Capítulo 16

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

No sábado nós tínhamos aniversário de uma menina da nossa sala, ela era amigável, educada, simpática e tudo o que torna uma pessoa agradável.

Mais uma vez eu tomei banho na correria e pedi ao meu pai pra que me levasse, e claro, passamos da casa da Angélica pega-la! A Bianca ia com o Giovani e o Nicolas disse que seu pai o levaria.

Edson: E como tá o namoro? - Imaginei que ele perguntaria, já fazia muito tempo que não fazia isso.

Felipe: Bem...

Edson: Bem mesmo? Você não fala nada a respeito.

Felipe: Porque não é novela pra todo mundo ficar sabendo...

Achei que ele ficaria bravo pela resposta, mas na verdade ele riu e só disse: "tá certo".

Edson: Estão se cuidando, né?

Felipe: Pai, agora não!

Edson: Ué, por que? É normal! Vocês são jovens, apaixonados, estão se descobrindo... descobrindo um ao outro!

Não respondi, e, por sorte, logo chegamos na casa da Angélica e ele não disse mais nada. Ele puxou um pouco de conversa com ela, mas foi sobre a escola, família, nada sobre a situação do namoro.

Meu pai nos deixou na esquina da casa da Beatriz, a Angélica desceu e meu pai apenas disse: "me liga quando quiser ir embora".

Acenei com a cabeça e desci do carro.

Angélica: Senti uma tensão entre vocês dois. O que houve?

Felipe: Nada...

Angélica: Aah, fala!

Felipe: Ele começou a falar de proteção...

Angélica: Sexo? - Ela riu.

Mas não respondi, segurei sua mão e fomos andando até a casa da aniversariante.

Angélica: Ela disse que vai ser algo bem calmo. Nada de farra e só convidou os amigos mais íntimos porque a família inteira vai estar aí. Os pais dela não querem bagunça.

Felipe: Então imagino que o Giovani tenha se autoconvidado? Já que ele não é amigo íntimo.

Angélica: Não, a Bia ficou sabendo do namoro da Bianca e disse pra ela trazer ele também.

Fui direto no interfone, mas nos deparamos com o portão aberto, e quase no mesmo instante que paramos ali, uma outra menina parou na nossa frente, como se quisesse sair. Eu não a conhecia, estava vestindo uma mini saia e uma blusinha, tinha pele morena, cabelo liso, mais ou menos a altura da Angélica, mas aparentava ser um pouco mais velha.

Ela: Oi, bem vindos! Eu ia fechar o portão, entrem!

Ela nos deixou passar e logo depois fechou o portão, e então deu a mão pra Angélica, ergui a mão quando ela me olhou, mas ela segurou-a e me puxou pra perto, e então me beijou no rosto, depois disso a Angélica voltou a segurar minha mão. Aquele ciúmes também era fingido?

Ela: Meu nome é Ana, sou prima da Bia! Vocês são ...?

Angélica: Eu sou Angélica! - Ela se adiantou - E ele se chama Felipe, é meu namorado!

Ana: Aí, que casal lindo! Já ouvi seus nomes, a Bia disse que estava achando que vocês começaram a namorar, mas ainda não tinha certeza. Agora ela vai ter! - Deu risada.

Fomos pro fundo da casa da Angélica, onde tinha uma grande mesa e duas ou três outras mesas menores espalhadas. Realmente não estava com cara de que teria muita bagunça, o ambiente estava bem familiar.

Muitas pessoas já estavam sentadas na mesa maior, aparentemente a mesa grande era para parentes e família. Vi de longe apenas a Bianca e o Giovani, o Nicolas ao lado e a Beatriz no canto da mesa!

A Angélica ergueu a mão e eu sorri, mas cai na real quando vi a Bia com a mão erguida e depois vi a Angélica acenando pra ela. Na verdade meu sorriso era para o Nicolas, que nos olhou um pouco sério.

Bia: Aaaaahhh, essas mãozinhas dadas!

A Angélica puxou minha mão pra cima e mostrou as mãos dadas para todos na mesa, alguns disseram: "huuuum", outros só deram uma risadinha.

Bia: Então é oficial? - Ela disse sorrindo e chegando mais perto de nós.

Respondemos juntos dizendo que era oficial. E ela abraçou nós dois nos dando parabéns. Na verdade eu apenas fiz que “sim” com a cabeça, foi a Angélica que disse: “Sim, estamos namorando”.

Felipe: Quem tem que dar parabéns não somos nós?

Bia: Eu faço aniversário todos os anos, mas vocês só assumem o namoro uma vez, não é verdade? - Ela sorriu pegando nossos presentes.

Olhei pra Angélica, que estava vermelha, dei risada também e tentei fugir da atenção de todos puxando a Angélica pra mesa.

Nos sentamos ao lado da Bianca e do Giovani, o Nicolas estava do outro lado do casal, então não ficamos tão próximos. Havia uma música de fundo um pouco baixa, mas não reconheci qual música era.

As vezes eu parava de prestar atenção na Bianca e no Giovani e olhava o Nicolas, ele não parava de conversar com a Bia, ela não parava de dar risadinhas, por a mão na boca como quem tinha acabado de ouvir um absurdo. Mas infelizmente eu não podia entender (nem mesmo ouvia sussuros) do que diziam, mas o Nicolas estava falando bem mais que ela, isso era perceptível pelo movimento dos lábios. As vezes a Bia olhava direto pra mim, e eu desviava o olhar.

Mais tarde, quando a maioria (se não todos) os convidados já estava presentes, serviram a comida. Em outra mesa grande serviram várias coisas, e um pouco mais distante de nós um homem estava sozinho na churrasqueira, não era o pai da Bia, ele estava na mesa com a mãe dela, imaginei que fosse alguém contratado.

Seria mentira dizer que comi pouco, o Giovani deve ter comido mais que eu, porque a Bianca até começou a fazer comentários sobre o apetite dele.

Mais tarde as meninas entraram com a Beatriz, acredito que foram olhar os presentes ou sei lá o que, fiquei com os outros garotos da sala na mesa, inclusive o Nicolas e o Giovani (o único que não era da nossa sala), não estávamos muito misturados com os adultos, que estavam entretidos nas suas próprias conversas altas e escandalosas nas outras mesas.

Alguns dos meninos estavam tomando Smirnoff, alguns outros estavam tomando refrigerante, coca cola, e eu era um deles, já que não costumava beber. Mas claro que um dos que estavam bebendo começou a encher o saco porque estávamos bebendo refrigerante, e aos poucos foram nos convencendo a beber com eles, eu fui um dos últimos a ceder, só bebi porque comecei a me sentir um idiota (e era o que eles queriam) e comecei a beber com eles, o Nicolas foi o último.

Mas não tivemos muito tempo antes que as meninas voltassem, chegaram na mesa todas rindo como se tivessem "visto o passarinho verde". Ficaram na mesa conosco por um tempo, mas logo sussurraram dizendo pra irmos lá pra frente da casa.

Ninguém se opôs, tive a impressão de que alguns garotos tinha entendido o que ia acontecer na frente da casa. E quando chegamos lá eles inventaram de brincar de verdade ou desafio, eu recusei no começo, disse que eu não brincaria, e quando me questionaram eu disse que era porque eles sempre desafiavam um beijo, e eu não podia brincar com essas coisas pois estava namorando. A Angélica concordou, tentando se livrar da brincadeira também!

Foi uma péssima desculpa.

Bia: Ai, relaxem, se cair em vocês nós fazemos só verdade ou então um desafio que não envolva essas coisas. Não vamos faltar com respeito ao casal.

Eles acabaram insistindo tanto que eu concordei em brincar. Pegaram uma garrafa de vidro de coca cola e giraram no meio da roda, estávamos sentados na calçada, em uma parte mais escura embaixo de uma árvore. Ficamos um pouco apertados, mas todos conseguiram se acomodar.

Lembro que os primeiros foram a Beatriz e a sua prima Ana.

Ana: Verdade ou desafio, priminha?

Beatriz: Verdade... - Ela disse parecendo tensa.

Ana: É verdade que no último Natal você e o primo Gustavo fizeram você-sabe-o-que no quarto da tia Helen?

Ouviu-se um "uuuuui" de alguns, outro disse: "vamos caprichar aê, pô".

Beatriz: Geente, nãão! É mentira! - Ela sussurrou vermelha.

Ana: Mas já rolou algo entre vocês, né?

Beatriz: Desculpa, já respondi a pergunta! - Ela mostrou a língua.

Ana: Já já vai responder outra! - Ela riu.

A garrafa continuou girando, e a cada vez que começava a perder força eu me arrepiava, sempre tive medo dessa brincadeira.

Até que parou na Angélica com o Lucas.

Lucas: É verdade que você e o Felipe tem um "caso" há mais tempo do que assumem?

Nos entreolhamos, eu estava viajando, não fiz nenhum sinal, nem tinha me dado conta direito do que tinham perguntado a ela.

Angélica: Não! Não é verdade!

Lucas: Aah, qual é! Todo mundo fala que tinham!

Angélica: Todos estão enganados… - Ela tentou falar de um jeito brincalhão.

Lucas: Tá bom, então... - Ele riu.

E a garrafa girou de novo, e outra vez! Até que finalmente chegou minha vez de responder, e quem perguntaria era o próprio Lucas.

Lucas: Verdade ou desafio, hein? - Ele já disse com cara de sacana.

Felipe: Verdade... - Falei com medo do desafio que ele poderia dar.

Lucas: Você que pediu, hein... É verdade que vocês estão fingindo esse namoro pro Felipe esconder que é gay?

Beatriz: Lucas! - Ela disse brava.

Lucas: Ué, é o que todos querem saber! É o que todos falam!

Fiquei paralisado, de que raio veio aquela pergunta? Como ele sabia? Ou pior, a Bianca e a Angélica eram as únicas que sabiam, uma das duas tinha espalhado? Comecei a ficar nervoso, e pra não demorar muito pra responder, eu soltei: "Não! É mentira", afinal, era só uma porra de brincadeira mesmo.

Lucas: Então prova!

Felipe: Já fez sua pergunta, Lucas...

Lucas: Aah, qual é? Se vocês são namorados de verdade não há com o que se preocupar! Nem vai ser desafio de verdade pra vocês, alias, acho que ninguém aqui viu vocês se beijarem até hoje. Só andam por aí de mãos dadas.

A Angélica e eu nos entreolhamos, ela estava do meu lado. Fiquei nervoso, eu sabia que tudo isso não tinha como dar certo.

De repente todos começaram um coro: "beija! beija! beija!".

Não pensei direito, não pensei na Angélica, não pensei em mim, não pensei no Nicolas! Me inclinei de repente, antes que acabasse perdendo a coragem, e beijei a Angélica na boca. Não foi um simples selinho, foi um beijo pra valer.

Não teria feito isso se fosse meu primeiro beijo, mas eu já tinha perdido meu primeiro beijo com o tal Túlio, o que era mais um com a Angélica?

Ouvi assovios e vários "huuum" na roda. Quando parei de beija-la, eu voltei a minha posição normal e olhei pro Lucas, que fez um biquinho e sinal de "jóia", e então passou a garrafa pra outro. Não tive coragem de olhar pra Angélica depois disso, e só olhei pro Nicolas uma vez, que foi logo depois do beijo, ele me olhava fixamente, sua expressão era difícil de entender, não era espanto, parecia raiva e tristeza, ao mesmo tempo. Foi por isso que tive medo de olhar pra Angélica, tive medo do que veria no seu rosto.

Depois de muito rodar aquela garrafa, finalmente resolveram parar a brincadeira, e a Angélica se levantou de repente e foi pra dentro. Por um momento nem me dei conta, mas então a Beatriz me olhou e fez sinal pra que eu fosse atrás dela. Me dei conta do que estava acontecendo, levantei e entrei, mas não antes que alguém dissesse: "o beijo já foi suficiente pra provar, não precisam ir tão longe". Mas ignorei, não tinha ideia de onde a Angélica podia estar, ela já tinha saído de vista quando entrei pelo portão.

Fui pro fundo, ela não estava lá! E aparentemente ninguém ali se preocupou com a minha presença, então entrei na casa, só estive lá uma vez antes disso, mas eu ainda lembrava de como era.

A cozinha estava vazia, a não ser a montanha de coisas sujas na pia e até mesmo na mesa, na sala não havia ninguém, os quartos ficavam no andar de cima, mas imaginei que a Angélica não teria ido pra lá, deixei a sala devagar, o corredor estava escuro, o banheiro estava com a porta fechada, abri e vi que a luz estava apagada, mas ainda assim abri totalmente a porta e acendi a luz.

A Angélica estava sentada no vaso sanitário (que estava com a tampa abaixada), com os cotovelos nos joelhos e esfregando os olhos. Era visível que estava chorando.

Me ajoelhei na sua frente e tirei suas mãos do rosto, foi então que ela pois uma mão sobre a minha e começou a chorar ainda mais.

Felipe: O que foi?

Ela fez que não com a cabeça e olhou pro chão, sua maquiagem estava toda borrada.

Felipe: Angélica, o que tá acontecendo? Me conta!

Angélica: Me deixa sozinha!

Ouvi passos e de repente a Bianca e a Bia entraram no banheiro, a Bia me puxou pela mão e me tirou da frente da Angélica, a Bianca tomou meu lugar e a Bia me pois pra fora do banheiro.

Felipe: O que foi?

Beatriz: Deixa ela com a gente, vai lá pra fora, o Nicolas tá lá.

O Nicolas? Mais um problema que eu tinha que lidar.

Felipe: Qual o problema? - Insisti.

Bianca: Depois a gente conversa, vai pra lá!

Acabei saindo dali sem falar mais nada! Passei pela mesa onde os "adultos" estavam, agora alguns dos nossos amigos estavam lá também, não tive coragem de me juntar a eles e fui pra frente, encontrei o Nicolas lá, ainda sentado na calçada e encostado no muro, parecia estar viajando.

Me sentei ao lado dele, mas fiquei em silêncio.

Nicolas: Quem diria.

Nos entreolhamos e eu torci os lábios.

Nessa hora a Ana apareceu no portão.

Ana: Alguém quer? - Ela tinha uma garrafinha de bebida na mão.

O Nicolas disse que não, mas eu peguei, agradeci e ela voltou pra dentro.

Nicolas: Eu imagino que você não tenha nada pra me dizer.

Apoiei a cabeça no muro e fechei os olhos, movimentei a cabeça em sinal de negativo. Ele respirou fundo e disse: "Liguei pro meu pai, ele tá vindo me buscar. Quer carona?".

Felipe: A Angélica veio comigo, preciso levar ela de volta.

Nicolas: Não acho que ela vai voltar com você...

Respirei fundo, mesmo que eu tentasse fingir, esconder tudo, ele ainda parecia saber que tudo era uma farsa. Levantei e fui pra dentro, mas dei de cara com a Beatriz na porta, ela pois a mão no meu peito e me empurrou pra fora dizendo: "Não, Felipe! Melhor ficar aqui!".

Felipe: Ela precisa de carona pra ir embora?

Beatriz: Ela arruma outra, pode ir com o Nicolas.

Felipe: Como sabe?

Beatriz: Não importa, vai com ele! - Pela primeira vez ela foi grossa. Falou num tom de voz alto e bravo. Acenei com a cabeça, deixei a garrafa vazia em cima da mesa e saí sem nem me despedir. Me sentei com o Nicolas novamente.

Felipe: Aceito sua carona!

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-03-05 14:23:01
Muito bom,estou amando.😍😍😍😍😍😘😘😘😘😘