Capítulo 23 - Wallace 1.0

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

06 de Janeiro de 2016...

08h40min da manhã – Mansão dos Schneider (Horas antes da agonia).

Os pais de Wallace chegaram com tudo, adentrando seu quarto, e crucificando o garoto que significava tanto para ele. Não deu tempo nem de colocá-los para fora. Sua mãe já foi logo armando seu circo. Ela devia estar adorando tudo aquilo. Wallace estava com nojo da própria mãe naquele momento... De um jeito imensurável. Não a perdoaria por isso. Por que ela fazia tanta questão em ser a megera? Wallace sabia que sua mãe não era daquele jeito. E tudo aquilo pra nada. Pois não adiantava... Wallace ficaria com Alef de todas as maneiras. Ela aceitando ou não. Seus sentimentos já o tinham dominado, como uma doença degenerativa. Ele estava doente de amor, mais precisamente, em estado terminal.

Wallace estava preocupado. Olhava para Alef e via um rapaz perdido... Descontrolado... Diferente... O que ele tinha feito ao seu amado? Será que tinha ido longe demais, tendo a brilhante ideia de tratar o cara que ele gostava com desprezo, apenas por ele ter falado aquelas palavras, que ele mesmo pediu? Ele tinha se arrependido de ter se trancado no banheiro. Nem com seus quase vinte e sete anos, ele conseguia ser maduro o suficiente, para brigar com quem ele amava e fazer as pazes. Wallace tinha gênio duro. Era birrento. Não entregava os pontos facilmente. Muito pelo contrário. Ele gostava de brigar, só pra se sentir melhor. Como se dizer coisas ruins fossem descarregar a própria culpa.

Ele sabia que estava errado. Ele já tinha errado muito nessa vida. Percebia e entendia quando passava dos limites. Ser imperfeito era um elogio para ele. Nunca foi de gostar de ser certinho... Bonzinho... Á alguns anos atrás, na sua jovialidade, ele até cairia bem como um perfeito vilão... Do tipo carrasco mesmo. Mas agora, nem passava pela cabeça dele, incorporar esse ser desprezível. Eca. Nunca combinaria com ele. Wallace era um oceano selvagem... E só isso já bastava pra ele. Pelo menos agora, ele tentava ser melhor. Tentava concertar seus estragos desnecessários. Mesmo tendo uma personalidade complicada, Wallace construía sua redenção todos os dias quando acordava. Só de ele querer, já era considerado um progresso.

O objetivo de Wallace nunca foi magoar Alef, mas sim, poupá-lo. Só que desde o dia em que esses dois se conheceram, as barreiras que os bloqueavam, caíram uma por uma, toda vez que eles se declararam. E isso é um grande problema. Nenhum dos dois consegue esconder nada um do outro. Ser exposto dessa maneira, nunca foi o forte de Wallace. Ele sempre preferiu as sombras... As mentiras... Os muros. Mas com Alef junto dele, não existe essa desculpa. Tudo é revelado. As verdades dos dois colidem. E desde que Wallace percebeu isso, ele não para de se perguntar um só minuto, quando ele vai pedir a mão daquele rapaz em casamento. Ele sabe. Ele tem certeza plena... Alef não vai ser só um namorico... Vai ser pra vida toda. Isso o assusta. Ele tem medo.

Alef continuou não dizendo coisa com coisa. Não importava. Wallace ficaria do lado do seu amado, de qualquer maneira. Ele sabia o ninho de cobras que era sua família. Sabia que eles fariam qualquer coisa para atrapalhar seu novo relacionamento. Ele só precisava de uma resposta verdadeira. Não as baboseiras que Alef insistia em dizer... Por que ele estava se culpando? Alef não tinha batido no Saulo por maldade, e sim por vingança. Wallace queria matar Saulo. Mas se controlou. Pelo Alef. Toda aquela bagunça estava acabando com a sanidade do seu Lef. Ele percebia isso só de ver, o quão transtornado ele aparentava estar. Wallace tremia de ódio só de pensar, no tamanho estrago que a família dele, estava fazendo no psicológico do seu prometido.

Alef começou a se despedir. Wallace perdeu o chão. Ele não deixaria aquele rapaz escapar dos seus dedos. Não! Ele o agarraria com todas as suas forças. Mas nem todas as forças suportaram a dor, que o seu amado provocou-o naquele instante. O chute foi certeiro. Calculado, diria ele. Alef sabia como imobilizá-lo. E foi o que fez. Wallace gemeu de dor, segurando suas partes íntimas, praticamente vendo estrelas. Caiu de joelhos no chão. Sentiu raiva pela fuga de Alef. E mesmo em meio á todo aquele torpor, sua paixão por Alef só crescia. Porque amar é isso... Ser machucado pela pessoa que você ama, e não conseguir odiá-la. Nunca. Alef correu para a porta, empurrando á todos pelo caminho, do seu jeito atrapalhado e engraçado, sumindo da sua vida.

***

No meio de toda aquela agonia, Wallace ainda tinha esperança... Ele ainda acreditava... Que o encontraria. Que o traria de volta, não para essa casa, mas para um lugar aonde eles pudessem ficar sozinhos e livres desses leões. Ainda recuperando-se do baque, ele saiu possesso em direção ao seu carro, minutos depois de Alef deixar a mansão dos seus pais. Sua mãe gritou da varanda:

– Você não vai atrás dele, Wallace! Eu não o quero aqui! Se ele voltar eu chamo a polícia.

Wallace nem se virou pra responder. Apenas falou trovejando:

– Chama o que você quiser! E não se preocupe, pois eu não vou trazê-lo aqui nunca mais... Eu vou encontrá-lo e vou embora. Pra bem longe de vocês. – ele bateu a porta do carro e ligou o motor.

Jennifer correu até ele e bateu na janela do motorista.

– Wallace, eu vou com você! – disse ela, e ele a mandou dar a volta.

Jennifer entrou no carro e ele fechou os vidros, abafando as vozes dos seus parentes chamando-o. Wallace parou por um momento, tentando recobrar o juízo. Precisava pensar... Alef podia estar em qualquer lugar. Por onde começar? Como encontrá-lo? E de novo, ele tinha que fazer aquilo. Wallace já estava acostumado. Alef adorava fugir... E Wallace amava ter que encontrá-lo. Era um jogo. Uma procura. Que ele sempre vencia.

– Fica calmo, Wallace. A gente vai encontrá-lo. Da última vez a gente o encontrou rapidinho, lembra? Alef é muito previsível. Deve estar na praia, caminhando como ele sempre faz... – disse ela, querendo-o descontrair.

– Eu não tenho tanta certeza. Não dessa vez. Ele falou de um jeito muito, sei lá, como se estivesse dando um adeus. E eu não gostei nada disso... Tô com um pressentimento ruim. – disse Wallace, com um aperto no coração.

– Besteira sua! Vocês dois logo, logo vão tá no maior amasso, como se nada tivesse acontecido. Relaxa, vai dar tudo certo. – positivou Jennifer.

– Eu não vou perdê-lo por causa dessa gente. Não vou! – disse Wallace decidido, acelerando o jipe e dando ré.

– Claro que não! Eu tô com você! O Alef não é essa pessoa que eles estão pintando. Nunca foi. Você sabe... Eu tenho certeza que aqueles imbecis o provocaram... Aquela nojenta da Paty, querendo dar uma de boa amiga pra cima dele. Tudo encenação! Ai que ódio dessa garota! - disse Jennifer, passando o cinto de segurança.

– Liga pra ele. Tenta quantas vezes for necessária. Ele vai ter que te atender. – ordenou Wallace, abrindo o portão automático, e saindo pela estrada, passando pelas praias, atento a qualquer sinal de aparição do Alef.

Jennifer ligou. Chamava e ninguém atendia. Ela ligou mais de 20 vezes de uma só vez.

***

Eles vasculharam cada região daquele bairro praiano... Dando voltas em cima de voltas... Perguntando á todos que eles viam... Mas ninguém tinha visto Alef. Nenhum mísero sinal. Parecia até que ele tinha sumido. Não era possível. Wallace já começava a perder as estribeiras, esmurrando o volante, cuspindo lá fora sem parar... Nervoso... Irado. Jennifer tentava se segurar, acalmando seu irmão, mas estava apreensiva também. Aonde o Alef tinha se metido? Uma hora depois, Jennifer teve uma ideia. Já que Wallace não raciocinava direito. Preocupado.

– Se ele disse que ia embora... O lugar mais provável para encontrá-lo não seria num ponto de ônibus ou numa rodoviária? – contestou Jennifer, ligando os pontos.

– Por que não pensamos nisso antes? – perguntou Wallace, percebendo quanto tempo eles tinham perdido.

– Porque achávamos que o Alef estaria na praia. Simples. Só que ele foi mesmo embora... – entristeceu-se Jennifer.

– O que você queria? Toda aquela crucificação, só podia dar nisso. Ele deve tá péssimo... Droga! Tudo culpa minha. – culpou-se Wallace, balançando a cabeça.

– Esse não é um bom momento para tá se culpando, Wallace.

– Tem certeza? Porque eu acho que esse é o momento perfeito pra isso... Eu fui um babaca, Jennifer. Do caralho. Eu sempre estrago as coisas. Sempre. – disse ele, relembrando sua arrogância e seu jeito frio ao acordar.

Ele acelerou para a rodoviária, que ficavam á alguns poucos quilômetros. Tudo em que ele pensava, era no sorriso manso e inocente do Alef. Ele respirou fundo e acelerou mais e mais.

***

Quando chegaram à rodoviária, por volta das dez e meia da manhã, encontraram uma mulher que tinha visto o Alef. O alívio foi anestesiante, no corpo suado e angustiado do grandalhão Wallace.

– Eu vi esse rapaz... Ele estava sentado bem ali naquele banco, esperando a sua condução, eu acho... Ele não parava de olhar para o relógio. Parecia cansado... Não o vi mais, depois de alguns momentos. Mas acho que ele deve estar por aí... Ou talvez já tenha ido embora. – disse ela, olhando a foto no celular da Jennifer.

– Obrigado! De verdade! – agradeceu Wallace.

A mulher não tirou os olhos dele. Maravilhada com o sujeitão altão e encorpado á sua frente. Só que Wallace não dava bola. Na verdade, nunca deu. Por onde ele andasse, era cobiçado e comido com os olhos. Todos sempre o olhavam com desejo. Curiosidade. Encantamento. Como se ele fosse um deus grego. Só que quem dava as cartas era ele. Wallace não escolhia a pessoa mais bonita para se igualar á ele, e sim, aquela que mais o impressionava. Que mais o tocava. Que o interessava de verdade. Foi assim com Alef. Ele viu em Alef algo diferente. Não era beleza e muito menos desejo carnal. Era algo mais... O sorriso foi à primeira coisa. Ele não esqueceria. Desde a primeira vez, na foto, ele tinha se encantado com aquele garoto. No começo, ele achou que era desejo... Quando de fato, nunca tinha sido. Wallace podia ter quem ele quisesse ter, e ele só queria apenas uma pessoa. Apenas um sorriso maroto.

– Ele tá por aqui. Eu sinto. – disse Jennifer, olhando para todos os lados da movimentada rodoviária.

A mulher começou a tagarelar... Atrasando-os... Pedindo informações pessoais do Wallace, que só não a destratou por ela ter sido simpática e em respeito às informações que a mesma tinha lhe passado.

– Ele é seu filho, bonitão? – perguntou ela.

Wallace a ignorava, olhando para as pessoas amontadas naquela estação. Procurando por seu amado.

– O quê? Não! Ele é meu namorado. – respondeu ele, objetivo.

– Não brinca? – Wallace a olhou feio. – Ah, entendi... Que desperdício. – disse ela, rindo com vergonha de si, baixando o olhar, frustrada.

– Wallace... A gente pode perguntar nas agências de viagem. Ele deve ter comprado alguma passagem para o recife. – disse Jennifer, animada.

Wallace nem perdeu tempo. Correu para as muitas agências, mostrando a foto de Alef, na esperança de ter alguma chance de encontrá-lo. Por mais remota que fosse essa chance, ele não desistiria. Por Alef, valia qualquer esforço. Qualquer sofrimento... Alef era sua sentença mais aguardada.

***

Quase meia hora depois... Wallace conseguiu a confirmação. Alef tinha comprado uma passagem. Só que o ônibus já tinha saído. Eram dez e cinquenta e cinco. O ônibus tinha partido as dez e quarenta e cinco. Dez minutos de diferença. Aquilo o acabou. Wallace quase chorou. Por muito pouco chegou perto.

– Como acontecem atrasos... O ônibus em questão pode ainda estar no terminal... O senhor pode verificar. – disse o rapaz do caixa, prestativo, lhe dizendo o terminal que sairia os ônibus daquela companhia.

Wallace e Jennifer correram para os terminais... Eram tantos passageiros... Tantos destinos... Mas eles não desistiriam. Wallace entrou em todos os ônibus, procurando em cada poltrona por Alef. Teve até um ônibus, que ele achou um rapaz tão parecido com Alef, que quase chorou de felicidade, mas não era ele. Nunca era. Wallace saiu desse último ônibus, acabado por dentro.

– E aí? Alguma coisa? – perguntou sua irmã.

– Nada. – respondeu ele, sem esperança. – E você?

– Nem sequer uma miragem... Aonde o Alef foi se meter? Meu Deus! Ainda tem mais cinco ônibus pra gente ver... – disse Jennifer, cansada.

Wallace não respondeu... Seu olhar desolado se fixou num rapaz ao longe, tocando um violão animadamente. Ele tinha perdido as esperanças... E a única coisa que podia fazer, era curtir aquele músico alegre ao longe. Nesse momento, um ônibus saindo pelo outro lado, chamou sua atenção, quando ele viu o nome do destino. Ele não tinha entrado naquele ainda... Esperai...

Foi quando ele o viu. Na janela. Com o olhar distante. Usando seus fones de ouvido. Num vulto rápido. Wallace gritou... Mas ele não o viu... Estava muito longe para isso. Wallace o tinha encontrado. Finalmente.

– Encontrei-o Jennifer! É aquele ônibus... Ele tá lá dentro! – exclamou Wallace, passando pelas pessoas, tentando correr até lá.

Jennifer foi atrás. Excitada pela descoberta. Wallace ainda tentou sem sucesso alcançar o ônibus correndo, mas o automóvel foi mais rápido. Ele gritou para pararem. Ninguém ouviu. O enorme ônibus saiu da rodoviária – deixando para trás, um cara apaixonado e quebrado – levando embora seu único amor verdadeiro.

– Aí meu Deus! E agora? O que a gente faz? Não dá pra correr. – disse Jennifer cansada de correr, finalmente chegando até Wallace.

O ônibus dobrou na pista e saiu para a autoestrada. Wallace pegou Jennifer pelo braço, e a levou em direção ao estacionamento, onde eles tinham deixado o seu Jipe. Ele perseguiria aquele ônibus, e resgataria o cara que ele amava. Nem que pra isso, tivesse que chamar o corpo de bombeiros... O exército... O esquadrão... Até mesmo os vingadores. Wallace faria de tudo para tê-lo de volta.

***

Quando o jipe entrou na estrada... O carro meio que morreu. A gasolina acabou. Para desprazer total do seu dono, que ansiava tanto em dirigir naquele momento.

– P%$#@ q&¨% p%$#! P%$#! C%$#@! V%&# t$#%$ no c$#@% – despejou Wallace, enfurecido.

– Droga de gasolina! Tudo bem... A gente consegue. Deve ter algum posto por aqui. Não se preocupa. Nós vamos conseguir! Estamos muito perto agora! – enfatizou Jennifer.

– Eu estou cansado, Jennifer... Cansado! Exausto... E se o Alef não quiser mais a minha companhia? E se ele acordou e percebeu que eu era uma cilada? Ele deve ter se cansado também... Eu fui tão imaturo. O tratei tão mal hoje de manhã. Droga! Eu mereço isso... Mereço ser despedaçado por ele. – martirizou-se Wallace, baixando a cabeça no volante.

– O que aconteceu ontem á noite? Ele não me disse nada e nem você. O que você e o Plínio tinham tido? – indagou-lhe ela.

– Nada importante...

– O que é?

– Vamos procurar ajuda! Eu quero conseguir encontrar aquele ônibus. Pode ser? – enraivou-se ele.

– Ok! Só quero te pedir uma coisa: Não machuca o Alef, tá legal? Eu não sei qual é o problema que vocês estão tendo, mas pela sua preocupação, você deve amar mesmo ele... Portanto, não estraga as coisas. Você é meu irmão e ele é meu melhor amigo... Faça dar certo pra vocês dois! Já está na hora, Wallace. Pro seu próprio bem. – pediu ela, olhando-o fixamente.

Wallace tinha segredos. Muito obscuros. Segredos que sempre prejudicavam sua vida pessoal. Sua irmã era muito pequena, quando ele se aventurou nesse caminho. Não contaria da sua pior fase pra ela. Pelo menos não agora. Ela merecia ter a sua imagem boa intacta. Ninguém merecia conhecer sua imagem distorcida. Nem mesmo o amor da sua vida... Alef nunca deveria ter conhecido aquela parte. Foi essa história que desencadeou tudo isso. Wallace contaria toda a verdade, quando encontrasse com Alef de novo. Ele seria um livro aberto para seu amado.

***

Conseguiram encher o tanque e partiram numa viagem alucinante pela estrada. Sempre parando em postos, para perguntar informações das rotas do ônibus. Só que seguir rastros, era mais difícil do que eles tinham imaginado. Nenhum sinal concreto batia no seu GPS. Será que tinha tomado outra rota? Wallace olhava alucinado pela estrada... Era um dos dias mais angustiante da sua vida.

– Eu acho que não conseguiremos alcançá-lo... A rota desse ônibus deve ser diferente. Não vamos conseguir pegá-lo. – disse Wallace, ultrapassando os carros da rodovia.

– Beleza! Pelo menos nós vamos para o Recife... Chegando lá, vamos até a casa dele e vocês se acertam. Bem mais fácil. – disse Jennifer, com seu cabelo roxo voando, com o forte vento da janela.

– É... Você tem razão! Pelo menos nós tentamos alcançá-lo. – Wallace se deu por vencido.

– Chegamos perto... Não se preocupa. Logo você vai vê-lo... Só mais algumas horas...

– Eu vou pedir ele em namoro... Oficialmente. – contou ele.

– Mentira, sério? – Wallace balançou a cabeça confirmando. – Ai que fofo! Eu vou amar ter ele como cunhado. – disse Jennifer, fazendo um biquinho.

– Eu até comprei um anel.

– Nossa! Wallace, você tá surpreendente mesmo, hein? O Alef vai pirar. Já posso até ver a cara dele. – disse ela, rindo. – Bichinho... Ele merece alguém como você do lado dele. Você é bom pra ele, sabia?

Wallace ficou meio sem graça, mas sorriu.

– Você acha?

– Tenho certeza! Agora, você está mesmo disposto a fazê-lo feliz? – interrogou ela.

– Todos os dias se possível... Eu vou fazê-lo muito feliz, irmãzinha.

– Acredito nisso... Seu olhar já diz tudo. Olha só o que você já fez hoje. Somente pelo que você já fez hoje, eu já acredito nos seus sentimentos por ele. Mas, você já pensou no que vai fazer com nossos pais?

– Já sim... Eles não vão precisar nos aturar. Eu vou embora... E vou levar o Alef comigo. – revelou-lhe ele.

– Como é que é? – chocou-se ela, arregalando os olhos.

– Isso mesmo que você ouviu... Eu vou construir uma vida com o Alef, só que longe dessa família.

– O que o Alef vai achar disso tudo? Você acha que ele iria embora do nada com você? E a faculdade dele? Os seus planos? – indagou Jennifer, perplexa.

– Eu ainda não sei... Mas vou entender se ele não for. Se não quiser. – avisou-lhe ele, receoso.

– O que você vai fazer se ele disser não, mas mesmo assim quiser ficar com você?

– Então, eu venho de vez pro Brasil... Já pensava um pouco sobre isso antes, e agora mais ainda. Sem ele eu não vou ficar. Já tenho minha profissão, posso recomeçar aqui também. Do lado dele. Com ele... Eu só sei que o quero no meu futuro, Jennifer. Demais! – diz Wallace, pleno do que ele quer.

– Que amor, hein? Estar disposto a abandonar tudo por uma pessoa é a forma mais sincera, do quanto você a ama. Seja o que for que aconteça... Eu vou torcer todos os dias, pra história de vocês darem certo. Tanto você como ele, merece um final feliz junto. – disse ela, encantada com as confidências do irmão.

***

Wallace e Jennifer comiam besteira no carro. Forrando o estômago, para enganar a fome... Quando num trecho da estrada, um engarrafamento pesado, pegou-os de surpresa.

– O que tá acontecendo? – estranhou Wallace, buzinando.

Uma fila de carros tomava conta de uma longa pista. Todos parados, enfrentando um sol de escaldar.

– Algum acidente, talvez? – supôs Jennifer, olhando lá pra frente.

Wallace baixou os vidros e colocou a cabeça pra fora, vendo uma movimentação estranha ao longe. Não sabia o que era, mas sentiu uma coisa estranha no estômago. Um motorista de caminhão estava falando com alguns outros motoristas, que tinham descido dos veículos para saber o que tinha ocorrido. Wallace fez sinal para um deles, que veio ao seu chamado.

– Olá, senhor. O senhor saberia me informar, por que tá tudo parado por aqui? – perguntou Wallace, despreocupado.

– Ah, meu rapaz... Essa rota foi interditada. Se vocês quiserem chegar mais cedo, vão ter que fazer outro retorno.

– Mais horas nesse calor infernal... – reclamou Jennifer, se abanando.

– Poxa. O que houve?

– Nos rádios todos que eu sintonizei, tão dizendo que uma turma de bandidos está fazendo de reféns mais de trinta passageiros, num ônibus de turismo. A polícia interditou essa estrada... Até mortes tão dizendo que teve. Um verdadeiro tumulto... Tá um tiroteio intenso por lá. – explicou o caminhoneiro.

Aquilo fez Wallace engolir em seco. Tiroteio? Bandidos? Ônibus de turismo? Ele soltou o volante e começou a suar frio.

– Alef! – chamou Wallace, mortificado.

– Fodeu! – disse Jennifer, petrificada.

***

Wallace acelerou no acostamento, ultrapassando todos os carros, numa velocidade impressionante. Jennifer segurava no apoio em cima do carro, rezando para Wallace não bater. Ele dirigia com uma preocupação visível á todos. Tudo em que ele pensava era no rosto do Alef. Acelerou mais.

– Vai com calma, Wallace. E se não for o ônibus do Alef? E se for outro? Pode ser uma coincidência. – amenizou Jennifer.

– Pode até ser... Mas eu só vou ficar tranquilo, quando eu o ver com meus próprios olhos. Eu sinto algo estranho, Jennifer. Ele tá correndo perigo. Eu sei. – previu ele, dirigindo vorazmente.

Wallace nem respirava. Ele sufocava. Sua mente estava á mil. Seu coração sem precedentes... Batendo fortemente. Ele teria um ataque cardíaco, se não se acalma-se logo.

Ele avistou a movimentação... Ele viu os carros de polícia, parados com todos os policiais armados, marcando o cerco. E ele também viu o ônibus. A mesma cor. O mesmo ônibus. Era ele. Não podia ser, mas era. Seu coração palpitou mais ainda... Wallace sabia que estava ultrapassando um limite, mas não tinha medo. Ele faria de tudo para salvá-lo. Até morrer no lugar dele se fosse preciso. Alef já tinha passado por coisas demais... Ele não aguentaria mais essa.

Wallace parou o carro á alguns metros dos policiais. Desceu. E quando viu a área vedada pelos policiais, ele correu até eles, querendo saber todas as informações possíveis. Qualquer coisa. A preocupação o cegou. Ele não tinha mais controle algum sobre si.

– Por favor, policial! O que está acontecendo? Eu preciso saber! Eu tenho alguém importante ali dentro. – disse Wallace, desnorteado.

– Ninguém pode atravessar esse perímetro... Por favor, se afaste rapaz! AGORA! – ordenou um deles.

Wallace não se afastou. Outros policiais o cercaram. Mandando-o ter calma. Mas ele insistiu, falando:

– Eu só quero saber... Eles estão bem? O que vocês vão fazer? Droga! Eu preciso saber! – gritou Wallace.

– Eu sei que você tá preocupado, mas nós estamos fazendo tudo que podemos. É preciso ter calma! Estamos negociando... Agora, por favor, se afaste rapaz. É PERIGOSO! Eles podem atirar á qualquer momento. POR FAVOR! OU SEREI OBRIGADO Á PRENDÊ-LO. – esbravejou o tenente, empurrando Wallace com força.

Wallace foi arrastado, sendo segurados pelos policiais de elite, todos muito bem armados. Wallace seria um ótimo policial, dada as suas alturas e forte estatura, mas naquela história, ele era apenas o mocinho desesperado para salvar o seu amado. Nada mais que isso. Jogado do outro lado da fita que interrompia a passagem, ele colocou as mãos na cabeça... Chorando... Perdido... Devastado. O que ele faria? O que podia fazer? Ele não podia perdê-lo. Nunca.

***

Impaciente. Era como Wallace se definia. Possesso. Incontrolável. Ele parecia uma granada, preparada para explodir. E iria, logo mais.

– Eles estão com ele... Aqueles filhos da puta estão com ele! – disse Wallace, chutando uma pedra no acostamento de terra. Jennifer estava encostada no capô do carro, e se assustava á todo instante com os acessos de fúria do irmão. Wallace não parava um só segundo... Andando de um lado para o outro. A impaciência era sua tortura.

– A polícia vai dar um jeito! A gente tem que pensar positivo. Ele vai sair dessa... – tranquilizou Jennifer, sabendo que qualquer coisa podia acontecer.

Foi tudo muito rápido... Num minuto eles estavam conversando... No outro, o bombardeio começou... Já estava quase anoitecendo, quando eles se abaixaram assustados com os disparos. Era uma verdadeira guerra. Tiros pra todo lado. Jennifer se escondeu na traseira, mas Wallace não. Ele entrou no carro e ficou olhando cada movimento da polícia. O que eles fariam? Será que conseguiriam pegá-los? Como ele queria ter uma arma agora. Assim que a polícia recuou, e parou de atirar, ele viu o motivo, atravessando o meio do confronto. Wallace se desesperou ainda mais... Ele queria atravessar aquela barreira... E foi o que fez, quando viu o que viu... Era o impulso de que ele precisava para avançar. Para fazer a maior loucura de toda sua vida. Ver Alef, assustado, nas mãos de psicopatas armados, fez Wallace ligar o carro.

Alef foi levado com tudo para dentro do carro preto deles. Wallace não se controlou. Acelerou e invadiu o perímetro, ultrapassando uma enxurrada de viaturas e policiais. Jennifer ainda gritou, mas ficou para trás. Wallace não perderia essa chance... A perseguição foi ainda mais complicada, quando os bandidos começaram a disparar na direção do carro de Wallace. Só que ele não desistiu. Foi pra cima. Bateu neles... Duas... Três... Quatro vezes... Sempre desviando das balas... Wallace uma vez tinha sido um grande corredor de rachas, e estava usando isso ao seu favor. A polícia vinha logo atrás... Os bandidos aceleraram mais ainda... Aquilo deixou Wallace com medo... Pois, se eles batessem seria o fim... Alef podia se machucar. E não era isso que Wallace queria. Nunca foi.

Atravessando uma ponte, numa velocidade assustadora... O carro dos assaltantes bateu numa mureta. Fazendo-o capotarem o carro duas vezes, e jogando-os da ponte. Wallace gritou. Foi rápido demais. Intenso demais. Cada piscada era crucial. O carro mergulhou na água, afogando a esperança de um amanhã feliz para Wallace e Alef.

***

Wallace pulou no rio. Mergulhando com tudo nas profundezas... Explorando... Tentando encontrar o carro afundado. Só que o único problema, era a falta constante de ar nos seus pulmões... Ele não aguentou por muito tempo. A água borbulhava e espumava, com o peso do automóvel descendo mais e mais. Wallace voltou à superfície, respirando cansado. Viu a polícia parando na ponte, e retornou para o fundo do rio lamacento. O carro tinha ficado embaçado, por conta da sujeira da água, mas ele tentou chegar o mais perto possível... Descendo num mergulho intenso... Foi quando viu algo subindo... Lutando... Querendo chegar à superfície a todo custo... Ele... O cara que significava tudo pra ele... Alef emergiu primeiro... Quando Wallace subiu, já o encontrou desmaiado.

A cabeça de Alef sangrava. Wallace o pegou nos braços, prendendo-o ao seu corpo. Ele começou a gritar por ajuda. Num desespero tão imenso, que assustou á todos os policiais presentes.

– Alef? Alef? Pelo amor de Deus! Acorda! Alef... SOCORRO! SOCORROOO! – gritou ele.

Alef mexeu os lábios, mas não acordou. Wallace nadou até a margem... Um novo tiroteio imobilizou os assaltantes, que nadavam fugindo. Wallace nadou mais depressa, protegendo seu amado.

– Eu não vou deixar nada de ruim te acontecer, meu amor... Nada! Ninguém vai te machucar. Ninguém. – disse Wallace em choque, beijando a testa de um Alef inconsciente.

Wallace saiu da água e deitou-se numa massa de mangue costeira ao rio, abraçando seu amor. Alguns momentos depois, a ambulância chegou, trazendo os paramédicos. Wallace não soltou o corpo de Alef um só minuto. Foi preciso a polícia interferir, para fazê-lo soltá-lo. Ele chorava sem parar. Não queria largar o corpo... Três homens o seguraram, enquanto os médicos faziam seu trabalho, reanimando o Alef, e o colocando na maca. Até algemado Wallace precisou ser, para se controlar.

Ele só se acalmou um pouco, quando Jennifer chegou e o abraçou. Alef foi levado ao hospital. E Wallace foi junto, segurando sua mão o caminho inteiro. Sua vida estava ali... Se alguma coisa grave acontecesse á ele, Wallace não aguentaria. Seria o seu fim também.

***

Horas depois... Já no hospital... O médico veio avisá-los... E sua cara não era nada boa. Wallace não estava preparado. Jennifer segurou sua mão. Ele apertou-a.

– Vocês são os parentes do rapaz que chegou desacordado? – perguntou um médico, de cabelos ruivos, aparentando ter uns trinta e poucos anos.

– Sim. Somos! E aí, doutor? Como ele está? Ele vai ficar bem? – perguntou Wallace.

– Ele sofreu uma contusão na perna direita. Nada muito grave... Algumas escoriações no corpo, mas nada com o que se preocupar. O problema grave foi na cabeça...

– Na cabeça? Como assim? Ele já tinha um corte na cabeça... – lembrou Wallace, falando sem parar.

– Calma, Wallace. Deixa o médico terminar de falar. – repreendeu Jennifer.

– Exatamente esse corte... Agravou-se... Ele teve um traumatismo craniano... Nós fizemos uma cirurgia de emergência. Mas a lesão na cabeça foi grave. O Alef vai precisar de tempo para se recuperar... E de fé, nesse momento. – confidenciou o médico.

– Ele vai ficar bem, doutor? – quis saber Wallace.

– A lesão foi grave... Ele está respirando com a ajuda de aparelhos. Nós só podemos esperar. Eu sinto muito... Tudo vai depender de como ele vai reagir nas próximas horas... – disse o médico, baixando o olhar.

Wallace paralisou. Congelou no tempo. Perdeu a noção do mundo girando e das pessoas ao seu redor. Ficou surdo. Mudo. E cego. Jennifer o abraçou. Ele não reagiu. Ele não sentiu. Não correspondeu a sua dor. Estava longe demais da sua consciência. Nenhum dia passou pela cabeça de Wallace, viver uma situação daquelas. Por que a vida era tão cruel com ele? Como se não bastasse todos os obstáculos que ele já tinha vencido antes, agora tinha que suportar essa dor causticante? Ele já tinha perdido tanta coisa... E logo agora, quando ele tinha encontrado uma pessoa para recomeçar, para viver, para acreditar num amanhã, a vida tinha que vir tirá-lo dele? Ele não se conformava. Nada conseguiria aliviar a dor que ele sentia. Nada consolaria o coração dele. A longa noite se aproximou e dominou a vida de Wallace. Ele jamais seria o mesmo depois daquilo. Jamais.

***

Continua...

Nota do autor: Como ficamos sem saber do Wallace por dois capítulos inteiros, resolvi narrá-lo em dois capítulos(23 e 24). Espero que curtam esse especial... Preparados para a segunda fase da história? Estejam! Vai ser ainda mais emocionante! Um abraço aos leitores que sempre tiram um tempinho pra comentar: Junior amor,Guerra21,Elizalva.c.s,Ped🎶, Rafinhah,Lucimon,Jusinho,Alone,Em,Fofaum,Diva. Os leitores que só leem também! Todos vocês são 1000!<3 Cap 24 em andamento.

Comentários

Há 7 comentários.

Por Júnior amor em 2017-04-09 09:20:39
Qnd vc vai posta o próximo capítulo tou morrendo de anciedades ❤❤🙊❤🙈😱😱😱😱😱😱😱
Por Tom em 2017-04-07 21:17:30
Ao msm tempo que é trágico .. Se torna tbm uma linda história de amor😢😢😍😍😍
Por Júnior amor em 2017-04-06 22:16:50
Meu deusu choreiiii muito lendo esse capítulo. Torcendo q Alef acorde e não tenha nem uma lesão. E que se resolva com o Wallace. Hj ele provou o quanto ama Alef 😭😱😍❤♥❤❤❤♥❤❤♥
Por Rafinhah em 2017-04-06 21:22:10
Bom, estou aqui para agradecer a você, sonhador viajante, por fazer o que você fez comigo e provavelmente com todos os seus leitores e provavelmente você agora deve estar se perguntando: o quê que eu fiz com meus leitores que os afetou tão grandemente?! Bom, eu falarei pelo menos pela maioria de seus leitores. Uma das muitas coisas que você fez conosco foi fazer nós nos ingressarmos tão fortemente em teu conto que ultrapassa qualquer coisa em que eu ja li/assisti em minha vida e dentro dessa posse tão grande que seus leitores tomaram foi viver (mentalmente) cada sentimento de seus personagens e os exemplos são os que nós nos apaixonamos juntos com o Alef, nós sofremos juntos com o Wallace, nós nos sentimos muito bem com o carinho da Jeniffer, nós nos encantamos e reencatamos com o sorriso do Plínio entre outras coisas, mas, enfim, o que eu realmente estou fazendo aqui? Estou aqui porque eu quero te agradecer por ter feito isso comigo e com mais varias pessoas. Espero do fundo do coração que essa série dure o máximo possível e que teja uma segunda temporada, se não for o caso eu espero que vc construa outro conto em que nós possamos nos envolver igual a série"a feria dos meus sonho" com uma história / enredo totalmente diferente. muitos beijos e já estou super ansioso para o próximo episódio! ^_^
Por Guerra21 em 2017-04-06 18:43:12
"Porque amar é isso... Ser machucado pela pessoa que você ama, e não conseguir odiá-la" O capítulo começou quente e terminou fervendo, a cada dia que se passa eu me apaixono mais pelos personagens, neste capítulo realmente o Wallece foi o protagonista, seu amor pelo Allef quebra qualquer barreira, eu queria ter um homem desses aos meus pés, a pesar de todo o sofrimento o Wallece ama o Allef, imagine uma pessoa te amar de tal maneira que tem a coragem de deixar tudo pra ficar ao lado de quem o ama de verdade. Parabéns cara tá maravilhosa. 😘😍😙😍
Por Diva em 2017-04-06 16:33:10
Muito bom! Muito bem elaborado💝😉... Não tem nem como descrever kkk. Tomara que Alex dica bem e depois dissot tudo eles poderiam ficar bem ou o Alef podia perder a memória😐 OK. Mais de fato estava muito bom💝👏
Por Elizalva.c.s em 2017-04-06 15:41:51
Muito bom fiquei emocionada com esse capítulo,espero que o sofrimento do Alef acabe logo e ele posa ser feliz com seu amor pois ele merece.😘😘😘😘