Capítulo 15
Parte da série Tribulações
Apesar de ser muito lindo e educado, o Giovani não tinha conquistado minha confiança. Havia algo nele que eu não conseguia aceitar. Mas eu fiquei quieto, pois a Bianca parecia muito feliz.
A Angélica e eu fomos embora mais tarde e deixamos a Bianca e o Giovani a sós.
Felipe: Quer jantar em casa hoje?
Angélica: Sério?
Felipe: Sério. Meus pais vão gostar.
Ela respirou fundo.
Angélica: E você, vai gostar?
Felipe: Vou, claro...
Angélica: Então eu vou. Mas vamos passar na minha casa, me deixa tomar um banho e depois vamos pra sua casa.
Felipe: Ok.
Angélica: Minha mãe não vai estar, ela ia sair.
Felipe: Se eu fosse hetero, acho que ia gostar de saber disso.
Ela deu risada e pareceu ficar um pouco vermelha.
Angélica: Sem vergonha, ia até dizer que precisa tomar banho também.
Felipe: Quem sabe...
Ela deu mais uma risadinha e soltou minha mão. Passamos em frente a casa do Túlio, e acho que olhei demais para a casa.
Angélica: Que foi?
Me dei conta de que ela não sabia onde o Túlio morava.
Felipe: É a casa do Tulio.
Angélica: Te incomoda, né?
Felipe: Muito...
Angélica: Então para de olhar...
Olhei pra ela, que mostrou a língua e olhou pra frente.
Felipe: O que você achou do Giovani?
Angélica: Ele é legal, muito lindo. E você?
Felipe: Achei ele bonito... Mas sei lá, não engoli ele ainda.
Angélica: Deixa a Bianca saber que você quer engolir o namorado dela.
Felipe: Você entendeu o que eu quis dizer...
Angélica: Relaxa, Fe! Só to brincando!
Na casa dela, eu fiquei na sala assistindo TV enquanto ela foi tomar um banho. Antes de ir ela prometeu que seria rápido, e bem, se quarenta minutos for rápido, então o banho foi rápido mesmo. Isso é, sem contar o tempo que ela gastou depois pra se vestir e secar o cabelo.
Deitei no sofá e fingi estar roncando quando percebi que ela estava vindo.
Angélica: Haha, que engraçado, Felipe... - Ela disse sentando em cima da minha barriga, mas sem soltar todo seu peso - Vai querer ir, ou não?
Felipe: Vou. Meus pais já devem ter chego...
Angélica: Então vamos.
Chegamos em casa e demos as mãos pra entrar, meus pais já tinham chego mesmo, meu pai estava na sala vendo TV e minha mãe não estava ali.
Edson: Oi, jovens... - Ele disse simpaticamente quando entramos.
Angélica: Oi, Edson! Tudo bem?
Edson: Tudo, e com a minha nova nora?
Angélica: Aah, to ótima... - Ela sorriu.
Felipe: Cadê a mãe?
Edson: Foi tomar banho... Sentem-se, daqui a pouco ela vem.
Sentamos juntos no outro sofá, meu pai ficou nos encarando, até que resolveu falar: Tudo certo com o namoro?
Fizemos que sim com a cabeça.
Edson: É seu primeiro namoro, Angélica?
Angélica: Sim, é.
Pensei em corrigi-la, era o primeiro que "deu certo".
Edson: Você deve estar feliz...
Angélica: Aah, eu to... - Ela disse tímida, fazendo meu pai sorrir. Até eu estava acreditando nela.
Alguns minutos se passaram até que minha mãe apareceu na sala, ficou feliz ao ver a Angélica.
Felipe: Vou tomar banho!
Imaginei que sair sem nem dar um beijo na Angélica ia deixar meu pai com a pulga atrás da orelha. Então dei-lhe um beijo no canto da boca e empurrei-a até quase deitar no sofá. Depois levantei e deixei ela ali rindo sozinha.
Enrolei um pouco no banho, mas ainda assim não demorei muito. Depois me vesti no meu quarto e fui até a sala, onde não havia mais ninguém, todos já estavam na cozinha! Meu pai estava sentado na mesa e a Angélica estava insistindo em ajudar minha mãe com o jantar, que estava dizendo repetidamente que não precisava.
Acabei pegando a Angélica pela mão e puxando-a pra mesa.
Felipe: Ela não quer ajuda... - Sussurrei.
Edson: Então... Namoro, hã? Como começou?
Angélica: Bom, já fazia um tempo que eu gostava do Fe, e as coisas estavam caminhando devagar. Até que na segunda feira ele me mandou uma mensagem dizendo pra vir aqui de tarde... e me pediu em namoro! Eu não pude recusar... - Disse sorrindo.
Edson: Entendo... Sua mãe gosta dele?
Angélica: Gosta mais dele do que de mim. - Ela riu - Ela disse que torcia desde o começo pra que nós dois ficássemos juntos.
Edson: Ela também deve estar muito feliz, então.
Angélica: Sim, está.
Edson: Bom, acho que todos nós estamos, não é? - Ele sorriu.
Angélica: Com certeza!
Ele fez alguns segundos de silêncio, e então disse de repente: "E na escola? Já contaram pros amigos?".
Troquei um olhar com minha mãe, ela parecia aborrecida.
Angélica: Aah, todos já desconfiam... Já sussurram pelos cantos! Mas só confirmamos isso pra uma amiga nossa.
Edson: Entendo…
Angélica: É que não tem necessidade de chamar a atenção, né? Se perguntarem se estamos namorando, a resposta é “Sim”, mas não quer dizer que vamos sair pela escola anunciando o namoro.
Meu pai acenou com a cabeça e chegou a mover os lábios para falar, mas minha mãe interrompeu.
Laura: Chega, Edson. Deixa eles em paz um pouco. Podem ir ver televisão, chamo vocês quando estiver pronto.
Peguei a mão da Angélica e levei-a pra sala, mas ainda pude ouvir a minha mãe dizendo ao meu pai: "O senhor vai ficar aqui me ajudando com o jantar".
Angélica: Ele não acredita ainda... - Sussurrou.
Felipe: Não...
Angélica: Paciência... Ele vai acreditar.
Felipe: Espero...
Angélica: Deita com a cabeça no meu colo.
Felipe: Por que?
Angélica: Não quer convencer ele? Então vai!
Deitei no sofá, coloquei uma almofada no colo da Angélica e me deitei... Ela começou a mexer no meu cabelo enquanto olhava pra TV. Por um momento fechei os olhos e comecei a sentir muito sono, a Angélica tinha mãos tão leves. Aquele carinho nos cabelos só me dava mais sono ainda!
Mas de repente ela me deu um tapa leve na testa e disse: "Acorda!".
Felipe: Que saco, que foi? - Resmunguei.
Angélica: Tá pronto, vamos jantar!
Me sentei no sofá, esfreguei a cara e levantei dizendo: "Vou jogar uma água no rosto".
Angélica: Tá bom...
Meus olhos no espelho do banheiro deixavam claro que eu estava com sono! Joguei bastante água no rosto, me enchuguei sequei e depois fui à cozinha! Meus pais estavam sentados lado a lado, e do outro lado da mesa, estava a Angélica, sentei-me ao lado dela.
Laura: Já sabe que faculdade vai fazer, Angélica?
Angélica: To em dúvida ainda! Já pensei em engenharia civil, veterinária, geologia. Mas ainda não tenho certeza!
Laura: Bom… - Ela deu uma risadinha amarela - São cursos bem diferentes!
Angélica: É, eu sei.
Laura: Com certeza você já ouviu muito isso, mas escolha aquele que você mais vai gostar. Porque você vai trabalhar com isso pelo resto da vida!
Angélica: Tem razão.
Laura: Pais costumam dizer pra fazer o que der mais dinheiro, mas faça o que você considera melhor pra si! Não tem nada pior do que fazer algo que você não gosta de fazer, ainda mais quando é pra vida toda! - Ela disse pra Angélica, porem, olhando pra mim. Achei aquilo estranho, cheguei a me arrepiar com a indireta, mas fingi que não tinha percebido nada e continuei comendo.
Angélica: É verdade, Laura! Mas minha mãe também diz que eu tenho que fazer o que gosto. Claro que ela tenta me puxar pra um que ela considera bom, mas sempre respeita minha opinião.
Laura: Que bom! - Ela sorriu.
Com a louça a Angélica fez questão de ajudar, com isso minha mãe lavou, e nós dois trabalhamos juntos para secar e guardar. Claro que teve um "gargalo", e nós tínhamos que ficar esperando juntar um pouco de louça. Enquanto lavamos a louça, meu pai foi tomar banho.
Já tínhamos acabado a louça quando ele voltou pra cozinha, e logo a Angélica resolveu ir embora.
Laura: Mas já, querida? Fica mais um pouco...
Angélica: Não posso, Laura. Tenho que ir pra casa, arrumar meu material e dormir pra amanhã ir pra aula!
Laura: Ah, claro. Tá certa! - Ela sorriu. Mas dessa vez, foi um sorriso verdadeiro!
Angélica: Então tchau, tchau Edson!
Os dois responderam juntos, e então eu me levantei pra ir com a Angélica até o portão.
Angélica: Viu só, correu tudo bem! - Ela disse do lado de fora.
Felipe: Eu não disse que daria errado! - Falei rindo. E levei ela até a calçada, fora do campo de visão dos meus pais.
Felipe: Obrigado por estar fazendo tudo isso por mim...
Angélica: Não precisa agradecer...
Ela me abraçou, e eu retribui.
Angélica: Está sendo divertido!
Nos apertamos no abraço que durou um tempo.
Felipe: Quer companhia até sua casa?
Angélica: Não, tá tudo bem! Eu vou andando.
Felipe: Tem certeza?
Angélica: Tenho sim. É pertinho!
Felipe: Manda mensagem quando chegar lá, então!
Angélica: Tá, eu mando! Tchau!
Felipe: Tchau! Até amanhã!
Acordei no outro dia não muito feliz, eu fui dormir tarde pois novamente fiquei pensando demais na minha vida. Principalmente em toda essa "coisa" com a Angélica, também no Nicolas! A cena dele esfregando os olhos não saia da minha cabeça, mas meu cérebro tentava me convencer de que ele estava apenas esfregando os olhos, nada mais.
No dia seguinte a primeira aula foi de Educação Física, no começo o Michel sugeriu que jogássemos vôlei! Mas os meninos não quiseram e acabaram jogando futebol de novo, a maioria das meninas sentaram-se na arquibancada pra ver os meninos jogarem, algumas outras foram até a outra quadra, mas ficaram só brincando com a bola, pois não estavam em número suficiente pra formar times de vôlei!
A Angélica e a Bianca se sentaram comigo, o Nicolas foi escolhido pra jogar e acabou não ficando com a gente durante a aula. O Michel sentou-se com a gente logo depois que eles começaram a jogar.
Michel: Não perdeu mais hora? - Ele riu sentando-se ao lado da Bianca.
Felipe: Não. - Forcei uma risada.
Michel: Você dormiu além da conta, enrolou muito no banho, ou o que?
Felipe: Dormi mais do que devia... E ninguém me chamou.
Michel: Poxa.
Dei risada do modo como ele falou e acabei ficando quieto depois. Acho que ele percebeu que eu não estava afim de conversar, e então puxou assunto com a Bianca. Quando não estava olhando pro Michel falando ou pra uma das meninas, eu estava olhando o Nicolas jogando, talvez tenha olhado demais, talvez estivesse muito “vidrado” nele, talvez alguém tenha percebido, mas e daí?
Na sexta feira daquela semana a Angélica e eu combinamos de sair com a Bianca e o Giovani... A ideia foi da Bianca mesmo, eu não fiquei muito empolgado no começo, mas a Angélica me convenceu a ir, dizendo que as pessoas iam estranhar um casal que não sai de vez em quando.
Demorei pra criar vontade e ir tomar banho na sexta de noite, acabei me atrasando um pouco. Me arrumei bem rápido pra não me atrasar ainda mais! Meu pai me levou até o shopping, passando da casa da Angélica pra pegá-la, claro!
Esperava que ele dissesse algo no caminho, algum comentário ou pergunta de como iam as coisas, mas ele não abriu a boca nem mesmo para bocejar.
Finalmente ele nos deixou no shopping, como o Giovani não gostava de "balada", e sinceramente, eu também não, nós combinamos de ficar só no cineminha básico e comer algo no shopping mesmo.
O Giovani era um pouco quieto, envergonhado, falava pouco e era difícil puxar assunto com ele, não parecia ser assim entre ele e a Bianca, parecia que entre os dois havia assunto para conversar por anos e anos!
Quando entramos no cinema e nos sentamos, eu pude sentir o perfume do Giovani pela primeira vez! Era um perfume familiar, me lembrava muito o Nicolas. Comecei a me perguntar se eu não ia mais parar de pensar nele.