Capítulo 19 - Passado Sombrio

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

A noite do dia 5 de janeiro de 2016 foi tudo, menos pragmática. De tudo que eu passei nesses últimos dias, a pior de todas foi essa. Saca só, a minha trajetória em apenas 24 horas: Eu tinha recebido alta... Eu estava horrível... Chorei pra caralho no começo da manhã... Wallace tinha voltado e se declarado pra mim... Nós voltamos pra mansão e tínhamos transado por horas... Fui escorraçado pela mãe dele... Estava sendo odiado por ela, eternamente... Sentia-me como um destruidor de lares... Fugi como um louco... Voltei forçadamente pra cá... Cometi uma das maiores gafes no jantar da família dele... E pra fechar o dia... Essa linda revelação dos dois homens, que eu achei que fossem sinceros comigo. Uma paulada doeria menos do que isso. Duvido encontrar alguém, que tenha passado por tanto sufoco, em tão pouco tempo.

Olhei para a cara dos dois e tive vontade de sumir. Como assim? O que eu estava fazendo no meio daquilo? Era revoltante. Chocante. Não acredito que fiquei no escuro esse tempo todo. Os dois escondiam coisas de mim. Coisas importantes. Aquilo era tudo, menos tolerável. Como eles podiam ter feito isso comigo? Nem pra me dizer... Porra! Eu fiquei seco. Frio. Irado.

– Tá de sacanagem? Eu não estou vivendo isso, meu Deus... É uma piada? Vocês dois? Juntos? Não dá pra acreditar... – eu disse, falando tudo num jorro descontrolado e confuso.

Wallace tentou pegar minhas mãos, mas eu me afastei. Plínio veio na minha direção, e eu me esquivei. Não queria ficar perto de nenhum dos dois. Não mesmo. O nojo já começava a me dominar. Tá... Eu só estava com muito, muito ciúme.

– Danadinho! Dessa eu não sabia... Faz muito tempo? Eu não me lembro de já ter te visto, Plínio. – intrometeu-se Jennifer, curiosa.

Os dois ficaram sem reação. Não conseguiam falar. Minha garganta se fechava. Eu ia surtar á qualquer momento. Alguém me segura... Eu estava á ponto de ter um ataque.

– Como eu pude ser tão estúpido... Era por isso que vocês sempre brigavam. Eu sou muito burro mesmo. – exclamei furioso.

– Dá pra vocês me escutarem? Não é bem por aí, como vocês estão pensando... – defendeu-se Wallace.

– Ah é? E como foi que rolou? Eu preciso mesmo ouvir uma explicação disso? – indaguei secamente.

Não estava conseguindo suportar a voz de Wallace. Eu estava cego de ódio.

– Você conta ou eu conto Wallace? – perguntou Plínio, para ele.

Plínio estava tranquilo. Sereno. Despreocupado. Nem parecia que aquilo o atingia. Já Wallace, aparentava nervosismo, e um medo, que refletia nos seus olhos verdes. Suas pupilas estavam enormes.

– Não! Eu conto! – pediu ele, rapidamente.

– Por que vocês dois estão tão estranhos? O que aconteceu entre vocês foi tão intenso, que deixa vocês sem fala? – perguntei rígido.

A raiva estava me dominando. E eu ia ceder á ela. Tudo estava á ponto de explodir. Minha sutura latejou. Era só o que me faltava agora, quebrar um ponto na cabeça.

– É uma história complicada, Alef. Eu sei que você tá chateado, mas eu posso explicar. – adiantou-se Wallace, querendo explicar.

– Então me fala! Chega dessa enrolação. Fala de uma vez, Wallace. – digo exaltado.

– Calma aí, Alef! Você acabou de sair de um hospital... Será que não é melhor deixar isso pra outra hora... – pede Plínio, tentando tocar-me. Só que eu seguro sua mão e a afasto com um peteleco.

– Não me toca Plínio! – advirto-o.

– Gente... Vamo se acalmar? Hoje foi um dia bem estressante aqui em casa... Não vamos começar mais uma guerra, não é? – pergunta Jennifer, assustada com minha postura.

– Eu só quero saber a verdade... Dos dois! Agora que começou, terminem! – falo descontrolando-me.

Não me reconheço nessas cenas. Só posso dizer uma coisa: Eu estava puto. E não era sem motivo.

– Vamos para o jardim... Tem ouvidos demais por perto. – disse Wallace, nos levando pra um local distanciado da mansão. – Jennifer, você fica. Por favor! É um assunto pessoal. Depois eu te conto tudo. – pediu ele pra irmã.

– Mas eu quero ficar. Também quero ouvir essa história... Poxa! Um babado desses... Eu quero saber. – pediu ela.

– Agora não! É importante. Jennifer, eu não pediria se não fosse. Ok? – insistiu Wallace, mandando ela embora.

Ela bufou e nos deixou. Mas não sem antes dizer:

– Tá legal! O Alef me contará mesmo assim. Tchau, Plínio. A gente se fala depois.

Ela sumiu, enquanto nós três nos encaminhámos, para um cantinho escuro e ventoso no meio do jardim, que era iluminado por refletores laranja na grama. Eu nem sei como estava conseguindo andar. Nenhum deles falou nada, até chegarmos num banco de pedra.

– Por que vocês mentiram pra mim? – comecei, mas calmo dessa vez.

Plínio se sentou no banco. Eu e Wallace ficamos de pé.

– Nem todas as coisas se pode dizer á todo mundo que se conhece, Alef. – disse Plínio, distante.

Wallace olhou pra ele e mordeu o lábio, segurando um acesso de fúria.

– Isso faz parte do meu passado... E foi há muito tempo atrás. – disse Wallace. Ele queria chegar perto de mim, mas não deixei.

– Estou aqui... Vamos lá, Wallace. Conte-me! – peço.

– Acho melhor você se sentar... Vai querer fazer isso. – disse Plínio, batendo no lugar ao seu lado.

Não sentei. Fiquei de pé, de frente pros dois. Pelo menos se eu caísse duro, seria na grama e não nos braços deles.

– Eu tinha dezessete anos... Estava acabando de sair do ensino médio... Era tudo muito animador. Tínhamos planos... Sonhos... Aventuras... Éramos jovens... Inconsequentes... Arriscávamos tudo por uma aposta... E ganhávamos. – começou Wallace.

– Wallace não gostava de perder... Nunca gostou. Ele era o cara fodão da escola... Você não podia nem chegar perto dele. Era um rei... Bajulado pelos seus bobos da corte... Só saía com as melhores garotas... E garotos também, eu acho... Tinha um grupo só dos bonitões... Se achar, era com eles mesmos. – emendou Plínio, sarcasticamente.

– Todos querem se sobressair no ensino médio. Não me julgue. Você também era assim... – rebateu Wallace, com olhar de repulsa.

– Falou o cara que quebrou o braço de um garoto do primeiro ano... Sua fama era notável em todos os corredores, cara. Tinham mais medo de você, do que do machão do segundo, o Beto. Se bem que você também deu um trato nele, naquele racha, não é? – lembrou-se Plínio.

Eram revelações bombásticas. Eu fiquei estupefato. Mudo. Ouvindo cada detalhe.

– O que eu era não importa mais agora. Engraçado você me descrever dessa forma... Será que você esqueceu a sua participação no meu grupo? Plínio, você sempre teve inveja de mim, isso sim... Suou a camisa só pra fazer parte da minha equipe, lembra? Eu nunca tinha te visto naquela escola, e do nada você se tornou o cara. Você era um invisível, eu te tornei algo. – disparou Wallace.

Por um momento, só os dois existiam, naquele reviramento de lembranças. Estavam lavando uma roupa suja, muito antiga. Dava pra sentir certa disputa entre os dois. A rixa tinha durado até os dias de hoje.

– Arrependo-me até hoje de ter um dia cruzado teu caminho... – cuspiu Plínio.

– Ok... E então? Como vocês se envolveram? – perguntei, enojado com aquela hipótese.

– No terceiro ano, eu conheci esse Mané... Ele era bom em conseguir coisas. E eu precisava muito dessas coisas. Foi como nos aproximamos. Plínio e eu tivemos uma parceria... E eu pagava muito bem pelos serviços dele. – continuou Wallace, fuzilando seu amigo do passado.

– Esperai... Você o pagava pra te satisfazer sexualmente? – perguntei a Wallace, chocado.

– Como é? – espantou-se ele, perplexo.

– Agora você viajou legal, Alef. Do que você acha que a gente tá falando aqui? – perguntou Plínio.

– Ué! De sexo... De se pegarem... Do que mais seria? – respondi perdido com tantos fatos.

– Você é muito ingênuo, meu amor... Não era disso que eu me envolvia com o Plínio. Nunca foi! – admitiu Wallace, balançando a cabeça.

– Como não? Vocês tiveram um lance... Eu pensei que... – falei incompreendido.

– Não é esse lance que você tá pensando. Deus me livre! – benzeu-se Wallace.

– Esse cara nunca fez meu tipo, Alef. Nunca curti mercenários como ele... Só pra você saber! É um desperdício, tu escolher ficar com esse ogro gigante. Você merece alguém mais pé no chão... Mais interessante. – disse Plínio, olhando com nojo para Wallace. Logo em seguida, ele se vira pra mim e me encara. – Saiba que tudo que você é e têm, é tudo que eu sempre desejei num cara... Você é o meu tipo, Alef. Sempre será! – completou, paquerando-me explicitamente.

– Eu acho melhor você parar de dar em cima do meu namorado, seu idiota! – avisou Wallace, avançando em Plínio.

Plínio se levantou e o empurrou. Wallace nem cambaleou pra trás. Com uma estatura atlética daquelas, nada o derrubava.

– Vêm pra dentro! Eu nunca tive medo de tu não, cara. – atiçou Plínio, chamando-o com as mãos serradas.

Wallace deu uma tapa na cabeça dele. Como um peteleco, só que com força.

– Parem! – gritei, intrometendo-me entre eles.

Segurei Wallace pelo braço e o afastei. Só que Plínio se enfureceu o bastante para tentar golpeá-lo também. Fiquei no meio dos dois, empurrando um para o lado e segurando o outro com esforço. Eu era a barreira entre eles. E não era nada fácil segurar minha montanha. O peso de Wallace esmagaria Plínio, numa só rodada. Eu tinha certeza disso. Plínio podia ser alto, mas era magro e franzino. Não podia deixá-lo se machucar por minha causa.

– Caramba! Será que dá pra parar de quererem se matar? – gritei, esforçando-me para separá-los.

– Seu perfeitinho que começou... – debochou Plínio, vermelho de fúria.

Wallace bufou, me empurrando, enquanto eu o dominava. Travei meu corpo no chão e o impedi de me atravessar. Ele cedeu ás minhas investidas. Parando de me afastar.

– Ei... Ei... Calma, Wallace! Para, pelo amor de Deus... Me escuta! Por favor! Olha pra mim... Não cai nessa pilha! Por favor! – peço, puxando o rosto de Wallace para me olhar. Alguns segundos depois, ele baixou o olhar. Mesmo possesso, mais uma vez, ele afrouxou sua tensão e olhou pra mim. – Isso! Só olha pra mim, está bem? Esquece essa bobagem... Faz isso por mim! Se acalma... Respira fundo... Eu estou com você!

Wallace começa a relaxar. Limpo algumas gotas de suor da sua testa e acaricio suas têmporas. Ele fecha os olhos.

– Imbecil! Você tem sorte de eu não ter quebrar todo agora... – disse Wallace, olhando feio para Plínio, á alguns metros de distância de nós.

– Plínio! Se afasta, AGORA! – ordeno. Ele cospe na grama e se vira de costas, voltando para o banco onde estava.

Solto Wallace e respiro novamente. Wallace começa a andar de um lado á outro. Organizando seus pensamentos.

– Será que agora, nós podemos conversar civilizados? Sem brigas ou insultos... Por favor? – pergunto.

– Plínio era um traficante de drogas. Eu comprava drogas á ele. Esse era nosso lance. – disparou Wallace.

Engulo em seco e fico estático. O quê? Como? Não! Sério? Aí meu Deus... Eu demorei pra processar... Acabei me sentando na grama, sem nem perceber.

– Uau! Minha nossa! Vocês quase me enlouqueceram... Eu tinha pensando outra coisa... Qualquer coisa, mas nunca isso... Não é possível... Gente! Era essa a tal “parceria”? No que porra foi que vocês se meteram no passado? – indaguei chocado.

Era alívio e perplexidade ao mesmo tempo. O buraco era mais fundo do que eu pensava. Fiquei envergonhado, por ter pensado outra coisa antes. Pelo menos era compreensível, agora. Era o que eu achava. Até o Plínio devolver:

– Quem dera fosse só isso... Wallace precisou da minha ajuda... Muitas vezes... “O traficante” até mentiu por ele, uma vez. – revelou Plínio.

– Porque você foi o culpado de tudo acontecer! – devolveu Wallace, bruscamente.

– Eu não sou “o cara dos segredos” dessa história. Fiz minha parte, porque você me ajudou. Não tive culpa na sua lambança. – disparou Plínio.

Que passado era aquele? Toda hora uma coisa nova. Um mistério. Até parecia que os dois se comunicavam por códigos. Desisti de tentar acompanhar aquele ritmo, e me foquei apenas nas partes importantes.

– Aí meu Deus... O que foi que vocês fizeram? – perguntei, com minha voz falhando.

– Eu era muito inconsequente, Alef. Ganancioso pra caralho. Queria sempre me destacar... Íamos nos formar nessa época... Precisávamos de algo “maneiro”, “legal”, pra nos sentirmos poderosos, se é que você me entende... Naquela idade, tudo era experimentável... Eu estava vivendo a melhor fase da minha vida... Ia fazer faculdade de medicina... Tudo estava dando certo. – contou Wallace.

– O que vocês usavam? – eu quis saber.

Os dois se entreolharam. Por um momento ficaram mudos. A pausa revelava o impacto que aquelas lembranças traziam.

– Cocaína. – respondeu Plínio.

Quanto mais coisa eu ouvia, mas obscura ficava toda aquela doideira. Eu quase passei mal. Eram informações demais.

– Wallace... Você usou muito esse tipo de droga? – perguntei espantado.

Ele não conseguiu disfarçar. Era um ponto delicado na sua vida. Percebi seu desconforto.

– Sim. Eu... Usava bastante. Fazia-me sentir em paz... Como se todo o resto estivesse distante... Não me orgulho das escolhas que fiz no passado, Alef. Eu precisei passar por aquilo pra ser quem eu sou hoje. Tem coisas que nos destroem por fora e nos modifica por dentro. E foi assim que aconteceu comigo. Nada que aconteceu, deveria ter acontecido, mas se não tivesse acontecido, eu provavelmente, seria uma pessoa muito diferente, do que eu sou agora. – respondeu ele.

– Eu te entendo... Pelo menos em tese. Coisas acontecem para nos mudar... E você mudou. É isso que importa. – digo compreensivo.

– Entende mesmo? Você não está enojado? – perguntou-me ele.

– Por que eu estaria? Seu passado é seu passado... Eu não vou te julgar por isso. Nem você, Plínio. Os dois foram inconsequentes e pagaram por isso. Nem eu e nem ninguém tem nada á haver com isso. – falei.

Wallace se joga na grama e me abraça apertado. Ele estava aliviado.

– Cada dia eu tenho mais certeza, do que eu quero no meu futuro... E você está nele. Sempre. – disse ele, beijando minha bochecha demoradamente.

Acariciei suas costas e respirei seu aroma delirante. Não importava seu passado. Eu o amava. Com todo o meu coração.

– Desculpa atrapalhar o casalzinho, mas ainda falta o final da história... – disse Plínio, assobiando e quebrando nosso momento.

– Tenho medo desse final... O que rolou? – insisto para que eles continuem.

– É melhor ter mesmo. Foi bizarro. – adiantou Plínio.

– Pra quê tocar nesse assunto, Plínio? Você entendeu tudo, não é, Alef? Eu e o Plínio éramos parceiros de drogas. Só isso. Você não precisa saber dessa outra parte... Eu não quero te levar pra esse momento da minha vida. Por favor! – desesperou-se Wallace.

– Eu estou na sua vida, agora... E estou com você! Não precisa ter medo. – eu disse convicto.

– Mas você vai correr quando souber de tudo... Vai embora... Eu sinto! – disse Wallace com medo.

– Não! Eu não vou... – declarei rapidamente.

– Tá com medo, Wallace? Ele está com você agora... – disse Plínio, apontando pra mim. – Se começou, termina. Ele merece saber de tudo.

Eu e Wallace nos encaramos, mas ele não conseguiu falar. Seu olhar carregava a dor e o torpor, de uma escolha sem volta. Ele baixou o olhar e fixou na grama. Distante. Foi Plínio quem me contou:

– Aconteceu uma festa na casa do Wallace... Era uma dessas mansões, cheia de andares e quartos... Espaçosa. Luxuosa, exatamente como essa aqui. Era muito fácil se perder nela, eu me lembro... Ou talvez a droga passasse essa sensação... Num determinado momento, começou uma gritaria... Logo em seguida, veio o sangue... Muito sangue... Escorreu até pra piscina... A correria foi grande... Eu nem tive tempo de acreditar no que estava vendo... – disse Plínio, e pausou a conversa. – Acharam o corpo de uma garota no saguão da entrada, esparramado perto da piscina... Acharam que ela estava só desmaiada da bebida, mas não era bem assim... Ela estava morta. Caiu da janela do segundo andar e teve uma overdose... Tinha só dezesseis anos... Era bonita pra caralho... Uma boneca... Metida, mas gata... Todos a conheciam... Ninguém a desconhecia... Ela era a rainha... Namorada do nosso rei aqui.

Wallace colocou as mãos na cabeça e suspirou. Ele estava desabando. Eu sentia isso só de vê-lo naquela aflição. Ele se levantou e andou de um lado para o outro, inspirando fundo uma vez e de novo. Eu e Plínio estávamos sentados, de frente pra ele. Não reagimos. Só observamos. Ele ia estourar. Eu sentia.

– Tá tudo bem, Wallace? – pergunto preocupado.

– Não tá tudo bem, Alef. Claro que não... Olha só o que esse idiota tá me fazendo desenterrar... Todo esse meu passado... É complicado pra caralho. Ele prometeu que nunca ia falar sobre isso... Com ninguém. Mas, só por você, a gente tá quebrando esse pacto... Porque eu te amo. – disse ele, desamparado. – Satisfeito, agora, Plínio? Cara, eu te odeio tanto. – Wallace fechou os punhos e cerrou-os. – Quando terminar de contar... Eu espero sinceramente que você dê o fora daqui. Não quero te ver mais nessa casa. Não quero te ver na minha frente. Muito menos perto do Alef ou da Jennifer... Ela não sabe dessas histórias... Apenas, não volte mais aqui. Nunca mais! Entendeu?

Plínio balançou a cabeça, entendido. Eu não intervi. Minha vontade era de abraçá-lo. Tocá-lo. Dá-lhe meu carinho. Meu apoio. Só que eu fiquei parado... Sem reação. Não sabia como agir. Wallace nos deixou á sós e sumiu pra dentro de casa. Nem ao menos olhou pra mim. A mágoa o tomava por completo. Se eu ao menos pudesse ter evitado isso... Mas não, eu tinha que rodar a baiana e querer saber das coisas, tudo por causa de um ciúme bobo. Como eu me odiei nesse momento.

– Wallace! – chamei, mas ele se foi. – Nossa! Eu não sabia disso... Caramba! – engoli em seco. – Eu pensei que fosse escutar um lance amoroso de vocês dois... Nunca uma história dessas... Plínio... Agora dá pra entender toda a revolta dele contigo. Toda aquela obsessão em me afastar de você. Era isso. Sempre foi. – deduzo.

– Ele me culpa pelas drogas... A overdose da garota foi por conta de uma mistura com outra droga. Um coquetel, que eu mesmo fiz... E eu me culpo por isso, até hoje, Alef. Sei da minha culpa nessa morte. Mas, depois daquela noite, eu também mudei... Não uso e nem vendo mais essas coisas. Tô limpo. Você sabia que nessa época, eu já tinha dezoito anos? E por essas drogas, fui preso? Pois é... Foi o Wallace que me tirou da cadeia. Livrou a minha cara... E eu livrei a dele. – disse Plínio.

– Nossa! Que loucura... Preso? Como ele te ajudou?

– Pagou minha fiança... E um bom advogado. Em troca desse favor... Wallace me pediu para testemunhar a favor dele... Ele me pediu pra mentir por ele.

– Mentir? Mas, por quê? Ele não teve culpa na morte da garota... Teve? – perguntei, esperando o pior.

– Alef... Eu sei que você o ama, mas não se engane... Os vilões sempre são aquelas pessoas que menos esperamos... Wallace namorava essa garota e por acaso, ele e ela estavam lá em cima, no momento do acontecido... O que você acha? É óbvio. Foi ele.

Toda aquela história estava me deixando louco. Tantas suposições... Sempre levando a mais mistérios.

– Ele não... Faria isso com alguém, faria? Quer dizer, eu não consigo vê-lo como essa pessoa que você esta dizendo... Que motivos ele teria pra fazer isso? – falei desacreditado.

– Wallace não gostava dela. Só estava com ela, pelo prestígio de ser o babaca que ele gostava de ser... Hoje, você entende bem por quê... Ele curte homens. Como a gente... Eu sempre fui mente aberta sobre isso, já ele... Você mesmo disse que ele não sabia o que sentia por você... Esse cara não presta Alef. Nunca prestou. – envenenou-me Plínio.

– Eu estou confuso... O que você quer dizer com isso? Que ele drogou a namorada e depois a jogou da janela. Isso não faz sentido. Não tem lógica... Além de ser totalmente tolo. Eu não acredito nessa sua hipótese, Plínio. Agora, você já tá passando dos limites. – digo, balançando a cabeça e fixando meu olhar nos refletores do jardim.

– Ok. Quero ver você duvidar agora: E se ele tivesse brigado com ela, dias antes... E por acaso, ela tivesse aparecido na escola machucada... Como se tivesse sido surrada. O que você diria? Hã? Ele é tão inocente assim pra você, agora? O que diabos ele estava fazendo lá em cima? Wallace me fez dizer perante um juiz, que eu estava com ele, no momento da queda da garota. Só que eu não estava com ele... Nem ao menos o vi. – admitiu Plínio.

– Ele não bateria na própria namorada... Esse perfil não é o Wallace! – digo, percebendo olhar de reprovação de Plínio, lembrando-me da briga de minutos antes. Do jeito descontrolado que Wallace reagia. – Tudo bem... Ele pode ter esse jeito violento, mas nunca chegaria a extremos como esse... E olha que uma vez, eu dei motivos pra tal... Afinal, como você sabe que ele estava lá em cima? Como pode ter certeza, se você também estava bêbado e drogado? – questionei.

– Eu só acho. Podia estar doidão, mas eu não me lembro de tê-lo visto na sala... Tanto tempo já se passou, mas eu ainda me lembro de algumas coisas. Por que mais ele pediria pra eu mentir no depoimento? Ele foi culpado! O cara estava desesperado quando me pediu pra ajudá-lo. Você tinha que ver... A família rica é que o salvou... Se não fosse por isso, ele já era.

– São lacunas demais nessa história... Brechas demais... Eu não vou ficar no meio disso! Não mesmo.

– Eu sabia que você ia ficar do lado dele... Todos ficaram. Sempre foi assim! O riquinho, que fez besteira e agora se redimiu. – debochou Plínio.

– Olha só... Eu não tô aqui pra julgar ninguém. Nem você e nem ele. Vocês eram jovens. Faziam besteiras, como todo mundo um dia já fez. Claro, não desse tipo... Não todos, enfim... Eu não sei o que aconteceu, nem o que de fato rolou, mas eu acredito em vocês... E não vou culpar ninguém por nada. Até que me prove o contrário, é esse meu veredicto. – asseguro-lhe.

– Wallace ainda vai te surpreender... Tenha certeza disso! – disse ele, decepcionado.

Enraiveço-me e digo:

– Plínio! Quem é você pra julgar ele? Culpando-o friamente... Acho melhor você ir embora. Eu não quero mais ouvir nada desse assunto. Já deu por hoje.

– Tu deve gostar mesmo dele, né? Achei que fosse apenas uma atração... Vejo que não é mesmo... É... O rei sempre conquista os melhores. Já era de se esperar isso dele... Só cuidado tá? A noite dessa tragédia, ainda é um grande mistério... Agora, não vou mais te incomodar. – disse ele, levantando-se.

– Eu o amo, Plínio. De verdade. – admito.

– Boa sorte, então. Eu tentei... Nem pensei que fosse te contar essa história, um dia... Pois, achei que a gente fosse mesmo ter uma chance... Mas, tudo bem. – relatou-me ele.

– Você acha mesmo que se contasse essa historia antes, mudaria alguma coisa do que eu sinto por ele? – indago, rindo com essa remota possibilidade.

– Sim. Eu também não sou nenhum vilão... Eu só achei que se esperasse o momento certo, talvez fosse dar sorte. E te livrar desse...

– Não fala dele desse jeito! Wallace é um cara complicado, mas eu tenho certeza que quem ele foi antes, não reflete em nada do que ele é hoje. Não mesmo. Você não o conhece como eu. – rebato.

– Se ele mudou... Então, eu tô feliz por você. Se eu não posso te fazer feliz, que pelo menos ele possa. Do jeito dele. – disse ele triste.

Plínio chega perto de mim. Encaramo-nos por alguns segundos, e ele beija minha testa.

– Adeus, Alef. Dessa vez é pra valer. Só uma coisa: Se algum dia ele te deixar... Eu vou estar em algum lugar, te esperando pra ser tua segunda opção. Quer dizer, se eu não tiver encontrado alguém... Vai saber... Então, aproveita enquanto é tempo. – brinca ele.

– Tchau, Plínio! – me disperso dele.

– Te cuida, garoto! – pede ele.

Por mais encafifado que eu tenha ficado, não demonstrei para ele. Que aquela história era macabra, isso era. Faltavam peças... Verdades... De uma coisa eu tinha certeza: Muita mentira envolvia aqueles dois... E por mais que eu amasse Wallace, algo começava á me assustar de verdade nele... As dúvidas começaram a arranhar minha consciência. O que era verdade e o que era mentira? Quem estava certo? Plínio teria falado a verdade? Wallace era um assassino? Não quis nem imaginar tal possibilidade.

Plínio foi embora. Subiu na moto e acenou pra mim, pela última vez. Dei um sorriso enviesado pra ele, e logo em seguida, corri o mais rápido possível para a mansão. Precisava encontrar meu amado.

Entrei pela sala e me deparei com quase todo mundo, curtindo uma seção particular de cinema. Os meninos riam debochando de algo que viam. A TV exibia um filme de terror, eu acho. Parte do pessoal que estava assistindo, olhavam vidrados pra tela. Outros mexiam no celular. Ninguém olhou pra mim, quando entrei. Já eu, não tive como não olhar pra eles. Procurei por ele... Meu foco era Wallace. Só que ele não estava ali. Jennifer, quando me viu chegar, levantou-se do seu cantinho no sofá, e correu até mim. Sussurrando baixinho, ela disse:

– E aí? Qual foi o lance? Tô louca de curiosidade. Conta tudo!

Se ela soubesse... Puxei-a pra fora da sala e subimos alguns degraus da escada, pra ter alguma privacidade. Não queria chamar a atenção dos que assistiam. Principalmente da Paty, que nos olhou de relance.

– Cadê o Wallace? – perguntei.

– Subiu para o quarto. Menino, quem vai ganhar essa disputa? Esse seu triângulo amoroso é do babado, hein... Sonho com um desses pra mim. – ressaltou ela rindo.

Antes fosse... Adoraria dizer pra ela, que os dois tinham tido um caso no passado e que era só isso... Só que o passado sombrio dos dois, era muito mais assombroso do que eu pensava. Jennifer não poderia saber disso. Wallace tinha deixado isso bem claro.

– Não existe nenhum triângulo amoroso, amiga. Seria bem mais fácil se fosse isso... Sério, eu preciso falar com o Wallace! – falei, subindo a escada, mas ela pegou meu braço.

– O que tá acontecendo? Você tá branco... O que foi que eles disseram a você? – desconfiou-se ela.

– É complicado, Jennifer. Mais do que eu pensava... Eu vou subir. Depois te falo tudo. Eu prometo!

Me solto da sua mão e corro escada acima. O desespero de vê-lo e saber como ele estava era mais importante.

– Já começou a deixar os amigos de lado, né? Ah não, Alef. Isso não! – reclamou ela.

– Desculpa! – eu disse, enquanto subia.

Cheguei ao segundo andar e respirei fundo. Bati na porta do quarto dele. Ninguém respondeu. Bati de novo. Nada. Girei a maçaneta e a porta se abriu. Ele tinha deixado aberta. O quarto estava escuro. A única luz vinha da janela, que estava aberta. O luar de uma noite fresca iluminava o quarto sombrio. Fechei a porta e o escuro predominou, mas só um pouco. Eu conseguia vê-lo. Wallace estava deitado na cama, de bruços. Não vi seu rosto. Ele fungou. E eu caminhei em direção á cama, chegando bem devagar... Ele sabia que era eu, pois falou:

– Ele já me crucificou pra você, não é? Eu sei. É claro que ele fez isso. Sempre foi assim... – disse ele, olhando pra janela.

O vento soprou sobre as persianas e balançou as cortinas. Sentei na cama e encostei-me à cabeceira. Eu não via seus olhos, mas podia jurar que ele estava chorando. Um homão da porra daqueles, chorando? Não era normal.

– Você acha que eu me importo mesmo com a opinião dele? Pra mim não fez diferença. Eu acredito em você. Seja o que for que tenha acontecido... Vou estar do teu lado. – declarei.

– Tem certeza? Acredita, mesmo sabendo que eu possa ter causado aquela morte? E se eu for o culpado? E se eu for o assassino? Você ainda vai ficar do meu lado? – perguntou-me ele.

Aquilo me entristeceu. Wallace se transformava em outra pessoa, quando ficava rabugento. Seu tom de voz transparecia repúdio. Como se ele estivesse com raiva de mim, apenas por eu estar disposto a ficar do lado dele. Custe o que custasse.

– Por que você tá dizendo isso? Você não quer que eu acredite em você? – perguntei.

– Não! Não quero... – respondeu ele, rígido.

– Então é assim? Você vai me afastar de você, por causa de umas histórias do passado?

Ele se virou pra mim e me encarou. Seus olhos brilhavam na escuridão do quarto. Olhos predatórios... Atentos... Furiosos.

– Uma história do passado? Você tá se escutando? Essa droga de história destruiu a minha vida por um bom tempo, Alef. Afastou-me de coisas, que eu jamais pensei que fosse perder. Você não tem ideia do que eu passei. – disse ele, amargurado.

– O que você quer que eu diga? Aliás, o que você quer que eu faça? Culpe-o? Crucifique-o? – digo, espantado com seu ceticismo.

– Eu só quero que você se toque... Veja... Que eu talvez, possa não ser a pessoa que você sonhou... Por que você insiste em não ver o óbvio? Você devia ter medo... Repulsa!

– Do quê? De você? Por que, Wallace?

– Porque é o que as pessoas normais fariam... Elas evitariam problemas. E era o que você devia fazer. Mas não, você tá cego. Alef, eu sou um grande problema. Você não tem noção. Se você fosse sensato, iria embora, na primeira oportunidade que tivesse. – disse ele, sentando na cama e ficando de costas pra mim.

Meus olhos se encheram d’água.

– Quer dizer então, que eu não sou uma pessoa normal? Que eu estou cego á ponto de não enxergar a verdade? Não seja ridículo! É você que não está sendo honesto comigo. Algum dia, você me contaria toda essa história? Porque pelo estado como você ficou... Acho que provavelmente, não... Olha, eu não estou te cobrando nada... Eu só quero te conhecer. Até mesmo a sua pior versão... Porque é isso que as pessoas sensatas fazem, Wallace. Elas ficam do lado das pessoas que amam em todos os momentos... Por mais difíceis que sejam. – rebati com raiva dele.

– O pouco tempo que a gente se conhece, não é suficiente, pra eu falar todas as coisas pessoais da minha vida pra você... Eu não vou discutir mais isso... Não vou! – trovejou ele, frio.

Meu coração afundou numa massa de lama. Eu me sentia sufocando... Que facada! Wallace se levantou da cama, tentei impedi-lo, mas ele desviou-se. E ao sair do quarto, nem ao menos olhou pra mim. Apenas se foi.

– Aonde você vai? – perguntei, engasgado com sua distância repentina.

– Não te interessa! – rebateu ele, fechando a porta com um estrondo.

Era surreal. Estávamos batendo na mesma tecla, repetidas vezes. Algumas lágrimas, sorrateiramente, desceram pelos meus olhos. Ele não acreditava que eu podia amá-lo, não importasse o que tivesse acontecido no passado dele. Para ele, nosso amor era como um castelo de areia. Sempre poderia se desfazer. Como poderíamos levar adiante, uma relação tão profunda e tão difícil de suportar? E se ele fosse culpado mesmo? E se ele fosse o monstro? Afinal, estaria eu, apaixonado por um completo desconhecido? Vilão ou mocinho? Eu sentia que estava levando minha vida para um inferno impetuoso, sob o qual eu não tinha controle. E nem saída.

Nós dois nos conhecíamos á apenas sete dias. Um tempo muito curto para se conhecer alguém. Mas, tão intensamente marcante, que mais pareciam meses, anos, séculos. Será que tínhamos sido apressados demais? O “eu te amo”, teria sido cedo demais? Deitei na cama e senti o cheiro dele. Abracei seu travesseiro e adormeci, mais uma vez chorando por ele.

...

No meio da madrugada, acordei com um peso nas costas. Um calor gostoso envolvia meu corpo. Virei-me e o vi dormindo, pesadamente, de bruços sob mim. Sua respiração era silenciosa. Ele não roncava. Ainda bem! Respirei seu aroma e me aconcheguei ainda mais junto dele. Enroscando minha perna na dele. Não o tinha visto chegar, mas acho que fazia pouco tempo... Wallace era assim... Depois de uma briga, sempre voltava. Como se nada tivesse acontecido... E eu não conseguia ter raiva dele por muito tempo... Beijei seu queixo, e o abracei. Encostando minha cabeça na sua. Ele estava ali comigo. Era isso que importava. Lidaríamos com os problemas depois.

...

Amanheceu. Acordei e ele ainda estava ali. Abraçando meu corpo. Dormindo no nosso casulo de amor. Tem sensação melhor, que acordar com o cara que você ama do seu lado? Olhei para sua face esculpida e o admirei. Era impressionante, que aquele ser extremamente perfeito, estivesse comigo. Demoraria á me acostumar com essa ideia. Ele abriu os olhos, calmamente, e bocejou. Espreguiçou-se e me largou.

– Bom Dia! – desejei, espreguiçando-me também.

– Bom dia... – disse ele, meio seco.

Ele sentou na cama e se alongou. Flexionando os músculos.

– Eu não vi você chegando de madrugada... Não faz mais aquilo de novo, Wallace. A gente não precisa ficar desse jeito. – eu disse.

– Sempre faço isso... Você devia se acostumar. – disse ele, friamente.

Ele mudou a fisionomia. Estava distante de novo... Chato... Arrogante... Como se me engolisse contra vontade. A fera levantou-se da cama e tirou a camisa, retirando o samba canção. De cueca Box, ele pegou uma toalha e se enrolou nela.

– Por que você tá com raiva de mim? O que foi que eu fiz? – perguntei, levantando-me da cama e ficando na frente dele.

– Você não fez nada, Alef. Esse é o problema. Você não faz nada. – gritou ele na minha cara.

– É isso que você quer? Brigar? – indago, enraivecido com seu tom.

– É! Isso mesmo! Vamos lá... Acuse-me! Bata em mim! Eu quero sentir sua raiva... Seu desprezo! Eu estou de saco cheio, dessa sua forma de ver a vida como um conto de fadas, onde tudo é aturável e aceitável. – disse ele, endurecendo seu maxilar. – Cara, você ficou sabendo de tudo aquilo, e nem ao menos, me questionou ou me acusou. Tudo que você fez foi dizer que vai ficar do meu lado, sem nem mesmo conhecer a verdade. Você não existe! Ás vezes, eu tenho a impressão que toda essa sua fachada, um dia vai cair e você vai se mostrar como é... Porque não é possível que uma pessoa possa ficar tão passional, depois de saber daquelas coisas. Então, por favor... Diga o que de verdade você pensa de mim. Chega de ser compreensivo! Chega de aceitar tudo, Alef! Mostre a SUA verdade. Ninguém é sempre o mocinho da história! – discursou ele, colocando todos os seus demônios pra fora.

Como ele podia me dizer isso? Depois de eu passar por cima dos meus conceitos, tentando encontrar uma verdade justa no caráter dele. Eu até defenderia ele, mesmo sem saber da verdade. Amar uma pessoa demais, te faz passar por cima de coisas... Como eu disse: TUDO É UM TESTE. A gente se transforma em outra pessoa... Por amor.

– Você quer que eu te julgue, não é? Que eu solte os cachorros em cima de você... Pior, o que você quer é que eu te olhe diferente. Que eu sinta nojo de você. Como vou sentir tudo isso, se eu te amo pra caralho? Mas esperai, nem nisso você acredita. Pra você, eu posso estar fingindo o nosso amor... Valeu por achar que minha fachada de amante apaixonado, vai cair, como se eu tivesse usando a porra de uma máscara... Já que você quer assim; Então tudo bem, Wallace. Obrigado pelas palavras de incentivo. De verdade mesmo. – digo, batendo palmas exageradamente. – Nunca pensei que você confiasse tão pouco em mim... Sabe qual é o seu problema? É que você não acredita nem em si mesmo... Você nunca vai confiar em ninguém. Quer saber? Eu acho de verdade que você foi o culpado de toda aquela merda de acidente ou sei lá o que foi... Você matou a sua namorada! Você é um assassino... Um drogado... Se eu soubesse disso antes, preferiria nunca ter te conhecido. Era isso que você queria ouvir? – finalizei duramente, derramando uma única lágrima, que eu logo limpei.

Ele queria que eu o machucasse. Que o dilacerasse. Eu tinha cumprido minha parte. Só que tudo que eu tinha dito, tinha voltado pra mim. Eu me senti a pior pessoa do mundo. Era como se eu estivesse botando pra fora, minha pior versão. Aquele não era eu.

Wallace olhou pra mim por longos segundos... Seus olhos brilharam cheios d’água. Senti, naquele olhar magoado, que ele nunca me perdoaria pelas aquelas palavras.

– Obrigado por ser sincero, quanto á tudo. – disse ele, baixando a cabeça e mordendo o lábio.

Wallace se virou e entrou no banheiro, fechando a porta. Foi como um adeus. Não aguentei e desabei soluçando na cama, chorando como nunca tinha feito antes. Cada palavra que eu disse, tinha sido como um chute na minha barriga. Ele queria ouvir isso... E eu falei com desprezo e ódio tudo que ele queria escutar. Nossa briga serviu para nos mostrar, mais uma vez, que vínhamos de mundos muito opostos. Eu coloquei o travesseiro na cara e gritei, chorando litros. Não queria ter dito aquilo. Não queria magoá-lo. Nunca. Mas as circunstâncias nos colocam em cheque. A balança precisa de um equilíbrio. Nada é perfeitinho. Aprendi que um passado pode muito bem destruir um futuro. Basta desenterrá-lo. Pois, por mais esquecido que ele esteja, quando lembrado, algo novo sempre aparece. Destruindo sua estrada segura... E mudando sua trajetória.

Continua...

Comentários

Há 9 comentários.

Por Rafinhah em 2017-03-23 01:49:24
CADÊ O OUTRO EPISÓÓÓÓDIOOOO
Por Júnior amor em 2017-03-20 09:52:40
Não demora já estamos ruendo as unhas de tanta anciedades. Bjs
Por Sonhador Viajante em 2017-03-19 21:39:15
Gente, desculpa a demora de postar esse cap... A semana passada foi pesadíssima, mas vou postar sim! O Capítulo 20 e 21 sairam simultaneamente! Aguardem... Vou postar! Bjs!
Por Júnior amor em 2017-03-19 20:55:25
Pelo amor posta o capítulo 20 q era pra ter postado ontem por favorrrrrrr
Por Ped🎶 em 2017-03-19 15:08:32
Kd o cap 20?? Tou quase morrendo de curiosidade😂😥😥😥😥😥😥😥😥
Por Júnior amor em 2017-03-18 21:17:56
Ou meu Deus KD o capítulo de hj que vc ainda não postou 😱😱😱😱😱😱😱
Por Júnior amor em 2017-03-11 20:07:45
Meu Deus:-( amando essa história cada vez mas.. mas fico mim roendo esperando cada capítulo. Que mas parece uma eternidade. Esperando que o próximo sábado venha logooooo . Espero que isso não seja um fim pro Wallace e o Alef 😭😭😭😭 amo esse casal♥♥♥😍😘😘
Por Guerra21 em 2017-03-11 16:33:56
Affs, na moral o Wallace é muito inseguro, eu fico com pena do Allef, espero que os dois se acertem, fiquei bastante emocionado com a história, o Plínio parece que expressou verdade em suas palavras ainda que sejam intencionais. Já tá na hora do Allef se posicionar, espero que ele volte pra casa, quero ver o Wallece correndo atrás dele como um cão sem dono, esse idiota na sabe valoriza um amor de verdade. Parabéns ao escritor, um enredo maravilhoso, merece virar um livro.
Por Elizalva.c.s em 2017-03-11 15:52:59
Cara que berra,desse geito não tem amor que resista.😘😘😘😘