Capítulo 45

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Nos levantamos e saímos da casa, acabamos na calçada, andando devagar pelo quarteirão.

Felipe: Quer conversar o que? - Perguntei confuso.

Bianca: Idiota, você queria conversar! Não teria como fazer isso se não fosse desse jeito!

Felipe: Ah.

Bianca: Então, o que foi?

Felipe: Eu não sei direito. - Respirei fundo.

Bianca: É algo relacionado ao Vinícius?

Felipe: Não exatamente. Eu conheci um garoto ontem, no shopping… ele me deu o número dele e nós conversamos um pouco, mas sei lá… - Pensei por alguns segundos. - Eu cortei a conversa logo no começo, dei boa noite e não procurei mais por ele.

Ela pareceu ficar séria.

Bianca: Por que fez isso?

Felipe: Eu não sei… uma parte foi porque o garoto disse umas coisas sobre o Vinícius…

Bianca: O que ele disse sobre o Vinícius?

Felipe: Que o Vinícius parece meu namorado. Ele disse que quando o Vinícius via o Rafael me olhando, ele se colocava na frente… tipo, com ciúmes.

Bianca: Olha, posso ser sincera?

Felipe: Por favor, seja.

Bianca: Tá… - Ela pensou por um instante antes de continuar. - O Vinícius é lindo, maravilhoso, educado e ele olha pra você de um jeito que eu não conseguiria descrever nem com todas as palavras do mundo! Sabe, eu queria muito que alguém me olhasse do jeito que ele olha pra você.

Felipe: É só amizade, Bianca. Ele tem alguma coisa com a amiga dele, lá, a Letícia.

Bianca: Quem disse?

Felipe: Ninguém, eu percebo isso nos dois.

Ela parou de andar e ficou de frente pra mim.

Bianca: Você é muito lerdo, moleque! Pensa um pouco! Todo mundo também dizia que você tinha algo com a Angélica!

Felipe: Senti saudade desse seu carinho. - Provoquei.

Bianca: Fê… - Ela fez uma pausa. - Para de pensar nos outros, pensa um pouco em si mesmo, acredita no que você quer, pelo menos uma vez! Deixa as aparências de lado, segue o seu coração!

Felipe: É. - Tentei sorrir. - Você tá certa.

Bianca: Não fica forçando sorrisos. Olha, você está muito melhor aqui, hoje eu vejo um Felipe muito diferente daquele que eu conhecia alguns meses atrás, antes disso tudo acontecer. E eu espero que continue assim.

Felipe: Obrigado, Bianca. Você é uma amiga incrível!

Bianca: Aawn. - Ela disse se aproximando e me abraçando.

Demorei para soltá-la, era tão bom conversar com ela de novo, mesmo com seu jeito grosseiro de falar algumas coisas.

Bianca: Você ainda tem algo pra falar em particular?

Felipe: Não, já foi o suficiente pra eu me sentir um idiota… - Falei descontraído.

Bianca: Não quer saber como está o Nícolas?

Felipe: Depois do que ele falou, não me importo muito… Mas se tiver algo importante.

Bianca: Ah, ele tá bem… Continua andando com a gente, mas não fala sobre você. Ele só quis saber por que você sumiu de novo.

Felipe: E o que você disse?

Bianca: Falei bem assim: “ele voltou pra casa”.

Dei risada.

Felipe: Sério?

Ela afirmou com a cabeça.

Bianca: Ele não gostou muito, mas o Nícolas tá se mostrando muito trouxa, convencido, como se ele não precisasse de nada nem ninguém, não achei que ele fosse assim.

Felipe: É… Eu não tenho muito o que dizer.

Bianca: É, tá certo, esquece o Nícolas. agora vamos voltar, antes que seu primo ciumento venha te procurar.

Nós dois rimos, demos meia volta e voltamos! Não conversamos sobre muitas coisas na volta. Eu fiquei sem assunto, um pouco sem graça!

Todos nos olharam com uma certa desconfiança quando entramos, principalmente o Vinícius, sua expressão deixava clara a sua vontade de levantar um inquérito sobre nossa conversa.

Ninguém tocou mais em assuntos delicados, até porque não ficamos mais sozinhos. No resto da tarde ficamos todos juntos conversando, brincando, contando novidades! E só quando o relógio se aproximou de quatro da tarde, minha tia insistiu em fazer café antes que meus pais fossem embora.

Mais uma vez todos foram à cozinha, minha tia fez café enquanto conversava. Eu estava com muito sono já naquela hora, enquanto todos conversavam, eu apenas bocejava e esfregava os olhos.

Vinícius: Não dormiu bem? - Ele sussurrou em um certo momento.

Felipe: Dormi, mas ainda assim tô com sono.

Vinícius: Parece que alguém vai dormir cedo hoje.

Felipe: Provavelmente. - Falei bocejando.

Troquei um olhar com a Bianca, ela estava sorridente. A Angélica estava distraída contando sua vida para minha tia, que a ouvia com atenção, assim como meus pais.

O café não conseguiu segurar meus pais por muito tempo, a viagem era um pouco longa e eles queriam evitar trânsito, então logo foram se despedindo. Não tive dificuldade para me despedir deles, era mais fácil quando tudo estava bem, sem brigas, sem ressentimentos, sem pesos.

Todos me abraçaram, um de cada vez, o abraço mais longo foi o abraço da minha mãe, o abraço dela foi o único que eu poderia ter segurado por horas.

Laura: Tenho muito orgulho de você, meu amor. - Ela sussurrou no meu ouvido, acho que ninguém pôde ouvir. - Eu te amo!

Felipe: Também tenho orgulho de ser seu filho, mãe. - Falei abraçando-a mais forte. - Eu te amo também!

Enfim nos soltamos, ela pegou sua bolsa sobre o sofá e nós os acompanhamos até o carro.

Edson: Passem um tempo lá em casa nas férias, vai ser ótimo. - Ele disse pro Vinícius. - Ou então algum fim de semana prolongado aí…

Vinícius: Pode deixar, tio. Nós vamos!

Meu pai sorriu uma última vez e entrou no carro, seguido pela minha mãe, e depois as minhas amigas.

Quando entramos de novo, eu fui direto ao quarto e deitei na minha cama.

Vinícius: Eita, cansado? - Ele perguntou atrás de mim.

Felipe: Você nem imagina o sono que me deu agora.

Vinícius: Dá pra ter uma ideia. - Ele riu sentando-se da sua cama.

Felipe: Minha mãe me disse que tem orgulho de mim. - Falei sem pensar.

Vinícius: Sério? Quando?

Felipe: Quando ela me abraçou na hora de ir embora. - Meus olhos lacrimejaram, e uma lágrima escorreu, eu nem sabia o motivo de estar chorando.

Vinícius: Por que está chorando? - Ele pareceu preocupado vendo a lágrima.

Felipe: Nada, eu só…

Vinícius: Saudade de casa?

Felipe: Não é isso. - Falei sem enrolar. - Eu não sei, Vini, para de perguntar…

Vinícius: Tá bom, desculpa.

Não respondi, eu apenas fechei os olhos e fiquei em silêncio. Deixei os sentimentos me tomarem por dentro, não era uma coisa ruim, muito pelo conrário..

Acordei com o Vinícius me chacoalhando. Estava escuro, era hora do jantar? Ou ele estava me chamando para tomar banho?

Felipe: Oi, Vini.

Vinícius: Bom dia, né?

Felipe: O que? - Me assustei. - Já é de manhã?

Vinícius: É.

Felipe: Eu dormi doze horas!?

Vinícius: Dormiu. - Ele riu. - Eu ia te chamar pra jantar, mas você estava dormindo tão gostoso.

Esfreguei os olhos, eu estava com muita fome, além de um pouco tonto.

Felipe: E nem assim consegui acordar antes que você! - Reclamei.

Vinícius: Você chega lá. - Ele riu. - Levanta, eu já tomei banho.

Ele já estava até mesmo com o uniforme da escola, ele acordava com essa disposição em plena segunda feira, o Vinícius tinha uma energia que me deixava assustado às vezes.

Quando saí do banho, ele já estava na cozinha, me vesti rapidamente e fui até lá com ele.

Felipe: Eu tenho uma teoria. - Falei assim que me sentei.

Vinícius: Teoria? - Ele pareceu assustado.

Felipe: É. Você não dorme!

Ele deu risada.

Vinícius: Nunca contarei meu segredo.

Felipe: Sério, um dia eu vou acordar primeiro que você, não é possível!

Vinícius: Só acredito vendo… - Ele provocou.

Não conversei muito depois que comecei a comer, eu estava faminto e não havia tempo sobrando para comer e conversar tranquilamente.

Vinícius: Posso perguntar uma coisa? - Ele perguntou a caminho da escola.

Felipe: Claro.

Vinícius: Era muito sério o assunto que a Bianca falou contigo ontem?

Felipe: Bom… - Fiquei sem graça. - Foi um assunto complicado.

Vinícius: Hum. Pode me contar o que foi?

Felipe: Não tudo, desculpa, Vini.

Vinícius: Acha, tudo bem. - Ele sorriu, mas foi um sorriso forçado, dava para perceber. - Que parte você pode me contar?

Felipe: Ela disse que eu estou muito bem aqui. - Falei confiante. - Disse que eu estou muito diferente do que ela conhecia..

Vinícius: Olha só. - Ele brincou batendo palmas. - Que bom ouvir isso, quer dizer que está feliz aqui, né?

Nos entreolhamos, fiquei em silêncio por um minuto enquanto ele me observava. Talvez eu tenha demorado demais para responder, pois logo ele disse novamente: “Não está?”.

Felipe: Claro que eu estou. - Falei sorrindo.

Vinícius: Mesmo? - Ele insistiu.

Felipe: Mesmo, Vini! Estou muito feliz aqui!

Vinícius: Então tá bom. Fico feliz. - Ele sorriu, mas tivemos que parar a conversa porque já estávamos entrando na escola.

Aquela manhã foi tranquila, sem nada de extraordinário! A aula foi tranquila, o intervalo foi tranquilo, e ninguém comentou nada relacionado ao Rafael. Talvez já tivessem esquecido, ou talvez apenas não quisessem saber detalhes a respeito.

Naquele mesmo dia, antes de dormir, eu já estava deitado e o Vinícius estava escovando os dentes. Fiquei deitado pensando sobre a conversa que tive com a Bianca, era muito difícil ter um momento sozinho para pensar, pois o Vinícius estava sempre comigo, conversando, puxando assunto.

Felipe: Limpou a dentadura? - Perguntei assim que ele entrou no quarto.

Vinícius: Tonto. - Ele riu.

Sem motivo nenhum, ele sentou-se na minha cama, encostou na parede e ficou ali.

Felipe: Cama errada.

Vinícius: Se não me quer aqui, pode falar na cara! - Disse brincando.

Felipe: Ah, vou te dar esse prazer por alguns minutos.

Vinícius: Obrigado. - Ele sorriu. Mas nem me deu tempo para falar algo. - Posso perguntar uma coisa?

Felipe: Claro que pode. - Falei passando minhas pernas sobre as pernas dele.

Vinícius: Você falou com o Rafael de novo?

Felipe: Não. - Falei sem enrolação.

Vinícius: Sério, não chamou mais?

Felipe: Não. - Dei risada do jeito dele. - Ele me chamou ontem de manhã, mas eu nem respondi!

Vinícius: Aah. - Ele sorriu e me olhou. - Por que desistiu dele de repente?

Felipe: Eu… bom… - Fiquei sem graça. - Eu acho que não ia dar certo, ele não é o tipo de cara que me agrada.

Vinícius: Sei. - Ele disse pensativo.

Me senti tentado a perguntar sobre a vida amorosa dele. Mas eu tive medo da resposta, e se ele me dissesse que tinha algo com a Letícia? Como eu reagiria? Eu não conseguiria fingir estar feliz com a notícia, mas ainda assim eu não sabia o que esperar.

Felipe: Que brincadeira com o saco de pipoca fizeram no cinema aquele dia?

Vinícius: Eu não sei. - Ele disse rindo. - Mas não deve ter sido agradável, a Letícia é brincalhona, e não gostou dessa brincadeira, então deve ter sido de mal gosto.

Felipe: Então acho melhor não saber que brincadeira foi.

Vinícius: É melhor. - Ele riu.

Felipe: O que você ficou fazendo enquanto eu dormi ontem? - Perguntei apenas por curiosidade.

Vinícius: Fiquei na sala vendo TV com minha mãe, jantei, tomei banho. Não quis ficar no quarto, tive medo de acordar você. Só passei pegar as coisas pra tomar banho e depois voltei pra dormir.

Felipe: Entendi.

Vinícius: Você foi dormir tarde no sábado?

Felipe: Não muito tempo depois que você. Não sei porque me deu tanto sono assim ontem.

Vinícius: Eu ia te chamar pra jantar. Mas minha mãe me disse pra deixar você quieto.

Felipe: Ué, por que?

Ele me olhou um pouco sério.

Vinícius: Ela achou que você estava deprê.

Felipe: Ah. - Fiquei sem reação.

Vinícius: Mas não estava, né?

Fiz que não com a cabeça. E quase no mesmo instante, minha tia abriu a porta do quarto e colocou metade do corpo pra dentro. Fiquei um pouco sem graça por ela nos ver daquele jeito, eu estava deitado com as pernas sobre o colo do Vinícius.

Izaura: Moços, eu vou dormir.

Vinícius: Tá bom, mãe.

Izaura: Boa noite pra vocês. Não vão dormir tarde!

Respondemos “Boa noite” juntos e continuamos ali, sem nos mexer.

Felipe: O que que há entre o Carlos e o Pedro?

Ele respirou fundo.

Vinícius: Ninguém sabe. Tem muita gente falando que os dois são namorados e tal, mas eu não acredito muito nisso.

Felipe: Por que não?

Vinícius: Estou sempre perto deles, acho que daria pra perceber se tivesse algo.

Felipe: Eu acho eles bem próximos fora da escola.

Vinícius: Como assim?

Felipe: Tipo… quando estão na escola, eles se falam pouco, parece que se evitam. Mas fora da escola, no cinema ou no shopping, eles são muito próximos, sorridentes um com o outro, o oposto do que são na aula!

Ele pareceu pensar um pouco no que eu estava dizendo.

Vinícius: Isso é verdade. Mas eu sempre achei que isso é porque na escola eles preferem estar com outras pessoas. Mas quando saem juntos, só têm um ao outro, então…

Felipe: Pode até ser… - Pensei em voz alta. - Mas não estou convencido.

Vinícius: Vai bisbilhotar a vida deles? - Ele riu.

Felipe: Claro que não. Não é da minha conta se há algo entre eles.

O Vinícius sorriu e deu um leve tapa na minha perna, logo em seguida pareceu se dar conta do que havia feito, ficou sem graça e cruzou os braços.

Felipe: Mas e você, Vini? - Tomei coragem para perguntar.

Vinícius: Eu o que?

Felipe: Com quem você está? - Fui bem direto.

Vinícius: Como assim? - Ele riu. - Eu não estou com ninguém.

Felipe: Não mesmo? Um cara bonito, com um corpo legal, simpático… um cara assim sozinho? Não tem nenhuma menina, nenhum namoro ou nada do tipo?

Vinícius: Bom, obrigado pelos elogios, mas eu não tenho nenhuma menina. - Ele pareceu sério. - Nenhum namoro, nem nada.

Felipe: Nem com a Letícia? - Forcei.

Vinícius: Quê? A Letícia é minha amiga, não tem nada entre a gente!

Felipe: Parece ter.

Vinícius: Não, não! Lipe, você passa o tempo todo comigo! Sabe que não tenho nada com ninguém! - Ele disse como se fosse extremamente importante me convencer disso.

Me senti um pouco idiota, afinal ele estava certo. Ficávamos juntos o tempo todo, todos os dias, e eu nunca o vi com nenhuma menina, além disso, ele raramente pegava o celular para ficar conversando com alguém.

Felipe: É, isso é verdade! - Assumi um pouco envergonhado.

Vinícius: Sim, é! Sou só eu, não tem outra pessoa.

Felipe: Por que? Tipo, aposto que tem muita menina louca pra ficar com você.

Vinícius: Não aposte nisso. - Ele riu. - Eu não sou popular com as meninas.

Felipe: Não?

Ele fez que não.

Vinícius: Cara, por que tá falando assim agora? Já faz quase quatro meses que você está aqui! Ainda não me conhece?

Felipe: Não é isso… - Respirei fundo. - Deixa pra lá!

Ele riu, de uma certa forma eu fiquei envergonhado. Mas, acima de tudo, confuso por estar encucando com essas coisas sobre o Vinícius, seria ciúmes? Eu estava com ciúme do meu primo?

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-05-09 13:45:58
Muito lindo esses dois.Formam um casal lindo.❤❤❤😘😘😘😘