Capítulo 38

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Laura: Se troca. Coloca uma roupa bonita! - Ela disse sorrindo.

Felipe: Por que?

Laura: Só faz o que eu disse! Rápido!

Felipe: Mas… Está na mala... - Falei saindo apressado da cozinha.

Peguei todas as malas no carro e voltei pra dentro de casa com um pouco de dificuldade, entrei no meu quarto, que estava exatamente como lembrava que havia deixado. Joguei as malas em cima da cama e abri uma por uma, procurando uma roupa bonita.

Mas o que minha mãe queria dizer com bonita? Social? Ou uma roupa não tão formal, mas também não tão largada como a que eu estava usando naquele momento?

Acabei vestindo uma calça jeans, camisa polo branca, com alguns detalhes azuis escuro e vermelho, e um tênis comum... Nem mesmo tomei banho, o que era o mais adequado já que eu estava vindo direto da academia.

Quando voltei pra cozinha, meus pais estavam cochichando entre si, minha mãe se levantou no mesmo instante.

Laura: Olha que lindo! - Ela sorriu.

Edson: E a academia?

Felipe: Foram só três meses, não fez muita diferença…

Edson: Fez sim, olha o bração do rapaz! - Ele tentou brincar.

Laura: Vamos? - minha mãe interferiu.

Felipe: Vamos... - Falei empolgado.

Meu pai não foi com a gente, acho que seria demais por uma noite, ele precisava de um tempo. Eu sabia que essa nova fase não seria tão fácil assim.

Felipe: Mãe? - falei no carro, a caminho da casa do Nícolas.

Laura: O que?

Felipe: Como vocês descobriram sobre o Nicolas?

Laura: Um bilhete no seu estojo... Já até jogamos fora...

Felipe: Ah, claro...

Eu devia ter imaginado isso, eu deveria ter previsto, na verdade, e deveria sempre verificar meu estojo depois da aula. Mas não levei em consideração que meus pais poderiam fuçar até mesmo no meu estojo.

Laura: Desculpa, filho...

Felipe: Esquece, mãe...

Enfim, estacionamos perto da casa do Nicolas. Por pura coincidência, a Bianca estava do lado de fora conversando com um garoto. Estavam bem próximos, quase se beijando. Seria muito massa aparecer ali bem naquele momento e acabar com o clima.

Laura: Eu vou embora, pra você ficar mais à vontade!

Felipe: Tem certeza?

Laura: Tenho. - Ela riu.

Abri a porta do carro e desci, logo depois minha mãe foi embora. A Bianca nem me percebeu ali, fiquei alguns segundos encarando a casa do Nicolas, foi estranho pensar que naquela mesma manhã eu parecia tão longe desse momento, e agora eu estava ali, mas por dentro, tinha algo errado.

Bianca: Hey! - Ela gritou, olhei pra ela e ergui a mão acenando. Ela veio andando na minha direção feito louca, com os braços abertos como quem me chamava pra uma briga - Você perdeu o juízo? Ficou maluco? - Achei que ela ia me bater, mas, na verdade, ela me deu um abraço apertado.

Felipe: Qual é? Também vai chorar? - Falei retribuindo o abraço.

Bianca: Cala a boca!

O rapaz que ela estava paquerando chegou mais perto, e eu vi que era o Giovani. Pensei em perguntar, mas achei melhor não, eu ia bater nela se soubesse que tinham voltado.

Felipe: Por que você tá aqui?

Bianca: É só uma pequena reunião pelo aniversário do Nícolas, a Angélica, eu, os pais dele… Grande reunião, né? Ele não queria festa, mas também não deixamos passar sem nada.

Felipe: Por que não queria festa?

Bianca: Sei lá.

Felipe: Ele deu trabalho?

Bianca: Um pouco. No começo ele só falava de você, ficou muito preocupado, depois parou de falar tanto, mas ficou cabisbaixo, triste... Tentamos fazer ele sair, distrair, mas ele não queria nem sair de casa. Mas hoje…

Felipe: Hoje o que?

Bianca: Ele parece… Bem…

Felipe: Bem o que?

Bianca: Não nesse sentido, besta! Falei que ele parece bem, não tá tão depressivo.

Felipe: Ah. - Falei encarando a casa - Eu vou entrar.

Bianca: Eu vou com você.

Fui andando, a cada passo, minhas pernas pareciam mais pesadas. Entrei pelo portão, que a Bianca tinha deixado aberto quando saiu com o Giovanni, parei na porta da sala, ouvi a voz da Angélica, mas então a Bianca me puxou pra trás.

Bianca: Não vai entrar de uma vez, vai matar todo mundo do coração, deixa eu entrar.

Ela abriu a porta sem me esperar responder, ninguém lá de dentro pôde me ver ali fora, nem eu pude vê-los, mas pude ouvir a Bianca dizendo:

Bianca: Gente, chegou um convidado inesperado…

Angélica: Oi, Giovanni!

Nícolas: Entra aí, cara… - A voz dele pareceu bem, tive uma intuição sobre o que me esperava.

Bianca: Aaah, não tô me referindo à ele… - ela disse parecendo envergonhada - É… outra pessoa que tá ali fora…

Angélica: Quem?

Bianca: Entra. - Ela disse colocando a cara para fora.

Respirei fundo, e depois de alguns passos custosos eu entrei e fiquei à vista de todos, o primeiro olhar que encontrei foi o do Nícolas, ele estava igualzinho, nos olhamos fixamente, ele parecia assustado.

Os pais do Nícolas e a Angélica estavam na sala também, estavam comendo pizza e bebendo refrigerante.

Felipe: Oi.

O Nícolas ficou me encarando, sem reação, a Angélica se levantou e me abraçou forte.

Angélica: Me desculpa, eu fui muito idiota com você… Eu só tava confusa, nunca quis te ofender! - Sim, essa foi a primeira coisa que ela me disse.

Felipe: Tá tudo bem… Eu te entendo. - Falei abraçando-a de volta.

Angélica: Senti saudade!

Felipe: Eu também, Angélica!

Ela se afastou e meu estômago revirou quando vi o Nícolas em pé logo atrás dela… Ele se aproximou e me abraçou. Não foi o abraço mais forte do mundo, foi apenas um abraço… Senti mais emoção no abraço da Angélica. Fez eu me sentir um grande idiota por estar ali.

Nícolas: Que bom que você voltou.

Felipe: É, finalmente as coisas se acertaram.

Ele sorriu e se afastou, achei extremamente fria a reação dele.

Depois cumprimentei seus pais. A Célia parecia feliz por me ver, ela me abraçou e sussurrou “Estou muito feliz em vê-lo”, o Eduardo me cumprimentou com muita simpatia e educação.

Angélica: Senta aí com a gente, vamos comer!

Me sentei entre o Nícolas e ela! Me senti desconfortável, de um lado eu tinha meu namorado, e do outro, minha ex, foi até engraçado.

Célia: E então, Felipe… O que houve?

Tive um pouco de medo de reponder, olhei rapidamente para o Eduardo ali, ele não sabia de nada antes de eu desaparecer.

Nícolas: Tá tudo bem, meu pai já sabe.

Encarei-o, que deu um meio sorriso para mim.

Felipe: Ah… Bom… Meus pais descobriram tudo… E não reagiram bem. Eles me mandaram pra casa da minha tia, em outra cidade, um pouco longe daqui… Me isolaram, tiraram meu celular, me deixaram sem internet…

Angélica: E sua tia era legal? Ou ela te castigava e tal? - Ela perguntou rindo.

Felipe: Minha tia Izaura é incrível… Viúva, cuida do filho sozinha, sustenta a casa, é uma mulher incrível, sem dúvida nenhuma.

Bianca: E seu primo? Era bacana?

Respirei fundo, eu já estava sentindo falta do Vinícius por perto.

Felipe: É um cara incrível também, sem dúvida.

Bianca: Mais velho, mais novo?

Felipe: Mesma idade… - Falei pensativo.

Bianca: E como foi o tempo que você passou lá?

Felipe: Bom… No começo foi difícil… - parei para escolher bem as palavras, aquele interrogatório não estava me fazendo muito bem - Mas era uma rotina normal, escola, casa, fiz academia esse tempo todo…

Angélica: Eu ia comentar sobre isso… Você parece um pouco maior, sua postura mudou…

Felipe: É… E eu fiz uma tatuagem.

Todos ficaram me encarando como se não acreditassem.

Bianca: Isso que é um primo influente… - Ela riu.

Nícolas: Como assim fez uma tatuagem?

Felipe: Ué… - falei erguendo a manga da camisa.

Bianca: Que da hora!

Sorri, eu já tinha me acostumado com a tatuagem, aquele nervosismo por possíveis brigas tinha passado.

Durante toda a conversa e todas as perguntas que fizeram, eu pude refletir mais sobre tudo o que aconteceu, e algumas perguntas deles me faziam pensar como eu estava diferente, é como se eles conhecessem outra versão minha.

Depois de uma longa conversa, que acabou tomando outros rumos fora o que houve comigo, decidiram cortar o bolo. A própria Célia foi buscar, a Angélica e o Nícolas ajudaram a trazer os pratos e garfos. E então cantamos parabéns.

Célia: Vai, Nícolas, hora de cortar o bolo, pra quem vai o primeiro pedaço?

Nícolas: Pode cortar, todos vocês são especiais, não quero escolher um.

Trocamos um olhar sério, talvez o meu tenha sido mais triste do que sério. Antes era só dúvida, agora eu tinha certeza do que estava acontecendo.

Depois de comer bolo, estavam todos conversando sobre faculdade, menos o Nícolas e eu, estávamos quietos, apenas ouvindo. Nessa hora olhei pra Bianca e flagrei um sinal dela para o Nícolas. Não disfarcei, olhei para ele, que respirou fundo.

Nícolas: Podemos conversar? Lá fora…

Felipe: Claro.

Todos ficaram quietos enquanto deixamos os pratos sobre a mesa de centro da sala e saímos para a calçada.

Felipe: O que foi?

Nícolas: Três meses, Felipe…

Felipe: Um bom tempo pra chegar aqui e ser recebido com aquele abracinho, né? - Deixei escapar.

Nícolas: Não, você não entendeu! Foram três meses sem me ligar outra vez, sem me dar qualquer sinal de vida! Aí você aparece de repente e fala que tava vivendo super bem, fazendo academia, fazendo tatuagem… Se seus pais te largaram lá do jeito que você disse, com que dinheiro você fez tatuagem? Com que dinheiro pagou academia???

Felipe: Meu primo pagou a tatuagem pra mim. - Respirei fundo - E minha tia convenceu meu pai a pagar academia…

Nícolas: Ah, que ótimo!

Fiquei observando sua expressão.

Felipe: Achei que eu encontraria as coisas um pouco diferentes.

Nícolas: Achou que depois de três meses todos estariam exatamente no mesmo lugar que você deixou, só te esperando?

Felipe: Todos não, só você…

Nícolas: Eu gostaria muito de estar…

Felipe: Mas você não me ama mais. E, já que é pra ser tão sincero e direto, no fundo eu também tô duvidando do que sinto por você, já faz algum tempo.

Ele fez que não com a cabeça.

Nícolas: Eu sinto muito, Fê… Mas tá tudo muito diferente pra mim, eu acho que você sente o mesmo…

Fiz que sim com a cabeça.

Felipe: Eu voltei até aqui… Briguei com meus pais, meu pai aceitou!

Nícolas: Me dói muito dizer isso, Fê… Você é um cara incrível, mas eu acho que o que tinha entre nós era só uma coisa do momento… - ele fez uma pausa pra escolher as palavras - Que acabou passando depois desses meses.

Confirmei lentamente com a cabeça. Como ele pôde ser tão insensível?

Felipe: Tem outra pessoa, né? Pode falar.

Ele negou com a cabeça.

Felipe: Acho que foi um erro voltar pra cá. Eu achei que tava voltando pra casa, mas eu já tava em casa…

Nícolas: Ué, gostou de ficar confinado na casa da sua tia? - ele perguntou com um tom sarcástico.

Felipe: Não espero que você entenda, mas três meses confinado na casa da minha tia, com a companhia do Vinícius, valeram mais do que essas últimas horas que eu passei aqui. E com certeza foram muito mais agradáveis. - Fiz uma pausa - E me faça um favor, não fica de sarcasmo ou ironia tentando insinuar que eu tava na casa da minha tia por vontade própria, e não forçado.

Ele fez uma cara feia.

Felipe: E você não merecia um confronto meu com meu pai… - falei sem pensar.

Ele mordeu o lábio, mas não disse nada.

Felipe: Sinto muito ter atrapalhado seu aniversário… Vou te deixar aproveitar o resto da noite. Boa sorte pra você. - Falei dando-lhe as costas.

Vinícius: Pra onde você vai?

Felipe: Pra casa. - respondi sem olhar para trás.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-04-20 22:12:02
Po eu tava torcendo muito pro Nicolas, mais depois desse balde de gelo que jogou no pobre Felipe eu quero mais e que Felipe volte pra casa de sua tia e fique com o Vinícius pois ele vai ter mais valor.😍😍😍😍😍😘😘😘😘
Por Guerra21 em 2017-04-19 22:33:11
Tudo bem que ele poderia ter dado notícias, mas não precisava ser tão insensível Nicolas! Caralho o cara também tem seus motivos, vc poderia muito bem ter ido atrás do Felipe, vc sim tinha essa chance e não fez, sabe o que eu desejo, pois é, isso mesmoooo, espero que o Felipe encontre um amor tão forte quanto o seu, espero que o Vinicius esteja realmente apaixonado pelo Felipe e que o mesmo possa corresponder.