Prólogo e Capítulo 1

Conto de Sr. Costa como (Seguir)

Parte da série Passio - O Livro do Amor

Paixão

Paixão, mistério da vida. Cientifico ou não, é misterioso e incontrolável... Quase incontrolável. Muitos controlam suas emoções, mas não têm uma explicação para tal controle.

Eu? Busquei encontrar uma resposta, mas essa busca me teve um preço. Um preço pelo qual me arrependi ter pagado.

Ano Novo

Ao checar as horas no celular, assim que saí do banheiro, vi que faltavam menos de cinco minutos para as vinte horas.

Neste mesmo instante, minha mãe bateu na porta do meu quarto e me chamou:

- Passus, você já está pronto meu amor? - Perguntou ela, com o carinho costumeiro em sua voz.

- Acabei de sair do banho, mãe. Mas prometo que não vou demorar a me trocar – respondi, vestindo uma cueca boxer rosa (era ano novo, e eu supersticioso como era, não deixaria o amor me escapar naquele ano).

- Tudo bem, seu pai e eu estaremos lá embaixo te esperando.

- Sim, senhora.

Eu terminei de me trocar, me perfumei e fui para a sala de estar, onde meus pais estavam sentados um do lado do outro, trocando carinhos.

Era uma cena bonita de se ver. E se eles não fossem meus pais eu juro que teria mais ciúmes que admiração, mas meu sonho era encontrar alguém que me fizesse feliz, como os dois se faziam.

- Eu estou pronto – disse, logo depois de raspar a garganta, de propósito.

- Gato como sempre – disse minha mãe, se levantando do braço do sofá e me dando um beijo na testa.

- Não podia ser diferente. Essa é a minha obra de arte mais linda e a única que não tem um preço, apesar de ser a mais valiosa – disse meu pai, um pintor renomado, deixando o copo de vodca na mesinha de centro e me abraçando pelos ombros, me dando um beijo na cabeça.

- Falando assim parece até que eu sou o filho perfeito – disse.

- E você é... Quer dizer, seria se arrumasse o seu quarto depois de se arrumar.

- O senhor não pode me culpar, se eu arrumasse tudo a gente se atrasaria.

- Se o senhorito se arrumasse mais rápido, isso não seria problema.

- É melhor a gente ir, porque o transito deve estar um caos, hoje.

- Você sempre arruma um jeitinho de escapar – disse minha mãe.

- Mas é verdade.

Meu pai balançou a cabeça, mas com um sorriso no rosto, antes de pegar as chaves e sairmos.

Mamãe e papai estavam de azul. Ela com um vestido leve e cumprido, justo até a cintura, combinando com seus olhos cor de piscina. Ele com uma camisa polo azul-marinho, e calça jeans clara.

Eu, como sempre em noite de ano novo, calça jeans clara, com uma camisa branca, não totalmente lisa.

Meu pai, sempre cavalheiro, abriu a porta do carona para minha mãe entrar.

Eles eram bem novos apesar de eu já ter feito quinze anos, porque se conheceram no colegial, e se casaram antes de se formarem na faculdade, porque mamãe engravidara de mim. Mas eles eram de famílias tradicionais e ricas, o que ajudou um pouco. E mesmo depois de vinte anos, passando por algumas surpresas, ainda estavam juntos e felizes.

Em menos de cinco minutos entramos na estrada, e como eu tinha previsto, o transito estava um caos, ainda que dentro da cidade estivesse calmo.

Demoramos mais ou menos cinquenta minutos para chegar na casa da minha avó, por um caminho que normalmente faríamos em trinta.

- Parece que a vovó não é a única que está dando festa aqui na rua – disse, quando chegamos e tivemos que estacionar quase na esquina, porque não tinham vagas.

- Você sabe que as festas da sua avó são o suficiente para encher a rua de carros – disse meu pai.

Eu tinha preparado dois doces e minha mãe um pernil.

Quando entramos na casa, minha vó veio nos receber na entrada.

- Boa noite, Laura – disse minha mãe, dando um beijo e recebendo um abraço da minha avó.

Mamãe era a nora preferida da vovó, e não era a única. A única mulher da família de meu pai, era sua mãe, dona Laura.

- Boa noite, vó. Tudo bem? - cumprimentei-a, recebendo um abraço.

- Tudo sim, meu amor. E você?

- Estou ótimo.

- Boa noite, mãe – disse meu pai.

- Boa noite, Paulo. Vocês foram os últimos a chegarem – disse minha vó.

- Culpa do seu neto caçula. Nunca vi ser vaidoso assim.

- Você não pode culpar o menino, na idade dele você era a mesma coisa .

- Ha! – disse.

- Mãe, é assim que você quer que ele me obedeça?

- O menino é um ótimo filho, de-lhe uma folga.

- Mas folgado que isso.

- Pai!

Ele riu e me abraçou pelos ombros.

- Dá os doces, que eu levo lá pra dentro. Vai brincar com seus primos – disse minha vó.

Vovó tinha em sua casa um quarto dos netos – um quarto que ela tinha montado para pelo menos três pessoas, onde eu e meus primos ficávamos quando resolvíamos dormir por lá.

- Chegou o caçulinha da vovó – disse Fernando, apertando minha bochecha.

- Você me ama, não é possível – disse, recebendo um abraço do meu primo mais velho.

- E aí pequeno, como você tá? - perguntou Diego, que estava jogando videogame com o irmão mais novo, Mateus.

- Bem e vocês?

- Tranquilo – respondeu Mateus.

- Cadê o João? - perguntei. - A vovó disse que fomos os últimos a chegar.

- Tá no banho.

- Deixa eu jogar uma partida? - perguntei, me sentando ao lado de Diego.

- Quantas você quiser, priminho – disse Diego.

- O menino tem quinze anos, mas nunca vai deixar de ser o xodó dos primos. Aí depois ainda zoa o menino dizendo que a vó paparica – disse João, parado na porta do banheiro.

- Não é culpa minha se eu nasci depois que todo mundo.

- Beleza, Passus?

Eu consenti, sem tirar os olhos da televisão.

- Cadê as meninas? - Perguntei.

- Estão lá fora, fofocando – disse Mateus.

Larissa e Juliana eram nossas únicas primas, conhecidas por já terem ficado com metade da região, metade onde só não se incluíam nossos primos, porque por incrível que pareça para meninos da idade deles, eles achavam que primos não deveriam trocar saliva.

- A Juliana tá namorando ainda? - Perguntei.

- E ela namora alguém por mais de duas semanas? - perguntou João.

- E você? Não estava ficando com a Alessandra?

- A Alessandra peitão? Da casa de ração? - perguntou Diego.

- Isso você não compartilha com os primos – disse Mateus.

- Não era nem pra esse pirralho ficar sabendo. Ele só descobriu porque é amigo da Camilinha, que trabalha com a Alessandra. Mas enfim, não é pra mim não, ela é muito maria homem para o meu gosto, mesmo sendo muito gata – disse João.

- Você quer uma Cinderela. Pensei que só as mulheres se preocupavam em achar o príncipe encantado – disse.

- Ah! É que tem homem que curte mais aquela menina sensível, que quer carinho toda hora... Você acabou de fazer quinze anos, tá na época de aproveitar, por isso não se liga muito nesses detalhes.

- Por falar, em Camilinha, e aproveitar, você tem muitas amigas. E duvido que você já não tenha passado o rodo – disse Fernando.

- Como o João disse, eu tenho quinze anos, época de aproveitar.

- Ah, moleque – disseram todos eles, mas totalmente destoantes um do outro.

Depois que João acabara de se arrumar, nós fomos para o portão da casa da minha vó, ver as pessoas que passavam por ali, como eu tinha dito para meu pai, minha vó não era a única que estava dando festa ali na rua, e toda hora passava gente de um lado para o outro.

Nós cantávamos uma música para cada pessoa que passava, mas claro, de uma forma que a pessoa não desconfiasse que era para ela.

Éramos do tipo adolescentes idiotas que faziam coisas idiotas de adolescentes.

- Aquela gostosa tá vindo pra cá? - perguntou Mateus.

- Passus, que saudades – disse Jaqueline, me abraçando forte.

- Eu é que estou com saudades, sempre que venho na minha vó você nunca está em casa. Tudo bem?

- Tudo. Tanto coisa pra te contar.

- Se for sobre o Gilberto já estou sabendo.

- Ele que te falou?

- E super feliz.

- Eu queria ter ido pra Cabo Frio com ele, mas meu pai não deixou. Você conhece o meu pai.

- Você é a menininha dele, Jaque. Pais são todos iguais.

- Queria ser um menino nessas horas.

- Tem lá suas vantagens.

- Deixa eu ir lá, se a gente não se ver mais hoje... Feliz ano novo.

- Obrigado, pra você também.

- Muito gata sua amiga – disse Diego, sem tirar os olhos de Jaqueline, enquanto ela descia a rua.

- Tem namorado, e ele é um dos meus melhores amigos, tira o olho – disse.

- Mudando de assunto, você já sabe onde vai fazer seu ensino médio?

- Minha mãe está querendo me por pra estudar aqui perto da casa da vovó, é um dos melhores colégio da região e eu quero ficar bem preparado para o vestibular.

- Você já tem alguma ideia do que vai fazer, primo? - perguntou Mateus.

- Queria muito fazer jornalismo, e meus pais estão me dando maior força. Mas hoje em dia, qualquer um pode ser jornalista. E eu não quero ficar pra sempre dependente do dinheiro dos meus pais.

- Você vai se dar muito bem, não vai precisar do dinheiro do seus pais pra sempre, eu tenho certeza disso – disse João.

- É, cara. Você sempre consegue o que quer – disse Diego.

- E a gente não está falando isso só porque a gente te paparica – disse Fernando.

- E põe paparicar nisso, nem sei do que vocês estão falando, mas isso é verdade – disse Larissa, se aproximando da gente com a irmã.

- Oi, meninas. Como vocês estão? - Perguntei dando um beijo em cada uma, sendo um pouco falso, confesso.

- Bem, e você, priminho? - Perguntou Juliana.

- Bem, também – disse, forçando um sorriso.

Meu celular tocou, e eu me afastei um pouco deles, porque vi quem era.

- Eu queria esperar meia noite, mas não consegui aguentar de saudades.

- Não era pra mim que você deveria estar ligando.

- Eu queria ouvir sua voz primeiro, não me culpe. Eu não quero estragar o que eu tenho, pela primeira vez tenho alguém que realmente me ama e só quer me ver feliz, e eu vou fazer o máximo para retribuir isso. Mas eu não quero que nossa amizade acabe por conta disso, e eu prometo que não vou estragar tudo.

- Eu ficaria muito mal se isso acontecesse, tanto seu namoro quanto nossa amizade.

- Eu posso te ligar na hora da virada?

- Claro que pode, a gente não tinha combinado isso?

- Obrigado por manter nossa amizade.

- A sua é uma das melhores, eu não podia deixar isso ir embora.

- A gente se fala depois. Tchau.

- Tchau – disse, desligando a ligação.

- Quem era, senhor misterioso? - Perguntou João.

- Um amigo querendo desejar feliz ano novo, antes que o celular dele ficasse sem sinal – menti.

- É por isso que você foi atender longe da gente?

- É que vocês estavam conversando e meu celular está muito baixo, vou ver se troco essa semana.

- Entendi.

Perto da meia noite começamos a contagem regressiva, os meninos todos pegaram uma garrafa de champanhe para estourar, e todos pegaram uma taça para brindar quando fosse a hora.

Depois de um tempo meus pais resolveram ir embora, mas eu quis ficar porque meus primos combinaram de dormir todos na vó para fazermos um churrasco no dia seguinte, já que tinha muita carne para assar, e ninguém queria mais comer churrasco depois da ceia.

Trinta minutos depois de terem saído de lá, a notícia que mudaria minha vida dali pra frente chegou pelo celular de uma das minhas tias.

Eu estava jogando videogame com os meninos, quando João voltou ao quarto e pediu para falar comigo em outro lugar.

- Era sobre os seus pais – disse ele, com um olhar de preocupação e de pena ao mesmo tempo.

Eu balancei com a cabeça, imaginando as piores coisas, meus olhos encheram de água antes que ele dissesse as palavras mais dolorosas:

- Sinto muito – disse ele, me abraçando.

Eu só queria gritar, mas enquanto meu coração o fazia, minha garganta não podia.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Ryan Benson em 2014-05-19 21:21:43
Tenso :/ Gostei da historia, continua!!
Por ThiagoAraújo em 2014-05-19 19:20:25
Nossa muito bom mais já foi triste no fim do primeiro capítulo Continua por favor