Capítulo 37

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Laura: Meu filho! - Ela disse se levantando do sofá e vindo até mim.

Ela me abraçou, mas eu não a abracei de volta. Só depois de alguns segundos, quando percebi que ela estava chorando.

Felipe: Oi, mãe...

Laura: Me perdoa…

Me assustei com o que ela disse. Apertei o abraço, eu não estava entendendo, só que estava começando a me comover.

Felipe: Se acalma, mãe...

Laura: Me perdoa, meu filho! Eu não te protegi. Eu só abaixei a cabeça e não fiz nada por você!

Felipe: Se acalma, mãe... - Insisti. Troquei olhares com a Izaura, ela parecia preocupada, e então eu me lembrei de tudo o que eu tinha dito sobre não ser eu que abandonaria minha família, mas ainda não fui capaz de dizer “eu te perdoo”.

Ela se afastou um pouco, passou as mãos nos meus braços dizendo: "Você cresceu, tá fazendo academia, sua tia contou!".

E quando ela ergueu a manga da camisa e olhou a tatuagem, eu fiquei preocupado. Ela me olhou como quem não gostou, mas não falou nada na hora. Provavelmente essa conversa ficaria pra mais tarde.

Felipe: E por quê você tá aqui? - Fui bem direto.

Laura: Você vai pra casa comigo!

Eu quase caí de costas.

Felipe: E o pai?

Laura: Vamos conversar quando chegarmos em casa. Não se preocupe com ele! Vá pegar suas coisas...

Saí apressado da sala, sem nem olhar pro Vinicius. Cheguei ao quarto e peguei as malas pra começar a arrumar minhas roupas.

Quando abri o guarda roupas, eu me senti mal, aquela tinha se tornado a minha casa, e com certeza eu sentiria muitas saudades dali. Fiquei parado encarando o guarda roupas enquanto pensava.

Vinicius: Então... Você vai mesmo? - Ele perguntou da porta.

Felipe: É, eu tenho que dar um jeito nas coisas.

Vinicius: Sabe que sempre vai ser bem vindo aqui, né? Se quiser voltar...

Felipe: É claro! - Sorri pra ele.

Vinicius: Quer ajuda? - Ele disse se aproximando.

Felipe: Claro… - Falei me sentindo estranho, como se não tivesse certeza.

Ele me ajudou em silêncio, colocamos as roupas nas malas, eu estava com mais pressa que ele. Pois ele caprichava, colocava tudo bonitinho. Eu já colocava de qualquer jeito, sem me preocupar muito com organização.

Felipe: O guarda roupas é seu de novo... - Falei quando fechei a última mala.

Vinicius: É...

Felipe: Pô, não fica triste...

Vinicius: Não vai dar, não... - Ele disse esfregando os olhos.

Felipe: Você mudou minha vida, Vini...

Vinicius: Que exagero... Eu não fiz nada...

Felipe: Não? Você me recebeu bem, me aceitou, e você me deu coragem pra ir pra casa e brigar pelo o que eu quero... Até fiz uma tatuagem… - Parei pra refletir por um momento, até aquele momento eu não tinha pensado nisso - Eu cresci muito aqui com você.

Vinicius: Eu não tive nada a ver com a tatuagem...

Felipe: Teve sim... Acha que eu teria feito sozinho? Me senti seguro contigo pra ir lá e fazer… E você vai levar parte da culpa se meus pais brigarem comigo por causa dela. - terminei com um tom de brincadeira.

Ele sorriu.

Felipe: Não vou esquecer de você, então relaxa! Vamos nos falar sempre...

Vinicius: Então tá... - Ele esfregou o olho de novo - Boa sorte lá! Conta comigo!

Nos abraçamos, ele me apertou forte. E de repente, nós dois estávamos chorando.

Vinícius: Vou sentir sua falta, cara...

Felipe: E eu a sua!

Logo nos separamos, ele estava bem vermelho. Eu toquei seu ombro e ele me ajudou a levar as malas pra sala.

Chegamos na sala com os olhos inchados.

Izaura: Imagina que choraram… - ela riu.

Laura: Se deram bem, Izaura?

Izaura: Você nem imagina! Não se separavam nem por um minuto!

Minha mãe nos olhou e sorriu.

Laura: Nas férias o Vinícius vai passar uns dias em casa, né?

Vinícius: Se eu não for atrapalhar, claro que vou.

Felipe: Claro que vai, sem essa de atrapalhar.

Laura: Vamos? Ainda temos um belo caminho pela frente.

Felipe: Vamos...

Abracei a Izaura e agradeci por tudo, ela me abraçou forte também, e depois eu abracei o Vini de novo. Seguramos o choro dessa vez.

Ele me ajudou mais uma vez a levar as malas até o carro. Colocamos no porta malas! Não enrolamos mais, a minha mãe parecia ter pressa.

Laura: Seu pai tá em cima do muro. Não decide o que fazer... - Ela disse já dentro do carro, dirigindo.

Felipe: Tá. E por que você veio me buscar?

Laura: Porque eu decidi! E quando sua tia me disse que você queria voltar resolver as coisas, eu pensei que devia vir.

Felipe: O pai sabe?

Laura: Que eu vim te buscar? Não... Ele ainda não estava em casa quando saí... Mas não se preocupe.

Felipe: Pra você é fácil falar.

Laura: Filho, nos últimos três meses eu tive tempo de sobra pra pensar. Eu to decidida, e não vou te abandonar dessa vez!

Felipe: Ou seja, mesmo que eu diga que não mudei... Que ainda sou gay!?

Laura: Eu sei que não mudou, e você continua sendo meu filho. E eu continuo te amando!

Felipe: Obrigado, mãe! Eu te amo, também.

Laura: Não sabe como senti sua falta em casa... - Ela disse com voz trêmula.

Felipe: Não chora… - Pedi.

Ela fez que sim com a cabeça e tentou segurar o choro. Fiquei com medo de perguntar sobre o Nicolas, e então ela começou a me perguntar sobre a escola, os amigos, o Vinícius. E eu acabei não falando sobre o Nicolas.

Finalmente, depois de uma longa viagem, encostamos o carro em frente de casa, e ela desceu primeiro, deixamos as malas no carro e entramos, minha mãe na frente.

Ver aquela casa depois de três meses foi reconfortante. Mas eu não me sentia em casa.

Quando entrei na sala, meu coração bateu forte. Ouvi barulho na cozinha, meu pai devia estar lavando louça.

Minha mãe entrou na frente.

Edson: Chegou!? Onde estava?

Laura: Fui buscar o nosso filho! - Ela disse com a voz firme.

Eu já estava na porta da cozinha, meu pai estava de costas pra mim, e quando se deu conta do que minha mãe estava falando, ele se virou e olhou direto pra mim.

Felipe: Oi.

Ele ficou me olhando, por um momento achei que fosse chorar, mas depois senti firmeza nos seus olhos de novo.

Edson: Por que?

Felipe: Porque essa palhaçada já deu o que tinha que dar...

Laura: Não da mais pra continuar assim, Edson...

Edson: Por que achou que podia voltar?

Laura: Porque ele pode! - ela disse logo que ele terminou a perguta, sem nem me dar tempo de pensar em uma resposta - Eu não vou mais abrir mão do meu filho! Se você não quer, sai você.

Ele encarou minha mãe assustado.

Laura: Eu carreguei ele por 9 meses na minha barriga, eu trouxe ele ao mundo, alimentei, vi ele crescer, e amo ele mais do que a qualquer outro! Então não venha me pedir pra abrir mão do maior presente que eu recebi de Deus!

Imaginei que aqueles três meses não foram nada saudáveis para o relacionamento dos dois, pela forma como estavam se falando ali.

Edson: Pois é... Carregou ele por nove meses pra que agora ele faça isso com você!

Laura: Olha, Edson, já discutimos isso muitas vezes, e eu vou repetir quantas vezes forem necessárias... Pode não ser o que esperávamos dele, mas ele não está fazendo nenhum mal a ninguém... Ele só quer namorar, amar, como nós fizemos quando éramos jovens... Se é com garotos ou garotas, pra mim é indiferente. Desde que ele tenha responsabilidade e caráter, e…

Ele ficou me encarando, eu percebi que ele estava diferente agora, estava ouvindo melhor, e parecia menos "agressivo".

Edson: Laura, pensa bem no que os outros vão pensar, no que meus amigos vão falar! Imagina como vão zombar de mim! Eu não te criei pra isso, Felipe!

Felipe: Não! Não criou! - tomei a frente da minha mãe - Tão pouco me criou pra que eu viva pra você! Você me criou pra eu crescer, formar minha própria personalidade e tomar as decisões pra minha própria vida! Você mesmo dizia, quando eu era pequeno, que quando eu crescesse, eu teria a responsabilidade de construir a minha vida, ter minha casa, meu serviço, minha família! Conquistar tudo o que eu quisesse! Então me deixa fazer isso! Caramba! Você tá querendo fazer as escolhas no meu lugar porque você acha que o que eu to fazendo não é certo! Mas se você acha que não é certo, ótimo, porque você não o fez, você seguiu o caminho que VOCÊ julgou certo! Apesar das críticas, das pessoas que tentaram te convencer do contrário, você se decidiu e seguiu firme pra ser o que você queria ser! E se você se preocupa mais com a opinião dos seus amigos do que com seu próprio filho, então eu acho que tô perdendo tempo tentando entrar num acordo com você! É melhor que nunca, em momento nenhum você diga que eu abandonei minha família, porque eu NÃO abandonei, eu fiquei aqui até o último minuto tentando conversar com minha família, e quem me chutou, quem me abandonou foi você! Você se preocupou mais com a opinião daqueles que dizem ser seus amigos do que com a sua própria família, seu próprio filho! Você aprovando ou não, pai, eu sou homossexual, e eu não vou passar o resto da vida fingindo ser algo que eu não sou. Porque eu nunca vou ser feliz assim!

Edson: Então quando essa conversa acabar, você vai correr na casa do seu namoradinho?

Felipe: Sim, eu vou! - Falei me arrepiando.

Edson: Você tá escolhendo ele e abandonando seus pais!

Felipe: Não, não tô escolhendo só ele! To escolhendo vocês todos! Acha que to aqui discutindo porque gosto de brigar? To aqui porque ainda acredito que a gente possa resolver isso, como uma família!

Ele parou de falar mais uma vez, ficou me encarando, algo me dizia pra continuar, pra insistir, falar mais e mais, porque ele estava a um passo de desabar.

Felipe: Pensa um pouco, pai... Você não pode decidir quem eu sou, nem o que eu sou… Ou o que eu devo ser, fazer… Você sempre me ensinou a respeitar os outros, a cuidar e proteger quem eu amo, e agora você tá indo contra tudo o que me ensinou! Você vai conseguir viver o resto da sua vida sabendo que eu tô fingindo um relacionamento héterossexual só pra tudo ficar certo no seu “mundo de Edson”? Ou se você me chutar pra fora de uma vez, você acha que vou ser feliz sem minha família?

Eu tive vontade de chorar quando ele ficou vermelho e seu olhos se encheram de lágrimas. Ele esfregou o rosto e respirou fundo.

Fiquei em silêncio, ele passou a mão no cabelo, deu alguns passos para o lado e se virou novamente, como se fosse me bombardear… Mas sua voz falhou, nenhuma fala saiu. E então ele soltou todo o ar, seus olhos não aguentaram mais segurar as lágrimas, e ele começou a chorar.

Edson: Bom… Tá, tá… Eu tô decepcionado, não vou negar… Mas me dá um tempo pra pensar, eu preciso assimilar isso tudo… - Ele disse com a voz trêmula. Apesar do seu choro, eu senti muita frieza na sua reação.

E depois que disse isso, já aos prantos, ele chegou mais perto de mim e me abraçou forte. Mas muito forte, como se eu fosse tentar escapar. Ele não disse nada, apenas ficou abraçado. Acho que ele nem tinha o que dizer, e eu também não! A mudança foi tão drástica que eu ainda não estava acreditando que ela tinha acontecido de verdade. Cheguei a pensar que dali alguns instantes o Vinícius me acordaria pra irmos pra escola.

Mas não, o abraço era bem real, as lágrimas do meu pai e o beijo que ele me deu antes de me soltar também foram bem reais.

Edson: Eu não vou mais ser um problema, volta pra casa… Vai ver o Nícolas… Eu vou me acostumar com isso.

Felipe: Você não é um problema, pai. Só tentou me impedir de seguir um caminho que você não seguiria!

Ele fez que sim com a cabeça, enxugou as lágrimas e depois segurou a mão da minha mãe.

Edson: Acho que podemos conviver com isso... - Ele disse com um sorriso fraco. Eu ainda não senti muita firmeza na sua decisão, principalmente por ter sido uma mudança brusca na forma de pensar.

Laura: Eu tenho certeza que podemos... - Ela sorriu.

Eu não estava tão emocionado quanto achei que estaria nesse momento, por dentro eu me questionava, mas agora tudo estava certo, e eu poderia ir até o Nicolas!

Minha mãe e eu nos entreolhamos, ela sabia muito bem no que eu estava pensando.

Laura: Nicolas?

Felipe: Nicolas... - Falei meio sem graça.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-04-20 21:44:03
Muito bom,espero que Nicolas ainda esteja o esperando.😘😘😘😘😘😍😍😍
Por luan silva em 2017-04-18 22:29:15
Ai to sentindo alguma coisa estranha, espero q não seja nada...
Por Tyler Langdon em 2017-04-18 22:24:41
Nicolas vai ta bem de boy novo ou viajado... (assim espero kkkkkk) Obviamente o romance com o vini é mais verdadeiro 😍😍😍
Por Guerra21 em 2017-04-18 21:40:53
Kkkk, Quanto suspense!