar.

Vinícius: Então tá bom, odiaria que você se molhasse e ficasse resfriado depois.

Felipe: Se preocupa tanto assim comigo?

Vinícius: Mais do que você imagina. - Ele sorriu.

Felipe: Vem cá. - Falei dando espaço pra que ele deitasse ao meu lado.

Ele se deitou um pouco sem graça, parecia que tinha medo de se mexer. Então entrou embaixo do edredom e ficamos de frente um pro outro, conversando.

Felipe: Sua mãe… no dia que ela conversou comigo sobre a briga, ela me perguntou se isso tudo que existe entre a gente é só coisa de primos.

Vinícius: O que ela acha que tem entre a gente?

Felipe: Ela disse que estamos sempre juntos, ficamos até tarde conversando na mesma cama, damos apelidos carinhosos…

Vinícius: Apelidos tipo “Vini” e “Lipe”?

Felipe: Só pode ser. - Dei risada.

Vinícius: É melhor que ninguém comece a te chamar de “Lipe”, só eu posso te chamar assim.

Dei risada.

Felipe: E só eu posso te chamar de Vini.

Vinícius: Isso aí. - Ele disse sorrindo. Mas depois de alguns segundos, seu sorriso diminuiu um pouco. - Lipe?

Felipe: Oi, Vini.

Vinícius: Você acha que é melhor contar à minha mãe sobre a gente? E seus pais?

Felipe: Eu não sei… - Respirei fundo - Tenho medo de contar e… sabe… não aprovarem, me levarem de volta pra minha casa.

Vinícius: Não podem fazer isso! Eu vou atrás de você!

Sorri, segurei sua mão por baixo do edredom.

Felipe: Você quer contar?

Vinícius: Eu quero, mas também tenho medo! Não do que vão pensar, mas sim do que vão fazer… tenho medo de perder você.

Felipe: Você não vai me perder, nem eu vou perder você! - Fiquei alguns segundos em silêncio antes de continuar. - Quando estivermos confiantes, contamos. Pode ser?

Vinícius: Pode ser, combinado!

Felipe: Será que sua mãe nem desconfia de você? Tipo, você nunca namorou, nunca apareceu com nenhuma menina.

Ele pareceu um pouco confuso.

Vinícius: Lipe… Na sexta que sua mãe te levou embora… Minha mãe quis conversar comigo…

Felipe: Sobre o que? - perguntei mesmo imaginando o assunto da conversa.

Vinícius: Ela me cobrou exatamente sobre isso que estamos falando…

Felipe: Sobre nós dois?

Vinícius: É… e ela também deu uma pressionada sobre eu ser hetero ou homossexual…

Felipe: Pressionada?

Vinícius: Não, tipo, ela não brigou nem nada… Ela foi super gentil e compreensiva, eu só quis dizer que ela cobrou uma posição minha, entende?

Felipe: Ela queria que você confirmasse se é gay ou não…

Vinícius: Isso… E aí ela falou também sobre toda essa intimidade entre a gente, ela queria entender. Só que ela não falou nada sobre nosso parentesco… Então eu não sei qual a opinião dela sobre isso…

Felipe: Calma, Vini… O que exatamente você respondeu?

Ele respirou fundo, pensou por alguns segundos antes de responder.

Vinícius: Eu falei quase a verdade… - ele deu uma risada sem graça - Deixei ela entender que eu criei um sentimento especial sobre você, mas que eu estava em dúvida sobre mim mesmo…

Felipe: E como ela reagiu?

Vinícius: Bom… Ela foi compreensiva. Disse que há um tempo já desconfia de mim, e só estava esperando uma confirmação minha, para o sim ou para o não. Mas ela pareceu muito preocupada sobre o que havia entre a gente.

Felipe: Pode ser medo de você entrar em alguma confusão com meus pais ou com o Nícolas… Mas também ela pode ser contra.

Vinícius: É, não dá pra saber.

Felipe: Tem hora que eu acho que sua mãe não vai ter problemas com isso, ela não ia me aceitar aqui tão bem se fosse contra. Mas sei lá, eu também achava que a minha mãe não teria.

Vinícius: É, mas seus pais acabaram aceitando depois.

Felipe: Foi muita sorte minha. Se a situação se repetir com sua mãe, eu jogo na loteria no dia seguinte.

Ele riu.

Vinícius: Seria surpreendente se ela rejeitasse no começo e depois aceitasse com o tempo?

Felipe: Mais ou menos, não sei explicar direito… seria… assustador as coisas acontecerem do mesmo jeito. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

Vinícius: É, concordo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, ele acariciava minha mão com os dedos.

Felipe: A sua mãe vai voltar aqui antes de viajar?

Vinícius: Não, ela já levou as malas, vai direto do escritório. Por que?

Felipe: Curiosidade. - Falei me aproximando dele e dando um longo beijo!

O Vinícius deitou “de barriga pra cima” e eu me acomodei no seu peito. Senti sua mão mexendo em meu cabelo devagar, carinhosamente, me deixando com mais sono ainda. Ainda chovia forte, o vento parecia estremecer a janela do quarto. Mas, apesar do barulho, eu estava extremamente confortável debaixo do edredom, com aquele calor incrível do Vinícius, seu cheiro maravilhoso, sua mão acariciando meu cabelo… e ali, naquele momento, eu estava exatamente onde queria!

Quando acordei novamente, a chuva já caía bem mais fraca. Agora o som parecia apenas de um chuvisqueiro.

Eu ainda estava deitado no peito do Vinícius, ele não mexia mais no meu cabelo, sua mão estava solta, ele parecia estar dormindo. Levantei a cabeça devagar para poder olhá-lo, seus olhos estavam fechados, então abaixei a cabeça novamente e encostei no seu peito, pude sentir seu coração bater e me arrepiei, foi um momento inexplicável…

Fiquei ali deitado, ouvindo apenas a chuva e os batimentos do Vinícius, pude perceber também sua respiração! Passei a mão pelo seu peito, senti como se eu fosse derreter, ergui a cabeça e dei-lhe um selinho.

Felipe: Acorda!

Dei vários beijos enquanto repeti “Acorda!”. Até que ele começou a rir, ainda de olhos fechados.

Vinícius: Já acordei, mas não precisa parar com os beijos.

Apoiei a cabeça no seu peito e dei risada, envergonhado.

Vinícius: Que horas são? - Ele perguntou sonolento.

Felipe: Não faço ideia, mas ainda tá chovendo.

Vinícius: Não quero sair dessa cama.

Felipe: Não precisa, fica aqui comigo. - Abracei-o.

Ele beijou minha cabeça e voltou a mexer no meu cabelo.

Felipe: Tô com fome. - Falei alguns segundos depois.

Ele riu.

Vinícius: Acho que vamos ter que levantar!

Felipe: É, tomar café é bom.

Vinícius: Promete que volta pra cá comigo depois?

Felipe: Volto, e fico aqui por quanto tempo quiser!

Ele riu e demos um beijo antes de nos levantarmos. Deixei ele ir ao banheiro primeiro, eu ainda não senti intimidade suficiente pra entrar no banheiro enquanto ele estava lá! Fiquei no quarto, abri a janela para ver a chuva, o céu estava assustadoramente escuro, mas a chuva estava fraca. Fechei a janela novamente para evitar o vento frio, e então o Vinícius entrou no quarto.

Vinícius: Tá feio lá fora?

Felipe: Nuvens muito escuras, chuva fraca e vento frio!

Vinícius: Minha mãe disse que a previsão é ficar assim até terça ou quarta.

Felipe: Nossa. Não é época de chuva assim.

Vinícius: Pra você ver. - Ele disse parecendo pensativo. - Vai ao banheiro? Te espero aqui…

Felipe: Tá, já venho.

Quando voltei, ele estava sentado na minha cama, então se levantou e fomos à cozinha. Nos sentamos juntos para comer, já eram quase onze da manhã, então, como estávamos acostumados a comer cedo para ir à escola, já estávamos famintos.

Vinícius: Hum… - Ele disse enquanto mastigava e engolia um pedaço de pão.

Felipe: Que foi?

Vinícius: Agora você pode me contar que tipo de conversa teve com sua amiga aquele dia?

Ele só podia estar se referindo à Bianca, no domingo, quando saímos para conversar sozinhos.

Felipe: Bom… é um pouco complicado. Eu falei sobre você, sobre o Nicolas…

Vinícius: Você estava em dúvida?

Felipe: Um pouco… Um pouco de medo de você não corresponder, eu não sabia direito se você era ou não…

Vinícius: E a Bianca te ajudou? - Ele pareceu pensativo.

Felipe: Do jeito dela...

Demos risada juntos.

Vinícius: Ela não parece ser muito delicada pra falar o que pensa.

Felipe: E não é! Mas ela fala a verdade sem frescura, por isso gosto de conversar com ela.

Vinícius: Entendi. - Ele fez uma pausa, parecia estar pensando em algo muito complicado.

Felipe: E você ficou aqui com a Angelica, não conversou nada com ela?

Vinícius: Não, ficamos com seus pais e com minha mãe, não dava pra conversar sobre muitas coisas.

Felipe: É, imagino! Mas você contaria algo pra ela se pudesse?

Vinícius: Acho que eu perguntaria sobre você…

Senti meu rosto queimar.

Felipe: Sobre mim? O que perguntaria?

Vinícius: Tentaria entender melhor como você estava se sentindo. Pra poder me aproximar sem te machucar.

Felipe: Você… se preocupa tanto assim com os sentimentos?

Vinícius: Ué… - Ele pareceu confuso - Por que não me preocuparia com sentimentos?

Felipe: Porque é tão difícil alguém pensar em sentimentos hoje em dia, parece que todo mundo só quer pegação, sexo, diversão, entende?

Ele riu.

Vinícius: Por isso me apaixonei tanto por você. Você é aquele tipo de pessoa em extinção, sabe?

Felipe: Que tipo de pessoa? - perguntei só por curiosidade, mesmo entendendo perfeitamente o que ele quis dizer.

Vinícius: Você quer encontrar um amor no século da putaria e sacanagem.

Fiquei olhando-o assustado.

Vinícius: Por que esses olhos arregalados? - ele perguntou sem graça - Não concorda com o que eu disse? Todos os garotos que eu conheci na vida pensavam no sexo em primeiro lugar. Como se eu fosse só um objeto pra ajudar na busca por prazer. Muitos nem me conheciam direito e já queriam partir pro sexo, ou no mínimo tentavam usar uma intimidade que não existia. Não tinham respeito, nem ética ou caráter. Pareciam mais zumbis procurando sexo. Comecei a achar que o problema era eu e parei de procurar alguém… Aí você apareceu e eu me toquei que eu não tava errado em pensar dessa forma.

Felipe: Eu sei bem o que quer dizer. E fico muito feliz por você pensar assim também.

Vinícius: Não estou dizendo que sexo não pode existir, porque pode! É algo natural, mas sei lá, eu só acho que não é a única coisa que importa, nem é a mais importante de todas.

Felipe: Eu concordo. - sorri - Você tirou as palavras da minha boca.

Arrumamos a mesa quando terminamos o café, deixamos a louça suja na pia para lavar depois, junto à louça do almoço.

A chuva não perdoava! Alternava-se entre uma chuva muito volumosa com vento forte, e uma chuva fina e fraca. Concordamos que não tinha condições de ir à academia naquele dia! Provavelmente chegaríamos lá ensopados! Então ficamos em casa, acomodados no sofá, comendo uma bacia enorme de pipoca.

Quando o final da tarde chegou, tivemos que deixar o sofá para trás e arrumar a cozinha, não lavamos a louça do café, muito menos a do almoço! Deixei o Vinícius secar e guardar enquanto eu lavei.

Vinícius: Minha mãe costuma dizer que você fez uma lavagem cerebral em mim. - Ele disse enquanto guardava os copos.

Felipe: Por que? - Perguntei rindo.

Vinícius: Porque eu não costumava lavar a louça pra ela, nem arrumar minha cama! Comecei a fazer tudo isso depois que você veio pra cá.

Felipe: Aawn, que fofo. - Sorri. - Você virou gente depois que me conheceu.

Ele deu uma risada gostosa.

Vinícius: Besta. Mas é verdade, eu peguei esses costumes com você!

Felipe: Eu percebi. Lembro que tentou arrumar sua cama quando me viu arrumar a minha… naquele primeiro domingo, lembra?

Vinícius: Lembro! - Ele admitiu um pouco envergonhado.

Felipe: Você se atrapalhou um pouco.

Vinícius: Pois é, e você me ajudou.

Felipe: Ajudei? Eu arrumei a cama pra você, nem vem!

Vinícius: Arrumou nada, você só estendeu o lençol!

Felipe: Aah, só isso! - Dei risada.

Ele ficou sem graça, mas riu comigo.

Vinícius: Obrigado, Lipe.

Felipe: Pelo o que?

Vinícius: Você nem imagina como me fez bem… e ainda faz…

Nos entreolhamos, fiquei sem palavras.

Felipe: Acho que salvamos um ao outro. - Falei sem graça.

Vinícius: É, salvamos. - Ele disse sorrindo.

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Pessoal, me desculpem a demora para postar. É que tá tão corrido pra mim... Mas estou me esforçando!

Comentários

Há 2 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-05-23 23:24:07
Capítulo maravilhoso.esses dois são muito lindos me apaixono à cada capítulo.😍😍😍😘😘😘
Por Eu Mesmo em 2017-05-22 20:04:10
valeu a pena esperar