UM VERDADEIRO AMOR
As noites sempre eram iguais. Ele chegava com o violão debaixo do braço, sentava na cadeira em frente minha cama e tocava minhas músicas prediletas. A que eu mais gostava era “Teu sonho não acabou” do Taiguara, esta ele cantava duas vezes e eu escutava com os olhos fechados. Era a forma que eu encontrava para sonhar. Sonhar com um amor impossível. Sonhar com aquele moreno de olhos esverdeados que transmitia a paz de espírito que eu nunca tive.
O amor não é um simples contato de dois corpos sedentos em uma cama. Não é um beijo que satisfaz seu ego e alivia seu coração. O amor é a presença física daquele que completa seu sorriso. Que entende seu idioma e que fala com a sua alma. Assim eu sonhava, assim eu amava.
As vitórias não foram conquistadas num piscar de olhos. Foi como se subisse cada degrau de uma escada que conduzia ao céu. Dia após dia, momentos de ternura, momentos de paixão, momentos de aflição. Amei e fui amado. Ele sabia como me completar. Sabia preencher cada cantinho do meu espaço vazio. Era a minha alma, a minha vida, o meu mundo.
Um dia ele partiu. Como uma ave que não encontra mais o alimento no cerrado, foi em busca de novas aventuras, de novos amores, de novas paixões. Esperei dias, horas, minutos, contando cada segundo para vê-lo chegar, sentar-se na cadeira em frente minha cama e tocar as músicas que eu mais gostava.
Olhei no espelho e senti que estava diante de um ser desfigurado. Com o coração amargurado e despedaçado. Juntar os pedaços de vidros quebrados podem feriar as mãos. Juntar os pedaços de um amor ignorado pode ferir o coração. Não fiz nada a não ser esperar. Esperar pelo impossível. Esperar pelo milagre. Esperar para contemplar os lábios ardentes dizendo-me palavras de amor que nunca escutei de ninguém. Esperar pelo romance que eu comecei a escrever e nunca terminei. Esperar que ele voltasse.
As noites eram vazias e infindáveis. Ignorei a solidão que me cercava. Meu corpo clamava pelo seu corpo. Minha alma gritava pelo seu coração. É um amor impossível de viver. Um amor que as raízes do preconceito não deixaram brotar nem crescer. Um amor que era afinado como aquelas seis cordas do violão que tocava as músicas que eu mais gostava. Um amor limpo, puro, delicado.
Na rua milhões de pessoas falando, mentido, enganando, maltratando. Aqui dentro apenas um eu na esperança da outra metade que juntou a milhões e não fazia parte daquele universo que um dia criei. Uma bolha de ar onde cabiam apenas duas almas, dois corpos, dois corações.
Ainda posso ouvir suas músicas e sentir o calor do seu corpo junto ao meu abrigando-me do rigoroso inverno. Aquele mesmo inverno que ele um dia me disse que era o inverno de nossa paixão. Onde foi parar este sentimento abstrato? Onde o sol que brilhou na estrada da nossa vida escondeu? Quero apenas sonhar. Sonhar um sonho lindo que comecei uma noite e que pensei que jamais teria um fim.
As noites sempre são iguais, mentindo, fingindo, enganando. Falando palavras que não saem do coração. Falam pelo simples fato de falarem. Milhões de anos podem passar por nós. Cometas vão nascer e vão morrer. As estações vão trazer o sol, a chuva, o sorriso, as lágrimas. Vou viver e morrer a cada momento. Mas nunca vou deixar de dizer como eu te amo.