Capítulo 3

Parte da série Tribulações

Passei o resto do dia pensando no Túlio... Mas eu fiquei encucado mesmo com o jeito que ele riu na hora que me perguntou com que tipo de pessoa eu namoraria.

Aquela quarta feira foi exatamente igual a terça, mas a professora de filosofia passou um trabalho em duplas pra entregar até o final da aula. Eu acabei fazendo com o Nicolas, enquanto a Angélica fez com a Bianca.

Felipe: E como tá a mudança, estão terminando de se ajeitar?

Nicolas: Aah, tá caminhando a passo de tartaruga, mas estamos sim.

Felipe: É, mudança é complicado.

Nicolas: Eu que o diga... - ele riu.

Felipe: Deixou alguma namorada na sua cidade?

Nicolas: Deixei nada, só alguns amigos. E poucos...

Felipe: Entendo...

Nicolas: Já teve que encarar mudança?

Felipe: Não de cidade, só mudei de casa, mas tipo, dentro da mesma cidade.

Nicolas: Entendi... Aah, de cidade é tenso.

Felipe: Imagino. É sua primeira mudança?

Nicolas: Sim, é… - ele sorriu - Eu tô meio perdido no meio de tudo.

Dei risada junto com ele, e então a professora nos chamou a atenção por conta da nossa conversa paralela. Fiquei sem graça, não imaginei que todos estavam ouvindo. Ficamos quietos depois disso, falamos apenas do trabalho.

Na hora do intervalo, saímos nós quatro juntos, mas assim que saímos da sala, a Angélica tocou meu ombro e me empurrou pra longe deles.

Angélica: Preciso falar com você...

Felipe: Ai, o que é?

Angélica: O que foi aquilo ontem?

Felipe: Com o Túlio?

Angélica: É, com o Túlio...

Felipe: Demos mais uma volta só... Ele perguntou se eu namorava, e com que tipo de pessoa eu gostaria de namorar.

Angélica: E você respondeu o que?

Felipe: Aah, falei que tinha que ser uma pessoa simpática, que gostasse de mim de verdade... E perguntei sobre ele, que disse a mesma coisa... Mas foi estranho porque quando descrevi a pessoa que eu gostaria de namorar, ele deu uma risadinha estranha.

Angélica: Talvez tenha achado engraçado o que você disse... - ela riu.

Felipe: Sei lá... Se fosse isso ele não teria dito a mesma coisa...

Angélica: Aah, mas relaxa... E cuidado com ele, Fe... Vocês acabaram de se conhecer...

Felipe: Relaxa, Angélica...

Angélica: Relaxa, é? Não quero você se metendo em encrenca...

Felipe: Não vou... - falei enquanto voltávamos pra perto dos dois.

Na quarta de tarde fomos só a Angélica e eu de novo, porque a vó da Bianca parece que só piorava... E chegando no parque, nós logo vimos o Túlio sentado no mesmo banco, sozinho. Ele sorriu e se levantou quando chegamos perto.

Túlio: Oi Angélica, oi Felipe...

Respondemos e já saímos andando.

Túlio: A outra menina não vem?

Angélica: Não... Ela tá com uns probleminhas em casa...

Túlio: Entendo...

Nossos olhares se encontraram, eu fiquei nervoso e olhei pra frente.

Túlio: Já começaram as aulas de vocês né?

Fizemos que sim com a cabeça.

Túlio: As minhas também... Terceirão! - ele riu.

Felipe: Que inveja, eu to no segundo ainda.

Túlio: Ah, tá perto... - ele tentou animar, mas não deu muito certo.

Angélica: Você namora, Túlio? - ela perguntou depois de um tempo em silêncio.

Túlio: Não, tô solteiro.

Angélica: Ah, sei...

Fiquei atento, será que ele realmente não ia perguntar sobre ela? E realmente não perguntou, logo ele puxou outros assuntos, e esqueceram totalmente essa conversa de namoro.

Angélica: Bom, tá na hora... Vocês vão ficar mais um pouco? - ela disse depois de várias voltas.

Felipe: Você vai ficar? - perguntei ao Túlio.

Túlio: Vou dar mais umas voltas.

Felipe: Vou ficar também, Angélica.

Angélica: É que eu to cansada... - ela sorriu - Até amanhã, então!

Nos despedimos dela juntos e continuamos andando.

Felipe: Sua tia não vem mais?

Túlio: Aah, de vez em quando ela vem com meu sobrinho, mas é difícil.

Felipe: Entendo.

Túlio: Você mora com seus pais?

Felipe: Sim... Filho único.

Túlio: Ah tá.

Ficamos em silêncio um pouco, e então eu tomei coragem para perguntar.

Felipe: E por que você não mora com seus pais?

Túlio: Ah, meu pai largou minha mãe logo que soube que ela estava grávida... E minha mãe morreu quando eu tinha 10 anos.

Felipe: Nossa... Sinto muito.

Túlio: Ah, tudo bem agora.

Felipe: Deve ter sido difícil...

Túlio: Foi sim... - ele disse olhando pra baixo - Eu moro com minha tia desde então. Irmã da minha mãe, claro... Eu não conheço ninguém por parte do meu pai, nem mesmo ele.

Felipe: Hum... Ele nunca deu as caras pra te conhecer?

Túlio: Não... E eu nunca fiz questão de saber quem ele é... Não vejo motivos pra ir atrás de alguém que me abandonou.

Felipe: É, eu concordo com você...

Túlio: Você é um cara legal... Engraçado... Gentil com os outros... - ele falou de repente.

Felipe: Obrigado... - fiquei sem jeito.

Túlio: Por nada... - ele disse como se esperasse uma resposta diferente.

Dessa vez demos duas voltas juntos, e então concordamos que o melhor era irmos embora, pois logo ia escurecer.

Túlio: Você podia aparecer em casa um dia desses pra gente fazer alguma coisa...

Felipe: Aah, claro... É só marcar...

Túlio: Pode ser sexta?

Felipe: Aah, desculpa... É que sexta é aniversário de um amigo... E a gente tá planejando fazer uma festinha pra ele.

Túlio: Ah tá... - ele disse maio baixo - Sábado então? De tarde?

Felipe: Ah, tudo bem...

Túlio: Então tá... - ele sorriu.

Paramos em frente sua casa, eu estava um pouco nervoso porque ele parecia estar mais “atirado”, e eu não sabia como me portar, não sabia o que falar. Minha cabeça estava uma confusão!

Ele ficou me olhando e eu acabei encostando no muro.

Túlio: Sabe de uma coisa? - ele sussurrou.

Felipe: O que?

Túlio: Aquele dia você usou adjetivos masculinos pra descrever a pessoa com quem você gostaria de namorar!

Felipe: Usei? - falei um pouco tenso.

Túlio: Usou... - ele se aproximou mais.

Felipe: E você disse "o mesmo". - falei com o rosto dele bem próximo ao meu, eu podia sentir até sua respiração.

Túlio: Exatamente o mesmo... - e então ele me beijou. Foi a primeira vez que beijei um garoto, na verdade foi a primeira vez que beijei alguém.

Passei as mãos nos seus braços e ele segurou minha cintura... Seu beijo era suave, carinhoso... Mas aos poucos ficou mais intenso, mais firme e excitante. Ele colou o quadril no meu, pude sentir um volume na sua bermuda, fiquei um pouco envergonhado, mas me pressionei contra o volume e ele apertou minha bunda.

Não queria mais parar de beija-lo, suas mãos deixaram minha cintura e alisaram meus braços, depois minhas costas e voltaram pra minha cintura.

Túlio: Te quero tanto... - ele sussurrou.

Eu respirei fundo e tentei beijar sua boca de novo.

Túlio: Mas eu to com pouco tempo hoje... - ele suspirou.

Felipe: Mas eu quero você... - sussurrei.

Túlio: Sábado eu tenho a tarde toda... - ele disse me dando um beijo.

E foi então que eu confirmei as intenções dele para sábado.

Felipe: Tá... - falei respirando fundo, um pouco decepcionado, confesso.

Túlio: Até amanhã... - ele sorriu e me deu um último beijo de despedida.

Felipe: Até…

Ele se afastou e eu não aguentei ficar sem olhar o volume da sua bermuda. Isso o fez dar uma risadinha enquanto abria o portão e entrava em casa. Fiquei ali olhando até que ele fechasse o portão, e então fui pra casa.