Capítulo 18

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Eu me senti um pouco envergonhado na segunda quando a Angélica subiu no ônibus pela manhã, a Bianca não apareceu no ponto, por um motivo que eu ainda desconhecia, e o assento ao meu lado estava vazio! Com isso, em uma situação comum, a Angélica viria se sentar comigo, mas naquele dia ela nem mesmo olhou pra mim, apenas entrou e se sentou no seu banco de sempre. Até esperei que algum engraçadinho fizesse piada de que estávamos brigados, mas isso não aconteceu.

Fui a viagem toda observando-a, ela não conversou com ninguém, não riu, não olhou pros lados... Parecia até um robô! Apenas encarava a janela no ônibus.

Ao chegarmos na escola, ela levantou-se apressada e desceu, eu tentei me apressar também, mas o congestionamento no corredor do ônibus me atrasou bastante, e quando consegui sair do ônibus ela já não estava mais no meu campo de visão. Olhei em volta e não vi Angélica, Bianca e nem Nicolas... Apenas duas meninas na porta da escola que cochicharam algo entre si quando me viram... Com certeza foi ali que surgiu o boato de que o namoro chegou ao fim.

Comecei a andar devagar, sem olhar pros lados, pois tinha um medo bobo de que alguém me perguntasse algo! Finalmente passei pela portaria da escola, dei bom dia para a inspetora, com quem eu conversava as vezes.

Andei cabisbaixo até o "bebedouro", mas no caminho percebi que a Angélica estava lá, conversando com algumas meninas (ainda sem sorrir), pensei em mudar o rumo, mas elas perceberiam, então segui em frente, ergui a cabeça e tentei não parecer "pra baixo", mas quando cheguei um pouco mais perto, a Angélica se despediu das meninas e saiu um pouco apressada dali... E claro que não podia ser diferente, todas as que ficaram ali me olharam fixamente o tempo todo até que saí de perto. Tomei bastante água, e um tempo depois uma das meninas sussurrou: "aí que ressaca". As outras riram de uma forma muito irritante. Antes de sair dali, sussurrei: “Cuida da sua vida”, mas me certifiquei de fazer isso em um volume que ela pudesse ouvir.

A primeira pessoa que vi foi a Angélica, sentada no mesmo lugar de sempre, é claro que ela não daria o braço a torcer e mudaria de lugar por minha causa, provavelmente ela esperava que eu fizesse isso, mas também não fiz, pela primeira vez naquele dia nos encaramos por um breve momento, depois meus olhos encontraram os do Nicolas, ele tinha cortado o cabelo, deixou um pouco mais curto, um pouco irregular na frente. Ele estava lindo! Fechou o caderno quando me aproximei, por que diabos ele estava com o caderno aberto se a aula nem tinha começado?

Me sentei atrás dele e toquei seu ombro, ele me olhou com um "sorriso sério", e se virou na cadeira pra falar comigo.

Nicolas: Tudo bem, cara?

Felipe: Tudo, e com você?

Nicolas: Tô bem. A Bianca vai nos dar uma folga hoje?

Felipe: Parece que sim... Não falei direito com ela esse fim de semana! Agora que ela namora se distanciou um pouco de nós... - Pensei um pouco e me corrigi - De mim...

Mas não era só isso, com certeza o acontecimento no aniversário a faria se distanciar de mim também, pois era certeza de que ela apoiaria a Angélica até o fim, afinal, meninas.

Nicolas: Eu entendo... - Ele disse olhando rapidamente pra Angélica e depois de volta pra mim, me preparei pra ter que responder perguntas sobre o namoro, mas ele não as fez.

Fizemos um trabalho em dupla na última aula antes do intervalo (aula de educação artística, ou apenas "artes"), a professora pisou na sala e antes mesmo de por seus cadernos em cima da sua mesa, começou a falar: "quero que se juntem em duplas pra fazer um trabalho avaliativo, vale 3 pontos na média desse bimestre e vocês tem até o próximo sinal pra me entregar, é melhor em entregarem antes que o sinal bata!". Depois ela soltou seu material de uma vez em cima da mesa, fazendo um belo barulho, pegou um canetão e começou a escrever no quadro.

No mesmo minuto a bagunça começou, tudo o que dava pra ouvir eram os alunos perguntando uns aos outros: "Já tem dupla?", "Faz comigo?", "Professora, pode ser em três?", depois, barulho de carteiras sendo arrastadas no chão sem parar... Tentei ignorar todo o barulho e bagunça, ergui a mão pra tocar o ombro do Nicolas mais uma vez, no entanto, uma garota que sentava-se um pouco mais a frente gritou "Nicolas, faz comigo?". Fiquei um pouco sem graça, abaixei a mão e olhei pro lado.

Nicolas: Desculpa, Isabela, já tenho dupla!

Isabela: Aah, tudo bem... - Ela disse olhando em volta pra encontrar outro parceiro.

Fiquei menos bravo, ao menos ele não faria com ela. Me senti incomodado! Nunca senti tanto ciúmes quanto naquela hora. Até esqueci de procurar uma dupla, só fiquei prestando atenção pra ver com quem ele faria o trabalho, talvez com a Angélica. Poucos instantes depois ele se virou, sorriu pra mim e disse: "já tem dupla?".

Felipe: Não... - Falei ainda mais enciumado.

Nicolas: Quer fazer comigo?

Me senti atordoado. Parecia que meu coração ia derreter.

Felipe: Claro... - Sorri de volta pra ele, me esquecendo do ciúmes que estava me matando há pouco.

Devagar (e em silêncio) ele puxou a própria carteira ao lado da minha. Nesse momento eu ouvi a Angélica procurando por um dupla logo atrás de nós. Tentei ignorar, e consegui quando senti o cheiro do perfume do Nicolas, foi como se minha concentração estivesse inteiramente nele.

Nicolas: Quem copia? - Ele disse ainda sorridente.

Felipe: Você decide...

Nicolas: Você tem letra mais bonita, então escreve as respostas, pode ser?

Fiz que sim com a cabeça, e ele "sacou" a caneta e começou a escrever.

Nicolas: Como foi o domingo?

Felipe: Sem graça, meio entediado, chato, triste...

Nicolas: Triste por que? - Ele disse parando de escrever e me olhando.

Felipe: Aah, complicado. Uma hora eu te conto!

Nicolas: Eu vou cobrar... - Ele disse sério.

Felipe: Eu sei... - Sorri, e então ele voltou a copiar. Ele escrevia rápido, em pouco tempo já estava par a par com a professora, tinha até que esperar ela escrever as coisas - E o seu, como foi?

Nicolas: Igual a todos os dias, uma bosta.

Felipe: Nossa, por que?

Nicolas: Pior que também é complicado. Uma hora eu te conto... - Ele riu.

Felipe: Tudo bem...

Ficamos um pouco em silêncio.

Nicolas: Você vai cobrar? - Ele disse num tom de voz muito fofo.

Felipe: Pode ter certeza... - Eu sorri, mas nem em cem anos eu seria tão fofo quanto ele.

Acho que fomos a primeira dupla a começar a responder, pois o Nicolas terminou de copiar ao mesmo tempo em que a professora terminou de escrever no quadro, ou talvez ele tenha terminado até antes, pois algumas vezes ele "adivinhava" a próxima palavra e a escrevia sem nem esperar pra ter certeza se era. Claro que ele cometeu um erro uma ou duas vezes, mas nada que um corretivo não tenha resolvido.

Ele passou a folha pra mim assim que terminou de escrever, e então começamos a responder, a primeira questão ele respondeu inteira, a segunda eu respondi, infelizmente eu não escrevia tão rápido quanto ele, e demoramos um pouco pra responder. A terceira nós juntamos informações e respondemos juntos, ele fez várias piadas o tempo todo, mas nada que atrapalhasse!

Como eu esperava, fomos os primeiros a entregar, quem levou até a professora foi o Nicolas, fiquei olhando a expressão de surpresa dela, no mínimo ela deve ter achado que não íamos conseguir terminar no tempo, pelo tanto que estávamos conversando e rindo ali. Mas ela não disse nada, apenas pegou a folha do Nicolas e ele voltou sentar-se. Ainda faltavam dez minutos para o intervalo, achei que ele fosse voltar sua carteira pro lugar, mas ele não o fez, continuou ali ao meu lado.

Nicolas: Vai fazer o que de tarde?

Felipe: Não sei. Acho que nada, e você?

Nicolas: Nada também... Quer fazer algo?

Felipe: O que?

Nicolas: Sei lá... Quer almoçar em casa? Nós dois almoçamos sozinhos mesmo.

Era tentador, mas minha mãe sempre percebia quando eu almoçava ou não, se eu não almoçasse em casa, eles me perguntariam onde eu tinha almoçado, e se eu dissesse na casa do Nicolas, eles com certeza ficariam com a pulga atrás da orelha...

Felipe: Por que você não almoça na minha? É mais perto da escola!

Nicolas: Isso é preguiça de andar? - Ele riu.

Fiz que sim com a cabeça, mentindo, claro.

Nicolas: Tá, se não for incomodar, eu vou.

Felipe: Claro que não vai incomodar...

O sinal bateu, me surpreendi com quão rápido o tempo tinha passado! A professora juntou suas coisas de uma vez só, levantou-se com cara feia e saiu da sala.

Nicolas: Alguém não teve uma noite muito boa.

Nos entreolhamos e demos risada. Muitos alunos não conseguiram terminar a tempo, e claro, começaram a chamar pela professora quando ela saiu da sala, mas ela nem mesmo olhou pra turma, e saiu fingindo que não estava vendo e nem ouvindo nada. Depois alguns revoltados amassaram os papéis e saíram da sala, jogando o papel no lixo antes de sair, não me atrevi a virar pra ver com quem a Angélica estava fazendo, eu não a vi indo entregar nada para a professora, então ou a dupla dela quem entregou, ou ela não conseguiu terminar.

Nicolas: Você vai sair?

Felipe: Acho que não, você vai?

Nicolas: Quero beber água, vem comigo?

Levantei sem pensar duas vezes e fomos andando devagar, ele bebeu tanta água quanto eu bebi de manhã, e dessa vez eu bebi pouca.

Felipe: Posso perguntar uma coisa?

Nicolas: Pode... - Ele disse parando de beber água e andando de volta pra sala.

Felipe: Já apareceu alguém por aqui? - Não sei o que me fez perguntar isso.

Nicolas: Como assim?

Felipe: Ah, alguém…

Nicolas: Namoro?

Fiz que sim com a cabeça.

Nicolas: Não sei direito... - Ele riu - Tem hora que parece que sim, mas depois parece que não. Eu não entendo direito o que ela quer.

Fiquei chateado por ele usar "ela", se referindo a uma menina.

Felipe: Entendi...

Nicolas: Por que? Sabe de alguém me querendo? - Ele riu.

Felipe: Não. Eu só queria saber...

Nicolas: Entendi...

Nessa hora eu tinha certeza que ele ia perguntar da Angélica, se o namoro tinha acabado mesmo. Mas ele não perguntou! Bem, não diretamente...

Nicolas: Posso perguntar uma coisa também?

Felipe: Claro...

Paramos na porta da sala, não queríamos ninguém escutando, não é?

Nicolas: Por que você não fez esse trabalho com a Angélica?

Felipe: Ah. As coisas não vão bem...

Nicolas: Tem a ver com seu domingo triste?

Fiz que sim com a cabeça.

Nicolas: Quando contar do domingo vai contar sobre isso?

Mais uma vez eu concordei com a cabeça.

Nicolas: Mas acabou ou não?

Felipe: Acabou... - Confirmei pela primeira vez - Não tem mais nada entre nós...

Nicolas: Nossa, que rápido... - Ele sorriu.

Felipe: É... - Falei meio sem graça. Deveria ser uma notícia triste, então por que ele estava sorrindo? - E por que você disse pra Isabela que já tinha dupla, se ainda não tinha?

Nicolas: Ah... - Ele ficou vermelho, e eu ainda mais apaixonado - Eu queria fazer com você...

Felipe: Mas você ainda nem sabia se eu tinha dupla ou não...

Nicolas: Achei que valia a pena arriscar...

Foi impossível não sorrir, ele era tão fofo, tão perfeito!

Acabamos entrando, acho que fiquei tão envergonhado quanto ele depois daquela declaração.

Ele colocou a carteira de volta no lugar, mas ainda assim virou-se pra trás e ficamos conversando. Não pensei mais em Angélica, nem nos meus pais, e nem em nada... A única coisa que passava pela minha mente era a tarde inteira com o Nicolas que estava por vir.

Ele pegou o ônibus comigo no final da aula, antes de subirmos ele segurou a alça superior da minha mochila, dei uma olhada rápida e ele sorriu, acho que entendi porque ele me segurou daquele jeito, era pra garantir que entraríamos juntos e conseguiríamos sentar juntos também, infelizmente era só uma suposição minha. Quando entramos e chegamos no meu banco, ele sussurrou: "me deixa ir na janela?". Dei espaço pra ele passar e sentar-se na janela. Quase não conversamos no ônibus, só quando descemos ele disse: "A Angélica olhou feio pra nós dois quando entrou e viu a gente".

Felipe: Nem olhei pra ela...

Nicolas: A coisa foi tão feia assim? - Ele perguntou sério.

Felipe: Ah, é meio besta, na verdade… Mas se tornou séria agora.

Nicolas: É complicado, é isso?

Felipe: É isso... - Sorri.

Chegamos em casa e fomos ao meu quarto, deixamos as mochilas lá e o Nicolas foi ao banheiro enquanto eu troquei de camisa. Vesti uma branca, sem manga. Tirei o tênis e fiquei descalço. Me sentei na cama e esperei ele voltar, o que não demorou muito.

Felipe: Tira o tênis pelo menos... - Falei assim que ele apareceu.

Ele vestia uma bermuda, a camisa de uniforme da escola e tênis. Sentou-se na cama sem dizer nada e tirou o tênis, colocando-os próximos a sua mochila, no pé da minha cama.

Nicolas: Pronto... - Sorriu.

Felipe: Simbora cozinhar? - Dei risada.

Ele sorriu.

Nicolas: Você almoça todo dia?

Felipe: Quando to muito deprimido eu não como. Fico sem fome... e você?

Nicolas: Quando to deprimido ou muito pensativo. Ansioso com algo, sabe?

Felipe: Sei! Ansioso eu não sou tanto. Mas depressivo... - Falei dando ênfase no final.

Nicolas: É, eu já fui informado... - Ele riu.

Fomos rápidos no preparo do almoço. Em pouco tempo nos sentamos juntos para comer.

Nicolas: Seus pais pegam no seu pé quando você não almoça?

Felipe: Mais ou menos. Ultimamente eles pararam de pegar no meu pé com muitas coisas, sabe?

Nicolas: Entendo. Os meus pegam muito no meu pé... - Ele riu - Principalmente minha mãe!

Felipe: Mãe é mãe, não tem jeito... - Falei pensando na minha.

Nicolas: É... - Ele disse olhando pra baixo.

Ficamos um minuto em silêncio, e depois ele disse: "podíamos comprar chocolate, né?"

Felipe: Tá com vontade?

Nicolas: Tô, o tempo todo... - Ele riu - Você não?

Felipe: Não o tempo todo. Mas agora que você falou... me deu vontade!

Nicolas: Então depois vamos comprar! A gente faz uma vaquinha!

Felipe: Não esquenta com isso... eu pago! Você é convidado.

Nicolas: Mas não sou melhor que você. Então eu pago metade, ou inteiro...

Dei uma risadinha, ele falava de um jeito engraçado, fofo!

Felipe: Você não pode pagar tudo, porque também não sou melhor que você!

Ele só me encarou sorrindo, e não respondeu.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-03-10 12:32:40
Que fofo esse Nicolas...me apaixonei.😍😍😍😘😘😘😘😘