Capítulo 44

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Tive a curiosidade de salvar o número que estava no cupom e olhar o contato no WhatsApp, realmente era o Rafael! Pude ver sua foto, era o mesmo rapaz moreno claro, com cabelo preto, bem curto e crespo. Segurei a risada, provavelmente o Vinícius ainda estava acordado, eu não queria chamar sua atenção.

Ele ficou online enquanto eu observava sua foto, fiquei um pouco nervoso, como se ele pudesse ver que eu estava ali. Sua foto era bonita, comportada e sem nenhum tipo de filtro ou edição.

Me perguntei se eu deveria enviar alguma coisa, eu estava começando a achar interessante toda aquela situação, a forma como ele me passou o seu número foi engraçada, bem pensada e discreta. Acabei não resistindo e enviei um “Oi”. Levou menos de um minuto para ele me responder.

Rafael: “oi”.

Comecei a me arrepender de ter chamado, eu estava fazendo aquilo porque estava achando divertido, não por estar interessado no Rafael, mas logo depois, quando eu já estava quase deixando ele falando sozinho, ele enviou outra mensagem.

Rafael: “achei que você não ia ver o meu número”.

Felipe: “eu encontrei por acaso. Ia jogar a notinha fora logo logo”.

Rafael: “eita, ainda bem que deu uma conferida nela”.

Felipe: “pois é… Ainda está no shopping?”.

Rafael: “não, já estou em casa. E você, já está em casa, ou ainda está com os amigos?”.

Felipe: “Em casa, faz uns minutos”.

Rafael: “Eu acabei de chegar”.

Eu não sabia muito bem o que falar, que assunto puxar, eu estava perdido.

Felipe: “Entendi”.

Rafael: “Você não tá afim de conversar, ou só é muito tímido?”.

Felipe: “Sou tímido”. - Não era 100% verdade.

Rafael: “Entendi! Você gostou do meu método super discreto pra te passar meu número? (emoji rindo)”.

Felipe: “Olha, você me surpreendeu! Mas e se eu não visse?”.

Rafael: “Ah, era um risco. Mas se você visse, seria sinal de que tá realmente interessado”.

Não achei tanta graça, não tinha ideia do que falar para ele. Mas ele enviou novamente logo em seguida:

Rafael: “Gostou do sorvete?”.

Felipe: “Gostei, sim. Tá de parabéns…”.

Rafael: “Obrigado, volte sempre que estiver afim de um sorvete”.

Felipe: “Pode deixar!”.

Rafael: “Você namora?”.

Felipe: “Não… E você?”.

Rafael: “Também não, nunca namorei.”.

Felipe: “Entendi”.

Eu não quis falar que já tinha namorado, talvez ele começasse a perguntar sobre isso, e eu não queria explicar sobre o Nicolas pra alguém que eu mal conhecia. Então apenas torci para que ele não perguntasse sobre relacionamentos passados.

Rafael: “Eram seus amigos no shopping?”

Felipe: “Era meu primo e meus amigos”.

Rafael: “O cara que mais parece seu namorado é seu primo? hahahaha”.

Encarei aquela mensagem por algum tempo.

Felipe: “Por que ele parece meu namorado?”.

Rafael: “Porque ele não para de olhar pra você, não te deixa sozinho. E quando você tava lá comigo, ele ficou inquieto na mesa… até foi atrás de você, como se estivesse morrendo de ciúmes! Sem falar de quando estavam todos na mesa, quando ele me via olhando pra você, ele se inclinava pra ficar na frente!”.

Me senti desnorteado! Aqueles momentos em que o Vinícius se inclinava sobre a mesa, e a Letícia dava risada, ele fazia aquilo para não deixar o Rafael me olhar!

Li aquela mensagem algumas vezes, o Rafael tinha razão, mas alguma coisa dentro de mim me dizia que isso tudo era apenas coisa de primos. Não podia ser nada além disso, eu não conseguia acreditar que o Vinícius era gay, muito menos que estava gostando de mim.

Felipe: “Rafa, eu vou dormir, tô com sono. Amanhã nos falamos!”.

Rafael: “Ah tá, tudo bem, Fê. Até amanhã, então! Boa noite, descansa, se cuida!”.

Felipe: “Obrigado! Boa noite e se cuida também!”.

Desativei o Wi-Fi no celular, deixei-o de lado e me sentei na cama, fiquei observando o Vinícius deitado de costas pra mim. É claro que eu já tinha percebido o carinho dele por mim, a sua forma de tentar me proteger, mas quando eu começava a me apegar ao Vinícius, algo me convencia de que aquele tratamento era por causa da forte amizade que tínhamos, ou até por causa da nossa relação de primos.

Levantei e saí do quarto com o celular na mão, me sentei na sala, no escuro mesmo, nem liguei TV. Me lembrei de todas as vezes que eu fui ali sem sono e chorei até meus olhos não aguentarem mais.

Liguei o Wi-Fi do celular e abri o contato da Bianca, ela estava online, mas eu não sabia o que falar. Não tive nem ideia do que escrever, eu diria o que? Me senti um idiota, ela só ia me dizer o que eu já sabia! Era muito óbvio... Acabei voltando pra cama e dormindo logo.

Acordei no outro dia e me assustei com o Vinícius ainda dormindo, normalmente ele acordava antes de mim. Me levantei e deixei o quarto em silêncio, fui ao banheiro, fiz o que tinha para fazer, joguei bastante água no rosto e fui para a cozinha. Minha tia estava sentada, lendo uma revista nova, ela estava tão concentrada que nem me percebeu chegando.

Felipe: Bom dia, tia!

Izaura: Nossa, que susto. - Ela riu. - Bom dia, Fê! O que aconteceu pra você acordar primeiro que o Vinícius? - Até ela já sabia que o Vinícius sempre acordava primeiro.

Felipe: Não faço ideia. - Falei um pouco pensativo, eu estava pensando em uma coisa boba.

Izaura: Está tudo bem?

Felipe: Está sim! - Sorri.

Preparei dois copos de leite, minha tia nem percebeu porque já estava prestando toda sua atenção à nova revista. Peguei os dois copos e deixei a cozinha, voltei ao quarto e observei o Vinícius deitado olhando o teto, eu não podia ver se seus olhos estavam abertos ou fechados, mas me sentei na cama dele, quase na altura da sua cintura, e no mesmo instante ele moveu a cabeça, percebi que estava me olhando..

Felipe: Imaginei que tava acordado.

Vinícius: Faz um tempo.

Felipe: É claro que faz um tempo. - Falei como se fosse óbvio. - Por alguns minutos eu fiquei feliz por ter acordado primeiro que você.

Vinícius: Desculpa te desapontar. - Ele brincou.

Felipe: Tudo bem, não tem problema. - Entreguei o leite a ele. - Fiz pra você.

Vinícius: Leite na cama? O que eu fiz pra merecer isso?

Minha boca travou, eu não conseguia falar nada. Fiquei observando-o se sentar e pegar o copo, e então eu me encostei na parede.

Felipe: Por que ficou deitado aqui?

Vinícius: Não deu vontade de levantar.

Ele parecia desanimado.

Felipe: Ontem… foi divertido, né? - Falei depois de alguns segundos em silêncio.

Vinícius: É, foi.

Felipe: Achei o telefone do Rafael. Ele colocou na notinha.

Vinícius: Ah, que esperto ele, né? E você falou com ele?

Felipe: Conversei um pouco… mas desisti.

Vinícius: Ué, por que? - Ele pareceu assustado.

Felipe: Não é o que eu quero.

Vinícius: E o que você quer?

Respirei fundo e desviei o olhar.

Vinícius: Ele é bonito, tem certeza que vai desistir assim?

Felipe: Não consigo gostar das pessoas só por causa da aparência.

Ele ficou me olhando em silêncio.

Vinícius: Então o que te faz gostar de alguém?

Respirei fundo.

Felipe: Me diz você primeiro.

Ele sorriu, respirou fundo e falou de uma vez.

Vinícius: Caráter, ética, comprometimento, responsabilidade, educação, inteligência. Sabe, essas coisas que o resto do mundo parece estar esquecendo que existem.

Fiz que sim com a cabeça.

Felipe: Resumindo, você se preocupa mais com o interior.

Vinícius: Exato! - Ele sorriu. - Agora, me fala o seu.

Felipe: Costumo falar que todo mundo tem algo bonito pra oferecer. Todos são bonitos de alguma forma, sem exceção. O problema é que alguns não sabem mostrar sua beleza. - Ele sorriu quando falei isso. - O que me chama a atenção são pessoas que sabem expor essa beleza.

Vinícius: Me deixou sem palavras. - Ele sorriu. - Mas eu tenho quase certeza que nunca vou entender exatamente o que você quer dizer com isso.

Felipe: Por que?

Vinícius: Porque não é um jeito simples de olhar as pessoas.

Dei risada.

Felipe: Pra mim é.

Vinícius: Porque você já tem esse pensamento na cabeça. - Ele fez uma pausa. - Me fala, se alguém não tem uma boa aparência física, mas tem alguma beleza interior, como você encara isso?

Felipe: Tem razão, você nunca vai entender. - Dei risada. - Na minha opinião, uma pessoa que sabe mostrar essas coisas boas que tem... não importa sua aparência física, ela se torna bonita.

Vinícius: Nem todos pensam como você.

Felipe: Não. Infelizmente, não!

Vinícius: Então um corpão sarado, um sorriso perfeito, nada disso de conquista?

Felipe: Se me chama a atenção? Sim. Se me conquista? Não.

Vinícius: Então você reconhece a beleza física.

Felipe: Lógico. - Dei risada. - O problema é que tem muita gente que desenvolve só a beleza física, e esquece a parte de dentro!

Ele riu.

Vinícius: É, tem muita gente que faz isso. - Nos entreolhamos por um momento. - Então o seu amigo da sorveteria não tinha nenhuma beleza?

Fechei os olhos por um momento.

Felipe: Não sei, não me aproximei tanto dele.

Vinícius: Por qual motivo? O que você viu nele?

Eu não sabia exatamente o motivo.

Felipe: Eu não sei direito. - Falei olhando-o.

Vinícius: Não deu uma chance pro cara mostrar a própria beleza? - Ele brincou.

Felipe: Eu… me senti mal conversando com ele.

Vinícius: Mal como? - Ele ficou sério novamente.

Felipe: Não sei, culpa, mágoa, tristeza.

Vinícius: Por causa do Nicolas?

Respirei fundo, não foi por causa do Nícolas… Mas como eu explicaria isso?

Felipe: Não sei… deixa isso pra lá…

Vinícius: Ok, ok. Me desculpa…

Felipe: Tudo bem.

Vinícius: Mas acho que agora não vai mais rolar sorvete de graça.

Felipe: Não. - Dei risada. - Sem sorvete de graça.

Vinícius: Posso perguntar uma coisa?

Felipe: Claro.

Vinícius: Você sente saudade da sua casa?

Felipe: Essa é uma pergunta complicada. - Parei para pensar. - Sim e não.

Vinícius: Do que você tem saudade?

Felipe: Dos meus pais, da Angelica, da Bianca. - Parei pra pensar por um momento.

Ele ficou sério.

Vinícius: Do que você não tem saudade?

Felipe: De chorar e sofrer por causa do que aconteceu.

Ele respirou fundo.

Vinícius: Desculpa, não foi minha intenção te fazer pensar nisso.

Felipe: Eu sei, tudo bem…

Ele apenas sorriu, mas ficamos em silêncio. Até que acabamos levantando para arrumar o quarto. Quando terminamos de arrumar o quarto, o Vinícius sentou-se no computador e começou a ler um texto para o trabalho de história.

Aproveitei o momento no qual a atenção do Vinícius não estava em mim, peguei meu celular e comecei uma conversa com a Letícia. Eu sentia uma certa liberdade para conversar com ela, eu apenas não havia explorado essa liberdade ainda!

Logo no começo da minha conversa com a Letícia, alguém tocou o interfone, não dei muita atenção, era comum a Izaura receber visita de alguma vizinha querendo apenas conversar um pouco, algumas vezes pedir um pouco de açúcar emprestado para o café. Nem mesmo o Vinícius pareceu se incomodar.

Ouvi conversas na sala, mas ainda não dei atenção, eu não gostava de aparecer por lá! As amigas da minha tia sempre perguntavam mais do que deviam sobre mim. Mas nem sempre eu conseguia fugir. A porta do quarto se abriu, mas eu quase voei da cama quando vi quem era a visita!

Edson: Já podem começar a festa, olha quem chegou! - Ele disse rindo.

Não consegui falar nada, eu levantei da cama com um pulo e abracei-o.

Felipe: E aí, pai!

Normalmente nós não nos abraçávamos, não havia nenhum motivo para isso, nós apenas não tínhamos esse costume. Mas acho que ele não se incomodou, pois me abraçou firme. Quando me afastei dele, passei para minha mãe logo atrás.

Laura: Surpresa! - Ela brincou.

Nos abraçamos também, mas era diferente, o abraço da minha mãe era inexplicável, mesmo que ela não me apertasse tanto quanto meu pai!

Laura: Que saudade! - Ela disse depois de alguns segundos de abraço.

Felipe: Eu também, mãe! - Falei fechando os olhos.

Quando minha mãe e eu finalmente nos soltamos, ela cumprimentou o Vinícius e meu pai sorriu dizendo: Laura, entregamos a surpresa agora ou depois?

Fiquei sem graça olhando os dois, e então vi o Vinícius sorridente.

Felipe: Você foi cúmplice nisso! Sabia que eles viriam!

Vinícius: Não sabia, eu juro! - Ele riu.

Izaura: Só eu sabia! - Minha tia apareceu na porta. - Não tive chance de falar pro Vinícius, vocês não se desgrudam!

Dei risada, fiquei um pouco sem graça.

Felipe: De que surpresa vocês estão falando? - Perguntei curioso.

Edson: Vou lá buscar! - Ele saiu rindo.

Encarei minha tia, que começou a rir enquanto me olhava.

Não demorou pro meu pai voltar ao quarto, a surpresa não era o que eu estava esperando, mas não tinha como ser melhor! A Bianca e a Angélica vieram logo atrás dele.

Edson: Achei que seria bom trazer as duas...

Não segurei o sorriso, a Bianca veio na frente, sorrindo como nunca, e me abraçou tão forte quanto pôde!

Bianca: Que saudade! - Ela disse ainda me apertando. - Como você tá bonito! Meu Deus!

Felipe: Calma, não faz nem um mês que me viu em casa! - Dei risada.

Bianca: Mas eu tô com saudade e você tá bonito! - Ela disse brava. - Não me estressa, acabei de chegar!

Dei risada, o Vinícius pareceu assustado.

Felipe: Essa é a Bianca. - Falei olhando-o.

Então ela me soltou e olhou pra ele assustada, parecia ter esquecido que o Vinícius estaria lá.

Bianca: Oi. - Ela disse sem graça. Mas não prestei atenção nos dois se cumprimentando, a Angelica se aproximou de mim e eu esqueci do resto. Nos abraçamos, abracei-a forte.

Felipe: Que bom te ver!

Angélica: Eu não podia deixar de vir!

Felipe: Obrigado.

Angélica: Obrigado nada! Eu tava com saudade!

Felipe: Eu também! - Dei risada.

Ela me soltou e se afastou devagar, e então cumprimentou o Vinícius mais tranquilamente que a Bianca.

Angélica: Então você é o Vinícius?

Vinícius: Isso, eu mesmo. - Ele sorriu. - E você é a Angélica.

Angélica: Sou.

Bianca: E eu sou a Bianca, tá? - Ela disse no canto, fazendo o Vinícius rir.

Edson: Vamos deixar os jovens conversarem? Temos um almoço para preparar. - Ele disse tirando minha mãe e minha tia do quarto.

Troquei um olhar com a Bianca quando ficamos sozinhos, ela pareceu entender o que eu queria perguntar.

Bianca: Ah, seus pais me procuraram ontem, disseram que viriam pra cá hoje, almoçar. Perguntaram se eu gostaria de vir junto, pra te ver e tal, e claro que eu quis. - Ela sorriu. - O mesmo com a Angélica.

Felipe: Você não sabia mesmo disso?

Vinícius: Eu juro que não! Foi surpresa pra mim também!

Felipe: Sei. Você é espertinho pra essas coisas, Vini. - Dei risada.

Vinícius: Sério, Lipe, eu não sabia. - Ele disse rindo.

Olhei para a Bianca, eu conhecia muito bem a expressão em seu rosto.

Me sentei na cama do Vinícius, e as duas sentaram-se na minha, quase no mesmo instante, o Vini deixou a cadeira e sentou-se ao meu lado na cama. Nesses momentos eu me sentia muito envergonhado com a cara da Bianca.

Felipe: E o pessoal lá? O que estão falando do meu sumiço? Até esqueci de perguntar quando nos vimos lá…

Angélica: Ah, tem uns comentários de que seus pais te botaram pra fora de casa, mas a maioria nem fala mais sobre isso. Mas no começo quase chamamos a polícia, seus pais não davam explicação e não conseguíamos contato com você.

Bianca: É, Vinícius. Se seu primo desaparecesse de uma hora pra outra, sem explicar nada, o que você faria?

Ele não precisou pensar muito para responder.

Vinícius: Não descansaria até achar ele.

Senti meu rosto queimar.

Bianca: Mas do que adiantaria chamar a polícia? Eles iam só procurar os pais do Felipe, os pais explicariam a situação, provavelmente mentindo, e nós ficaríamos com cara de idiotas.

Felipe: É, mas quem sabe assim vocês descobririam o que aconteceu comigo.

Bianca: Eu duvido, ia ficar entre a polícia e seus pais, além disso, só ia provocar seu pai.

Ela tinha razão, meu pai na época teria enlouquecido se a polícia aparecesse na porta de casa perguntando por mim.

Angélica: Fê? - Ela chamou depois de alguns segundos em silêncio. - Seu pai parece tão tranquilo agora.

Felipe: Ele mudou muito, vocês nem imaginam.

Angélica: Que bom, né? Tava na hora…

Felipe: É. - Dei risada.

Bianca: Mas e como estão as coisas aqui? Foi bem recebido quando voltou um dia depois de ir embora?

Felipe: Aqui tá tudo ótimo. - Dei risada. - Me dei muito bem e me acomodei bem, as pessoas que moram nessa casa são ótimas, sabia? - Falei apenas com a intenção de provocar o Vinícius.

Vinícius: Que bom saber. - Ele sorriu. - O senhor é muito bem vindo!

Sorri e olhei para a Angélica, ela tinha a mesma expressão incômoda da Bianca.

Bianca: Tá dando pra aguentar esse mala, Vinícius? Sei que ele é chato, mas, com o tempo, você acaba se acostumando!

Felipe: Besta. - Falei antes que ele pudesse responder.

Vinícius: Ele não é chato. - O Vinícius protestou.

Angélica: A Bianca que é, ignora. - Ela disse pro Vinícius, que sorriu e levou na brincadeira.

Bianca: Vocês dividem o quarto? Qual é a sua cama, Fê?

Felipe: Dividimos, a minha é essa aí. Essa aqui é do Vini.

Bianca: Ah tá. - Ela disse me olhando sorridente.

No mesmo instante, minha tia apareceu na porta do quarto, fez um sinal pro Vinícius dizendo: Filho, pode me dar uma ajudinha, é rápido!

Vinícius: Posso, claro! Já venho, pessoal. - Ele disse levantando-se da cama e saindo do quarto atrás da minha tia.

Esse era o momento que eu queria que acontecesse, mas, ao mesmo tempo, por alguns motivos específicos, eu não queria que acontecesse.

Bianca: Fê, que homem é esse? - Ela sussurrou quase levantando da cama.

Felipe: Se acalma. - Dei risada.

Bianca: E que intimidade é essa entre vocês?

Felipe: Somos primos, ué.

Angélica: Conta outra, vai.

Bianca: Vocês são lindos juntos, ele te olha com tanto carinho, que dá vontade de chorar!

Fiquei um pouco sério, apesar de envergonhado! Encarei a porta do quarto, tive medo de começar um assunto e o Vinícius voltar.

Felipe: Eu queria muito conversar a sós com vocês, com tempo!

Elas ficaram sérias.

Bianca: Algum problema?

Felipe: Não sei direito. - Respirei fundo.

Elas se entreolharam, eu precisava muito falar! Nem que fosse pra falar baboseira e me sentir um idiota depois.

Bianca: Mas o bonitão não desgruda de você…

Felipe: Pois é.

Bianca: Quantos anos ele tem?

Felipe: 17 também, eu disse da outra vez que ele tem a mesma idade que eu.

Bianca: Eita. - Ela sorriu.

Angélica: Ele ficou feliz por você ter voltado?

Mas eu não respondi, o Vinícius entrou novamente no quarto.

Felipe: Já?

Vinícius: Já. - Ele disse sem graça. - Queriam que eu demorasse mais? - Brincou.

Felipe: Não, besta! Senta aqui.

Vinícius: Não vai demorar muito pro almoço ficar pronto.

Bianca: Que rápidas as duas.

Vinícius: Acho que minha mãe já estava adiantando as coisas antes de vocês chegarem! - Ele riu. - Mas até o Edson está ajudando lá.

Felipe: Olha só!

Bianca: Que amor de Edson. - Ela riu.

Ficamos em silêncio por um instante, como se todos estivessem pensando em um assunto.

Bianca: Achou estranho não ter mais o quarto só pra você, Vinícius? - Ela foi a primeira a falar.

Vinícius: Não foi tão estranho, o Fê é uma boa companhia.

Eu precisava fazer algo para que elas parassem com essas perguntas envolvendo nós dois. Eu me sentia muito envergonhado e confuso com as respostas dele.

Bianca: Mas e aí, continua com a academia?

Fiz que sim com a cabeça.

Bianca: Falei. - Ela olhou para a Bianca, e eu dei risada.

Começamos a falar de coisas aleatórias, eu contei sobre os primeiros dias lá, sobre os amigos que fiz e sobre os sábados que saímos, mas não falei nada sobre o Rafael, achei melhor deixar essa história de lado.

A Bianca e a Angelica começaram a falar de assuntos tão aleatórios, que conseguiram me distrair. Por alguns minutos eu parei de pensar no Rafael, no Nícolas e no Vinícius, eu apenas brinquei, conversei, dei risada com as palhaçadas da Bianca.

Izaura: Eu queria ter avisado o Vinícius sobre vocês, mas os dois não desgrudam nem por um minuto! Não consegui contar nada! - Ela disse enquanto almoçamos.

Demos risada, eu fiquei um pouco tímido, percebi que o Vinícius também!

Edson: Vocês não se viam desde crianças, e agora se deram tão bem!

Vinícius: Pelo menos um primo tem que ser legal, né? - Ele brincou, fazendo meu pai rir.

Izaura: Que isso, Vinícius! - Ela disse num tom descontraído.

Vinícius: É verdade, só tenho primo chato. Pelo menos um é legal.

Eles olharam pra mim, como se esperassem uma resposta.

Felipe: Eu não tive essa sorte de ter um primo legal. - Brinquei.

Vinícius: Filho da mãe! - Ele riu e bateu no meu braço.

Edson: Bom… - Ele disse depois de um tempo. - Espero que ninguém tenha feito outra tatuagem.

Vinícius: Bom…

Eu entendi na hora o que o Vinícius queria.

Felipe: Estávamos pensando em como contar sobre isso.

Troquei um olhar com o Vinícius, ele pareceu surpreso por eu tomar parte na brincadeira. Meu pai ficou sério, e até mesmo minha tia pareceu acreditar.

Edson: Falem sério.

Eu fiquei olhando-o seriamente, mas o Vinícius não aguentou e começou a rir de repente, então meu pai sacou a brincadeira.

Edson: Olhem lá, hein. - Ele disse rindo.

Vinícius: Não vai ter mais tatuagem, tio! Fica tranquilo.

Edson: Só vou ficar tranquilo quando meu filho estiver de volta em casa, seguro, longe de pessoas que o influenciam a fazer tatuagens.

Os dois deram risada juntos, claro que era brincadeira.

Vinícius: Ele fez porque quis! Não tive culpa!

Depois de almoçarmos, os adultos começaram a organizar a cozinha, tirar a mesa. Minha tia serviu uma torta de limão, estava deliciosa, mas enjoativa. Apesar disso, o Vinícius comeu dois pedaços, enquanto eu só consegui comer um.

Enquanto ele começava o segundo pedaço, a Bianca respirou fundo e soltou de repente no meio de todos: “Fê, eu preciso conversar com você”.

Olhei sério para ela, no que estava pensando?

Felipe: Pode falar. - Respondi sem pensar.

Bianca: Sozinhos, por favor.

Olhei em volta, todos pareciam surpresos.

Felipe: Tá, né… - Dei risada.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-05-04 21:20:37
O Vinícius tem que colocar esse sentimento pra fora antes que Felipe escape dele.😘😘😘😘😘
Por Tyler Langdon em 2017-05-02 12:40:34
Estou amaaaaaando demais. Sorrio, acho fofo e é muito amorzinho. Amo o fato de você nao apressar as coisas entre os personagens, como ocorreu com o Nicolas, sempre da uma expectativa maior e mais motivação pra querermos saber o que vem depois. Está otimo mesmo ❤😍❤
Por luan silva em 2017-05-02 09:22:50
Aí que amorsinho esse capítulo ❤️❤️❤️❤️ Vinicius toma logo uma iniciativa ta na cara q você ta apaixonado pelo Fê, to adorando a angélica e a Bianca ai.
Por Eu Mesmo em 2017-05-01 23:17:06
Estou adorando.