Capítulo 5
Parte da série Eu Você e Ele
Logo eu acordo com som dos pássaros cantando. Eu olho pela janela, o céu está azul escuro. O sol ainda não nasceu, mas eu posso ver os sinais pelo sibilo nas árvores. Eu cutuco Leroy.
Os olhos inchados, sua bochecha rosada por estar pressionada ao meu ombro.
- O que houve? – ele resmunga.
- Nada, só estar na hora de acordar!
- Que nada... ainda está escuro. Anda Ricky, volta a dormir. – ele então fecha os olhos e se escora em meu ombro novamente.
Eu me levanto, me esforço ao máximo para passar pela pequena brecha entre as pernas de Leroy e o assento a frente. Logo eu consigo me livrar da luta contra a pequena brecha. Desço os pequenos degraus do andar de cima do ônibus. Vejo os outros alunos. Todos estão dormindo, mas eu ainda posso ver o Sr. Harry lendo uma revista velha enquanto apalpa sua pança com as mãos. Logo eu sinto o cheiro de bacon. Mas não é o café da manhã, e sim o Sr. Harry!
- Bom dia – eu digo a ele.
Sr. Harry desvia o olhar da revista – Cortadores de grama super turbinados, cortam cem vezes mais sua grama. Sementes em liquidação. E não posso esquecer das tesouras do doutor King, elas cortam até os ramos mais difíceis! Sr. Harry gosta de ler revistas de jardinagem – Ele dá um sorriso e logo eu vejo sua mão erguida.
Um cumprimento, eu penso.
- Bom dia Foster – ele diz em cortesia. Eu aperto sua mão áspera, e logo lhe causo um sorriso no rosto.
Sobre o chão de barro eu estou, sozinho, apenas ouvindo o som dos pássaros nas árvores acima. Eu miro o horizonte, posso ver a enorme bola laranjada rasgar o azul do céu ao ocidente. Eu me viro a procura de algo. Há uma cerca de madeira velha separando nós de um pequeno campo que aos fundos possui um lindo lago de água doce.
Eu estico meus pés na cerca, apoiando-me em um só. E logo eu estou do outro lado. A decida é íngreme, mas eu ainda posso ver um pequeno caminho em meio a grama. Alguns pés andaram por aqui eu penso. Eu sigo a caminho, apoio-me no mato que parece bem firme ao chão. Então eu chego a margem do lago, posso ver as pedras no fundo, a água bate nelas formando pequenos jatos que me lembram bem cachoeiras. Eu afundo meus dedos na água, o arrepio toma conta do meu corpo inteiro. A água está gelada. Eu lavo meu rosto, e molho meus cabelos. Tampouco me esqueço de escovar os dentes.
Enxugo o rosto no pano da minha camisa, e então me sento em uma pedra perto a margem. Eu miro os pássaros sobrevoando o céu, pairando felizes ao som de seu canto. Eu cruzo os dedos e quase me encontro hipnotizado pela água que corre e some em meio a decida do morro.
Escuto o mato mexer atrás de mim. Desta vez não me deixo pegarem desprevenido, então me viro a procurada de quem seja. Gabriel vem descendo sozinho, se apoiando no mato firme como eu havia feito. Ele carrega uma toalha azul em seu ombro. Logo ele afunda os pés na água. Seu corpo treme e suas mãos serram os braços, ele percebe o gelado assim como eu.
Eu me viro buscando ignorar sua presença, tudo que eu quero agora é ficar longe de desavenças.
Eu lhe olho do canto dos olhos, ele tira sua camisa e então entra na água. Corajoso da parte dele, eu não entraria ali mesmo podendo ver o fundo!
Subo de volta ao ônibus, não quero ficar perto de pessoas como Gabriel. Eu caminho de volta ao meu assento, Leroy ainda dorme profundamente. Bob Wood parece babar, eu posso ver um pedaço de folha de alface preso no dente dele. Eu me viro ignorando essa cena horripilante.
-Acorda Leroy – Eu digo ríspido já cansado, pois essa já se é a terceira vez que eu o chamo.
Ele abre um lado do olho, seus lábios contorcem-se. Mas logo está de pé.
Leroy desce com a toalha nas mãos, e eu me sento perto a janela. Vejo os outros alunos ultrapassando a cerca, eles apontam para Gabriel tomando banho no lago com um sorriso no rosto. Eu posso ver Leroy tremer ao pôr os pés na água.
Muitos não tiveram a coragem de Gabriel, somente Max e Jason entram com ele no lago. Os restantes fizeram o mesmo que eu, só lavaram o rosto, escovaram os dentes...
Leroy se aproxima com sua escova de dentes verde na mão.
Vejo sua mão descer até o bolço, ele puxa algo que me parece ser uma barra de chocolate.
- Tenho nosso café da manhã! – ele diz satisfeito.
Uma explosão de açúcar toma conta da minha boca quando mordo um pedaço. Minha saliva começa a subir a goela de tão gostoso que isso está. O gosto de cacau me leva as nuvens. Já se faz tempo desde de que como uma das barras de chocolate preferida de Leroy.
Logo estamos lambendo os dedos cobertos pelo marrom adocicado.
Sobra um pedaço, encontro-me satisfeito. Leroy parece estar também, pois suas pupilas azulzinhas agora não se encontram tão dilatas comparado a antes quando ele foi morder o primeiro pedaço.
Espanto-me junto a Leroy ao vermos fios cacheados subirem o assento a frente. Logo podemos ver o rosto. Bob Wood olha para a barra na mão de Leroy, como se não tivesse comido a semanas.
- Você pode comer se quiser! – Leroy finaliza a cara de pidão de Bob Wood.
Todos estamos de “banho tomado”, prontos e ansiosos para chegar ao nosso destino.
- LIGUÉM OS MOTORES! – todos dizemos juntos em um coral ensaiado dentro ao ônibus.
O sacolejo e o ronco nos anima. Sr. Harry atendeu nossa ordem. O ônibus está de volta a pista, a viajem continua.
Eu vejo as altas árvores formassem borrões a minha esquerda, a pista foi-se de barro a asfalto novamente. Pequenas casas no meio do nada me causam espanto. Quem iria querer morar aqui no meio do nada? Sem internet, TV a cabo ou qualquer tipo de divertimento? Eu ficaria louco de Richard me trouxesse para morar aqui nesse lugar.
Todos dentro do ônibus resolvem cantar músicas para animar a viajem. Gabriel foi-se a frente, com o violão apoiado a coxa ele canta acompanhado de todos. Até mesmo de mim e Leroy. O sacolejo do ônibus não surte efeito algum nele, ele continua o movimento de seu punho, dando leves batidas nas cordas, pulando de acorde em acorde... Gabriel pode ser um monstro, mas ele sim tem um bom dom. Tanto no violão quanto em seu canto! Sua voz grave tornasse suave aos ouvidos de quem o ouve.
A música termina, então ele dá uma leve engasgada aquecendo a garganta para mais uma.
- Que música é essa? – Max pergunta.
Todos sentem-se confusos, trocam olharem uns com os outros especulando qual será a música. É doce, suave aos ouvidos. Uma melodia linda, eu a conheço!
Meus pés movem-se acompanhando o ritmo da canção. Leroy olha-me confuso.
- Você conhece? – ele pergunta olhando meus pés se mexerem junto ao ritmo.
Eu nem lhe respondo, meus lábios abrem-se vagorosamente. Logo eu acompanho Gabriel.
- Mas talvez... Você não entenda, essa coisa de fazer o mundo acreditar... que meu amor, não será passageiro. Te amarei de janeiro a janeiro... até o mundo acabar! – eu canto junto a ele.
Os olhares voltam-se a mim no andar de cima do ônibus. Gabriel vê-se surpreso por eu saber a música, mas ainda canta junto a mim.
Se não fosse o barulho das rodas sobre o asfalto, nossas vozes e nem o violão. Poderia se ouvir um alfinete cair ao chão dentro do ônibus. Todos nos olham silenciosos, os olhos do diretor John encontram-se marejados.
O último tom se finaliza, então pode-se ouvir palmas vindo de todos os assentos.
- Vocês sabem espanhol perfeitamente! – Jason Scott diz surpreso.
- Não é espanhol – Gabriel diz – É português. Essa música é brasileira! – seus olhos se fecham orgulhosos.
- Português é? – diretor John levanta-se de seu assento – Vocês dois tem talentos meus rapazes! – ele diz em um sorriso.
- Obrigado – o olhar de Gabriel encontra o meu por dois segundos, então o abraço de Max envolta o ombro dele.
- Meu amigo aqui tem talento! Vocês dois ficam bem juntos – ele diz em piscadela – Você é o homem, e ele é a mulher! – ele aponta para mim – Aliás... onde andou botando a boca ultimamente Ricky? Tá machucada moça! Bem aqui – Max põe o indicador em seu lábio inferior, bem onde meu machucado se encontra.
A expressão de John se fecha.
- Você! – John aponta para Max – Não vou tolerar gracinhas nessa viajem meu rapaz. Peça desculpas a ele! – Ele aponta para mim.
Max engole em seco, parece me devorar com o olhar. Até que seus lábios movem-se sem vontade própria.
- Desculpa... – ele sussurra o bastante para mim ouvir.
- Tudo bem – eu digo ríspido mesmo não querendo puxar briga.
Logo a poeira abaixa. Novamente estamos cantando frenéticos, Max desceu para baixo, talvez ele cansou de ser ignorado por todos. O machucado em minha boca não é o suficiente para me parar, canto e encanto a todos.
Quase consigo dizer “I Hate You” com o olhar voltado a Gabriel, mas o ônibus começa a diminuir a velocidade.
Logo todos estão com o rosto colado no vidro da janela. Eu posso ver de onde estou, por cima da cabeça de Leroy, um grande telhado que julgo ser de uma cabana.
Nossos pés tocam o chão novamente, os olhares presos ao redor. Eu miro a cabana grande, perfeita e em ótimo estado, diferente do que eu vejo em filmes por ai – A noite canibais saem da floresta atrás de miolos de pessoas. Cozinham em uma panela grande com batata e cenoura. CÉREBROO!! Eles pegam todos aqueles que dormem nas cabanas inocentemente. Tiram seus olhos e comem fritos com cebola. MIOOOLOS!! – Posso ver um imenso campo coberto pela sombra das imensas árvores.
Sem hesitar eu pego minha mochila e lanço a costa. Acompanhado de Leroy eu caminho até a cabana.
Perto eu estou o suficiente para ver a imensa faixa na entrada. “Bem Vindos Willi’s” está escrito em vermelho e branco. Eu subo os degraus até a varanda, alguns jarros de plantas estão nos cantos. Uma mesa de sinuca bem ao meio enche o olhar dos garotos lá atrás. Eu entro pela porta da frente, magnifico é o local. A arquitetura não é tão moderna, mas enche os olhos de todos. Bem grande, dois andares, eu vejo a escada aos fundos perto a uma mesa com um aquário que tem dentro alguns peixinhos.
- O dormitório das meninas fica para a esquerda – Diretor John alerta-nos, após nos subirmos os degraus em busca de ver os outros locais – O dos rapazes fica para a direita. – ele diz com o braço direito erguido.
Eu entro no dormitório, algumas camas enchem os olhos dos garotos. Eu sinto algo colidir com meu ombro, Alex corre junto aos outros para pegar seu lugar.
Logo todas as camas estão ocupadas. Eu na verdade nem dormirei aqui, para isso trouxe minha barraca. Ela é mais eficiente nas fugas a noite!
Eu caminho para fora novamente com Leroy e Bob Wood. Avisto um ótimo local para se armar uma barraca.
Logo eu estou cravando os apoios ao chão, Leroy me ajuda segurando a parte de cima.
- Pronto! – eu digo e olho satisfeito para a barraca.
Eu bato as palmas de minhas mãos uma na outra tirando a sujeita. Leroy abre o feche da barraca e entra. Ele arruma suas coisas ao fundo, eu então acompanho ele ajeitando as minhas.
- Olha o que eu trouxe... – ele diz erguendo uma lona azul escura.
- Ah... legal... – eu digo confuso – Nós usaremos pra que?
- É um coxão inflável Ricky! – ele diz e lança o pino aos dentes.
Ele enche o peito e assopra dentro ao pino.
“XIII” o pino chia com o sopro de Leroy.
Então a respiração de Leroy encontra-se ofegante. Ele revira os olhos, suas mãos abaixam a lona azul escura do colchão inflável lentamente. Leroy se lança ao chão cansado.
- Idiota! – eu digo ao ver que se tinha uma pequena bombinha no colchão. Leroy não deve ter percebido, agora está quase que desmaiando.
- Ai... eu estou tonto! – ele diz com a voz tremula.
Logo eu trago a lona para fora, boto ao chão e a bombinha de pisar em cima se torna um divertimento para mim. Piso nela como se fosse na cabeça de toupeiras intrometidas no quintal de uma casa como nos desenhos animados.
Então eu vejo o colchão cheio. Leroy me ajuda a botar para dentro. Eu cubro-o com um cobertor que eu consegui na cabana com diretor John. Então a barraca já se estar pronta, só nos falta aproveitar para ver os outros locais.
Caminhando estou sobre a grama, meus pés afundam na terra fofa por conta do orvalho da madrugada.
Incrível eu penso ao ver o imenso lago com um tronco velho a margem. O lago corta o local de uma linda paisagem ao fundo, árvores imensas quase ao pé de uma pequena montanha. O topo está coberto pela neve que cai lá em cima.
Eu estico a mão e murmuro a Leroy.
- Olha lá – eu aponto para a montanha.
- Eu sei – ele diz com um sorriso de canto de boca – É lindo não é?
- Sim!
Logo saímos e caminhamos ao pequeno campo de futebol perto a cabana. Há uma rede de vôlei no meio presa a duas varas de ferro. “Legal” eu penso esperando no que vem mais.
Há alguns alunos andando por aqui. Talvez estejam tão curiosos quanto a mim e Leroy.
Kyle Henderson nos olha junto a Jason Scott. Não lembro-me deles serem amigos. Jason já foi amigo meu, mas tudo mudou depois de eu ter ganhado em uma competição de dança dele. Ele ficou furioso, eu não me senti muito bem com isso, até hoje não me sinto! Dei créditos a Jason a tudo o que ele faz próximo a mim. Nas nacionais do ano passado ele ganhou o troféu por minha causa. Eu dei o pior de mim naquela apresentação, tudo para que Jason se desse bem. E eu tive êxito, tanto que ele foi o melhor entre todos. Saiu com crédito em tudo.
Apesar de tudo, de todas as coisas que eu fiz por ele. Jason Scott não se dá bem comigo até hoje. Tanto que eu posso ver seu olhar torto ao lado Kyle.
Leroy sobe a mão até seu cotovelo, e então lança um olhar medonho a Kyle.
Quase Leroy solta uma palavra que não se deve ser nomeada, mas Max aparece saindo pela porta de trás da cabana. Ele me vê de longe e dá um sorriso ameaçador para mim.
Kyle e Jason percebem e então se junto a Max.
Eu me viro ignorando os três, puxo Leroy para a barraca.
Nossos passos ligeiramente rápidos têm como principal destino nossa barraca, buscando ignorar as desavenças que se pode vir se nós dermos a eles o que eles querem. BRIGA!
Eu tenho ótimos presságios para esse Acampamento de Outono, busco torná-los reais. Evito ao máximo qualquer tipo de discursão que se possa vir, para que eu tenha aquilo que eu realmente quero aqui. Meu lazer e bem-estar!
Espremo meus dedos, não acredito nisso. Não pode ser real, talvez seja apenas uma brincadeira. E uma brincadeira de muito mal gosto!
Gabriel arma uma barraca perto a nossa, ele se vira limpando as mãos no jeans de sua calça. Ele repara nosso olhar incomodado, então franze a testa e ignora.
- O que você faz aqui? – eu digo me segurando para não pular no pescoço dele.
- Bem... não é da sua conta. Mas, vim fazer o mesmo que você fez. Só isso que tenho para te dizer! – ele diz com um olhar sacana e se vira.
- Esse lugar é nosso cara, sai fora! – Leroy diz.
- Não está escrito o nome de vocês aqui – Ele se vira novamente para nós. Então cruza os braços e lança um olhar satisfeito.
- Mas é nosso! – eu digo.
- Não é de nenhum dos três! – John nos surpreende aparecendo do nada.
Nós olhamos para ele assustado. Gabriel engole em seco, eu arregalo os olhos e Leroy está de queixo caído. Diretor John realmente gosta de nos pegar em momentos prometedores.
- Este é o local escolhido para se pôr as barracas. Fico grato Richard – ele olha para mim – Nem foi preciso eu lhe avisar! Bem – ele põe as mãos nos bolsos – agora que já sabem. Avisarei os outros! – ele se vira e sai andando.
- Bem, se já estamos entendidos... – Gabriel dá de ombros.
- Isso não vai ficar assim – eu digo e balanço a cabeça.
- Isso é uma ameaça Foster? – ele ergue a sobrancelha esquerda.
Minha mão soa, eu encolho os lábios e olho irritado para ele.
- Talvez – eu digo.
Ele então dá um sorriso, e ergue a sobrancelha.
- É isso ai! Disso que eu preciso... – ele ergue o dedo – Mas, não vou perder meu tempo batendo em você novamente!
- Idiota! – eu esfrego a mão na barriga lembrando de seu chute.
Seu olhar encontra meus dedos pressionados ao pano da minha camisa, ele então ergue a sobrancelha novamente e se vira.
Eu entro na barraca junto com Leroy. Eu desço o zíper e fecho a barraca. Puxo minha mochila, e no bolço da frente procuro um pote com biscoitos caseiros que minha mãe pôs dentro. Eu abro o pote e lanço um biscoito aos dentes.
Leroy aproveita os com gotas de chocolate, e logo eu não encontro mais nem um no pote.
- Leroy... – resmungo.
- Foi mal – ele diz com a boca cheia.
Eu não aguento a voz de Max na barraca ao lado, e saio acompanhado de Leroy. Uma árvore separa nossa barraca da de Gabriel e das outras. O tronco é largo, a distância é razoável, mas ainda posso escutar a conversa na barraca ao lado. Max costuma conversar alto, mesmo cochichando.
- Você precisava ver... – os risos soam ao lado - a cara dele! – um rasgo grave na garganta não nega o tom de voz assustador de Gabriel.
- Cara!? – Leroy me puxa de um devaneio ao olhar a barraca verde.
Eu e Leroy então nos lançamos a margem do lago. Sentando no tronco velho e oco. Um corte amarelo e polido no tronco só me faz pensar em quantos traseiros sentaram aqui para telo feito.
Há uma espécie de plataforma de madeira perto a margem do lago, um pouco afastado da cabana. Escondida pelos arbustos e a imensa árvore que lhe banha uma doce brisa e a sombra aconchegante.
Eu então olho para Leroy, ele dá um sorrisinho mesquinho mas ainda que doce, percebendo minha intuição.
- Isso é demais! – Leroy suspira satisfeito e sorridente quando já estamos deitados na plataforma húmida.
- Sim! – eu digo sem mais e nem menos concordando sutilmente.
Eu fecho os olhos com a mão no peito. Aproveito o frescor do vento levemente frio.
Respiro profundamente. Preenchendo cada canto do meu pulmão com o oxigênio tão puro e natural. Diferente do que se tem lá em NY. Ainda que minha cidade seja tão aconchegante e boa de se viver. Seu ar não é tão puro assim no meu ponto de vista.
São tantos carros, ônibus turísticos, motocicletas... em outras palavras: Poluentes!
É quase que raro inalar um ar puro de onde eu moro.
- O que você está achando? – Leroy vira sua cabeça para mim.
- Como assim?
- A... você sabe! Do acampamento, o cheiro de mato, o lago, e... – ele aponta para o outro lado do lago – Essa vista incrível!?
- Eu acho que não tenho palavras!
- Você não tem? – ele lança seu sorriso torto – Olha só tudo isso cara. Como você não tem palavras para isso? – ele diz surpreso.
- A perfeição é algo indescritível!
Leroy dá um sorrisinho besta.
- Não me lembro de você ser tão careta assim!
- Eu não sou careta – eu solto um sorriso – Apenas vejo um mundo onde você ver um livro qualquer!
- Livros Senhor Richard Foster Junior? – Leroy franze a testa – o que livros tem a ver com a pergunta que eu te fiz?
- A questão é: como pode comer tanto chocolate e não engordar?
- Meu melhor amigo ficou louco! – Leroy olha reto para cima com um olhar torto e confuso.
O silêncio toma conta do lugar, mas eu ainda ouço a orquestra de sons floresta a dentro.
Eu olho para Leroy, ele se prende ao famoso sorriso torto dele. Mas agora tem algo diferente no monólogo de sempre em Leroy. Há um Leroy mais confuso em suas ações. Há um Leroy que parece temer em tudo que faz. Há um tom diferente em seus olhos desta vez.
É estupido achar que acampamento pode mudar pessoas. Mas acho que ele pode adicionar um toque mais caseiro no cardápio de suas ações.
É isso... acampamento são mágicos! E olha que esse só está começando...
“Crii-Crii-Crii” se ouve um som berrante e alucinante lá fora. Embora eu esteja animado com esse acampamento, eu confesso que... TENHO MEDO DE MATO!
É incrível, mas além de trovões e relâmpagos. Mato também me causa calafrios!
Não se sabe que coisas cruéis se tem lá entre todo aquele verde “manso”. Quantas criaturas estranhas se tem entre aqueles inúmeros arbustos.
“Argh”... não gosto nem de lembrar.
A noite chegou com pressa hoje. O acampamento é quase vedado aos nossos olhos com tanta pouca luz. O gerador consegue segurar umas lâmpadas na cabana, mas a luz treme tanto que eu me sinto em uma boate de festa eletrônica; mesmo que eu nunca tenha ido em uma.
A uma imensa mesa de madeira envernizada na sala de jantar da cabana. Alguns meninos estão sentados, mas muitos cederão seus lugares para as garotas; talvez eles acham que assim consegue levar elas para cama. Talvez...
No meio há um candelabro dourado e velho com três velas.
Me sinto em um filme de vampiros medonhos, em uma época nada próxima da nossa. A decoração desse local é tão... velha e medonha. Mas ainda que aconchegante.
Mas ainda digo: Viva o século XXI!
- Torta de baunilha e chocolate!? – Alguém serra as mãos na mesa – Agora sim as coisas estão ficando boa!
- Espera até eu te mostrar o que eu sei fazer!
Então os olhares de todos os cantos se voltam para Megan que morde a ponta de uma caneta que estupidamente eu não sei de onde ela tirou, enquanto faz a cara de sacana que ela tem para Max que se viu satisfeito com a sobremesa; aquele bolo de carne com purê de batata caiu bem, mas certamente essa torta deve estar uma delícia.
- Eca – Kimberly diz e sobe a mão direita a boca e força um vomito fingido; DRAMÁTICA!
- Eca o que? Não gosta de Baunilha? – Jason pergunta, e assim todos os olhares girarão em sincronia junto a imensa sala de jantar da cabana e param nos dedos juntos de Kimberly nos lábios rosados dela.
- Não gosto desses dois ai! – Ela aponta para Max e Megan.
- Então é dois! – eu cochicho baixinho para Leroy ouvir ao meu lado.
Ele solta um sorriso:
- Três!
Quase todos os pratos estão vazios, mas levemente coberto pelo pouco de chocolate delicioso. Embora eu não seja tão fã assim de chocolate quanto Leroy, tenho de dizer que essa torta estava uma delícia. Meu estomago vai digerir com tanto agrado que eu quase posso ouvir o obsequio em estrondo.
Ainda tem o delicioso cheiro de baunilha que preenche toda sala e tenho certeza que corre por todo o sistema de ventilação deixando o clima delicioso.
Quem não ama baunilha?
EU AMO BAUNILHA!
Todos caminham para seus respectivos dormitórios satisfeitos depois desse delicioso “banquete”.
O vento uiva acima das imensas árvores nos arredores do acampamento. Ouço com nitidez as corujas assoviando. Eu ajeito as mãos dentro dos bolsos da minha calça jeans azul.
Há alguns feches azuis de lanterna dançando no ritmo dos paços de seus donos. Eu vejo minha barraca, e logo estou dentro a ela.
Continua...