Capítulo 16 - A Luz Na Minha Escuridão

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

O sol nascia lá fora, quando senti os primeiros raios entrarem pela janela do quarto do hospital, e iluminarem meu rosto... Á medida que a claridade se expandia pelo ambiente, abri meus olhos e comecei a despertar... Olhei ao redor, desnorteado, procurando uma pessoa em especial, mas, para meu desgosto, me vi sozinho. Onde estava minha mãe? E principalmente, cadê o Wallace? Tinha esperado por ele á noite toda, logo após a saída do Plínio, mas ele não tinha voltado... O fato do Wallace não ter aparecido ainda, já me assustava... A cena de ciúmes dele na noite passada, não tinha sido das mais irrelevantes. Eu o confrontei... Praticamente, o expulsei do quarto... Droga! Não queria fazer aquilo... Não mesmo. Depois de tudo que tínhamos dito um ao outro, as promessas e declarações... Para no final, eu estragar tudo.

Levantei-me da cama e senti meu corpo cambalear... Cassete! Parecia até que eu tinha estado em coma e estava reaprendendo á me locomover, pela primeira vez... Minha cabeça latejou e doeu um pouco. Continuei persistindo e me segurei no suporte do soro, que me levou até a janela, com meus passos trôpegos. Finalmente fui banhado pela luz do sol e comecei a esquentar meu corpo. Precisava sentir aquele calor... Aquela brisa... Wallace me veio á mente, automaticamente... Eu precisava tanto dele agora... Daria tudo para tê-lo nos braços, sussurrando no meu ouvido, me abraçando... Como eu queria sentir seu cheiro, seu toque, e mais do que tudo, seu amor... Mas, a única coisa que eu tinha naquela manhã ensolarada, era o mais breve frio do meu corpo solitário.

Meus olhos começaram a embaçar e eu logo previ o inevitável... A cachoeira ia descer e o buraco se expandiria. Pronto! Fodeu! Já é terrível estar triste e melancólico, e isso bem no começo do dia, é arrasador. Lembro-me da minha época de escola, quando eu tinha que acordar cedo e enfrentar mais um dia nessa selva... Sempre ficava nesse estado. O destino tinha sido tão cruel comigo, á ponto de me deixar daquele jeito, em pleno período de férias, num começo de ano que prometia grandes surpresas... E tudo por causa de um cara. É sempre por causa de um macho... Perceberam? Que belo começo de ano... Só podia mesmo tá acontecendo comigo.

Toquei meus lábios e me lembrei do beijo roubado da noite passada. Plínio tinha sido bem objetivo e determinado ao falar comigo... “Eu não quero a sua amizade! Você sabe o que eu quero... Sempre soube. Deixei claro isso, desde nosso primeiro encontro e nada mudou até aqui. Eu tenho certeza plena do que eu quero...” disse ele. Se eu não estivesse tão apaixonado e convicto da minha paixão pelo Wallace (o carinha complicado e briguento), seria maravilhoso dá uma chance ao Plínio (o carinha descontraído e conquistador). Mas... Ninguém manda nos sentimentos e o coração vive em guerra, com o certo e o errado, portanto, Wallace era e seria, o centro de tudo, naquele momento da minha vida. E o melhor de tudo, era que eu estava sendo correspondido... Do jeito dele, mas estava. E isso meu amigo, é a melhor coisa do mundo. Amor recíproco é como ganhar na loteria, hoje em dia.

A porta do quarto se abriu e eu me virei ansioso, esperando ver Wallace entrar.

– Bom dia, dorminhoco! Faz tempo que você acordou? – perguntou minha mãe, me abraçando e dando o beijo matinal de sempre.

– Não... Acabei de acordar. Bom dia pra você também! – respondi, tentando esconder minha frustração.

– Acabei de falar com o doutor e ele vai te dar alta, daqui á algumas horas. – disse ela.

Eu nem ouvi direito e logo perguntei:

– O Wallace chegou? Ele tá aí fora?

– Infelizmente, não. Ele foi embora ontem á noite e não voltou mais... Aliás, o que aconteceu? Vocês brigaram? Ele saiu tão apressado e mal humorado, que nem disse até logo. – disse ela. O espanto da minha mãe era evidente, pois, ele tinha sido generoso com ela. E mudar o comportamento de uma hora pra outra, não condizia com a personalidade que ela conheceu.

Coitada! Enquanto minha mãe estava chocada... Eu já estava acostumado com a balança, que era o Wallace.

– Eu acho que cometi um erro. Droga! Ele nunca vai me perdoar... Aí mãe... Por que tudo é tão complicado? Uma hora tá uma maravilha, na outra um desastre total. – falei, querendo chorar, de novo, mas me segurando.

– Alef, eu posso te fazer uma pergunta bem sincera?

– Pode. Olha lá o que você vai me perguntar, hein! – avisei, pois se tratando da minha mãe, poderiam vim perguntas bem pessoais.

– Você acha que ele gosta mesmo de você?

Petrifico... E agora? Eu sabia? Será que sabia mesmo? Eu tinha certeza absoluta? E alguém tem? Acho que não.

– Acho que sim... – minto.

– É que eu o acho tão maduro pra você. Um tipão de homem daqueles. Tu tão novinho, começando a viver de verdade agora... Sei lá, você não acha arriscado se envolver com um cara tão “pra frente”, como ele?

Com “pra frente”, minha mãe quer dizer: Rico, bonito, bem sucedido e todas as coisas mais de alto nível possível. O que ela quer dizer mesmo é: O que caralhos ele está fazendo com uma coisinha como você, quando na verdade, pode ficar com uma coisona muito melhor?

– Ele gosta de mim! – exclamo. – Mãe, a gente se gosta. É isso que importa. Estamos nos conhecendo, ainda... Idade, status social, dinheiro, riqueza... Isso não tem importância. Eu amo ele de verdade, mãe!

– Eu sei meu bem. Dá pra notar, só de olhar pros seus olhinhos brilhando. Mas... E ele? Gosta de verdade de você? Eu só tô te perguntando isso, porque eu tenho medo de ele só querer usar você e depois te jogar fora. Homens como ele, só querem novinhos como você pra se aproveitar. – avisa-me ela.

Paralisei e fiquei mudo... Meus pensamentos nublaram... Minha mãe acabava de me menosprezar. E com razão. Wallace era água demais no meu copo. Era óbvia a minha resposta:

– Eu não sei! Na verdade, eu não sei de mais nada. – falei, desviando meu olhar, para um ponto indefinido na janela.

Nos últimos dias, minha vida tinha ficado tão conturbada e melodramática, que eu me sentia numa novela constantemente... Viver numa maré de reviravoltas, vivendo tudo que sempre se sonhou, me desligava um pouco da realidade de um fato... O que estava acontecendo comigo naqueles breves dias? Será que eu estava me esquecendo, que tudo aquilo podia acabar sem nem mesmo começar?

Era romance... Aventura... Terror (Paty)... Curtição... Amor... Paixão... Era felicidade e tristeza ao mesmo tempo, só que dessa vez, no meu mundo real. Eu não precisava imaginar... Era real! Tudo aquilo! Por que eu teria que me preocupar com respostas do amanhã? Eu me sentia numa bolha de sabão, flutuando no ar... Até agora! Minha mãe me acordou pra vida e eu sofri o tiro, sem nem ter sido atingido pela bala. A bolha estourou.

...

Ás nove da manhã... O médico finalmente me deu alta... Graças á Deus! Wallace ainda continuava desaparecido. Foi quando eu comecei a entorpecer... Pronto! Começou minha derradeira descida, para o limbo! Vesti umas roupas limpas e fui até o banheiro, onde lavei o rosto e escovei os dentes... Os pontos na minha cabeça, ainda demorariam dias até serem retirados, então, resolvi retirar a faixa branca que se enrolava ao redor da minha cabeça... Não sairia lá fora com aquilo apertando meu crânio... Toquei de leve o local do curativo e o puxei bem devagar, para vê de fato, o trabalho feito pelo doutor... Aquela era a primeira vez que eu via minha cabeça costurada. Ao retirar o curativo... Gelei... Ah meu Deus! Não acreditei quando vi... O estrago era ainda pior do que eu tinha imaginado. E aí meu Deus! A porra ficou séria mesmo, quando retirei toda a faixa e vi o que tinham feito comigo... O quê que era aquilo?

O lado esquerdo da minha cabeça tinha sido literalmente desmatado... Toquei em pânico na minha nova careca. No lugar da sutura e ao seu redor, tinham raspado todo meu cabelo... CA-RA-LHO! O que porra eu tinha feito pra merecer aquilo? Eu estava horrível, com um só lado da cabeça com cabelo! Mesmo sabendo que meu cabelo cresceria, eu sabia que ficaria desigual e horrível por meses...

Foi o estopim... Desabei em choro... As lágrimas caíram... Deu vontade de gritar, mas me contive... Quis quebrar algo... Mas, só o que fiz foi engolir em seco e ficar ainda mais arrasado... No entanto, algo em mim já se quebrava... Lá dentro... Bem fundo... Meu coração se despedaçava numa chuva de cacos. Eu já estava pior antes, agora então! Que ótimo! Aquela maldita viagem tinha de fato, acabado comigo. Sentei no vaso sanitário e coloquei as mãos na cabeça, desabando num choro silencioso e destruidor.

Cara! Eu me sentia tão sozinho... Tão perdido... Como se eu voltasse á estava zero de novo... Há muito tempo que eu não me sentia assim... Vulnerável como uma gelatina. É egoísta da minha parte, ser tão idiota e dramático, apenas por causa de uma porcaria de cabelo que logo cresceria... Aliás, tinha gente muito pior do que eu... Foi quando percebi o real motivo das minhas lágrimas... Eu estava chorando pela ausência dele... Era isso que me machucava... Faltava algo... Na verdade alguém... WALLACE.

Olhei-me no espelho e me perguntei: E se ele me achasse feio demais, quando me visse assim? E se ele não me quisesse mais? E Se... Minha pele empalideceu e meus lábios racharam... Entreguei-me e você já sabe. Quando a gente acorda naqueles dias... Só milagre.

A escuridão me engoliu e eu fiquei á deriva na minha depressão, recém-chegada.

...

Alguns minutos depois... Eu ainda me encontrava chorando baixinho, quando ouvi batidas de leve na porta do banheiro. Devia ser minha mãe, pronta pra ir. Levantei-me do vaso e enxuguei minhas lágrimas. Escutei passos que logo ficaram urgentes. Tentei me recompor, mas meus olhos já estavam vermelhos e inchados. As olheiras me deixavam ainda mais péssimo. Uma espinha pequena crescia no meu queixo... Porra! Não podia sair do banheiro agora. Precisava me refazer... Pelo menos, TENTAR. Liguei a torneira e lavei meu rosto... Estava na hora de acabar com aquele momento dramático.

“Alef, você já passou por coisa pior... Supera! Segue em frente! Não vale á pena chorar por besteira! Algo sempre vai embora, acostume-se.” Encorajei-me em pensamento.

Eu queria voltar pra minha casa... Pro meu quarto, chorando com minhas músicas no último volume. Wallace não voltaria mesmo... Não mais... Portanto, eu deveria voltar pro meu mundo... Vivido apenas de ilusões.

Bateram na porta de novo, dessa vez com uma urgência desnecessária.

– Já estou indo! – exclamei.

Enxugo o rosto e respiro fundo.

Quando eu abri a porta... A surpresa bem á minha frente, quase me fez desmaiar... Foi como se uma mão, me puxasse do precipício, que eu estava prestes á cair... Senti como se eu respirasse de novo... O preto e o branco coloriram... A luz na minha escuridão, finalmente voltou.

Cara á cara, Wallace e eu nos olhamos por vários segundos... Ele, lindo como sempre... Seu olhar fixante, que me desnudava por inteiro... O cabelo perfeito e molhado no mesmo penteado... Seu cheiro penetrante... A pele saudável e esculpida... Tudo no seu devido lugar.

– Você tá mesmo aqui? – perguntei desnorteado. – Ou é só uma miragem?

Ele praticamente corre até mim e me dá um grande abraço. Tão apertado e protetor, quanto eu poderia ter a sorte de receber naquele momento. Pouso minha cabeça no seu peitoral avantajado e fecho meus olhos. Oh senhor, como era bom sentir tudo tão intensamente. A muralha me envolvia. Enlaço meus braços na sua cintura e sinto seu cheiro gostoso e alucinógeno. E pode acreditar, é como se ele juntasse todos os meus pedaços e me tornasse inteiro de novo. Nem importava o estado da minha cabeça ou as dores que eu sentia... Nada mais importava... Com ele ali comigo, tudo se tornava suportável.

– Desculpa. Eu sou um idiota. Alef, eu sou um completo babaca. – disse ele, olhando-me entristecido.

– Não! Não é! – falei rapidamente, apertando-o contra mim, só que ele se esquiva e me solta.

Wallace põe às mãos nos bolsos e baixa a cabeça. Como se não se achasse digno da minha atenção.

– Sou sim! Eu pisei na bola de novo. Eu fodi com tudo, como sempre. E agora, você devia não querer mais olhar na minha cara. Você devia me bater... Mandar eu me foder... Sei lá, qualquer coisa que me machuque. Vai! Eu mereço. – pede ele, arrasado.

Rio com sua perspectiva.

– A única coisa que eu quero, é olhar pra você. Ficar com você. Por que você sumiu? Você não podia ter ido embora. Tem noção do quanto eu gosto de você, pra você sumir desse jeito. Eu te amo pra caralho, Wallace! Por que toda essa insegurança? – pergunto confuso.

– Eu tô assustado... Como nunca estive antes, em toda a minha vida. – declara ele.

– Com o quê, Wallace?

– Com a gente!

– Como assim?

– Eu tô com medo do que eu sinto por você. – desabafa ele, começando a chorar.

Fico pasmo. Wallace chorando? Chocado, coloco as mãos no seu rosto, mas ele se esquiva.

– Eu descobri algo! Alef... – diz ele, finalmente, se virando pra mim com os olhos vermelhos e cheios d’agua. - EU... AMO VOCÊ... Muito mesmo! Tanto, que até dá medo. – ele sorri com suas próprias palavras. - A possibilidade de ver você com outro, me fere, terrivelmente... E eu não sei como reagir. Na verdade, sei sim! Só não sei, se você me quer de verdade... Sabe, pra valer mesmo?

Balanço a cabeça e agarro seu rosto entre minhas mãos pequenas. Sua altura não facilita, mas faço ele se abaixar, para me encarar.

– É sério, isso? Você tem noção do que tá fazendo comigo, e com meus sentimentos nos últimos dias? Como você pode ainda duvidar do que eu possa sentir por você? Cara, eu amo você, desde a primeira vez que eu botei o olho em ti! Desde ali, pois é... Louco, né? A porra do amor á primeira vista é bem real. Satisfeito? – pergunto, emocionado e surpreso com minhas próprias palavras.

A verdade é que nunca fui bom com palavras... Dizer algo a alguém... Falar o que eu sinto é meio complicado. Mas, aqui estou eu... Quebrando as regras com ele. Wallace me faz fazer coisas, que nunca fiz antes... Como se ele abrisse todas as minhas fechaduras. Com ele, não me limito... Muito pelo contrário.

- Sou um cara difícil... Você seria capaz de me aturar? Com toda essa minha bagagem de defeitos? – pergunta ele, com uma cara fofa e ansiosa.

– É CLARO QUE SIM! Eu quero você! E só você! – declaro.

Ele sorri satisfeito, reacendendo uma chama em seus olhos. Acaricio seu rosto perfeito e ele fecha os olhos.

– Eu prometo que nunca mais vou te deixar sozinho de novo. Daqui pra frente, eu quero me tornar um cara melhor. Prometo, não! Juro! – fala ele, determinado, relaxando ao meu toque.

Abraço-o com força e seus braços me apertam, com ainda mais segurança. Eu estava quase sufocando e mesmo assim, queria seu aperto. Seu calor... Seu tudo.

Ele tinha sentido minha falta... Ele tinha ficado á deriva... Assim como eu... Era o suficiente... Ele sentia muito mais por mim do que eu imaginava... Ele sentia tudo. Minhas perguntas, de antes, foram se respondendo. Sua voz doce e perdida, o tinham entregado. Wallace parecia desestruturado, o que não era normal para um cara como ele. Seu hálito esquentava meu pescoço, á cada respiração angustiada.

– Caramba! Eu pensei que você não fosse voltar mais. Não faz mais isso comigo, Wallace. Nunca mais! – peço, colando cada parte do meu corpo no dele.

– Acho que queria te castigar... E no final, acabei ME CASTIGANDO! Sou um tolo do caralho, eu sei. – diz ele.

Após alguns minutos, num abraço aconchegante e maravilhoso, ele me solta delicadamente e me olha bem nos olhos. Sério e carinhoso, ele continuou:

– Eu fiquei puto, Alef. Você praticamente, me colocou pra fora do quarto. Apenas pra ficar de papo com aquele Mané. Poxa! Coloca-se no meu lugar. Eu tinha o direito de ficar puto. – defende-se ele.

– O Plínio é meu amigo. E vai ser apenas isso... Já deixei bem claro o que eu sinto por ele. Desculpa por ter te expulsado daquele jeito. Só me entende, ok? Eu apenas queria evitar, que vocês dois brigassem ali dentro. Wallace, não precisa ter nenhum ciúme besta... É você que eu quero! – declaro de uma vez por todas.

– Confio em você. É nele que eu não confio. Aquele cara se acha. Se ele pensa que eu vou liberar o caminho pra ele... Ele tá muito enganado. Eu tô disposto a ter um relacionamento de verdade contigo, com tudo que tem direito... Anel de compromisso... Passeio de mãos dadas... Você passar á dormir na minha casa ou eu na sua... Brigar ás vezes, como todo casal... Enfim, tudo. – Wallace respira fundo e envolve minha cintura, com seus grandes braços, me fazendo encará-lo fixamente. – E aí? Você estaria disposto a abandonar a vida de solteiro e embarcar numa relação, com um cara difícil e ciumento, como eu? – perguntou-me ele.

Toda aquela determinação dele, querendo ficar comigo á todo custo, era novo. Wallace estava disposto a lutar por mim... A de fato, namorarmos e construirmos uma relação... Ele era como um leão, capaz de tudo para concluir sua caça... A presa, que sou eu, só queria ser devorada. As pupilas de seus olhos cresciam e brilhavam, numa expectativa ansiosa e apaixonada. Eu queria gritar logo um sim e pronto. Mas, achei melhor ser mais realista. Eu queria fazer dar certo... E pra isso, a gente tem que tomar medidas drásticas. Se um homem daquele queria ficar ao meu lado, lutaria por ele todos os dias... Por mais complicado que ele fosse, valeria cada sacrifício. Dei uma de difícil e falei a coisa mais sensata:

– Bom... Ciúmes é um problema muito sério. E você é possessivo ao extremo, Wallace. Além de ser brigão. Olha... Isso nunca dará certo, se todo cara que falar comigo, for um imenso incômodo pra você. Na verdade, relacionamentos nunca dão certo, com esse fator em evidência... Agora, se você quer mesmo ficar comigo... A gente. Nós dois. Vamos ter que mudar um pelo outro. Você, principalmente!

– Se for o preço que eu tiver que pagar pra te ter... Que seja! Eu vou mudar. – diz ele, convicto.

– Não se trata de mudar. Mas sim, ser melhor... Apenas isso! Eu não quero te mudar. Isso não! Só quero te fazer ser melhor. – explico.

– Você já faz isso... E tá fazendo nesse exato momento! É por isso mesmo, que eu tenho medo de te perder... Você é bom demais pra mim, sabia? Paciente, de uma forma que ninguém nunca foi... – entristece-se ele.

- Por que esse medo todo? Eu já te escolhi seu bobo... Para de pensar nisso.

– Sei lá, Alef... Minhas últimas experiências amorosas, não me levaram a lugar algum... Ás vezes, eu acho que as pessoas me amam, só por algum tempo... Depois elas se tocam e me veem como sou... Chato, arrogante e obsessivo... Sou sempre o culpado de afastar as pessoas que eu amo. E se for desejo, o que você sente por mim? É meu corpo, não é?- indaga ele.

Wallace trazia consigo, uma longa bagagem de grandes decepções... Amores que não deram certo... Até mesmo, casamentos que nunca chegaram ao altar... Sua beleza descomunal... Sua posição social... Seu dinheiro... Tinham apenas, atraído pessoas erradas pra vida dele. Bem que minha tia dizia: “Encontre a pessoa mais feia pra namorar... Aquela mais sem dinheiro... Pois, a única riqueza e beleza que vale a pena, são seus dias de eternos amantes”. Mas será que tudo que aconteceu com ele, foi mesmo culpa dele? Somente dele? Creio que não. Ninguém deveria se culpar por tudo de ruim que acontece consigo mesmo.

- É claro que não... Tá louco? Tudo bem... Você é um cara muito, muito, bonito e gostoso! A gente transou... Ficou... Mas, você acha mesmo que é só isso? Olha pra mim... Bem nos meus olhos... A resposta tá estampada, toda vez que eu te olho... Cada vez que meu coração bater... Você vai saber! Sabe, por quê? Porque só de tá perto de você, ter você... É como ter um ataque cardíaco... Á cada olhar, cada beijo, cada abraço... Eu meio que morro. Meu corpo treme de um jeito estranho... E isso tudo por você! – falo na mais absoluta sinceridade. Fico constrangido, mas é um alívio falar aquilo.

Tem noção do que é falar tudo que você sente, pra pessoa que você ama? E ainda por cima ser correspondido? Meu! É MUITO LOUCO! Caralho, ter um amor correspondido é anormal... Pra mim, claro! Gente, sério... Eu não estava vivendo aquilo... Acho que eu estava em coma, vivendo aquele sonho maravilhoso... Era surreal!

Seus olhos verdes brilham surpreendidos. Dou-lhe um selinho, mas, mesmo assim, ele não corresponde. Ele é cético demais... E eu, também.

– Tenho medo de você enjoar de mim e partir pra outra... Sei lá, tem tantos caras por aí... – diz ele.

Parou! Gente, o quê que isso? Agarro suas mãos e o encaro fixamente, decidido e determinado. Wallace tinha que entender, de uma vez por todas as minhas intenções com ele. Eu entendia as inseguranças dele... Eu era novinho, podia querê-lo só pra sexo e depois largá-lo. Mas, gente... Se aquilo fosse mesmo só mais uma aventura... Por que eu morria toda vez que ele me deixava? Nem preciso atestar nada pra ele... Quando a gente se apaixona... Fodeu! É isso aí e pronto... Não tem explicação detalhada... Não tem beleza exterior ou interior... Apenas se aceita. É um fato. Eu bem que queria só sentir desejo por ele, mas, felizmente, vai mais além... E só de me dar conta disso, tenho medo. Medo do futuro. Agora mais do que nunca.

Falo a frase mais clichê possível. Afinal, eu estava na minha novela, podia dizer isso mil vezes.

– Você é tudo que eu preciso! TUDO!

Nossas bocas se encontraram e se fundiram, ao se tocarem... O gosto do beijo dele era um anestesiante na minha boca... A respiração descontrolando e se intensificando... Fiquei sem ar e poderia ficar assim, para o resto da vida... Nosso beijo evoluiu, soltando fogos de artificio e faíscas nos nossos corpos. Seu imenso corpo se apertou contra o meu, quando ele me encostou á parede. Sua língua explorava minha boca, enquanto eu me inebriava com seu calor. Ele sorriu e foi descendo, chupando meu pescoço. Meu corpo tremia com o desejo reprimido. Controlei-me o máximo possível, para não rasgar a camisa dele ali mesmo... Respiramos arfantes, até que ele falou:

– Ontem à noite, quando eu fiquei sozinho sem você... Eu pirei, cara! – diz ele, enquanto beija meu pescoço. – É louco como a gente demora pra entender certas coisas, sabe? Você tem noção do que é sentir seu mundo sendo segurado por outra pessoa? Cara! Sem você, eu me senti oco. Vazio. E nem mesmo a bebida preencheu esse vazio... Parecia até uma necessidade... Eu precisava de você... Sentia falta de tudo... Teu cheiro... Tua boca... Teu calor... Teu corpo... Até teu olhar inocente. Era como se eu tivesse deixado uma parte minha contigo, quando eu saí daquele quarto, ontem.

A sinceridade e a verdade daquelas palavras estavam estampadas, em cada linha de expressão, cada olhar dele, cada beijo... Transparecendo até em sua aura. Ele beija meu queixo e eu gemo.

– Tem certeza de que quer mesmo ficar com um cara, com uma espinha enorme no queixo? – pergunto, sorrindo.

- Absoluta... Até seu novo corte de cabelo, me deixa ainda mais louco por você. – delira ele.

– Aí não, por favor! – digo, envergonhado, querendo fugir dos seus braços. Só que ele me puxa de novo e me prende á ele.

- Preparado pra embarcar na minha montanha russa? Olha que eu não sou nada fácil, hein... – relembra-me ele.

– E eu não sei... Quer mesmo saber? Eu já estou na sua montanha... E nesse exato momento, estou prestes á descer... – relato.

Ele dá aquele sorriso incrível e ao mesmo tempo sedutor, passando a mão na minha bunda... Sua ereção pulsa na minha barriga e eu entorpeço. O clima fica meio pornô... E quem não ficaria?

- A gente precisa oficializar logo isso... Eu preciso muito ficar sozinho com você. – suspira ele, mordendo minha orelha.

Eu, que já estou pegando fogo, não resisto! Minha mão começa a entrar na calça dele... Abrindo o botão... Descendo o zíper... Passando pela cueca... Encontrando seus pelos e descendo... Quando estou chegando ao precioso, alguém berra na porta do banheiro.

– Precisamos liberar o quarto... AGORA! – fala minha mãe.

O balde de água fria é automático. Wallace me solta e eu o largo. Ele me abraça por trás e esconde sua pistola... Enquanto eu fico exposto em praça pública. Que lindo! Nem deu tempo de colocar a mão na frente. Lindo, Alef! Mais um pra sua coleção de gafes.

– É melhor você se recompor... Isso aí não está nada apresentável num hospital... – finaliza ela, apontando para minha calça, marcada pelo resultado do meu sarro com Wallace.

Ele ri, apertando seu mastro armado, nas minhas costas. Estremeço.

– Eu concordo minha sogra. – ironiza ele.

Minha felicidade está tão transbordante, que nem ligo... Com ele, ali do meu lado, poderia passar vergonha o quanto fosse preciso.

...

Wallace deu a ordem final... Minha mãe não gostou nada disso. Já eu, estava amando aquele cuidado todo dele comigo.

– Ele só vai ficar uns dias comigo... Eu prometo que o levo de volta, na semana que vêm. – dispara ele, antes de sairmos do estacionamento do hospital.

– Alef, você devia voltar pra casa comigo! Olha só sua cabeça cheia de pontos... Isso precisa de cuidados. Será que não é melhor se recuperar em casa? – insiste minha mãe.

– Mas aqui ele vai ter todos os cuidados possíveis... Eu vou cuidar do seu filho, senhora! – rebate Wallace.

– Vai mesmo? Melhor não querido... Ele é meu filho e vai pra casa comigo! Chega desse “passeio de férias...” – ironiza ela.

– Mãe! – falo.

– Seu filho já é maior de idade, pode tomar as próprias decisões... Não é, Alef?

– Que audácia! Eu ainda sou a mãe dele... E ele ainda está sob meu teto, portanto, eu ainda mando nele. – esbraveja mamãe.

– Não seja por isso... Ele pode vim morar comigo! – desafiou ele.

– É melhor você ficar na sua, rapaz. Nem namorado vocês são.

– Mas seremos muito em breve!

– Ok! Já chega! Parem de discutir vocês dois! Mãe... Eu quero ficar com ele... Por favor, entende isso. Eu sei que a senhora está preocupada e com toda razão, mas eu quero ficar... Poxa! Eu juro que vou tomar cuidado... E como o Wallace mesmo disse, serão só alguns dias... – digo.

– Filho... Você iria apenas passar o ano novo com essa gente... E deu no que deu! Olha sua cabeça... Você poderia ter morrido ou coisa pior! Volta pra casa comigo... O Wallace pode muito bem ir te visitar!

– Se você quiser voltar... Tá tudo bem, Alef. Eu vou te ver todos os dias e... - diz ele, mas o interrompo.

– Eu vou ficar! Tá resolvido! – resolvo.

– Eu não tô com bons pressentimentos, Alef! Você sabe que intuição de mãe não falha! Por favor, volta comigo filho! – implora ela.

– Ele já disse que não vai. – interfere Wallace.

– Vou ficar mãe! Não adianta vim com esse papo de superstições... Não vou! – insisto.

– Tá bom! Você que sabe! Só não diz que eu não te avisei. – diz ela, estranha.

Saímos do hospital e levamos minha mãe a rodoviária, para pegar um ônibus pra minha cidade. Ela foi embora tão desapontada e triste, que nem olhou pra trás. Eu sabia que ela estava certa, mas, Wallace me cegou. Nosso amor me cegou.

...

Voltamos, finalmente, pra mansão Schneider. Durante todo o trajeto de volta, fiquei apreensivo. Ter que encarar os pais de Wallace, não seria nada fácil. Pelo menos teria minha amiga Jennifer, como advogada. Só que algo começou a me angustiar... Teria sido uma boa ideia mesmo, ter voltado?

Wallace estacionou na enorme garagem e olhou pra mim com uma ternura mágica. No som do carro, tocava (Demons – Imagine Dragons), a banda favorita do Wallace, descobri.

– Tô começando á ter medo do que nos espera... – revelo.

– Se alguém mexer com você... Vai ter que se ver comigo. Não fica com medo... Eles já sabem o suficiente! Aceitam se quiser... Nada vai mudar entre nós, por conta do que eles querem! Eu quero você... E eles vão ter que lidar com isso, querendo ou não! É um novo começo... E tudo vai ser difícil... Mas a gente vai enfrentar juntos, e vai vencer dia após dia. Tá comigo nessa? – encoraja-me ele.

– Sempre! – respondo, emocionado.

Beijamo-nos e logo em seguida, saímos do carro.

– Isso é pra você. – diz ele, entregando-me um boné laranja, de uma marca conhecida. – Espero que você goste.

Era bom demais pra ser verdade. Ele sabia que eu estava desconfortável, com aquele cabelo meio raspado de um lado, desde o momento em saímos do hospital. Quando ao passar por corredores lotados, em direção á saída, algumas pessoas me olharam com pena, enquanto eu seguia de cabeça baixa, frustrado com meu novo estado. Ele percebeu e não queria que eu ficasse assim também, na frente da família dele. Wallace estava se tornando melhor do que eu pensava.

– É perfeito! Nossa! Você acaba de me salvar. Obrigado. Não seria nada legal, aparecer com esse rombo na cabeça na frente da sua família. – digo, apontando para o curativo.

Ponho o boné e escondo o estrago.

– Prefiro você sem ele. – diz ele, meio irônico, abrindo aquele sorriso de dentes perfeitos.

– Nem pensar. – falo, segurando o boné na minha cabeça.

Ele pega minhas mãos e ás segura firmemente. O que me dá força e coragem. Seus dedos acariciam os meus. Minha palma da mão começa a suar e esfriar, ao mesmo tempo... “Os efeitos de Wallace em mim”. Caminhamos pelo jardim e seguimos em direção, ao grande casarão de praia.

Dali em diante, tudo seria diferente. Nada mais seria o mesmo... Nem a minha vida, nem a dele... Se eu tivesse seguido o conselho da minha mãe e voltasse com ela... Teria evitado os acontecimentos dos próximos capítulos, dessa minha louca história impossível. Só posso deduzir uma coisa: Foi inevitável.

Continua...

Nota do autor: Mil desculpas pra toda galera que lia esse conto ano passado, quando tive que abortar e abandonar esse projeto. Não foi fácil! Coisas aconteceram, gente. Desculpem! Prometo ser melhor. Aos novos leitores, Bem-vindos! Espero que continuem gostando da série! Todo sábado, um novo capítulo. A história caminhará para a reta final, mas nunca se sabe. Bjs pra todos!!! Até breve! Comentem suas opiniões!

Comentários

Há 4 comentários.

Por Alone em 2017-02-19 00:42:56
Que capítulo 😍😍
Por Tom em 2017-02-18 22:26:14
Muito lindoo tudo isso 😍😭
Por Depressivo em 2017-02-18 21:28:00
Você tem o selo da deusa dos apliques pra continuar
Por Júnior amor em 2017-02-18 18:34:33
Que bom que vc resolveu voltar, espero que. Não suma mais ancioso pelo próximo capítulo.. por favor não demora.😘😘