Capítulo 2 - A Capital
Parte da série Torneio de Campeões
“Nome: Dylan Scoot Green.
Idade: 16 anos. Nascido em maio de 2034.
Naturalidade: Brasileiro. Latino americano.
Filho de Olivia e Daniel Green, já falecidos.”
A voz repetiu todas as coisas listadas e eu retruquei.
- Ei, como sabe tudo sobre mim? – perguntei curioso.
- Está em seu banco de dados. – disse a voz que agora eu preferiria chamar de Navi.
- Mas como sabe tudo de mim?
- A partir do momento que você entrou em meu carro eu pude saber. – disse Navi.
- Odeio tecnologia. – digo cruzando os braços.
- Sem conversar, apresse-se Navi. Temos de chegar ainda hoje a capital. – disse o guarda.
Pulei assustado quando ouvi. De tudo que Lily me falou, eu não poderia esperar boas coisas da capital. Na verdade nem ao menos sei direito o que é.
- Você disse Capital?
- Sim. Sem conversas, já disse. Fica quieto ai, antes que sobre para você. – disse o guarda.
Obedeci e fiquei calado. O caminho se passara em minha frente, aos poucos a estrada de barro ia se desmanchando sobre o asfalto. Luzes reluzentes revelavam uma grande cidade a frente. Construções futurísticas, coisa que não havia visto até então. Torres com enormes hologramas, carros flutuando sobre o asfalto puro e luxuoso, como aquela bela cidade. O tom branco e cinza tomava conta de alguns dos mais belos edifícios daquele local. Tão altos quanto o Willis Tower ou o One World Trade Center. A beleza daquela imensa cidade construída sobre os escombros da velha Chicago era inigualável.
- Isso é esplendido! – digo de boca aberta enquanto admirava o local.
- Por favor, não babe em meu banco. – disse Navi.
Dei um leve sorriso e ignorei, pôs as ruas chamavam mais atenção que aquele carro falante.
O carro parou em frente a um gigantesco e extenso prédio que ficava bem no meio da cidade. Em frente a ele tinha um extenso lago artificial lindo, cheio de patinhos e alguns pássaros sobrevoando o local. O guarda pediu para mim segui-lo e obedeci. Subimos a escada e adentramos os portões. Logo na entrada existia um grande salão branco, com lustres de cristais sobre o teto. Duas imensas escadas de vido suspensas no ar, rodeavam uma imensa estátua de um homem aparentemente velho. A estátua apontava com a mão esquerda para a frente e com a outra segurava um brasão escrito “RECOMEÇO”. Apesar da boa forma, e senti um pouco de remoço em relação aquela figura.
- Presidente Klaus está lhe esperando em sua sala senhor Green. Mas antes você precisa de uma boa higiene. – Disse uma moça com uma espécie de macacão grudado ao corpo, seus cabelos escovados para trás finalizados em um coque dava um charme a mais a ela. Ele me olhou dos pés a cabeça com um certo nojo no olhar.
Eu dei uma leve cheirada em mim, realmente eu estava fedido. As roupas sujas de sangue que derramei durante os testes, misturado com a areia do chão em que eu dormia, me deixavam com a aparência péssima. Sem falar em meu cabelo que havia crescido bastante, está tão grande que cai sobre meus olhos.
- Me siga. – disse a moça virando de costas e indo em direção a um corredor a direita das enormes bancadas com os mulheres e homens vestidos iguais a ela.
Ao dobrar percebo um grande corredor com portas várias portas. Entramos em uma logo a frente de nós.
Era uma sala pequena com vários trajes brancos e outros escuros. E mais algumas coisas que eu não sei bem ao certo o que era.
- Aqui. Você pode tomar banho no banheiro, fica nessa porta ali. Depois se troque, presidente Klaus está ansioso por sua visita. – disse a moça.
- Ok. Pode começar tudo do começo de novo? – digo meio confuso.
Ela deu um suspiro irritado e pegou uma coisa em cima da mesa.
- Aqui. Põe no pulso. – disse ela dando aquele objeto em minha mão.
- Como assim? – pergunto curioso.
- Olha... só põe no pulso ok? – disse ela já meio irritada.
- Tudo bem. Mas isso aqui não vai ficar no meu pulso, vai ca... – Nem terminei de falar e aquele pequeno objeto se esticou e tornou-se uma pulseira.
- Viu... é fácil. Quando terminar, pede pra ele me avisar que eu venho aqui. – disse ela fechando a porta.
- Ok.
Fiquei cutucando aquela pulseira mas nada acontecia. Resolvi deixar pra lá e entrei no banheiro. Liguei o chuveiro e ah... água quente, que saudade disso, não existe isso no distrito 12. Passei uns 20 minutos naquele banheiro, tempo suficiente pra tirar toda aquela sujeira. Sai do banheiro e olhei a minha volta. Só tinha umas roupas de mulher, não tem roupa alguma ali para mim. Olhei para aquela pulseira e comecei a cutucar ela novamente para ver se funcionava para algo. Resolvi falar, vai que funcione...
- Oi... Ligar! – digo meio besta.
- Olá Dylan – disse a pulseira ligando e mostrando algumas coisas esquisitas.
- Até que enfim. Preciso de ajuda.
- Com exatamente o que?
- Não tem roupa alguma aqui pra mim. Só tem essas roupas de mulher.
- Estas não são roupas de mulher Dylan. São roupas de homem! – disse a pulseira.
- O que? Isso é roupa de homem? Mas é igual a que aquela mulher estava vestida.
- Não. É diferente, os trajes masculinos são mais resistentes e aconchegantes.
- Como pode saber disso? Você nem corpo tem... – digo ironicamente.
- Magoo – disse ela, que na verdade tinha voz de homem.
- Eu preciso de uma roupa, fala logo onde acho.
- Não posso... estou magoado. – disse a pulseira.
- Tá desculpa. Fala logo onde tem a roupa por favor.
- Já disse. São essas ai. – disse a pulseira.
- Ok. Mas... tá.... como se veste isso? – digo pegando uma.
- É fácil. Só pôr os sapatos e ela se veste sozinha.
- Ok.
Peguei os dois pares dos sapatos, que na verdade eram umas espécies de botas e calcei.
- E agora, o que acontece?
- Vestindo roupa. – disse a pulseira.
A roupa começou a sair de dentro do sapato, parecia até magia. Mas era a pura tecnologia, nano partículas de fibras de tecido postas dentro dos sapatos. Fazendo assim, quando acionadas, elas se juntam de acordo com o seu corpo. E eu achei que ia ficar colado mas não. A pulseira estava certa.
- Ah isso é legal. Preto emagrece, e do jeito que eu estou, não favorece muito bem. Mas tudo bem. – digo rindo.
- Ah, e aproposito. Você pode por um nome em mim se quiser. – disse a pulseira.
- Legal... Que tal Sid?
- Sid é um bom nome. – disse a pulseira.
- Ok. Agora eu vou te chamar só de Sid. E a propósito Sid... como é que faz xixi com essa roupa? – digo meio encabulado.
- Bem... nem queria saber. – disse ele.
- Hé né.... Mas, avisa a moça que já estou pronto.
- Tudo bem. Avisando...
Não demorou até a bela moça apareceu na porta da sala que eu estava.
- Está pronto? – perguntou ela abrindo a porta.
- Sim.
- Olha, parece que esse traje caiu bem em você. – disse ela.
- Obrigado. Pensei que ia ficar apertado mas não.
- Ok, vamos para a sala do presidente Klaus.
- Ok.
Saímos pela porta e caminhamos pelo corredor. Subimos os degraus daquela curiosa escada e fomos para em um enorme pátio. Logo afrente uma sala com o nome que eu não entendi muito bem, e pelo que parece eram quase todos os nomes ali que eu não conheço. Aquela linda moça me conduziu por aquele corredor esquisito e calmo, o branco como em quase todos os lugares tomava conta. Paramos em frente a uma sala com o nome Presidente Klaus.
- É aqui. Boa sorte. – disse ela abrindo a porta e sorrindo para mim.
- Obrigado.
Entrei e havia um homem de costa sentado em uma cadeira, olhando para fora da vidraça. Sua sala muito peculiar só existia uma enorme estante de livros velhos que acho que foram resgatados com “vida” da grande guerra, uma mesa em formato de S achatado, não tinha nada em cima, apenas uma xicara que pelo que eu pode sentir, o aroma indicava que era café.
- Como eu adoro essa paisagem. – disse aquele homem, com a voz grossa e assustadora.
Ele girou a cadeira em minha direção revelando a mesma figura medonha que estava esculpida naquela enorme estátua no salão principal. Ele levantou a sobrancelha esquerda e cruzou os dedos.
- Olá Sr. Green. – disse ele.
- Olá. – digo meio envergonhado.
- Sente-se. – disse ele apontado para uma cadeira logo a frente de sua mesa.
Obedeci e me sentei sem ao menos saber o que se passava.
- Então... Por que me trouxeram aqui?
- Eu adoro essa paisagem garoto – ele mudou de assunto – Me faz lembrar o recomeço de tudo... o renascimento de uma espécie em extinção.
Realmente era bonito, a vidraça de sua sala proporcionava a bela visão do lago e dos prédios.
- Você quer saber o por quer de eu ter mandado lhe trazer aqui, não é mesmo? – ele se levantou e começou a andar pela sala. Parou em frente a estante de livros e pegou um. – As crônicas de Louise Busson. – ele leu a capa do livro. – Jamais gostei desse livro.
Ele se aproximou da lixeira e quando ia jogar o livro eu o impedi.
- Ah, licença senhor. Será que o senhor pode... – fiz gestos apontando para o livro em sua mão.
- Ah, você quer essa coisa velha?
- Sim.
Ele franziu a sobrancelha achando o meu gesto curioso, mas estendeu o livro a mim.
- Pode ficar.
- Obrigado.
Ele se sentou em sua cadeira e me lançou um olhar medonho.
- Então garoto. Eu lhe chamei aqui por que quero que você me diga algo.
- Mais precisamente o que?
- Você notou algo de diferente em você?
- Como assim algo diferente?
- Não sei. – ele deu uma risada sarcástica e continuou – coisas voando, desaparecendo sem explicação... coisas desse tipo.
- Não senhor. Por que?
- Por favor não minta. Você não vai querer meu ódio.
Ele fez uma cara séria, e logo depois lançou um sorriso meio falso.
- Desculpe senhor. Eu realmente estou falando a verdade. – respondi confuso.
- Tudo bem. Há... – ele respirou fundo e se levantou. Ficou olhando o lago de costas para mim e disse algo – Sabe garoto, você tem ao menos ideia da real razão da grande guerra?
- Não senhor. Não sei!
- Então você terá que descobrir sozinho. – ele levantou a mão até um dispositivo que ficava sobre sua orelha e pediu para virem me buscar.
***
Fui trazido de volta para o distrito 12. Cheguei aqui faz poucos estantes e todos retomaram os seus olhares curiosos para mim. Caminhei sobre a barro e lama daquele local, devagar com medo de alguém me espancar por estar usando as roupas capital. Entrei na pobre casa em que vivo, e que provavelmente será o local onde eu passarei o resto da minha vida, e me sentei sobre aquele assoalho velho e desgastado. Tentei ligar o Sid mas fui interrompido por alguém abrindo a porta.
- Garoto. – disse um homem meio gordo e barbudo na porta.
- Oi? – me levantei e olhei pra ele.
- O que fizeram com você na Capital? Por que voltou tão cedo? Por que você voltou?
Continua...
É isso ai pessoal, comente. E deixando bem claro que a outra série não foi deixada de lado.