Como Tudo Começou (Parte 1)
Parte da série Camuflagem
São Paulo
Agosto de 2011
“Um fantasma vagando pelas ruas desertas de uma cidade... Perdido e desolado, apenas seguindo sem destino”. Era assim que eu me definia naquela madrugada. Caminhava á passos apressados e ao mesmo tempo lentos. Um peso na consciência me impedia de correr. Eu deveria agir naturalmente. Era o único modo de não dar suspeitas. Não podia ser um fugitivo. Não nesse momento. Os céus sob minha cabeça resplandeciam em tons de vermelho e amarronzado, com relâmpagos e trovões anunciando uma grande tempestade que logo cairia. Meus olhos fundos e sem vida, brilhavam com lágrimas congeladas que não ameaçavam cair. O foco das minhas grandes pupilas castanhas, perambulavam em algum ponto distante e longínquo do horizonte á minha frente. A frieza tinha me dominado. Naquele momento eu me sentia como uma alma penada, andando no meio da rodovia movimentada. Os carros passavam por mim buzinando e reclamando, mas de nada adiantava. Eu não conseguia ouvir e nem ter noção mental de nada á minha volta. Toda minha consciência só voltava para as lembranças do último olhar que ele me lançou, antes de fechar os olhos e partir. Eu vi tudo. Senti tudo. Tudo aquilo que aconteceu tinha sido minha culpa.
Entrei num jogo perigoso e sabia muito bem onde isso poderia me levar. E mesmo assim resolvi jogar. Venci. Ganhei! Só não esperava que essa fosse somente à primeira rodada. O jogo não tinha acabado. Na verdade, ele poderia nunca acabar. Eu tinha ganhado essa rodada, mas e as próximas? Não tinha á mínima ideia do que me aguardaria na próxima jogada. As peças pareciam mudar, conforme as estratégias se tornavam limpas. Só ganhava aquele jogo, quem melhor jogasse sujo. Eu jogaria, mesmo que como consequência minha pureza fosse roubada. Era o preço de se entrar nesse jogo. “Nunca entre num jogo onde perder significará morrer”.
Eu podia jurar que em algum lugar, estava tocando (Nouvelle Vague - Bela Lugosis Dead).
Quando cheguei à minha casa, já era de manhã. Entrei sem nem me preocupar com quem estivesse acordado e fui logo para o banheiro. O banho dissolveu-me completamente. O sangue, o cheiro, o suor e a presença dele, se esvaíram pelo ralo. A ducha quente começava a esquentar e eu só queria que ela me queimasse vivo. A fervência da água me inebriou e logo me entorpeci.
Um momento depois, saí do banheiro e fui para meu quarto. Caí na cama e lá fiquei. Anestesiado e petrificado... Adormeci e dormi por muitas horas infindáveis. Não pensei nele e nem queria. Mas os sonhos chegaram com força total e dessa vez eu não tive escapatória.
“No sonho eu deixava ele me beijar... A boca dele era suave e me dominava docemente... A música ainda tocava ao longe... Ele tirava toda minha roupa e me deixava completamente nu... Num movimento rápido, ele se jogava sobre mim e começava a beijar meu pescoço, só que mais rude e com mais desejo. Eu não retribuía nada. Apenas o deixava fazer o que bem quisesse comigo. Era como se eu estivesse morto. Meu corpo sentia tudo, e eu não me importava em reagir. Ele tirou a roupa e já estava excitado, quando abriu minhas pernas e me penetrou com uma força anormal. Uma... duas... três... Na quarta eu reagi e o empurrei... Ele segurou meus braços e eu fingi desistir... Ele continuou a penetração forçada. Quando ele achou que tinha controle sobre mim, dei uma forte cabeçada nele e apertei seu pescoço. Fiquei por cima dele e o apertei mais e mais. Soltei-o quando ele já revirava os olhos e corri daquele lugar. Um corredor sujo, estreito e escuro me aguardava. Eu corria tentando achar uma saída, mas o corredor parecia não ter fim. Algo vinha atrás de mim... Ele vinha na minha direção... Furioso... Sedento... Raivoso... Obcecado... Caí, quando tropecei num corpo estendido no corredor. Droga! Eu seria estuprado de novo... Algo me pegou por trás... Gritei e chutei-o. Ao olhar para o homem que tentava me agarrar, já sabia o viria a seguir. Era ele de novo. Ele não tinha morrido. Ele estava vivo. Desisti de lutar e um barulho no final do corredor, o fez parar”.
– Você não contou para ninguém não é? – perguntou ele bem baixinho no meu ouvido.
Despertei...
Acordo com um barulho estranho de algo se quebrando... Abro meus olhos assustados e me sento na cama com a cabeça zonza e explodindo de dor. Esfrego os olhos com as costas da mão para ver claramente e tudo se encontra escuro. Um novo barulho me desperta e fico alerta. Ouço sons de algo se movendo no corredor. Ao olhar para a porta fechada do meu quarto, vejo uma sombra passar pela brecha embaixo da porta. Passos pesados. Silêncio de novo. Que horas eram? Ao olhar no relógio do celular, tenho um susto. E não é pelas notificações de Facebook, Whatssap, Instagram e tantas outras redes sociais, e sim pelo fato de serem duas horas de uma manhã de domingo. Jogo o celular de lado e coloco as mãos na cabeça, tentando me situar. Levanto-me da cama ainda zonzo e me dirijo á porta. Só que ao girar a maçaneta, escuto um grito e um vidro sendo quebrado. Paro no mesmo instante e é como se eu acordasse finalmente.
O grito era da minha mãe... “O que estava acontecendo?” Começo a tremer violentamente e uma sensação que nunca senti antes me paralisa. Abro á porta calmamente e todo corredor está escuro. A porta do quarto da minha mãe no final do corredor está aberta e a do meu irmão de sete anos também. Vou até lá e verifico os cômodos. Ninguém se encontra. Desespero-me. Ouço sussurros urgentes e apressados. Tento disfarçar meus passos e deixá-los silenciosos, mas meu nervosismo se intensifica. No corredor, ando devagar na névoa ondulante da escuridão, chegando cada vez mais perto do topo da escada que leva as salas e cozinha da casa. Os sussurros se intensificam e minhas mãos soam. Caminho mais rápido e vejo a luz da cozinha acesa. Desço um degrau, depois mais alguns e vejo a visão mais terrível de toda a minha vida.
Tinha dois caras com máscaras de carnaval apontando armas para cabeça da minha mãe e do meu irmão de sete anos. Minha irmã estava inconsciente no sofá, com a cabeça apoiada no colo de outro mascarado que alisava seus cabelos com a própria arma. Um pensamento me passa pela cabeça, e não é nada heroico. Vejo-me gritando, pulando em cima deles e pegando a arma deles. E no instante seguinte atirando em um por um. Só que ao voltar pra realidade, o que consigo fazer é subir devagar novamente de volta para meu quarto. Paro no meio do corredor, quando uma sombra passa lá dentro do quarto da minha mãe. Corro sem pensar e entro no meu quarto.
Bato á porta com uma força assustadora e me tranco. Meu corpo começa a tremer e perco o equilíbrio emocional. Preciso ligar pra polícia. Agora! Procuro meu celular na cama e não o encontro. O desespero me invade enquanto reviro a cama toda e nada encontro. No chão também não vejo nem sinal do celular. “Inferno!” Coloco as mãos na cabeça e ando pelo quarto angustiado. Já não sei mais por onde procurar. Eles virão atrás de mim. O barulho que eu fiz quando fechei a porta foi alto o suficiente para eles ouvirem. “Estou perdido”. Um assobio começa a zunir no meu ouvido. Alguém está vindo. Passos relaxados começam a chegar lentamente mais perto da porta do quarto. O assobio ganha mais força e para bem na frente do meu quarto. Entro embaixo da cama e fico lá. A porta de abre e tenho a visão de botas de escalada preta e grandes. Os passos caminham em direção á cama. O assobio recomeça e para.
Escuto um “Shh!”. Quase tenho uma síncope, quando algo é jogado no chão. Visualizo meu porta-retratos intricado bem na minha foto. Alguns cacos de vidro correm para debaixo da cama e estremeço ainda mais. Prendo a respiração e espero. As grandes botas pretas caminham um pouco mais pelo quarto e eu só faço me encolher ainda mais. Os assobios voltam e seja quem for que esteja ali, parece se divertir com aquela situação. Os passos se dirigem para fora do quarto e á porta se fecha nas suas costas. Sinto um alívio. Penso em ficar ali, mas desisto. Não posso deixar minha mãe e meus irmãos nas mãos daqueles estranhos que eu nem conheço. Ou conheço?
E se... Não poderia ser... Não! Aquilo tinha acabado. Ninguém saberia de nada. Ninguém poderia encontrá-lo. Descarto aquela possiblidade e saio do louco esconderijo embaixo da cama. Aquele celular tinha que estar em algum lugar. Olho na mesa de cabeceira, dentro da gaveta e nada de novo. “Onde caralhos estava àquela porcaria daquele celular?” Foi nessa hora que senti algo se abrir.
Algo se moveu atrás de mim... E eu paralisei. A porta do guarda roupa se escancarou. Uma sombra caminhou até mim. Não tive coragem de olhar naquela direção e nem reação para gritar. Só congelei. A presença de algo ou alguém se intensificava cada vez mais. Esperei... Um assobio recomeçou e foi chegando bem mais perto do meu ouvido. Bem devagar, fui levando meus olhos na direção do vinha chegando... Os segundos se passavam como anos e ao ficar frente á frente com o que seria meu pesadelo, recebi um golpe no rosto que me fez cair na cama brutalmente. A pancada no nariz trouxe um jorro de sangue que me fez gritar de dor e medo. Mãos seguraram meus cabelos e minha visão criou forma finalmente.
– O que você fez? Onde está o Dimitri? – berrou o mascarado mais horrível que já vi na vida.
Foi como uma grande explosão... Tudo de repente iluminou... O que eu tinha feito na noite anterior...
O encontro... A verdade... O desfecho surpreendente.
Os efeitos colaterais acabavam de começar.
Alguns Meses Antes...
Maio de 2011
Estudar, trabalhar, dormir e comer. Essa era minha rotina diária desde sempre. Minha vida se resumia á esse ciclo tedioso e repetitivo. O tédio daquela última sexta-feira de maio estava ainda pior do que antes. Cansado da semana terrível e massacrante que tive, resolvi ficar em casa assistindo á um filme na TV. Amigos de trabalho e do cursinho ficavam me mandando mensagem á cada dois minutos perguntando se eu não viria me juntar á eles numa balada agitada no centro da cidade. Só que eu sempre dava a mesma resposta. “Não, estou cansado! Quem sabe outro dia”. O que na realidade era verdade, mas que muitas vezes era mentira. Não hoje, claro. Mentia por hábito, e isso já estava se tornando minha própria verdade. Não me sentia encantador, nem interessante ou descolado para estar em grupo se divertindo nos finais de semana. Eu fazia mais o tipo que se esconde na própria sombra, só para não ser notado.
Deitado no sofá com uma tigela de pipoca salgada no colo e um copo de refrigerante na mão, não tiro os olhos do filme de terror que fica cada vez mais assustador. Deduzo que minha escolha não poderia ter sido melhor. Sinto-me muito bem onde estou. O estilo caseiro que eu adotava á minha vida já era característico meu desde pequeno. Nunca fui muito de sair. Hoje vivo chocando na minha toca. A toca era segura e confortável. Era entediante ás vezes, mas nada que uma boa distração não resolvesse.
O cheiro de perfume da mamãe encheu o ar da sala naquele exato momento. Já sabia muito bem quem era. Cíntia, minha irmã mais velha, desceu as escadas toda deslumbrante e caminhou até mim com uma pressa irritada que só ela conseguia ter quando resolvia se sobressair. Seus lindos cabelos cacheados presos num coque de lado com sua pele morena da cor de chocolate, davam á ela uma originalidade impossível de não notar. Os olhos verdes escuros e a boca rosada fazia qualquer marmanjo cair de joelhos por ela.
– Eu vou sair com o Igor... O Rafa já está dormindo. Então não precisa colocar ele pra dormir. – disse ela.
– A Mamãe sabe do perfume dela sendo usado por você? – perguntei ironicamente. Ela me fuzilou com aqueles cílios postiços.
– Francamente, Fred! Você vai me chantagear de novo? O que é agora? Vai me deixar ficar mais uma semana lavando á louça? Qual vai ser o preço? – rebate ela mal humorada.
– Me deixa pensar... Que tal você largar aquele Zé Mané do Igor e procurar alguém que realmente te dê o valor que você merece? – pergunto seriamente. Ela balança á cabeça e joga uma almofada na minha cara.
– Vai se ferrar, garoto! Aliás, você é quem deveria arrumar um namorado pra te aturar, sabia? Quer um conselho? Ser assumir gay pra ficar em casa é o mesmo que ficar no armário pra sempre. Você precisa sair e conhecer pessoas... Fred, você já vai fazer vinte anos, tá na hora de viver a vida. Saí dessa toca. Pelo amor de deus, você até parece um inválido. Acorda pra vida maninho! – dizia ela, enquanto retocava o batom no espelho do celular. – Tem muita gente nesse mundo que pode te querer, por mais improvável que pareça. Também aturar você parece uma tarefa bem impossível. – enojou-se ela ao olhar pra mim.
– Pra encontrar um cara como o seu namorado? Não! Obrigado! Estou bem assim... Uma coisa você tem razão... Não deve ter ninguém pra me aturar mesmo. Só você! Vou te atanazar por um bom tempo maninha. Você não vai se livrar de mim tão fácil. – digo e jogo uma almofada nela.
– É muito insuportável mesmo... Já sei... Tenta um chat... Aí você nem precisa se identificar. Muitas vezes é mais fácil gostar daquilo que não vemos. Só não seja aquele tipo de mentiroso canalha. Um dia você pode se encontrar com alguém que você conheceu virtualmente e não vai ser nada legal se decepcionar com sua aparência fake. – alertou-me ela.
– Ah, então você é expert nesse assunto? Conheceu o Igor num chat? – ironizo.
– Para seu governo foi num aniversário mesmo tá... E eu não tenho que te dá satisfação do que eu faço ou deixo de fazer. Apenas siga a dica e pare de ser um estranho. Bye! Bye! – disse ela.
Uma moto buzinou lá fora e Cíntia saiu em disparada fechando á porta com força.
...
Quando o filme acabou, já passava das onze da noite. Desliguei a televisão. Lavei a louça que eu tinha sujado e antes de entrar no meu quarto, dei uma leve espiada no quarto do meu irmão, para ver se estava tudo bem.
Fechei á porta do meu quarto e me deitei na cama. Sem nada pra fazer. O tédio era mesmo um carma. Olhei para o teto e fiquei pensando na vida. O que eu iria fazer? Ler? Não agora! Estudar? Nem pensar. Vê algo ou assistir á uma serie de TV? Não hoje. Estava sem opções quando meu celular vibrou e sinalizou um bipe. Minha amiga tinha acabado de tirar uma selfie num restaurante bacana, com seus outros amigos. E convidava-me á me juntar á ela. Esquece... Joguei o telefone de lado e abri o notebook. Comecei a escutar minha playlist infinita e entrei no facebook. Nada de interessante. Já ia desligar o computador, quando um anúncio num site de fofocas me chamou á atenção. Cliquei e logo á página abriu.
Era um site de relacionamentos. As palavras de Cíntia me vieram à cabeça. E se... Sei lá... Eu tentasse... Vai ver ela podia ter razão. Já sei. Vou entrar só na brincadeira. Um fake resolveria. Eu só podia estar louco mesmo. Entrei com uma conta e logo fiz um perfil fake. Choveu convites de amizades e comentários interessantes. Era cada cara mais fake que o outro. E quando aparecia um bonitão, já me frustrava quando achava que quando ele me visse não iria nem dar um oi. “Eu sou feio demais pra ele”. Sempre pensava.
Um mês depois de muitas frustações, conversas sem nexo e sem futuro, caras fake, assim como eu e muitas noites de zuera anônima. Eu só podia deduzir que não existia ninguém pra mim.
Numa noite qualquer no começo de junho de 2011... Eu voltava do cursinho com meus únicos amigos Xavier e Betina, quando resolvi contar pra eles minhas experiências anônimas na internet.
– Alguém já viu uma foto sua? Ou ao vivo no webcam? – perguntou Xavier.
– Não... Sei lá... Eu tenho medo de ser um ogro feioso e repugnante. Não tenho coragem de me mostrar... – digo.
– Fred amigo... Como que você quer se comunicar com alguém pela internet desse jeito? Não dá pra te defender assim... – disse Betina rindo do próprio tom. Ri junto.
– Por que você não usa o Omegle? É BEM LEGAL! Eu sempre uso e nunca tive problemas. Tem gente do mundo todo e é mais fácil de usar. Você só precisa perder esse medo. Vai na fé amigo. O pior que pode te acontecer é você encontrar um pau no webcam... E isso não seria tão ruim né... – disse Xavier zoando com a minha cara.
– Tenho uma amiga que namorava um garoto por esse site aí... – lembrou-se Letícia.
– Quer saber... Desisto. Eu estou muito bem mesmo sozinho. – falo.
– Tem certeza? – retruca Xavier.
Dou um esbarro nele e caminhamos pra casa sorrindo e conversando animadamente.
...
Eis que surge o site na tela do meu notebook... Já passava da meia noite. Minha mãe estava trabalhando. Cíntia assistia TV na sala e meu irmão dormia. E se eu tentasse uma vez... Não faria mal algum. Entrei no chat com o webcam ligada e me entreguei ao mundo virtual, finalmente mostrando minha verdadeira face.
Eu procurei demais por isso... E achei o que tanto procurava. O velho ditado nunca fez tanto sentido como naquele momento. “Quem procura acha”. No começo ninguém falava muito. A opção de interesses mudava conforme eu ia entrando e mergulhando naquele mundo virtual. Até que uma câmera de webcam foi mostrada na janela do chat. Só que ninguém aparecia. Só uma forte luz numa parede escura e uma sombra resplandecendo na parede. A vídeo chamada da janela que estava na minha sala era mudo. Uma mensagem de texto logo me chamou.
Chat de mensagem:
Estranho: Hi!
Você: Oi!
“Eu não deveria ter falado em inglês? Que seja! Vai sempre redirecionar para outra pessoa mesmo”. Pensei.
Estranho: Brazilian?
Você: Yes!
Estranho: Bom! Muito bom! De qualquer forma... Você é lindo!
Corei ao visualizar aquela mensagem inesperada. Quem era aquela sombra afinal? Interessei-me de cara e perguntei.
Você: Você fala português? De onde você é?
Estranho: Rússia.
Você: Nossa! Bem longe mesmo... Já veio ao Brasil antes?
Estranho: Sua boca merece ser beijada, sabia?
Fiquei sem graça de novo. O pior que ele via todas as minhas reações pela câmera.
Você: Hum! Por que você não aparece na webcam?
Estranho: Não achei que você quisesse me vê... Desculpe. Não gosto de mostrar meu rosto. Anonimato parece ser mais interessante.
Saí da sala no mesmo instante e minha página foi redirecionada para outra pessoa. Aquele “Estranho” era muito estranho e eu não via motivos para falar com alguém que só mostrava a própria sombra. Conversei com uma garota, depois mais alguns meninos e meia hora depois... A janela abriu novamente na mesma parede escura, com a sombra tremulando.
Estranho: Por favor! Não saia. Eu quero te confessar uma coisa. Não vá! Por favor!
Você: E o que é?
Estranho: Eu... Gostei de você... Seus olhos... Sua boca... Eu acho que me apaixonaria por você se te conhecesse pessoalmente.
Você: Ah tá!
Eu já estava corando de novo e comecei a sorrir por mais idiota que fosse aquela cantada. Tá vai. Eu já tinha estado anônimo e sabia muito bem o que ele estava passando. Será que ele também tinha o mesmo medo de se mostrar que eu tinha? Vai ver ele fosse exatamente igual á mim. Parei por um momento ele parecia digitar uma carta. No final só respondeu isso.
Estranho: Eu me chamo Dimitri! E você?
Então o estranho era homem. Fiquei aliviado ao saber disso. Era incrível como ele sabia digitar um português tão fluente e certo. Vai ver era mentira tudo que ele tivesse falando. Resolvi entrar no joguinho dele.
Você: Fred!
Estranho: Legal! Você está em que lugar no Brasil?
Você: São Paulo! Você é da Rússia mesmo? Como sabe português tão bem... Você está mentindo né?
Estranho: Não! Qual á sua idade?
Você: 19... Quase 20. E você?
Estranho: Tenho 26. Tem algum problema?
Você: Não!
Estranho: Bom! Eu não conseguiria suportar se você dissesse que sim.
Após ele digitar isso, meu computador morreu. Tudo se apagou. Completamente. O notebook tinha queimado? Era isso mesmo que eu estava vendo? Não podia acreditar nessa sorte. Era sacanagem demais pra uma só pessoa. Logo agora! Sério?
Meu telefone de repente começou á tocar. Ao olhar pra chamada. Um número cheio de dígitos me espanta, e mesmo assim atendo.
Escuto uma respiração leve do outro lado.
– Alô! Alô? Quem tá falando? – pergunto.
– Eu precisava ouvir tua voz... – disse e a ligação foi desligada.
O que porra era aquilo? Descobri a resposta no dia seguinte...
Nota do Autor: Segundo capítulo desse quebra-cabeça. Espero que curtam! Comentem sem gostar ou não! Até a próxima!