Capítulo 27

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Eu poderia descrever detalhes do nosso almoço e do resto da tarde que passamos com a Sabrina e a Isa. Mas, sinceramente, o essencial já foi contado!

A conversa com a Sabrina acabou daquele jeito mesmo, pois logo depois a Isa e o Nicolas se aproximaram de nós, e não pudemos falar mais nada.

Isa: Vão conversar até o fim do dia? Eu tô com fome!

Sabrina: Vamos comer, então! Se bem que... - Ela disse erguendo o saquinho de doces.

Isa: Não ligo se vocês não estão com fome! - Ela riu - Pelo menos sentem-se com a gente!

Eu me sentei ao lado do Nicolas. Ele parecia tímido, com vergonha até mesmo pra falar comigo. Me perguntei o que a Isa tinha conversado com ele. Mas aos poucos ele se soltou novamente, conversou, brincou, riu.

Felipe: O que você quer comer? - Perguntei falando bem próximo ao ouvido dele.

Isa: Ai meu Deus... que medo da resposta...

O Nicolas ficou vermelho, e eu devo ter ficado roxo!

Nicolas: Aah, faz tempo que não como Mc Donalds.

Felipe: Pode falar o que você quer. Eu vou buscar pra você.

Isa: Aaawn...

Mas aí ele me olhou nos olhos e disse: Pode escolher por mim, eu confio em você.

Beijei sua bochecha, sem nem me importar com quem estava nas mesas em volta. Talvez alguém tenha visto, era o que eu mais queria no momento! E então a Sabrina se levantou comigo pra ir pedir o nosso almoço nada saudável.

Depois de comermos, eu ainda busquei um Mc Flurry pro Nicolas. Cheguei na mesa por trás dele e coloquei o Mc Flurry na sua frente enquanto ele mexia no celular, tive a chance de ver que ele estava apenas jogando um joguinho de estourar bolinhas.

Sabrina: Ai que lindo! Amor gordo!

Dei risada e passei o olho pelas mesas ao lado, tinha um homem nos olhando com uma cara não muito boa. Pensei em fazer com ele a mesma coisa que fiz com a Angélica na aula, perguntar bem alto: "algum problema?". Mas provavelmente daria merda! Então deixei pra lá, e me sentei ao lado do Nicolas enquanto ele largava o celular e atacava o seu Flurry.

Passamos um tempo sentados ali na praça de alimentação. O Nicolas contou mais coisas sobre a nova cidade e a nova escola. Contou até mesmo sobre a mudança!

Estávamos todos cansados quando chegou a hora de irmos embora. Já era quase três da tarde, e se perdêssemos esse ônibus, o próximo sairia só as oito da noite, e era muito tarde pra nós.

Saímos do shopping e esperamos o ônibus naquele ponto ali do lado, segundo o Nicolas, ele passava por ali raramente lotado. As meninas esperaram ali com a gente.

Isa: Passou tão rápido, né?

Sabrina: Verdade. Vocês podem tratar de voltar logo, hein?

Isa: E continuem fofos assim...

Nicolas: Pode deixar... - Ele sorriu.

Isa: E nos mantenham informadas sobre esse relacionamento, hein?

Felipe: É claro... - Sorri pra ela.

Nicolas: O ônibus.. - Ele me cutucou, deu um beijo no rosto da Isa e da Sabrina, eu não ia beijá-las, mas as duas me puxaram e acabei dando um beijo de despedida também.

O Nicolas subiu na minha frente, eu queria ter subido primeiro, pois assim eu poderia pagar a passagem dele, ao invés dele pagar a minha passagem de novo!

Felipe: Deixa que eu pago! - Falei quando paramos na cobradora.

Nicolas: Não, você pagou meu almoço. Então me deixa pagar a passagem...

A cobradora sorriu e disse: tem que ser igualitário, né?

Nicolas: E não é? Ele quer pagar tudo, agora? Não tem relacionamento que sobrevive assim...

A cobradora caiu na risada, deve ter achado que o Nicolas estava brincando sobre sermos namorados. Enfim, não insistimos, o Nicolas pagou as passagens e passamos pela cobradora, escolhemos um banco onde não tinha muitas pessoas próximas, o que foi em vão, porque a menina que subiu atrás de nós sentou-se no mesmo banco do outro lado do corredor.

O Nicolas sentou-se na janela, eu nem insisti, talvez fosse babação demais da minha parte, mas eu não conseguia tirar dele o que ele gostava! Se ele gostava de ir na janela, eu não me sentiria bem se tomasse o lugar dele só porque eu gosto de ir na janela também. E sim, eu o estava mimando demais (risos).

Nicolas: O que achou?

Felipe: Adorei as duas...

Nicolas: Acabei nem te mostrando onde eu morava!

Felipe: Ah, não se preocupe!

Nicolas: Da próxima vez nós vamos lá! A casa ainda é do meu pai, ele não conseguiu vender.

Felipe: Então um dia nós vamos lá!

Nicolas: É claro! - Ele sorriu.

Ficamos um tempo em silêncio, e o Nicolas se encostou no meu ombro...

Felipe: Por que você disse aquilo pra cobradora?

Nicolas: Não gostou? Desculpa!

Felipe: Não é isso. Achei engraçado. Só me assustei.

Nicolas: As vezes tenho curiosidade de saber como vai ser a reação das pessoas...

Felipe: Bom, eu diria que a cobradora não acreditou...

Nicolas: É, eu concordo com você! - Ele riu.

Ele se acomodou melhor no meu ombro, e perguntou: o que a Sabrina conversou com você?

Pensei bem antes de responder.

Felipe: Acho que ela só queria ter certeza de que esse relacionamento não é só uma brincadeira pra mim.

Nicolas: Ela é intrometida mesmo. Mas não tem más intenções... - Ele riu.

Felipe: Eu percebi. E até que gostei de conversar com ela...

Nicolas: Que bom, Fê...

Ficamos um minuto em silêncio.

Nicolas: Fê?

Felipe: Oi...

Nicolas: Posso perguntar uma coisa?

Felipe: Claro que pode! - Eu já até imaginava o que ele queria saber.

Nicolas: O que você respondeu pra ela?

Felipe: Como assim? - Me fiz de desentendido.

Nicolas: Ela queria ter certeza de que esse relacionamento não era só uma brincadeira pra você. Eu sei que ela não perguntou assim tão diretamente, mas o que você respondeu pra ela?

Felipe: Respondi que não! Não é uma brincadeira pra mim, eu levo a sério, quero o seu bem, quero que você seja feliz comigo, até o fim!

Nicolas: Até o fim de que?

Felipe: Até o fim da vida! - Falei beijando sua cabeça.

Nicolas: Fofo! - Ele apertou minha barriga.

Felipe: Você! - Dei um puxão de leve no seu cabelo.

Depois ficamos em silêncio, e logo eu percebi que o Nicolas estava dormindo no meu ombro! Foi uma sensação boa, sei lá, talvez não seja nada demais, mas eu estava tão apaixonado que eu via corações por todos os lados!

Passei a mão no cabelo dele quando estávamos chegando na nossa cidade, ele acordou sonolento, parecia muito cansado, tirou o celular do bolso e ligou pra Célia.

Nicolas: Mãe? [...] Estamos chegando! [...] Aham! [...] Tá, você busca a gente então? [...] Tá bom!

E desligou.

Nicolas: Nossa, eu dormi a viagem inteira?

Felipe: Até roncou!

Nicolas: Mentira!

Felipe: Roncou sim, até vieram aqui ver se tava tudo bem, de tanto barulho que você fez!

Nicolas: Ai, besta! - Ele deu um soco no meu braço.

Dei risada.

Nicolas: Você vai em casa agora, né?

Felipe: Não sei, capaz dos meus pais encanarem...

Nicolas: Ah, duro que nem posso ir contra isso, não acho uma boa provocar os seus pais agora!

Felipe: Pois é...

Nicolas: Ah, tudo bem, então. A gente se fala pelo WhatsApp...

Felipe: Com certeza! - Disse dando um beijo na testa dele.

E então ele sentou-se direito, mas logo se inclinou pro lado e sussurrou no meu ouvido: "a menina ali no outro banco não para de olhar pra gente".

Nos entreolhamos, talvez ele estivesse pensando a mesma coisa que eu, só sei que nos movemos numa sincronia que mais pareceu ter sido ensaiada, e demos um selinho, nem muito curto, nem muito longo. Depois nos afastamos, mas eu não me atrevi a olhar quem era a menina.

Finalmente, o ônibus parou na rodoviária, me levantei e só então eu pude observar melhor a menina, eu não a conhecia, o que me aliviou um pouco.

Desci primeiro que o Nicolas, ele veio logo atrás e avistei a Célia logo que saí do ônibus! Ela estava encostada na parede, um pouco longe do ônibus Fomos até ela, que beijou o Nicolas no rosto, e depois me beijou.

Célia: E como foi a viagem?

Nicolas: Foi divertida!

Célia: Quem vocês encontraram lá?

Nicolas: A Isa e a Sabrina!

Célia: Ah, que saudade das palhaçadas daquelas duas...

Nicolas: A Sabrina tá quase namorando!

Célia: Ai, que bom, né? E você, Fê, gostou delas?

Felipe: Gostei! Elas são divertidas!

Nicolas: E elas gostaram do Felipe! - Ele riu.

Célia: Ai, ai! - Ela sorriu - Contou pra elas sobre vocês dois?

Nicolas: Sim... - Ele pareceu um pouco sem jeito - Elas deram gritinhos e não acreditaram no começo.

Ela apenas riu.

Célia: Vocês almoçaram, né?

Nicolas: Sim. No shopping.

Célia: Comeram o que?

Nicolas: Mc Donalds...

Célia: Ah, muito nutritivo! - Ela disse rindo.

Nicolas: Eu queria comer comida normal, mas o Felipe me forçou a comer Mc Donalds!

Felipe: Hey! - Falei dando um soco no braço dele.

Célia: Se foi o Felipe, então tá perdoado!

Nicolas: Você hipnotizou minha mãe ou o que? - Ele disse fazendo uma cara amarrada..

Célia: É brincadeira, filho...

Nicolas: Eu sei, mãe...

Depois de um tempo só de brincadeiras dentro do carro, a Célia me deixou no portão da minha casa. Eu me despedi dela e coloquei a mão no ombro do Nicolas, que estava no banco do passageiro da frente. Senti um aperto no peito por me separar dele, eu queria mesmo era ir pra casa dele, tomar um banho, depois deitarmos num sofá na sala e ficar assistindo TV, e então pedir uma pizza pra jantar, estourar pipoca e ficar até tarde vendo filmes! Mas voltei à realidade e ele tocou minha mão no seu ombro.

Nicolas: Então, tchau!

Felipe: Tchau! Até depois!

Nicolas: Até!

Apertei um pouco o seu ombro, larguei-o e desci do carro. A Célia me esperou entrar em casa e fechar o portão pra só então sair com o carro. A casa estava em silêncio, só quando cheguei mais perto pude ouvir o som da TV da sala. E quando entrei, vi meus pais acomodados no sofá.

Felipe: Oi, pai! Oi, mãe!

Eles deram uma resposta meio desanimada, me perguntei o que teria acontecido pra estarem tão depressivos. Mas passei reto, fui ao banheiro primeiro, estava apertado. Depois que saí, eu fui ao meu quarto, me assustei quando vi três malas de viagem em cima da minha cama, pareciam estar cheias já. No começo não entendi nada, pra que aquelas porcarias estava ali?

Abri uma porta do meu guarda roupa, os cabides estavam vazios, puxei uma gaveta, vazia! Vasculhei meu guarda roupa e tudo o que encontrei foram algumas camisas velhas que já nem me serviam mais. Comecei a ficar com medo do que eu estava vendo. E eu quase paralisei quando meus pais pararam na porta do quarto.

Edson: A menos que eu esteja enganado, e Nicolas seja nome de menina, nós temos um problema.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Guerra21 em 2017-03-22 18:22:57
Que chato, fiquei perplexo com a situação dele, isso pode até ser fictício mas imita bastante a vida Real, me sinto nostálgico neste momento, vejo um cena desta ou pior que essa se repetindo comigo, a intolerância e o preconceito é algo que infelizmente ainda existe, quando leio essas histórias eu pergunto- me até quando tenho que viver uma mentira pra agradar a minha família? Até quando vou trocar a minha felicidade pelo preconceito? Parabéns cara o texto tá maravilhoso.
Por luan silva em 2017-03-20 17:48:30
Meu Deus que barra, por favor posta logo os próximos capítulos..
Por Elizalva.c.s em 2017-03-20 14:16:27
Meu Deus que barra,esses pais dele e um porre,precisam urgentemente aprender o que é ser pais de verdade.😮😮😮😮😘😘😘😘
Por edward em 2017-03-20 09:47:49
Meu Deus e agora ? Confesso que tô com medo do que possa acontecer com Felipe ! Ansioso !