Capítulo 40

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Meu pai ligou para minha tia pouco depois da nossa conversa, eu não fiquei por perto para ouvir, eu fui ao meu quarto e tentei me acalmar. Olhei minhas malas sobre a cama, eu nem cheguei a desfazê-las, me lembrei do sábado em que cheguei e as mesmas malas estavam naquele mesmo lugar, e meus pais na porta do quarto, meu pai nervoso, falando coisas que nunca ninguém deveria ouvir.

Agora estava tudo ali de novo, eu, as malas e meu pai acabara de parar na porta do quarto, eu estava ali em pé, com as malas feitas sobre a cama. Mas agora a situação estava invertida, era eu quem queria ir embora.

Edson: Sua tia achou estranho, mas ficou feliz quando falei que você quer voltar. Eu não entrei em detalhes...- Ele disse entrando e se sentando na cama, me sentei ao lado dele - No começo ela achou que eu estava te mandando de volta na marra. Mas eu garanti que é por sua própria vontade dessa vez.

Dei risada.

Felipe: Ela ficou brava da primeira vez?

Edson: Ficou, depois que você entrou na casa dela aquele dia, ela falou um monte pra mim no portão. Por isso nem entrei, acho que ela nem teria me deixado entrar…

Felipe: Ela aceitou fácil você me levar pra lá?

Edson: Ah, até que sim… Ela só brigou comigo dizendo que o motivo era errado… Mas ela não achou ruim te receber lá. Por que?

Felipe: Eu me perguntei esse tempo todo se ela gostava de mim lá… Se eu não estava atrapalhando ela, coisas assim.

Edson: Deixa de bobagem, sua tia criou um carinho muito grande por você…

Sorri olhando o chão.

Felipe: E eu por eles.

Edson: É, eu imagino… Só me promete uma coisa?

Felipe: O que?

Edson: Não faça mais tatuagens.

Demos risada juntos, e ele passou o braço por cima dos meus ombros, me abraçando. Com a outra mão ele tirou meu celular do bolso e me entregou.

Edson: É seu.

Felipe: Valeu, pai.

Ele beijou minha cabeça e então se afastou um pouco.

Edson: E o Vinícius? Ele é legal?

Me dei conta de que meu pai não tinha visto o Vinícius ainda. Provavelmente ele se lembrava apenas de um garotinho pequeno e sapeca.

Felipe: Ele é. - Sorri sem perceber.

Edson: Faz tempo que não vejo ele… Como ele está?

Felipe: De aparência?

Edson: É. - Ele disse como se fosse óbvio.

Felipe: Aah… - Imaginei o Vinícius e me perguntei por onde começar - Ele tem minha altura, cabelo curto e preto… E o tom de pele dele é difícil de descrever… - Falei sem perceber o sorriso enorme no meu rosto.

Edson: Como difícil? - Ele deu risada.

Felipe: É um tom moreno bem claro, mas bem clarinho.

Edson: Haaam, um exemplo pra que eu consiga visualizar?

Encontrar alguém que meu pai conhecesse para usar de exemplo foi difícil.

Felipe: Nossa… Deixa eu pensar… - Dei risada. Afinal, por que meu pai queria que eu descrevesse o Vinícius? Ele ia vê-lo logo - Sabe aquela série “Eu a patroa e as crianças” que eu adorava assistir?

Edson: Sei.

Felipe: Sabe o Michael? O pai da família.

Edson: Sei.

Felipe: O Vini é mais claro.

Meu pai riu.

Edson: Não ajudou muito, o Michael já tinha um tom de pele bem claro.

Felipe: Aaaah, pai… Eu não sei como descrever… Você vai ver o Vinícius quando me levar pra lá.

Ele riu outra vez.

Edson: Você sorri bastante quando fala sobre ele. Parece se empolgar…

Meu rosto queimou.

Felipe: Ele é bonito. É isso que você queria que eu dissesse? - Perguntei sério.

Edson: Não. - Ele sorriu - Eu não tô aqui pra arrancar palavras de você.

Felipe: Você quer saber se a pessoa que a Bianca falou que tem na outra cidade é o Vinícius? - Ele ficou sério, sua expressão por si só já me dizia “sim, é exatamente isso” - Pai, por favor, eu acabei de terminar o meu primeiro namoro, não vou terminar aqui e sair correndo atrás de outro. Eu tô voltando pra lá pelos motivos que eu já expliquei… E é só.

Edson: É, tem razão… Eu fui indelicado, desculpe. - Ele disse se levantando e saindo do quarto aos poucos - Se arrume, nós vamos pra lá ainda hoje.

Finalmente entramos no carro, quase nem acreditei, afinal, parecia que aquele momento não chegaria nunca.

Edson: Falei com sua tia agora pouco, pra avisar que estamos saindo daqui.

Felipe: E o Vinícius? - Perguntei por impulso.

Edson: Estava lá com ela. Não sabe de nada, sua tia disse que vai fazer surpresa pra ele. - Ele riu. Mas então ele ficou quieto pra se concentrar em tirar o carro da garagem, e acabamos não falando mais.

A viagem foi muito calma, silenciosa, quase não conversamos. O único som dentro do carro era o rádio ligado. Acabei abrindo um jogo qualquer no celular, apenas para passar o tempo. Foi um pouco difícil de me distrair, eu estava ansioso ainda, um pouco tenso, nervoso. Mas, finalmente, depois de uma viagem longa e silenciosa, nós chegamos.

Já estava escurecendo quando paramos em frente a casa da minha tia Izaura. Encarei aquele portão e pensei na outra vez que meu pai me levou ali, eu entrei sem nem mesmo me despedir dos dois. Lembrei de ter ouvido minha tia falando alto com ele logo depois.

Meu pai tocou a campainha, torci para a Izaura não deixar o Vinícius atender, não era assim a surpresa que eu estava imaginando fazer. Alguns segundos depois, a própria Izaura abriu o portão, sorridente, animada, parecia muito feliz. Ela abriu os braços, mas não falou nada, acredito que para não chamar a atenção do Vinícius.

Nos abraçamos, ela me apertou forte.

Izaura: Meu filho de coração. - Disse beijando meu rosto. - Tudo bem?

Acenei uma vez com a cabeça, confirmando.

Felipe: E com você, tia?

Izaura: Aah, tudo ótimo. Melhor agora, esses dois juntos são só alegria… - Acredito que ela se referiu ao Vinícius e eu.

Fiquei surpreso com a animação dela. E então ela se afastou e cumprimentou meus pais, dessa vez não teve gritos entre ela e meu pai, tudo estava muito bem, todos conversando com muita simpatia, sorridentes.

Felipe: E o Vinícius, tia? - Fui direto ao ponto, eu estava ansioso para vê-lo, e não percebi o quanto estava deixando isso evidente.

Ela apenas sorriu, seu olhar foi complicado de descrever, parecia um olhar apaixonado, olhos relaxados, calmos.

Izaura: Está no quarto. Ele nem imagina que você vem. - Dei um passo para dentro, mas então ela me chamou de volta. - Ele tá bem cabisbaixo desde que sua mãe te levou embora ontem.

Não entendi ao certo o que ela queria me dizendo isso, mas eu não respondi diretamente.

Felipe: Posso pegar minhas malas?

Izaura: Isso, pessoal, entrem! Vamos!

Meu pai abriu o porta-malas do carro, eu peguei minhas malas e fui entrando. Minha tia parecia feliz, animada, eu nunca a vi desse jeito.

Entrei em silêncio na casa, meu coração começou a bater mais forte. Parei na porta do quarto dele, fiquei em dúvida sobre como eu deveria entrar: Sem as malas, e contar aos poucos, ou com as malas e dar um susto de uma vez? Pensei bem e acabei voltando até a sala, deixei as malas ao lado do sofá e então voltei ao quarto, abri a porta devagar e fui entrando.

Ele estava deitado, olhando para a parede, de costas para mim, o quarto estava escuro, não dava pra saber se ele estava dormindo ou se estava apenas deitado. Ele vestia uma bermuda e camiseta, esta estava um pouco erguida, eu podia ver o cós da parte de trás da sua cueca.

Entrei devagar, ele nem mesmo se mexeu! Me sentei na minha cama e fiquei observando-o, deixei a porta aberta, o que deixou o quarto bem mais iluminado.

Não demorou muito, talvez um ou dois minutos, no máximo! Ele virou um pouco a cabeça, mas ainda não conseguia me ver. Deve ter estranhado a porta aberta.

Vinícius: Mãe? - Ele chamou - Fecha a porta… - Ele terminou a frase com a voz mais baixa.

Me dei conta de que eu estava sorrindo, eu não sabia dizer há quanto tempo aquele sorriso bobo estava ali.

Felipe: Esqueci de fechar, desculpa. - Sussurrei.

Foi engraçado, ele se assustou, revirou na cama um pouco perdido e se sentou, colocou os pés no chão e ficou me olhando com cara de assustado.

Felipe: Sua mãe tá lá com meus pais. - Completei - Só tem eu aqui.

Ele sorriu, passou a mão no cabelo, tentando arrumá-lo.

Vinícius: Você tá aqui? - Ele pareceu perdido.

Felipe: Acho que tô. - Dei risada.

Vinícius: Não… eu quis dizer… por que você tá aqui?

Felipe: Acho que esqueci umas roupas aqui. - Brinquei. - Vim buscar porque preciso delas pra dormir hoje de noite...

Vinícius: Bom, sua roupa tá aí do seu lado. Se você só veio por causa dela, pode pegar e ir. - Ele usou um tom provocativo.

Me surpreendi, eu não tinha me tocado de que realmente tinha deixado roupas pra trás. Olhei em volta, ela realmente estava dobrada sobre a cama, mas não era roupa pra dormir.

Felipe: Na verdade… - fiz uma pequena pausa - Não vim pela roupa. - Falei um pouco tímido, e só encarei o Vinícius novamente depois de alguns segundos.

Seu sorriso parecia maior a cada minuto, me perguntei o que ele faria quando eu contasse que estava ali para ficar. Me levantei para acender a luz, quando cheguei perto do interruptor, percebi que o Vinícius levantou da cama, bati o dedo no interruptor e rapidamente me virei para ver o que ele estava fazendo. Mas ele me surpreendeu, pois no mesmo instante em que me virei, ele me abraçou.

Felipe: Hã? - Soltei sem querer.

Vinícius: Sei lá… bom te ver aqui de novo.

Retribui o abraço, fiquei assustado com aquela atitude dele, eu não esperava nada parecido. Mas não durou muito, logo ele se afastou e me olhou sorridente.

Felipe: Desculpa ter te acordado… eu nem sabia que tava dormindo. Sua mãe só me disse que você estava no quarto.

Vinícius: Ah, relaxa, Fê… não tem problema. Eu só tava deitado, vi a porta abrindo, mas achei que era minha mãe trazendo roupa pra guardar, sei lá! Aí achei estranho quando a porta não fechou.

Felipe: Entendi, aí eu te assustei.

Vinícius: Assustou? Você quase me matou. - Ele deu risada.

Felipe: Opa, desculpa.

Vinícius: Para de pedir desculpas, não tem problema!

Felipe: Tá, desculpa por pedir tantas desculpas. - Falei para provocar.

Vinícius: Besta… - Ele riu. - Seus pais estão aí?

Felipe: Estão lá na sala, com sua mãe.

Vinícius: Mas e aí… Eles aceitaram, como foi? - ele perguntou em voz baixa, se sentando na cama, e eu me sentei ao seu lado.

Felipe: Meu pai aceitou com um pouco de dificuldade. Foi meio estranho…

Vinícius: Ah, tá… Que bom, né… Pra você e pro Nícolas… - Ele deu um sorriso fraco. Bom… vamos lá, quero ver seus pais.

Ele não podia ir até a sala, minhas malas estavam lá. Eu queria contar pra ele de outra forma.

Felipe: Calma aí, eu preciso conversar com você primeiro.

Ele pareceu ficar sério.

Vinícius: O que foi? Algum problema?

Felipe: Sua mãe não te contou? - Fingi estar preocupado.

Vinícius: Não, ela não me disse nada. O que foi?

Ele pareceu muito preocupado. O que será que estava se passando pela cabeça dele? Ele deve ter imaginado algo grave, pela sua cara.

Felipe: Então espera aqui, eu vou buscar uma coisa pra você ver.

Vinícius: Tá bom, espero. - Ele ainda pareceu preocupado.

Deixei o quarto e fui até a sala, os meus pais e minha tia ficaram me olhando o tempo todo. Peguei as malas e voltei ao quarto, entrei de uma vez com as malas, nem pensei mais em fazer teatro.

Felipe: Dá uma olhada no que eu trouxe.

Ele voltou a sorrir, mesmo sem saber se eu estava ali por vontade própria ou forçado. Coloquei as malas em cima da minha cama e quando olhei novamente, o Vinícius estava de braços cruzados, com um sorriso enorme no rosto.

Felipe: A cama ainda tá livre?

Vinícius: Tá brincando? Claro que tá! - Ele riu. - Isso é sério? Não tá brincando comigo?

Felipe: É muito sério… - Sorri. - Eu pedi pra sua mãe me deixar voltar pra cá, ela deixou, meus pais também, e aqui estou.

Vinícius: Cara, eu nem acredito! - Ele continuou rindo, seu sorriso era tão contagiante que eu comecei a rir junto. - Você vai voltar a morar aqui? Sério mesmo?

Felipe: Vini, é sério! Eu estou voltando a morar aqui. Sua mãe aceitou, meus pais aceitaram… só falta você aceitar. - Dei risada.

Vinícius: Cara, claro que eu aceito. A cama é sua, e o quarto e o guarda-roupas são nossos! - Ele disse de um jeito absurdamente fofo.

Felipe: Obrigado. - Respondi sem graça. Eu não sabia como reagir a todo esse carinho.

Vinícius: Mas, você está vindo por vontade própria, ou seus pais estão te forçando? - Ele sussurrou a pergunta, preocupado.

Felipe: Porque quero. Eu disse que pedi aos meus pais e a sua mãe, lembra? - Dei risada.

Vinícius: Ah, é… - Ele disse sem perder aquele sorriso. - Mas… E o Nícolas, o que houve? - Ele ficou um pouco mais sério.

Respirei fundo, olhei em seus olhos por poucos segundos e me sentei na cama antes de responder.

Felipe: O Nícolas e eu… bom, nós terminamos…

Vinícius: Poxa, eu sinto muito. - Não parecia sentir, mas ignorei - Mas por quê terminaram?

Felipe: Ah, é complicado… - Menti, na verdade era bem simples - Depois falamos sobre isso, tá?

Ele concordou com a cabeça, e então sorriu de novo, parecia não ser capaz de se segurar.

Felipe: Depois a gente arruma essas malas, né? Acho que meus pais querem te ver também.

Ele concordou com a cabeça, seus olhos não se desgrudavam dos meus.

Vinícius: Depois eu te ajudo com as malas. - Ele disse como se tivesse acabado de acordar de uma hipnose. O que eu achei um pouco engraçado. - É… vamos ver seus pais.

Deixei o quarto dando risada do jeito dele, não por ser engraçado, mas por ser muito fofo.

Chegamos na sala e meus pais pareceram felizes ao ver o Vinícius, eles se cumprimentaram, e toda aquela coisa de “tudo bem? tudo bem” que eu acho um pouco entediante e chato de escrever (hehehe).

Edson: Olha como você cresceu, rapaz! Eu lembro de um garotinho pequeno e tímido.

O Vinícius pareceu ficar sem graça.

Edson: Parece que continua tímido. - Ele riu - Você tem razão, Fê, é difícil de descrever, mas é bonita. - Ele piscou pra mim quando terminou de falar.

Levei alguns segundos para perceber que ele estava falando do tom de pele do Vinícius, e da nossa conversa naquele dia mais cedo. Fiquei muito envergonhado quando o Vinícius me olhou, curioso pra saber do que meu pai estava falando.

Edson: E aí, Vinícius. Surpreso?

Vinícius: Um pouco. - Ele riu.

Edson: Mas olha, se meu filho voltar pra casa com mais uma tatuagem, vou convencer sua mãe a te mandar lá pra casa por alguns dias. - Ele disse brincando.

Vinícius: Felipe, socorro… - Ele disse me olhando de um jeito engraçado. - Ninguém vai fazer tatuagem, prometo.

Meu pai deu risada e bateu amigavelmente no ombro do Vinícius, que sentou-se ao lado da minha mãe, e eu me sentei ao lado dele.

Izaura: Jantam com a gente?

Edson: Ah, não, Izaura. Vai ficar muito tarde…

Izaura: Bobagem, você viaja o tempo todo… está acostumado com estradas. Eu vou pedir uma pizza, pra ser mais rápido, o que acham?

Meus pais se entreolharam, eles eram um dos poucos casais que eu conhecia que tinham essa coisa mágica de se entenderem com apenas um olhar.

Edson: Ok, mas não vamos ficar até muito tarde!

Comentários

Há 2 comentários.

Por Guerra21 em 2017-04-22 21:31:12
Aí meu coração, kkkk, não foram grandes emoções, espero que aconteça o que desejei no comentário do episódio anterior.
Por Elizalva.c.s em 2017-04-22 15:15:35
Esse Vinícius é muito fofo estou a cada capítulo me apaixonando mais por ele.😍😍😍😘😘😘