Capítulo 14

Conto de SyncMaster como (Seguir)

Parte da série Tribulações

Eu ainda estava lavando a louça do almoço quando a campainha tocou, sério mesmo que a Angélica ia grudar desse jeito?

Nicolas: Oi... - ele disse quando abri o portão.

Felipe: Oi... - falei surpreso.

Nicolas: Tá tudo bem? Parece nervoso...

Felipe: Não, não! Eu tô bem! Entra...

Fomos até a cozinha... Ele estava um pouco sério.

Felipe: Só tava terminando de lavar a louça.

Nicolas: Quer ajuda?

Felipe: Não, tudo bem. Falta pouco, eu termino mais tarde.

Nicolas: Já fez a tarefa de matemática?

Felipe: Não... E você?

Nicolas: Também não...

Ele olhou pro lado, parecia procurar um assunto desesperadamente, não muito diferente de mim.

Nicolas: O professor Michel é legal?

Felipe: É, ele é legal...

Nicolas: Você ficou muito vermelho uma hora falando com ele...

Felipe: Fiquei? Não lembro... - Menti.

Nicolas: Entendo...

Segurei firme pra não deixar nenhuma lágrima cair. Ele estava tão frio, parecia muito chateado, triste… Eu queria muito dizer a verdade, mas eu tinha medo.

Felipe: Quer ver TV? Ia passar um filme legal agora de tarde.

Nicolas: É? Vamos ver então...

Deixei ele ir na frente justamente pra poder enchugar os olhos sem ele perceber, sentamos no sofá, na verdade praticamente deitados, o sofá de três lugares era daqueles "sofá-cama", deitamos lado a lado, eu ainda estava com a camisa de uniforme da escola, só tinha tirado a calça e vestido uma bermuda, ele estava com uma camisa preta e bermuda.

Nicolas: Aah, já ouvi falar desse filme...

Felipe: Bem ou mal?

Nicolas: Ambos... - ele riu - Mais bem do que mal.

Felipe: Mas você nunca assistiu?

Nicolas: Não...

Felipe: Então tá bom!

O filme era ficção, com leves pitadas de comédia e romance. Uma grande mistura! Depois de alguns minutos o Nicolas ficou tão interessado no filme que quase não conversou mais, eu não me interessei muito, comecei a ficar com sono...

Fui pensando na Angélica, no Nicolas, na Bianca e seu novo romance, onde tudo isso ia parar? Viagei um pouco deitado ali, até que acordei sozinho, me assustei, a TV ainda estava ligada, mas eu estava com a sensação de que tinha dormido muito tempo. Me assustei, levei a mão pro lado e chamei "Nicolas?". Acabei segurando sua perna por um momento, e soltando logo que percebi o que tinha feito.

Nicolas: To aqui... O que foi?

Felipe: Nada... Desculpa!

Nicolas: Não esquenta! Você dormiu... O filme tá quase acabando! Não te interessou muito, né?

Felipe: Não muito... Achei que era melhor.

Nicolas: Esperava mais também... Mas dá pro gasto.

Felipe: Haha, você ficou vidrado no filme, e fala que dá pro gasto?

Nicolas: Não fiquei vidrado...

Felipe: Ficou sim, grudou os olhos na tv e nem olhava pro lado.

Nicolas: Então você repara... - Ele sussurrou.

Felipe: Reparo demais. - Falei sério.

Ele se sentou no sofá.

Nicolas: Acho melhor eu ir...

Pensei em pedir pra ele ficar, pra não me deixar de novo ali sem ele.

Felipe: Tem certeza?

Nicolas: Temos coisas pra fazer...

Felipe: É...

Nicolas: Então, vou nessa, até amanhã?

Felipe: Até... Até amanhã.

Ele saiu enquanto eu fiquei ali encarando a televisão... Um mundo de pensamentos invadiu minha cabeça. Levantei do sofá e fui atrás dele, abri o portão e saí na calçada, ele estava um pouco longe, ia gritar pra ele quando o vi esfregar os olhos, uma, duas, três vezes. Fiquei sem saber o que fazer. Ele estava chorando ou o que?

Eu entrei em casa e deitei no sofá mais uma vez, eu estava começando a me odiar por estar fazendo tudo isso! Fugindo de mim mesmo, fugindo do que eu era! Até quando? Uma hora eu teria que ser quem eu realmente era, teria que enfrentar meus pais.

Quando me sentei pra fazer a terefa de matemática (isso depois de jantar), abri meu estojo e tirei um papel amassado de dentro dele, eu precisava parar com essa mania de usar meu estojo como lixo. Abri meu caderno e comecei a fazer contas. Mas aquele papel me intrigou, ele estava dobrado de uma forma muito caprichada, não podia ser lixo! Larguei as contas de lado e desdobrei o papel em um pequeno retângulo, nele estava escrito "Vai dar tudo certo, lipe!". Era uma letra redondinha, bem feita, caprichada, só podia ser da Angélica, a mensagem também deixava claro que era dela.

Fiz a tarefa na correria, ou não conseguiria dormir bem pra acordar na hora no dia seguinte. Eu teria abandonado na metade se o professor não fosse dar visto no caderno.

Deitei pra dormir as onze horas, era cedo o suficiente pra eu conseguir acordar. Digo, eu achei que fosse.

Até acordei com minha mãe me chamando, mas não fiquei consciente o bastante pra lembrar que eu tinha que levantar e ir pra aula. Levei uns quarenta minutos pra cair na real.

Isso já foi o suficiente pra perder o ônibus, levantei da cama num pulo, nem tomei banho, vesti o uniforme, tomei só um copo de leite e saí correndo de casa. O ponto já estava vazio, me xinguei muito, era tão difícil fazer a tarefa mais cedo pra poder dormir no horário que eu estava acostumado?

Apertei o passo, corri mais rápido, eu tinha que chegar na hora, mas sabia que não conseguiria.

Ouvi a buzina de um carro, olhei pro lado e vi um fiesta preto me acompanhando, o vidro estava fechado, então fiquei meio atento. Logo o motorista abriu o vidro e eu vi o Michel.

Michel: Perdeu hora?

Felipe: Dormi demais, perdi o ônibus...

Michel: Que tragédia... - Ele riu - Sorte sua que é meu caminho pra ir pra escola. Sobe aí.

Normalmente eu não aceitaria, eu mal conhecia o cara! E já tinha experiências muito ruins com caras que pareciam bonzinhos e se aproximavam de mim. Mas eu estava muito atrasado e precisava aceitar!

Felipe: Já sei que vou ter ajuda quando perder o ônibus. - Falei já dentro do carro.

Ele riu.

Felipe: Obrigado...

Michel: Não precisa agradecer.

Ele estava com uma calça moletom, camisa regata preta, um pouco colada ao corpo e óculos de sol... Ele realmente era bonitão.

Felipe: Não tem problema eu chegar de carro com você? - perguntei quando nos aproximamos da escola.

Michel: só dei uma carona pra um aluno que perdeu o ônibus...

Felipe: Então tá...

Quando ele parou o carro no estacionamento da escola, eu desci apressado.

Felipe: Obrigado a carona, Michel, depois a gente acerta!

Michel: Não esquenta, vai pra aula!

O sinal bateu antes que eu entrasse na sala, mas ainda cheguei antes do professor.

Sentei atrás do Nicolas, que me cumprimentou normalmente, e depois a Angélica e a Bianca me cutucaram.

Angélica: Como você veio?

Felipe: Peguei uma carona...

Angélica: Com quem?

Felipe: Com o professor Michel...

As duas ficaram me encarando... Tentei falar baixo pra ninguém ouvir.

Bianca: Que papo é esse?

Felipe: Eu perdi hora hoje, acordei faltando só vinte para as sete, aí eu me arrumei na correria e saí correndo de casa. Se eu quisesse chegar na escola, a única opção era vir a pé, correndo! Aí o Michel parou do meu lado, ofereceu carona e como eu precisava muito, aceitei. Ele disse que era caminho dele pra escola.

Bianca: Ele é mó gato...

Angélica: Pena que é gay... - Ela disse num tom apreensivo.

Bianca: Que?

Felipe: Como você sabe?

Bianca: Como VOCÊ sabe? - Ela perguntou pra mim - Tá de rolo com ele?

Felipe: Cala a boca, Bianca! Não viaja! - Falei já nervoso.

Angélica: Todo mundo sabe, Felipe! E você toma cuidado, se sair comentário ele pode ser afastado.

Felipe: Mas não tá rolando nada, ele só me deu uma carona!

Angélica: Você tem prova?

Fiquei em silêncio.

Angélica: Foi o que imaginei... Como você soube que ele é gay?

Felipe: Ele me contou...

Angélica: Quando?

Felipe: Na aula ontem. Eu fiquei sentado, não joguei futebol! Ele sentou comigo e ficamos conversando. Aí ele acabou me contanto.

Angélica: Ai Fe, toma cuidado...

Bianca: Olha o ciúmes...

Eu tinha me esquecido completamente do meu namoro com a Angélica.

Angélica: Eu contei pra ela...

Felipe: Contou tudo?

A Angélica fez que sim com a cabeça.

Bianca: Vocês são doidos... - Ela riu - E você é um covarde... - Disse me olhando.

Felipe: Obrigado pelo apoio...

Bianca: Amigos são pra isso.

Me virei pra frente e encarei as costas do Nicolas, fiquei olhando-o sem pensar em nada. Na verdade, eu estava lembrando da tarde anterior, quando o vi esfregando os olhos indo embora. E da hora que acordei assustado procurando-o e segurei na sua perna. O que será que ele tinha pensado naquela hora? E será que estava realmente chorando quando o vi esfregar os olhos? Eu queria muito saber o que deveria fazer.

Logo que o sinal para o intervalo bateu, bem mais tarde, a Angélica levantou, me pegou pela mão e me puxou pra fora da sala. Conseguimos ouvir ainda um assovio antes de sairmos da sala.

Felipe: Precisa disso? - Perguntei quando sentamos num banco afastado dos outros.

Angélica: A Bianca quer que a gente conheça o namorado dela.

Felipe: Namorado? Achei que era só uma conversa...

Angélica: Já virou namoro... Ela quer apresentar ele pra gente...

Felipe: Não consigo imaginar a Bianca namorando...

Angélica: Nem eu... Mas tá acontecendo...

Felipe: Bom, eu também nunca me imaginei namorando você!

Angélica: É... - Ela riu.

Olhei pro tumulto de alunos nas mesas do refeitório. Procurei por um tempo até encontrar o Nicolas, ele estava sentado num banco de perfil pra nós, acompanhado da Bianca, que nos olhava o tempo todo, e do Ivan, um outro garoto da nossa sala. O Nicolas estava com os cotovelos apoiados nos joelhos... Olhava direto pro chão e parecia estar falando com o Ivan.

Angélica: Vamos hoje de tarde conhecer o namorado da Bianca, ok?

Felipe: Mas ele não estuda de tarde?

Angélica: Dizem que sim... Talvez ele vá faltar hoje pra nos conhecer.

Felipe: Belo motivo pra faltar.

Angélica: Besta.

Fomos os últimos a entrar na sala, e quando entramos alguém disse: "o amor é lindo". Olhei feio pra sala, nem mesmo sabia quem tinha falado, não reconheci a voz, mas tenho certeza que a pessoa viu minha expressão descontente.

Fui pra casa da Angélica depois que terminei de lavar a louça naquela tarde... Vesti uma camisa branca, bermuda e tênis, passei os fones de ouvido por dentro da camisa e fui ouvindo música, não era normal eu fazer isso, achava estranho, mas mais estranha do que minha vida estava? Nem dei bola.

Toquei a campainha e a Angélica logo abriu o portão... Me segurou pela mão e sussurrou: "minha mãe quer te ver, sorria!".

Ela me levou até a sala, onde a Rose estava sentada num sofá assistindo TV.

Rose: Oi, querido! Como vai?

Felipe: Bem, e você?

Rose: Ah, to bem... E o namoro? A Angélica tá se comportando?

Felipe: Tá sim... - sorri.

Rose: Que bom! Estou tão feliz por vocês!

Felipe: Obrigado... - Falei sem jeito.

Angélica: Mãe, nós precisamos ir! Já estamos atrasados.

Rose: Tá bom, filha! Tchau, Felipe! Comportem-se!

Nem chegamos a sentar e já estávamos saindo.

Felipe: Sua mãe tá levando muito a sério...

Angélica: Relaxa.

Felipe: Relaxa? E quando rompermos vamos continuar com aquela amizade linda? Já pensou nisso?

Angélica: O que que tem?

Felipe: É anormal...

Angélica: A gente pensa em algo.

Respirei fundo e fiquei em silêncio até chegarmos na casa da Bianca. A Angélica chamou e logo ela veio nos receber...

Bianca: Nem entrem, vamos! - Ela disse fechando o portão e começando a andar.

Felipe: Onde ele vai esperar?

Bianca: No parque...

Felipe: Naquele parque? No parque do Túlio?

Bianca: Ai, desculpa, Fe! Eu esqueci desse detalhe... Quer que eu ligue pra ele pedindo pra ir pra outro lugar?

Felipe: Não, vamos lá. O Túlio não deve estar lá agora.

Bianca: Você que sabe... Então vamos.

Angélica: Pode adiantar alguma coisa sobre ele?

Bianca: Giovani.

Angélica: Ah, ok! Obrigado pela maré de informações.

Bianca: Vai ficar sem graça se eu falar tudo agora!

Angélica: Ok, ok!

Enfim chegamos ao parque, eu comecei a olhar pros lados pra ter certeza de que o Túlio não estava lá... Mas logo a Bianca chamou nossa atenção.

Bianca: Ai, é ele sentado ali!

Felipe: Onde? - falei distraído.

Bianca: Ali! - ela disse apertando o passo e indo na frente, se aproximando de um banco onde tinha um Deus grego sentado, cabelo preto, curto, não malhado, mas tinha um corpo bacana, traços perfeitos no seu rosto, sorriso contagiante, como a Bianca tinha conseguido um cara desses?

Bianca: Ele é o Felipe, e ela é a Angélica! Os dois que te falei! Pessoal, ele é o Giovani, meu namorado!

Ele nos cumprimentou, sua voz deixava a desejar, mas o resto compensava!

Bianca: E também começaram a namorar ontem! Pois é... Fiquei sabendo hoje.

Giovani: Aah, que bacana... - Ele disse sorrindo - Vocês combinam mesmo!

Pensei em dizer: "diferente de vocês dois", mas como ainda não tinha muita amizade com ele, fiquei quieto!

Comentários

Há 1 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-02-25 19:30:54
Amando mais a cada capítulo.😘😘😘