Capítulo 18 - A Bolha

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

“O que foi que eu fiz?” “Por que eu sou assim?” “Eu tenho medo... Estou com muito medo”, divaguei.

Eu estava longe... Muito longe. Tanto fisicamente, como mentalmente. As ondas batiam nos meus pés, enquanto eu caminhava numa verdadeira desolação sem fim... Tanta, que eu me sentia perdido num mundo só meu... O vento esfriava meu corpo e anestesiava minha alma... “Cansei de correr”... “Cansei de tudo”... “Até de mim mesmo”. Envolvi-me na minha bolha e perdi a noção de tudo. Eu apenas seguia... Sem destino certo... Como um zumbi cambaleante... Vazio... Sem sentidos... Á deriva.

As palavras de Eliza ecoavam na minha cabeça... Sonoramente claras... “Aproveitador”... “Interesseiro”... “Romancezinho patético e fake”. Tudo que ela tinha me dito, atingia-me, como se eu tivesse levando punhadas. Não devia me deixar abater. Mas não conseguia ignorar. Eis os fatos: Wallace tinha uma vida... Antes de me conhecer. E ele voltaria para ela, quando as férias terminassem... Assim como eu voltaria pra minha... Dois caminhos que seguiriam cursos diferentes. Nunca daria certo. Era isso que me incomodava tanto... A separação evidente. Existia uma distância entre nós dois... Eu e ele, NUNCA DARÍAMOS CERTOS. Um aperto no meu peito me fez vacilar... No mesmo momento, sofri uma queda... Que me fez cravar as mãos na areia.

Minha autoestima, meus sentimentos, e, principalmente, meu coração, entraram em colapso. “O que eu era afinal?” Apenas um rapaz, querendo viver uma paixão. Um cara, correndo atrás da sua felicidade. Um garoto, em busca do amor verdadeiro. Eu só queria ser amado. Droga! Eu era tão abestado. Tão fraco. Imbecil. Sempre fugindo de tudo. Cadê a minha maturidade pra enfrentar a vida? Eu merecia o que estava passando... Quem sabe eu não crescesse, de uma vez por todas. Quantas vezes eu precisaria aprender? Minhas atitudes, só demonstravam o quão tolo, eu era. Ninguém nunca ficaria comigo... Olha só pra mim. Será que eu estava preparado para ter um relacionamento com alguém, algum dia? As pessoas nascem preparadas pra isso? E se eu nunca estivesse pronto? Preciso estar? E se eu terminasse sozinho? E se nunca aparecesse alguém pra me aturar? Wallace parecia ser o cara... Mas, vamos ser honestos. Não pra mim. Afinal, eu seria o cara certo pra alguém? Eu estava numa fase... E que fase. Tudo era um ponto de interrogação.

Olhei ao redor, voltando á tona... E ao me deparar com a minha realidade, senti-me sozinho. A grande faixa de areia se estendia solitária, desabitada e abandonada. Exatamente como eu me sentia. Num completo vazio. Eu tinha desabado no chão e fincado ali mesmo. Meus pulmões subiam e desciam, totalmente, exaustos. Olhei para o céu e fixei meus olhos nas estrelas, que já apareciam brilhantes. O sol estava bem fraquinho. Apenas uma fresta... Se pondo, sorrateiramente. A noite chegava... O escuro dominava. Fechei meus olhos e adormeci... Sentindo aquele ventinho gelado no rosto... Dormi nas finas areias de uma praia qualquer.

...

O sonho de um sono repentino me pegou...

Ao som de (Ruelle - Closing In), eu flutuei… Eu boiava... Deitado numa linda piscina, completamente sozinho. Era incrível... Eu estava boiando... Meus braços se mexiam, abertos e suaves... O equilíbrio era precioso. Olhando para um céu ensolarado, deixei os raios de sol me queimar... O sol era intenso... As águas cristalinas se agitavam, apenas com meu balanço... Tudo ao meu redor estava calmo... Eu flutuava... Delirando... Numa paz prazerosa... Não havia preocupações... Não havia nada... Só a música e a tranquilidade... Há quantos metros de profundidade eu deveria estar? Não importava... Eu podia nadar... Não podia? Foi aí que eu lembrei... A água escureceu... Tornando-se um azul escuro... Muito escuro... Estranhei e me toquei: Desde quando eu sabia nadar? A resistência diminuiu e eu comecei a afundar... Minha cabeça deu um último suspiro e meus olhos foram invadidos por águas escuras... “Não sei nadar”... O desespero me dominou... Afundei.

Achei que fosse morrer... Até já tinha aceitado esse fato... Quando comecei a respirar debaixo d’água... Isso mesmo... Eu não me afogava... E foi essa novidade que fez nadar... Foi essa ponta de esperança que me impulsionou... E me fez ir além do que eu poderia imaginar... A escuridão era longínqua... Mas, a superfície me esperava... O sol brilhante me aguardava... Continuei nadando... Subindo.

Mãos grandes me puxaram para cima... Uma voz me chamava... Acelerei o impulso... Eu ainda estava sonhando, quando a voz dele me despertou.

– Alef? Alef? Acorda! Alef? – desesperou-se ele.

Eu conhecia muito bem aquela voz de autoridade. Abri meus olhos, atônito e alerta, e o vi.

– Wallace! – falei perdido.

– Graças á Deus eu te encontrei... Caramba! Você me fode pra caralho, sabia? O que diabos você tá fazendo aqui? – perguntou ele, suspirando aliviado.

– Como... Como você me encontrou? – indaguei, tentando me recuperar do sonho.

– Procurei você em todo lugar. O que deu em você, Alef? Você ficou maluco? Por que você tá aqui? Aliás, por que você fugiu? Isso não foi nada legal... Tá me ouvindo? Não foi! – esbravejou ele.

Comecei a chorar. Aí que vergonha. Baixei olhar. Não consegui olhá-lo nos olhos.

– Eu fiquei confuso... Sua mãe foi terrível comigo... Ela me disse coisas que... – falei entre soluços descompassados.

– Não importa o que ela te disse! Porra! Você não podia fugir desse jeito... – rebateu ele.

– Ela, praticamente, me expulsou de lá, Wallace. Á PONTAPÉS. O que você queria que eu fizesse? – perguntei com raiva.

– Como é que é? Ela não podia ter feito isso contigo! Ah, mas isso não vai ficar assim. Não vai mesmo! Você é nosso convidado naquela casa. Ninguém pode te mandar embora como um cachorro. Jamais. Entendeu? – disse ele revoltado.

– E se ela estivesse certa? E se eu fosse um interesseiro? Bandido? E se eu tivesse te enganando... Eu tenho medo de você acreditar nela. – reajo.

Eu estava viajando, mas o medo de perdê-lo era intransponível. Eu tinha que alertá-lo. Vai saber o que se passa na cabeça dele. A mãe dele poderia muito bem fazer a cabeça dele. Só que ele mais uma vez, me surpreendeu com sua sinceridade e sua confiança, na nossa relação.

– Ninguém faz a minha cabeça, Alef. Para de paranoia! Minha mãe te envenenou, né? Que loucura é essa? O que te faz pensar nisso? Você não é nada do que ela supôs sobre você. Não é! – rebateu ele, convicto.

– É só uma verdade, Wallace. Por mais surreal que tenha sido as coisas que ela me falou. Ela conseguiu me abrir os olhos para muitas coisas. Você tem uma vida muito diferente da minha... Mora lá fora e tá aqui, provavelmente de passagem... Nossos caminhos são opostos... E quando você for embora? O que vai acontecer quando as férias acabarem? A gente vai se separar. E eu não tenho ideia de como lidar com isso. Você melhor do que ninguém sabe bem a intensidade do nosso envolvimento. – relato.

– Sei bem demais pra saber que isso que a gente tá tendo, não vai terminar no final desse verão. O que é isso? Alef, o que aconteceu com a nossa promessa de enfrentar tudo juntos, hein? Esqueceu? Para de pensar que eu vou te deixar quando isso acabar... Cara! Você tem que ter mais esperança em nós dois. Antes, era eu que estava com medo... Agora é você? Quantas vezes eu preciso provar pra você, que eu tô mesmo afim de ti? Afim não! Eu te amo! Porra! Eu te quero demais, pra desistir de uma hora pra outra! – disse ele, pegando meu rosto e me beijando. Afasto-me.

– Ela não acredita no nosso amor... Pra ela, é tudo mentira! E se for? A gente nem se conhece direito... Eu não conheço você, Wallace. – digo, entre soluços.

– Mas vai conhecer! Teremos muito tempo pra isso... Esquece minha mãe! Esquece tudo que ela te disse... Você e eu temos muita coisa pela frente... E não vai acabar depois daqui. Não pra mim! Pra você vai? – indaga ele.

– Nunca! – repondo.

– Então! Para com isso! Para de ser o garoto inseguro. Para de fazer e achar besteira, achando que tá fazendo a coisa certa. Caralho! Você consegue me deixar pirado, sabia? Vêm! Vamo embora daqui. A gente precisa voltar. AGORA! – disse ele, emburrado.

– Eu não quero ir... Não! Não vou voltar para aquela casa! – aviso.

– Não vai? VAI SIM! E VAI AGORA! CHEGA DESSA MERDA! – trovejou ele, pegando-me no braço.

Tento me debater, mas sua força era mais forte e mais intensa. Não lutei muito. Apenas o deixei levar-me.

Minha cabeça se aconchega, protetoramente, no ombro dede... Mesmo não querendo, eu flutuo nos seus brações... Olho ao longe, e me despeço das escuras águas das ondas, batendo nos rochedos. Á medida que ele me carrega, distancio-me cada vez mais da praia... Cansado de criar clima, encaro meu salvador e o abraço. Seu peitoral é meu refugio. Seu cheiro minha droga. Wallace me olha, surpreso. Depois vira o rosto, bravo de novo. De repente, sinto-me como uma peça de porcelana. Leve demais. Inquebrável demais. Ele me segura com todo cuidado possível. Mas estava frio. Tenso. Distante. O motivo era eu mesmo.

– Desculpa... Eu não queria fugir de você. – murmuro baixinho. – Eu... Só queria ir embora daquela casa.

– Em casa a gente vai ter uma conversa. Muito séria. – disse ele.

– Eu não vou voltar pra sua casa... Não vou! Eu quero voltar pra minha casa. Sua mãe não me quer ali. – digo, querendo me livrar dos seus braços de novo, mas ele não me soltou, muito pelo contrário, apertou-me contra ele como nunca.

– Nem pensar! Você vai voltar comigo. Ouviu? COMIGO! – ordenou ele.

– Mas sua mãe... – comecei.

– Não importa o que ela te disse... Eu sou dono do meu nariz... Você sabia que ia ser difícil. Cara, eu tô muito irritado contigo agora. Não fala nada, por favor. – pediu ele, irritado.

Ele me pôs no chão, quando chegamos ao seu jipe, abrindo a porta e me fazendo entrar. Algumas pessoas se encontravam lá dentro. Recompus-me e respirei fundo. Vi Jennifer com uma cara nada compreensiva. Ela fez um bico e pegou minha mão. Acomodei-me no banco de trás e a abracei. Yumi, que estava do lado, tocou meu ombro, solidária. Wallace fechou a porta com força e entrou fervendo na direção.

– Alef... Você não podia ter corrido. A gente estava lá em cima. Você podia ter nos chamado ou coisa do tipo. Ninguém vai te enxotar daquela casa. Nem mesmo meus pais. Não faz mais isso. Eu fiquei puta, preocupada contigo. De novo. Poxa... – disse Jennifer, abraçando-me.

Decepcionei minha amiga. Decepcionei o cara que eu estava amando. Eu sempre faço isso... Decepcionar as pessoas da minha vida é uma regra pra mim. Odiei-me ainda mais com o silêncio no carro. Ninguém falou mais nada. Wallace permanecia chateado. Calado. Marrento. Bravo. O pacote completo. Nem olhou na minha cara e muito menos falou mais nada, durante o caminho de volta. Não reclamei. Eu tinha dado motivo. Eu tinha sido um idiota e burro. Não sei o que ele falaria pra mim, quando chegássemos, mas fiquei com medo. Como eu tinha sido infantil. Corroí-me em arrependimentos.

...

O portão automático abriu e nós entramos. Wallace dirigiu veloz até a garagem. Parou num rompante, que quase nos jogou pra frente. Olhei lá pra fora e vi algumas pessoas na piscina. Aí meu Deus... Era isso que eu queria evitar. Wallace abriu a porta e saiu com uma fúria descarrilada. Desci, junto com as meninas, reunindo forças. Não tive tempo nem de pensar em como encarar á todos. Wallace pegou minha mão e me levou até a piscina. Furioso. Determinado. E por mais temeroso que eu estivesse, a pegada firme dele, me curava de um ajeito ou de outro. Aquele homem era tão sexy quando estava com raiva. Uma veia saltava do seu pescoço. Os braços ficavam duros e rijos. Transformando a montanha, numa tsunami.

Na beira da piscina, estavam sua mãe, seu pai, a irmã dele com o marido dela, tio césar e a esposa. Do outro lado, Saulo escutava música no fone de ouvido, de olhos fechados. Otto e Alexandre mexiam no celular, no jardim gramado. Nem nos viram.

Wallace parou na frente dos seus familiares e falou em alto e bom som:

– Eu achei que conseguiria superar tudo e seguir em frente... Achei de verdade, que o tempo passaria uma borracha em tudo que me aconteceu... Mas, eu me enganei. Eu pensei que se me afastasse, não restariam mais lembranças ou mágoas... Só que caramba! Isso é impossível. Eu olho pra vocês e tudo volta... As lembranças tão aqui... Fodidas no meu consciente. É... As coisas sempre voltam... Fugir só piora. Vocês sabem muito bem do que eu tô falando... Sabem! E eu não vou relembrar pra vocês o quão idiota eu fui... Vocês se lembram de quando eu saí de casa, pra fazer uma faculdade, lá fora? Claro que lembram! Vocês queriam tanto. Pediam tanto. Eu me esforcei TANTO pra ser BOM pra vocês. Abandonei gostos meus, apenas, para satisfazer as expectativas de vocês. Tudo isso pra recompensar o mar de desgosto, que eu tinha deixado pra trás... Eu fui bom, mãe. Eu sou bom, pai. Quer saber mesmo porque eu fui embora? Pra me ver livre de vocês! Eu nunca fui eu mesmo perto de vocês. Nunca! E voltar pra cá e passar por uma situação dessas, só me faz ter certeza absoluta de que sim, eu fiz uma ótima escolha. Eu nunca deveria ter voltado. Não! Vocês merecem minha ausência. É impressionante como sempre que conquisto minha felicidade, vocês vêm tirá-la de mim. Só que dessa vez, vai ser diferente. O passado não mais se repetirá. Não pra mim.

Todo mundo tinha parado o que estava fazendo e olhava pra Wallace. Eu fiquei sem ar á cada palavra que ele falava. Sua mãe chorou e seu pai baixou o olhar. Érika balançava a cabeça, como se dissesse: “Não faz isso!” Jennifer do nosso lado, olhava para Wallace, espantada. Eu não sabia do que ele estava falando. Era um momento dele e só dele. Ele respirou fundo, controlando as lágrimas, e continuou:

– Da próxima vez que alguém quiser interferir na minha vida, venha falar comigo. Não faça pelas minhas costas. Eu não sou nenhuma criança. Muito menos um adolescente. Antes de interferirem nos meus assuntos, pensem bem em quantas vezes vocês já não fizeram isso. Só que agora sou eu que tomo minhas decisões. O que a senhora fez não se faz, mãe. Eu tô muito decepcionado com a senhora. Mais uma vez. Nunca mais faça isso com as pessoas que eu gosto. Nunca mais. Deixe-me viver a minha vida do jeito que eu quero e com quem eu quiser... Estão vendo essa pessoa aqui... – disse ele, mostrando-me para eles. – Ele acabou de entrar na minha vida... E eu o considero pra caralho, mais do que já considerei alguém. Esse cara aqui, tá me conhecendo e eu tô conhecendo ele... A gente se gosta... Nos amamos. E se vocês acreditam nisso ou não, é problema de vocês. É difícil pra vocês entenderem isso, mas não é impossível. Vocês não tem que gostar... Nem opinar... Só aceitem. Apoiem-me. Pelo menos uma vez na vida.

O desabafo dele deixa todos calados. Até mesmo eu. Wallace estava possesso. Carregando uma fúria descontrolada. Sua mão apertava a minha com muita severidade. Nunca o tinha visto assim. Assustado, pego sua mão. Acaricio sua mão esquerda na minha, e ele olha pra mim. Suas pupilas estão dilatadas. Maiores. Insanas. Tento acalmar seus ânimos. Fixando meu olhar e pedindo ele pra ficar calmo. Ele afrouxa seu aperto, mas não me solta. Seu olhar começa a suavizar, escondendo sua fera interior. E que fera.

– Eu não vou conseguir aturar isso, Wallace. – disse sua mãe, quebrando o silêncio.

– Mãe... Eu não me importo! Apesar de eu esperar mais da senhora... Pouco me importa agora! Paciência... Tá legal? – falou Wallace, mais manso.

– Você está mesmo decidido a viver essa loucura, depois de tudo que você construiu? Ele já sabe tudo sobre você? Contou pra ele sobre sua bagagem, aqui e lá fora? – perguntou seu pai, relembrando algo desconhecido.

– Ele vai saber de tudo por mim e não por vocês. Aliás, isso não é da conta de ninguém. – rebateu Wallace, agora, apreensivo. Como se o tivessem afetado.

O que ele não tinha me falado? Que bagagem era essa? Algo na sua expressão me incomodou. Não gostei disso. Ele escondia algo. O quê, eu não sei.

– Se você quer tanto isso... Tudo bem! Eu te apoio. Você sabe que eu sempre te apoiei meu irmão. Mesmo nos momentos mais sombrios, lembra? – disse a irmã mais velha dele, alisando o cabelo do marido ao seu lado.

– É isso aí... Estamos contigo, cara! – disse o marido dela, acenando pra nós.

– Obrigado por isso, Érika. Valeu Artur. – disse Wallace, recompondo sua compostura.

– Quer ficar com ele, fique. Mas, aqui? Na nossa frente? Nem pensar... Não o quero aqui. – desafiou Dona Eliza.

– Se ele tiver que sair, eu também vou. – rebateu Wallace.

– Você não está falando sério. O que esse garoto te fez? Lavagem cerebral? – perguntou Eliza, furiosa.

– Se ele for embora... Eu não fico nem mais um segundo nessa casa. – adverte Wallace, novamente.

Dona Eliza fica sem jeito e engole em seco. Seu olhar me fuzilou e eu não a encarei. Ela que descontasse sua fúria nela mesma.

– Aí, mãe... Pra quê isso? Vamos parar com essa bobeira. Isso é normal. A senhora pode até não aceitar agora, mas depois de um tempo se acostumará... Estamos numa era diferente. É UM NOVO MUNDO. – disse Érika, enfatizando suas palavras.

– Você não pode ir embora... Não por causa desse garoto. – disse Eliza, inconformada.

– Posso sim e eu vou! E não é por causa dele, é por sua causa. – disse Wallace, entristecendo Eliza.

Eu me senti um martírio no meio daquilo tudo. O que eu estava fazendo?

– Wallace, não é melhor eu ir embora?... – tento falar.

– Fica quieto, Alef! – disse ele ríspido.

– Não vou ficar longe do meu filho por causa disso, Eliza. Chega dessa discussão. Wallace sabe muito bem o que faz. Já se foi o tempo em que ele não sabia... Seja feliz meu filho. Com ele ou com quem quer que seja. Você já passou por coisas demais. Eu quero te ver feliz. E se essa relação te faz feliz, que seja! Vamos todos jantar. Estou com fome! E farto desse drama. Afinal, quantos filhos gays têm no mundo? O nosso não seria exceção. Vamos. – disse o pai dele, arrastando sua mulher e chamando todos.

Pelo visto, o pai dele era o mais cabeça aberta da relação. Um milagre.

– Mas, Edu... – insistiu ela, sendo rebocada lá pra dentro.

– Obrigado, pai! – agradeceu Wallace.

Graças á Deus, o drama não se estenderia. A mãe dele teria que nos engolir. Querendo ou não. Isso seria complicado... Mas, nós enfrentaríamos.

– O jantar já vai ser servido. Vamos! Só não foge de novo, tá Alef? Mamãe é complicada, mas só no começo. Você vai se acostumar. – disse Érika, saindo com seu marido, e tocando no meu ombro.

– Ufa! Achei que teria que chorar... Bom! Que bom que não... Sabia que ela ia querer fazer cena. – disse Jennifer.

– Vai dar tudo certo, gente. É só dar tempo ao tempo. – completou Yumi.

– Será que vocês duas poderiam nos deixar sozinhos? – pediu Wallace, virando-se pra mim, me encarando.

Jennifer e Yumi saíram de fininho, nos deixando sozinhos. Tudo mundo esvaziou o lugar. Uns com caras simpáticas, já outros nem tanto. Eu tentei ignorar todos que não gostaram da novidade. Olhei para ele, que não tirou o olho de mim.

Os olhos de Wallace estavam cheios de mágoas. Baixei o olhar. Constrangido. Não conseguia olhar pra ele. Era demais pra mim. Eu estava muito envergonhado. Fodeu. Agora ele iria me descascar.

Ele levantou meu queixo. Olhei pra ele e vi sua carranca piorar. Ele estava muito chateado comigo. Daquele jeito que só ele sabe ficar, Wallace colocou os braços na cintura e começou a descascar-me:

– O que diabos você tem na cabeça, Alef? Que porra você estava pensando? Você tem noção do quão louco eu fiquei, te procurando em cada metro quadrado, daquela porcaria de praia? Achando que tinha te acontecido alguma coisa... Pensando que você podia tá perdido... Ou sei lá, tivesse com outra pessoa. Essa foi a última vez que tu fez uma coisa dessas comigo. Eu não quero mais saber de você fazendo essas infantilidades. Tá me ouvindo bem? Nunca mais. – disse ele bravo.

– Eu tô muito envergonhado do que fiz. Desculpa Wallace. Eu só fiquei assustado. Agi por impulso. – expliquei.

– Acredita apenas no que eu te digo. Somente em mim. Ok? Para com essa paranoia de fugir das pessoas, sempre que te colocam contra parede. Você é melhor que isso, eu sei. Enfrente quem quer que seja. Acaba com essa história de correr dos problemas... Foda-se as pessoas que não gostarem de você. Eu gosto de você. A Jennifer, a Yumi, gosta de você. O resto que se foda. – disse ele, encorajando-me.

– Eu me sinto culpado... Como se eu pudesse tá estragando tudo. – declaro.

– Você não teve culpa de nada. Nem tem. Para com isso. Minha mãe é que passou dos limites. Ela não vai me tirar de você. Nunca! Ouviu bem? Agora, você vai entrar naquela casa comigo. Vai sentar do meu lado na sala de jantar e aí de você se fugir de novo. – disse ele, olhando-me profundamente.

– Com você do meu lado, encontro coragem, sabe? Uma coragem que eu nem sabia que tinha. Tá aí... Agora eu consigo enfrentar tudo... Acabei de crer que você é a minha válvula de escape. – deduzo, como um louco. Eu era muito filosófico.

– Do mesmo jeito você me concerta... Eu quase me descontrolei com a minha própria família. Mas aí, senti teu toque na minha mão... E foi como se você me acordasse. Eu nunca faria isso, á alguns anos atrás. Já agora? É como se nosso amor, me libertasse das amarras que eu sempre tive. E se alguém mexe com você... Eu viro uma fera. Por você. – declara ele, tirando sua carranca mal humorada.

– Eu te amo tanto... – digo, pondo os braços no pescoço dele.

– Eu amo mais... – disse ele, me agarrando.

Beijamo-nos por alguns segundos, até o Saulo tossir do outro lado da piscina. Wallace revirou os olhos e nós entramos na casa. Juntos. Numa sintonia apaixonante. Eu estava vivendo um dos melhores momentos da minha vida. Nunca me imaginaria passando por aquilo de novo. Era como se cada dia daquelas férias fosse único. E tem coisas que são únicas demais, para se repetirem de novo numa mesma vida.

...

Uma enorme mesa de vidro se estendia, numa sala de jantar maior ainda. Tinha lugar para mais de sete pessoas dos dois lados. No meio da mesa, um lustre artesanal iluminava o ambiente. Os pratos de porcelana reluziam com os talheres de prata, muito bem posicionados. E bota talheres nisso. Quantas bebidas eu tomaria com todas aquelas taças? Os guardanapos bordados com fios de ouro... Uau! Era tudo muito chique. Comecei a ficar nervoso, logo de cara.

Todos já estavam sentados, quando cheguei com Wallace. Eu e Wallace tínhamos nos atrasado, pois precisamos tomar um banho rápido. E o pai dele fez questão de nos esperar. Sentei no começo da mesa, ao lado Wallace e de Érika, e de frente para seus pais. Jennifer olhou pra mim e acenou. Não pude ir até ela. Dessa vez, não sentaria do lado da minha amiga, e sim, dele. Ficamos todos em silêncio, esperando a primeira entrada. Wallace se sentava numa postura tão elegante e refinada, que eu me senti um selvagem perto dele. Tentei ficar reto e formal. Pensei no quanto ele estava acostumado às essas coisas de rico... Frequentando os melhores restaurantes... Comendo do bom e do melhor... Tanto ele, como a família toda. Fiquei estático. Olhei para o outro lado da mesa e vi seu tio César, conversando baixinho com a mulher. Paty olhava para mim. Eu desviei o olhar. Saulo mandava mensagem. Alexandre se comunicava por gestos com Otto. Já sua mãe, estava pensativa. Wallace e seu pai começaram a falar de um problema no carro. Algo sobre peças. Conversas despreocupadas. Eu estava suando. Nervoso. E agora sozinho. Aí meu pai... No que eu me meti?

Alguns minutos depois, os primeiros pratos chegaram. Olhei para Wallace á procura de um pouco da sua confiança, e ele percebeu que eu estava nervoso, pois, pegou minha mão por debaixo da mesa e acariciou-a. Eu tremia. Mas, só o toque dele me fez ir voltando ao normal.

– Calma! Eu tô aqui. – sussurrou ele, numa voz carinhosa, olhando-me com ternura.

O jantar foi servido. Só tinha comida diferente. E finíssima. Ostras... Lagosta... E outros frutos do mar... Um cardápio totalmente marítimo. Gente, eu preferia uma salada básica. Ou algo mais fácil para comer, na frente de tanta gente. Eu não sabia como manusear aquilo. Todo mundo parecia saber usar aqueles talheres todos. Já eu, nem um pouco. Dei meu jeito e tentei imitar seus movimentos. Wallace era um perfeito modelo. Nada era difícil para ele. Érika conversava com o marido e ao mesmo tempo, cortava uma crosta com a faca. Enfim, eu estava ferrado.

– O Alef parece estar com alguma dificuldade pra cortar... – observou Paty.

Fodeu! Eu gelei na mesma hora. Como essa garota estava me vendo do outro lado da mesa com tanta facilidade? Todos olharam pra mim. Eu me fechei.

– Fica na sua, Paty. Já vai começar? – perguntou Jennifer.

– É claro que não! Só quero ajudar ele... Wallace! Será que você poderia ajudar seu namorado, por favor. – disse Paty.

Eliza suspirou alto; Um suspiro de raiva. Wallace olhou pra mim e eu fiz que não com a cabeça.

– Eu tô bem... Não precisa. – sussurrei para ele.

– Têm certeza? – perguntou-me ele.

– Absoluta. – menti.

– Paty, será que você podia deixar o Alef em paz? Ele está bem... – disse Wallace, intolerante com ela.

– Será mesmo? Olha só como ele tá pegando... Ele não está acostumado com toda essa prataria. Você devia ajudá-lo. – disse ela, focada em me humilhar.

– Chega Paty! – trovejou Wallace.

– Se você precisar de algo pode me pedir tá? Não fica com vergonha. – sussurrou Érika do meu lado.

– Obrigada. – falei, dando um meio sorriso.

Dona Eliza foi mais cruel. Ela riu malevolamente, fazendo Wallace tossir, repreendendo-a.

Tentei mais uma vez seguir com meu jeito desmantelado. Olhei para ele e segui seus passos. Consegui. O segundo prato veio. Depois o terceiro... E foi nesse que aconteceu a minha desgraça. Era uma concha com alguns mariscos. Puta merda! Esperei todos começarem, e num movimento ligeiro... Uma coisa pulou pra fora do meu prato... Fodeu! Morri na mesma hora. E de novo fui motivo de olhares e até risos. Eu era mesmo o centro das atenções naquela casa.

– Aí meu Deus... Eu sinto muito! Desculpa... – falei exageradamente.

– Relaxa. Isso acontece. Eu vou te ajudar. – disse Wallace, compreensivo.

– Já aconteceu comigo! E foi num jantar com mais de trinta convidados... Dá pra acreditar? Aí meu Deus. Eu fiquei em pânico. Mas superei. Você não será o primeiro e nem o último, Alef. Essas etiquetas nos enlouquecem mesmo. Preocupa-se não. – disse Érika, amenizando o clima.

– Mais essa agora. Nem comer esse garoto sabe? – disse Eliza, entre dentes serrados.

– Mãe. – repreendeu Jennifer.

– Eu sei comer, senhora. Só não estou familiarizado com todos esses talheres e essa comida. – falei friamente.

Wallace olhou pra mim. Sorriu. E Piscou. Pegou na minha mão e chamou a empregada para limpar a minha sujeira.

– Não parece... Há quantos restaurantes, você já foi? Já teve algum contato com algo parecido com isso? Pelo visto, nenhum. Nem modos você aparenta ter, garoto. – entoou ela descontando toda sua raiva de uma vez.

Wallace a fuzilou. Balançando a cabeça, desacreditado com suas palavras. Seu pai comia calado, e não deu bola. Eu respirei fundo e falei:

– A senhora pode até ter os modos mais chiques... Ser culta e saber de todas essas etiquetas de rico. Mas eu pelo menos tenho complacência. Coisa que a senhora não tá tendo. Nem parece ter. – afirmo.

– Quem é você pra falar comigo desse jeito? Nem porte decente você possui. – rebateu ela.

– Ele é o cara que eu amo! Quer a senhora aceite ou não. E acho bom se acostumar com isso. – trovejou Wallace.

– Você ainda vai se arrepender de dar corda pra esse garoto, Wallace. Esse pirralho vai te dar o troco. – gritou ela.

– A gente não tem que ficar aqui ouvindo isso... – disse Wallace, se levantando e pegando minha mão.

Num rompante. Seu pai se levantou e jogou a taça de cristal, cheia de vinho, no chão. Pegou o prato na sua frente e o arremessou pela janela. Uma fúria idêntica ao do filho mais velho.

Todos se calaram e o silêncio predominou. O clima estava pesadíssimo. Nunca pensei que fosse passar por uma dessas. Mas, passei. Seu Eduardo se levantou e exclamou bem alto:

– Toda essa porcaria de nada importa, Eliza. Quem somos nós e o que fazemos é o que importa. Se nós perdermos o nosso filho de novo, por causa de mais discussões, eu nunca vou lhe perdoar. – disse ele, olhando fundo para Eliza. – Nena? Não vamos jantar mais essa comida. Wallace e Alef vão sentar aí, conosco. Eu vou pedir pizza. E nós vamos nos comportar. Tudo bem?

Nena ficou branca. Olhamos para ela e sorrimos. Ela começou a tirar os pratos, levando-os para cozinha.

– Pai, eu te amo! – disse Jennifer.

– Ótima ideia. Amei! – disse Érika animada.

Sentamos de novo e todos começaram a conversar. Distraindo e sugando toda energia pesada. Eliza se contraiu e ficou calada. Ela nem olhou na nossa direção. Alguns minutos depois... Várias pizzas e refrigerantes chegaram e todos nós devoramos tudo. Cada um do seu jeito. Com suas manias. Eu finalmente relaxei. No final, somos todos iguais. Essa linha que adora nos separar pode e deve ser cortada. E de fato, foi. Wallace e eu voltamos a sorrir, e conversamos com todos. Érika estava se tornando uma aliada. Até tio César fez piada comendo pizza. Jennifer e Yumi tiraram sarro de Paty, que se melou com ketchup. Saulo não saia do celular. Já Otto e Alexandre, competiram pra ver quem comia mais. A descontração predominou... Sem falar na pizza que não faltava. Wallace comia por dois... Já eu, me acabei. Eu podia ser muito feliz... E seria. Só precisava resistir. Um dia de cada vez.

...

Era uma noite estrelada. Wallace me abraçava, enquanto olhávamos para o céu, deitados numa rede grande e espaçosa. Após comer tanto, foi assim que nós ficamos por um bom tempo. Meu celular estava carregado e eu coloquei pra tocar (The Wind and The Wave - Time After Time). Entre beijos e uns amassos, comportados claro, perguntei:

– Wallace... O que seus pais quiseram dizer, quando perguntaram se você tinha me dito tudo? Há algo que eu preciso saber?

– Você ficou curioso, né? – perguntou-me ele.

Sua expressão mudou. Ele se retraiu. Algo o incomodava.

– Do que se trata? É algo pessoal demais, não é? Se não quiser contar agora, tudo bem. Eu entendo. Só quero te conhecer... – falei.

– A gente vai ter muito tempo pra isso... Desculpa. Eu prefiro não te dizer nada agora, entende? São coisas que eu não queria desenterrar, mas pra você, é claro que eu vou contar... Só não estou preparado pra isso agora. – disse ele, alisando minha cabeça.

– Tá... Eu entendo. Quando você estiver pronto, eu estarei aqui. Serei um bom ouvinte... E não vou te julgar... Tudo no seu tempo. – aviso.

Peguei seu rosto em minhas mãos e o beijei. Sua barba estava crescendo. Eu gostava dela arranhando minha pele. Ele ficava mais ogro. Só que um ogro, gostoso... Tipo ursão. Eu amava.

– Adoro sentir sua barba, sabia? Deixa crescer? Eu gostava mais quando você tinha mais pelos no rosto. Você fica mais sexy. – admito.

– Por você, eu deixo crescer até meus pelos de baixo. – murmura ele, sorrindo.

– Tudo bem... Aí, a gente vai ter que discutir... – falei sem graça.

Meu celular começou a tocar e nosso momento foi interrompido. Olhei para a tela de chamada e vi um nome que eu conhecia muito bem.

Plínio. Agora foi minha vez de ficar pálido. Wallace olhou pra mim e perguntou:

– Quem é?

Respirei fundo e disse:

– É o Plínio... Eu tenho que falar com ele.

– Esse cara não vai desistir de você mesmo, né? – emburrou-se ele, virando a cara.

– Ele só quer saber como eu estou... A gente já conversou sobre isso. Por favor. – disse levantando-me da rede.

Wallace bufa, mas fica calado. Atendi e falei da maneira mais animada:

– Oi, Plínio!

– E aí, garoto vampiro... Sua palidez já está melhor? – disse ele, sorrindo. – Não! Estou brincando... O que eu quero saber é se você está bem? Fiquei sabendo da sua alta. Jennifer me contou.

Jennifer e Plínio andaram tendo uma amizade muito forte nos últimos dias. Isso era novidade. O humor dele me fez esquecer esse detalhe.

– Bom... Estou melhorando, sim. Obrigada por perguntar. E se preocupar. E você? Onde está? – perguntei.

Wallace revirava os olhos á cada frase minha. Ele estava muito aborrecido.

– Nesse momento? Estou aqui fora! Você me daria honra de vim me ver? – pede ele.

– Sério? – indaguei. Gelei. Aquilo não seria nada bom. – Ah, então eu vou aí te ver.

– Beleza, então! Vêm. Quero muito te ver... – disse ele.

– Ele tá aí fora? – perguntou Wallace, surpreso.

– Tá. E daí? Ele só veio me ver, Wallace. Não começa pelo amor de Deus... Plínio? Só me espera ok? – falo, desligando o celular.

– Plínio é um cara ardiloso, Alef. Você não o conhece direito. Não tá vendo que ele te quer pra outras coisas. Ele sabe que a gente tá junto e continua te cercando. – desespera-se Wallace.

– Ele é meu amigo! Só isso. Eu já falei isso pra ele. Não vai rolar nada. – adverti.

– Mas ele não quer só sua amizade. Eu conheço as artimanhas dele. – revela-me ele.

– Como você sabe tanto sobre o Plínio? Aliás, de onde vocês se conhecem? – pergunto.

– Eu... Conheço-o. Tenho um passado com esse teu amiguinho. Nada legal, por sinal. – relatou-me ele.

– Como assim? Que passado?

Eu senti que aquilo não estava indo para um caminho muito bom.

– Nós fomos... Eu não sei como te dizer isso... A gente era meio amigos... – começou Wallace, mas somos interrompidos.

Uma moto desceu pela garagem e parou. Plínio tira o capacete e revela seus belos dreadlocks cheio de tranças. Seu corpo magro e sarado estava vestido formalmente. Arrumado demais. Bonitinho pra caralho. Eu juro que senti algo chacoalhar meu peito. Ele usava uma calça jeans, blusa verde clara e sapatos fechados. Ele era leve... Solto... Sem amarras... Com um jeito de andar, que mais parecia estar dançando. Plínio se destacava ainda mais, com suas muitas tatuagens nos braços e sua barba amarrada com anéis. Quem veio cumprimentá-lo, de cara, foi a Jennifer.

– Ei garota! Tudo joia? – perguntou ele, abraçando minha amiga.

Ele era o cara mais simpático e também o mais sorridente. Enquanto Wallace adorava ficar bravo. Plínio era todo sorriso. Sorri para ele e acenei.

– Que legal! Achei que minha noite estava completa. Vejo que não. – disse Wallace, mal-humorado.

– O que você tem contra o Plínio? Por que esse ódio todo? – sussurrei para ele.

Plínio caminhava na nossa direção, ao lado de Jennifer. Por mais que Wallace estivesse comigo, Plínio não tirava os olhos de mim. Tudo bem... Isso já era provocação.

– Ele acabou com a minha vida. Destruiu qualquer possibilidade de... Deixa pra lá. Você não entenderia. – disse Wallace misterioso.

– Eu não tô entendendo... Que história é essa? – perguntei, pasmado.

O que o Plínio tinha feito com ele? Na noite do hospital, fiquei sabendo que eles já se conheciam e tinham sido amigos. Mas, que história era aquela? Tinha mais coisas por trás disso, do que eu podia imaginar.

Plínio chegou me abraçando. Ele podia ser muito inconveniente ás vezes. Tinha me esquecido dessa sua capacidade. Wallace se segurava. Eu não estava nada bem com aquilo. Soltei-me do seu abraço, mas ele deixou seu braço no meu ombro. O pior era que o filho da mãe estava cheiroso. E gostoso. Não dava pra não notar.

– Eu fiz questão de abrir o portão pra ele... Sabia que vocês dois já se conheciam, então... – disse Jennifer, corando.

– Você, ás vezes me surpreende, irmãzinha... Olá, Plínio! – saudou Wallace, pegando-me dos braços de Plínio.

– Quanta insegurança, cara. Deixa o garoto respirar. Você o sufoca, sabia? – advertiu Plínio.

Aquilo já estava virando uma disputa. De um lado o cavalheiro bravo, e do outro o cavalheiro alegre. Um me encantava com olhares profundos, já o outro com seu sorriso espontâneo. O que eu faria? Basicamente? Não estava pronto para um triângulo amoroso. Já tinha drama demais na minha vida.

– Eu sufoco e você não deixa de correr atrás. Você não mudou nada, Plínio. – rebateu Wallace, segurando firme minha cintura.

– Você não me conhece mais, Wallace... Se é que um dia conheceu. – dispara Plínio.

– Será mesmo? – insistiu Wallace.

Que papo era aquele? Do que eles estavam falando? Parecia que os dois estavam a sós naquele cômodo... Os dois se fuzilavam... Era bala pra todo lado. E eu estava no meio daquele fogo cruzado. Que ótimo!

– De onde vocês se conhecem? – indago. – Chega dessa tensão! Respondam? De onde?

Eles estremeceram e olharam para baixo. Jennifer e eu não estávamos entendendo nada. Até que Plínio falou:

– Wallace e eu tivemos um lance... Complicado, lembra? – disse ele, levantando uma sobrancelha para Wallace.

A reviravolta babadeira daquela revelação me chocou. A bolha do nosso relacionamento tinha acabado de estourar. Dos dois lados. Senti meu corpo perder a sustentação. Minha pressão baixou. Fodeu! Engoli em seco, várias vezes, tentando absorver o momento. Wallace balançou a cabeça, e eu tinha certeza de que ele se comunicava com Plínio, através daqueles olhares. Algo não estava batendo. Que segredo do caralho era esse? O que mais eu precisaria descobrir? Era só o que faltava. Encaramo-nos por longos minutos. Do meu lado esquerdo Plínio (Assombrado) e do meu lado direito Wallace (Inquieto). Quem eram aqueles dois?

Continua...

Nota do autor: Um muito obrigado especial á galera que comentou nos cap 16 e 17: Júnior amor,Depressivo, Tom, Alone,Elizalva.c.s Valeu mesmo gente!! Espero que continuem gostando! Todo sábado um novo capítulo. Vai ficar sombrio á partir do 19! Bjs pra todos!

Comentários

Há 5 comentários.

Por Guerra21 em 2017-03-09 18:03:45
Uma história maravilhosamente encantadora, consegui ler todos os textos em dois suas, confesso que serei um expectador fiel, Parabéns o enredo é muito bom.
Por Diva em 2017-03-05 09:01:41
Incrivrl ... Uma das melhores... A cada drama bem elaborado 💛💛💛 amei, eu comecei ontem e terminei hoje de manhã, qanta mudança no personagem Wallace e na mãe nossa estupendo não tenho palavras pra expressa o quanto eu gostei kkkk 💜💜 só pra consta EU acredito na mudança da Paty estou gostando mais dela agora tomara que eu não esteja enganada😕
Por Júnior amor em 2017-03-04 18:18:27
Nossa tá muito foda. Espero q nada consiga separar o wallace e Alef. Eles sao lindos juntos. Ancioso pelo próximo capítulo. 😍😍😍
Por Jeffs em 2017-03-04 17:39:31
Linda a história porém demora demais a postar.
Por Elizalva.c.s em 2017-03-04 17:01:48
Amado aonde o Alef foi se meter esse namorado dele e cheio de mistérios...sem falar na mãe que e uma megera.😘😘😘😘😘