Capítulo 24

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Pelo resto da semana, aquela tarde não saiu da minha cabeça... A Célia ficou ali com a gente, conversando sobre a escola e outras coisas comuns... As vezes eu tinha a impressão de que ela queria conversar comigo, a sós. Mas não tivemos essa chance, pois o Nicolas ficou com a gente a tarde toda, e depois o Eduardo chegou do trabalho, o que acabou com qualquer possibilidade de falarmos novamente sobre esse assunto.

No sábado eu acordei antes mesmo do despertador, o que foi estranho, pois fiquei até tarde conversando com o Nicolas por mensagens. A última coisa que ele mandou foi: "dorme bem, e não esquece do meu bom dia quando acordar!".

Sentei na cama e escrevi: "bom dia!!!". Pensei por um momento, apaguei aquilo e reescrevi: "bom diiaaa!". Mas novamente, não me pareceu suficiente! Então reescrevi: "Nick!!! Bom diaaa!!! Hoje você vai me aturar um bocado!!! beijão".

Não enrolei mais, peguei minha toalha, uma outra roupa, coloquei o celular no silencioso e limpei todas as mensagens da conversa com o Nicolas. Peguei esse costume para que meus pais não fizessem mais nenhuma graça para ler minhas mensagens.

Era quase oito da manhã, eu pude ouvi meus pais na cozinha, mas não fui até lá antes de ir pro banho. Não enrolei muito, como gostava de fazer, porque o combinado era que a Célia me buscaria, no entanto, não tínhamos um horário definido! E eu queria evitar ainda estar tomando banho quando ela chegasse lá.

Quando sai do banho e voltei ao meu quarto, havia uma mensagem do Nicolas. Dizia: "bom diiaa, Fe! Adoro aturar você! haha... Daqui a pouco minha mãe já passa daí te pegar... Beijão!".

Respondi: "Ok, já estou pronto!".

Arrumei umas últimas coisas, deixei minha cama arrumada e fui pra cozinha. Tentei tomar café, comer algo, mas a Célia chegou pouco depois de eu me sentar. Minha mãe fez sinal pra eu ficar, e foi receber a Célia. Logo as duas chegaram na cozinha.

Célia: Bom dia, Fe! - Ela sorriu pra mim, depois cumprimentou meu pai.

Edson: Pronto? - Ele perguntou pra mim.

Célia: Não se apresse, Fe! O Nícolas é todo apressado, mas tem tempo ainda!

Felipe: Já to acabando...

Admito que me senti desconfortável, eles quase não conversaram enquanto a Célia ficou ali me esperando. Acabei engolindo o resto do café o mais rápido possível e levantei da mesa.

Felipe: Tchau, pai! Tchau, mãe!

Eles responderam juntos, se despediram da Célia também, e eu saí da cozinha na frente dela.

Célia: O Nicolas tá todo animado lá em casa... - Ela disse quando entramos no carro.

Felipe: Ele falou sobre isso a semana inteira! - Falei sorrindo.

Célia: Fê, eu preciso te perguntar uma coisa...

Felipe: Pergunte...

Célia: Você é sempre tão tranquilo assim? - Ela riu.

Felipe: Normalmente sim. Essa é a pergunta?

Célia: Não... - Ela ficou séria de repente - O que você sente pelo Nicolas?

Felipe: Eu gosto muito dele. E com "muito" quero dizer muito mesmo! - Fiz uma pausa, pensei em falar “eu amo ele”, mas talvez fosse demais pra ela. - Por que?

Célia: Porque meu filho fala e pensa em você o tempo todo!

Felipe: E você acha isso ruim?

Célia: Não! Acho natural. Não me entenda mal, mas eu quero ter certeza de que você não vai se enjoar dele e deixar ele sozinho de novo. Não quero meu filho magoado!

Me senti "ofendido".

Felipe: Acha que eu tenho cara de fazer algo assim?

Célia: Não, você parece ser igual ao Nicolas! Dedicado, fiel...

Felipe: Então porque me questiona?

Célia: Proteção de mãe...

Respirei fundo. Eu não ia discutir sobre isso.

Felipe: Eu te garanto que vou ficar do lado do Nicolas enquanto ele me quiser! Não tenho más intenções.

Célia: Desculpa se pareço duvidar de você.

Felipe: Sem problema. Você é mãe, só quer garantir o bem dele...

Ela sorriu. Ficamos por um momento em silêncio, mas tinha algo alfinetando meu peito, me deixando inquieto, e eu tinha que confirmar.

Felipe: Ele fala tanto assim de mim? - A pergunta fez ela rir.

Célia: Desde que vocês me contaram, ele falou bastante de você.

Felipe: E o que ele fala?

Ela riu novamente.

Célia: Ele conta como foi o dia, mas sempre com o foco em você! Conta o que você fez, as coisas engraçadas que disse! Claro que não deve contar tudo, mas ele fala. E quando não está falando, dá pra perceber um certo sorriso no rosto dele. Depois ele pega o celular e manda uma mensagem, que provavelmente é pra você...

Mas eu ainda não estava satisfeito, tinha mais pra perguntar.

Felipe: Mas ele fala bem de mim?

Ela riu de novo.

Célia: Aai esse amor! Fala, ele fala muito bem de você!

Dei risada e encostei a cabeça no banco. Logo chegamos na casa deles, desci e deixei a Célia entrar pelo portão primeiro. Me lembrei de que o Eduardo provavelmente estaria em casa, então eu tinha que ser discreto.

Entramos, e a Célia disse: "ele tá no quarto, Fê... Pode entrar lá!".

Felipe: Obrigado... - Falei passando por ela.

Quando me aproximei da porta do quarto dele, vi uma sombra de alguém andando lá dentro, depois ouvi ele espirrando seu perfume, e aquele cheiro maravilhoso tomou conta do lugar. Me aproximei mais e encostei na porta, ele estava de costas pra mim, se olhando no espelho do seu guarda roupas. Ele me viu pelo reflexo no espelho e sorriu, estava arrumando o cabelo.

Felipe: Bom dia...

Nicolas: Bom dia!

Felipe: Dormiu bem?

Nicolas: Dormi sim, e você?

Felipe: Muito bem...

Cheguei mais perto dele, que se virou e me prendeu num abraço bem forte, depois me deu um beijo rápido.

Nicolas: Já vamos sair!

Felipe: Tá!

Me sentei na cama dele enquanto ele tirou o celular da carga e guardou no bolso, depois pegou a carteira na gaveta e, por último, deu uma última olhada no espelho!

Felipe: Seu pai não está?

Nicolas: Saiu, foi ver a minha vó.

Felipe: Entendi...

Nicolas: Vamos! - Ele disse me puxando pelo braço.

Sua mão estava quente, eu ainda viajava um pouco quando ele me tocava.

Nicolas: Mãe! - Ele chamou da sala.

Célia: Oi! Tá na hora? - Ela pareceu responder da cozinha.

Nicolas: Sim! Vamos!?

Célia: Vamos...

Felipe: Não íamos de ônibus?

Nicolas: Minha mãe vai levar a gente até a rodoviária... - Ele piscou.

Felipe: Aah tá, faz sentido... - Falei fazendo ele rir.

Esperamos alguns segundos na sala até a Célia aparecer enxugando as mãos, devia estar lavando louça ou roupa. Tinha aquele mesmo sorriso acolhedor no rosto ao nos olhar.

Célia: Vamos! - Ela passou na nossa frente, saindo pela porta.

O Nicolas me deixou sair primeiro e veio logo atrás de mim. Entrei no carro (sentei no banco de trás) e fiquei olhando-o fechar o portão e entrar no carro também.

Célia: Me liguem quando estiverem chegando, pra eu buscar vocês na rodoviária.

Nicolas: Tá... Pode deixar!

Célia: E me liga quando chegarem lá. Me mantenha informada!

Nicolas: Pode deixar, mãe!

Ela nos deixou na rodoviária e foi embora. Nessa hora o Nicolas me olhou e disse: "enfim a sós?".

Sorri pra ele e fiz que sim com a cabeça.

Nicolas: Vem... - Ele me puxou pela mão.

Andamos a passos largos até plataforma de embarque, estava quase vazia! O Nicolas me puxou pelo braço mais uma vez, dei risada, não sei porque diabos eu gostava quando ele fazia isso. Ele me levou ao quiosque pra comprar passagens, quando a moça nos mostrou os assentos disponíveis, ele apenas apontou com o dedo e me disse: "aqui? assim a gente senta junto".

Felipe: Pode ser, mas eu vou na janela dessa vez.

Nicolas: Na volta, quem sabe! - Ele riu, olhamos pra moça do quiosque como se ela fosse rir junto, mas ela estava com uma cara feia, até parecia que tinha acabado de chupar um limão bem azedo. Paramos de rir quase imediatamente, pagamos as passagens e saímos logo dali.

Nicolas: Por que ser tão mau humorada assim? Eu não tenho culpa se ela não gosta da vida que tem.

Dei risada.

Felipe: Que delicadeza da sua parte...

Nicolas: Mas é verdade... - Ele disse entregando as passagens pro rapaz do ônibus - Não é por ela não gostar, mas pelo menos trate os outros um pouco melhor.

O rapaz riu, como se soubesse exatamente do que estávamos falando, entregou os bilhetes de volta ao Nicolas e nós entramos no ônibus. Logo que entramos, eu pus os olhos numa menina lá no fundo, eu a conhecia da escola! Não lembro se era do primeiro ou segundo ano, pois quase nunca conversei com ela.

Ela acenou pra mim, e "pra nossa alegria" o Nicolas viu, olhou pra mim, e depois pra ela novamente. Eu ergui a mão pra ela e nos sentamos.

Nicolas: Sua amiga?

Felipe: Seu ciúmes?

Ele sorriu.

Felipe: Conheço ela da escola. Nem sei como como ela lembra de mim, nunca conversamos muito.

Nicolas: Entendo. Por que será que ela tá indo pra lá também?

Felipe: Não sei. E ainda tá sozinha!

Nicolas: Reparou bastante, hein...

Felipe: Bobo! - Falei beijando sua bochecha, sem lembrar que não estávamos a sós. Pelo menos o banco era alto, quem estava atrás não conseguia nos ver, mas o casal do banco ao lado deve ter percebido. Acabei ignorando, e se eles reclamassem, eu beijaria o Nicolas na boca!

Felipe: Vai me deixar ir na janela na volta, né?

Nicolas: Vou pensar... - Ele sussurrou.

Felipe: Ah, deixa?

Nicolas: Rum... - Ele fez biquinho - Mas eu gosto tanto de ir na janela! - Disse manhoso.

Felipe: O que eu não faria por você? - Sorri.

Ficamos em silêncio enquanto o ônibus saia. E quando deixamos a rodoviária, eu perguntei: "só por curiosidade, tem alguém nos esperando lá? pra onde vamos?".

Ele começou a rir.

Nicolas: Confia tanto assim em mim? A ponto de subir num ônibus sem saber nada?

Felipe: É claro que confio! - Falei sério. Ele me olhou nos olhos, pareceu sério no começo, depois sorriu, respirou fundo e respondeu.

Nicolas: Eu avisei uma amiga minha de que íamos pra lá, ela vai nos encontrar na rodoviária.

Felipe: Ah sim. Entendi.

Nicolas: E mais tarde vamos encontrar a outra...

Felipe: Elas sabem de mim?

Nicolas: Não, não falei que ia te levar! Porque quero que seja surpresa... - Ele sorriu.

Felipe: Surpresa?

Nicolas: É. A Sabrina vai ter uma reação tipo a da Bianca! Então, prepare-se...

Felipe: Ah tá. Com "surpresa" você se referia ao namoro...

Nicolas: É. Achou que fosse o que?

Felipe: Só a minha companhia...

Nicolas: Não, mas isso também é algo bem especial... - Ele piscou pra mim, mas depois ficou um pouco sério - Fê?

Felipe: Oi.

Nicolas: Eu nem perguntei sua opinião. Tudo bem pra você? Sobre contar pra elas?

Felipe: Claro, Nick! Por que não?

Nicolas: Ah, sei lá. Achei que seria um pouco egoísta contar pra elas sem te consultar...

Felipe: Não esquenta com isso, Nick. São suas amigas! Se você confia nelas, então tá tudo bem!

Nicolas: Vão ser suas também! - Ele sorriu.

Felipe: Com certeza!

Ficamos algum tempo em silêncio, o Nicolas pois fone de ouvido e ficou ouvindo música, eu percebia sua mão dando tapinhas fracos na própria perna, seguindo o ritmo da música.

Certo tempo depois, entramos na cidade dele, eu nunca tinha ido pra lá antes, mas eu sabia que era aquela, porque era óbvio. Ele tirou os fones de ouvido, enrolou e guardou no bolso de trás com um pouco de dificuldade.

Nicolas: Meu pai começou a trabalhar na sua cidade quase um mês antes de nos mudarmos. A empresa não esperou ele arrumar uma residência.

Felipe: E ele viajava todo dia, então?

Nicolas: As vezes viajava, as vezes, quando ficava até tarde por algum motivo, arrumava um hotel e dormia por lá. Até que fechamos o negócio da casa, mas aí precisou de mais um tempo pra arrumar tudo. E enfim nos mudamos! Eu visitei aquela casa umas duas vezes antes da mudança, meus pais visitaram bem mais que isso. E mesmo com esse tempo de preparação, a mudança foi corrida!

Felipe: Nossa. E você nunca me viu pela rua, não?

Ele deu risada.

Nicolas: Se nossas casas fossem mais próximas, provavelmente teríamos nos visto.

Felipe: É... - Falei sorrindo, eu gostava desses momentos em que ele, de repente, soltava alguma informação que eu ainda não sabia sobre sua vida. Geralmente eu tentava pensar em algo a meu respeito pra contar, mas dificilmente eu encontrava - E você morou aqui desde pequeno?

Nicolas: Nos mudamos pra cá quando eu era bem pequeno, mas eu não lembro! Era bem pequeno mesmo!

Felipe: Ah bom...

Nicolas: Por que "aah bom"?

Felipe: Pensei que vocês se mudassem com frequência, aí pensei que logo logo você iria embora.

Nicolas: E aí ficou triste?

Felipe: Sim... - Falei fazendo biquinho igual ele costumava fazer.

Nicolas: E se eu for pro outro lado do mundo? Vai continuar sentindo por mim o que sente agora?

Felipe: Claro que vou. Enquanto eu souber que tenho um lugar no seu coração... - Fiz biquinho de novo.

Nicolas: Seu fofo... - Ele sussurrou - Não vai ter um lugar, vai ter ele inteiro...

Felipe: Aí eu vomito arco-íris...

Ele riu alto.

Nicolas: Chegamos...

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-03-20 08:21:13
Maravilhoso,lindo de mais esse amor.😍😍😍😘😘😘😘