Capítulo 2
Parte da série Eu Você e Ele
Preto, amarelo queimado. Talvez um pouco disso e... perfeito!
Não... talvez esteja horrível. Mas é claro que está horrível. Definitivamente eu não tenho talento para pintura. Estou tentando fazer uma paisagem do Pôr-do-Sol no papel branco, junto as tintas que eu achei no porão. Leroy está me ajudando. Nós cansamos de ficar um olhando para a cara do outro sem fazer nada. O porão sempre tem algo interessante para nós fazermos. Uma vez achei um radinho a pilha em uma caixa velha empoeirada, ele funcionou durante uns cinco minutos, até Leroy lança-lo com força na parede, com raiva por chiar demais.
- Acho que devem estar vencidas. – Leroy espreme o olhar em dentro ao pote de tinta amarela.
Realmente ele pode ter razão, o amarelo que antes se encontrava vivido, agora tem cor de suco de laranja apodrecido, e cheira a abóbora assada – Lembranças do Halloween do ano passado – Eu ainda posso ver algumas coisas se mexendo dentro do pote de tinta branca. Eu posso estar paranoico, sei que larvas não vivem em potes de tinta. Mas que tem algo se mexendo tem!
- Cansei – Leroy lança o pincel sobre a mesa – Nós poderíamos cantar um pouco o que acha?
- Cantar Leroy? Você não sabe nem imitar um pato! – Eu digo. Leroy não é lá o mestre na voz, ano passado pagou um mico quando tentou cantar no baile de Halloween. Realmente foi... Ô... Halloween!
- Quack! – Leroy imita um pato.
- Você entendeu o que eu quis dizer! – eu lanço um sorriso pasmo a ele.
- Bem senhor sabichão – ele cutuca minha testa com o indicador – Você sabe cantar. Eu como sempre sou o mestre na guitarra.
Pronto, é tudo o que ele precisa. Agora aqui está ele tocando uma guitarra imaginária enquanto imita o Elvis Presley. O som que sai de sua boca parece mais um pato engasgado que acabou de pegar um resfriado.
- CANTA COMIGO RICKY! – Leroy me chama, enquanto está loucamente pulando sobre minha cama cantando Elvis. Minha baqueta foi tudo o que ele achou para fazer de microfone. Parece um pato chapadão.
- Será que dá pra os dois calarem a boca!?
E ai está ela, Emily minha irmã. Chata como sempre. Ela só sabe nos encher, parece odiar a Leroy. Os bobes em sua cabeça dão a ela uma figura horrenda com esse roupão cor de rosa. Sem falar nesse troço gosmento em seu rosto. Ela me disse uma vez que serve para hidratar a pele. Se isso é para hidratar a pele... prefiro continuar com ela do jeito que está. Emily não é lá tão feia – A não ser quando ela acorda. Vai por mim, é horrível! – Seus olhos azuis, cabelo cor de oliva, ambos herdados de minha mãe. Emily está sempre arranjando uma desculpa para fazer nossa mãe brigar comigo.
Quando pequeno, eu e Leroy fomos até o quarto dela. Nós só tínhamos uma coisa em mente... vasculhar tudo em busca de provas de que ela foi a uma festa com seus amigos! Procuramos de tudo. Desde as meias, as roupas intimas enormes que ela tinha – ainda bem que ela mudou, se não, não teria nenhum namorado até então. Aquelas calcinhas pareciam até que foram dadas da nossa vó – Me lembro de ter procurado dentro da mesinha ao lado de sua cama, e para minha sorte achei o diário dela. Foi o dia mais vitorioso para mim e Leroy em nossa guerra com a minha irmã. Nós chantageamos ela por uns dois meses. Fizemos ela nos dar o dinheiro do lanche dela. Gastamos tudo no fliperama perto do Dock’s. Ainda tenho alguns tickets que Leroy me deu quando venceu daquela máquina com uma toupeira irritante, ele acertava todas. Hoje em dia esses tickets não servem nem para ganhar sopa de graça na rua.
- Qual foi Emily? Parece mais uma bruxa! – Leroy adora irritar ela.
- Olha aqui sua peste... – ela ergue o dedo. Me parece que ai vem coisa...
Emily mau abre a boca e meu pai aparece na porta com o roupão vermelho dele.
- Alguém aqui está cantando Elvis? – ele diz empolgado.
- Chega mais tio Richard... – Leroy joga uma baqueta ao meu pai que logo apara e então sobe em cima da minha cama junto com Leroy.
Pronto, já não basta o Leroy com a voz feia dele, agora meu pai chegou para acabar com tudo.
É a cena mais horrível do mundo. Leroy e meu pai cantado freneticamente Elvis Presley enquanto pulam no meu colchão. Não me lembro de ter visto meu pai tão feliz assim desde a semana passada em que ocorreu alguns problemas no trabalho dele. Agora ele está aqui, cantando feito louco com meu melhor amigo. Eu admiro meu pai, sempre me espelho nele. Não é lá uma tarefa muito difícil, cara de um, focinho de outro. Sou praticamente idêntico a ele. Pele branca, olhos verdes e cabelos loiros. Emily sente inveja de não ter herdado o loiro de meu pai, não que ela não goste do castanho de minha mãe. Mas ela diz que o loiro cairia bem com o azul de seus olhos. Talvez eu tenha de concordar. Mas sinto-me bem com o verde mar que herdei de meu pai. Em falar no charme natural, a... o charme natura. Isso já é de família!
- São oito da noite, vocês vão acordar os vizinhos. – Emily resmunga.
- Deixa de ser careta filhona. Estamos apenas nos divertindo! – Meu pai diz ainda mexendo o braço como um louco.
Ele se prepara, ai vem, ele vai fazer o passo do Elvis. Ai vem... ai vem... e...
- ARGH, MINHAS COSTAS! – o berro dele quase mata Leroy que agora rir freneticamente.
- Eu disse pra vocês pararem... – Emily vira de costa e vai embora de braços cruzados.
Eu olho para meu pai com a mão nas costas. O sorriso no meu rosto me entrega. Isso foi muito hilário!
- Já estou enferrujado para essas coisas. – Meu pai diz com a cara de quem acabou de chupar um limão.
- O seu tempo já passou tio Richard. – Leroy diz se recompondo de seus risos.
- Não se engane Leroy, o velho aqui já foi um mestre na dança. Eu juro que eu dançava melhor que você... – ele se levanta e caminha até a porta, então se vira e olha pra Leroy – Agora eu acho melhor eu voltar e assistir um pouco do noticiário das oitos.
- Ok Sr. Foster – Leroy faz sinal de tchau com um sorriso no rosto.
Definitivamente eu estou cercado de pessoas loucas, desde os de casa aos da rua. Não foi só hoje, meu pai se comporta como um jovem de vinte e três anos ainda. Apenar de estar um pouco velho. Que isso... ele não está, trinta e nove é a sua idade! Ainda dá para quebrar alguns galhos aqui em casa. Isso se ele não estiver ocupado com o trabalho. Mais sempre que tem chances ele faz algo aqui em casa, geralmente conserta o seu carro na garagem – isso quando ele não leva para o Sr. Walter dar um jeito – ou então está ajudando minha mãe com as compras do final de semana. Às vezes me leva para assistir um jogo de futebol, mas é algo raro de se acontecer – sem falar que jogo não se tem todo o dia - Ele quase não está presente com Emily, pôs minha mãe é a responsável em dar atenção a ela. Mas ele ainda tira um tempo antes de vir para casa, e passa na lanchonete do centro e compra o milk-shake preferido dela.
Eu olho para Leroy que agora está pondo as baquetas no seu devido lugar. Perto a minha guitarra – nem sei por que comprei ela, talvez foi porque Leroy era louco por uma. Então eu fiz um acordo com ele. Eu comprava a guitarra, mas em troca ele teria de me dar umas aulinhas. Ficamos quites... até hoje eu não sei tocar nada! – ele passa o dedo sobre o prato da bateria ao lado da guitarra e olha pra mim.
- Faz tempo que você não toca nela. Está até empoeirada! – ele limpa os dedos sujos de poeira.
- Não tive tempo... eu na verdade nem gosto mais dela. – eu dou de ombros.
- Então porque você não me dá? – ele diz entusiasmado.
- Pra que? – eu franzo as sobrancelhas – Você passa mais tempo aqui do que na sua casa!?
Isso é um fato. Leroy está mais na minha casa do que na sua própria. Talvez seja pelo fato de seu irmão mais velho Lester, está sempre enchendo a paciência dele. Ele é o pior irmão do mundo. Não muito diferente de Leroy na aparência, olhos azuis cabelos castanhos, é quase que o Leroy com barba. Quando tínhamos treze anos, apelidamos ele de Gamter – uma mistura de Gambá e Lester – O odor pungente que sai de suas meias é horrível. O quarto dele parece que passou um furacão e destruiu tudo lá dentro. Eu juro que uma vez eu encontrei um sapo morto debaixo da cama dele. E como o sapo foi parar lá... isso até hoje é um mistério!
- Você pode até ter razão. Mas é porque eu gosto de ficar aqui com você, lá em casa é um tédio. Nem tem um vídeo game pra mim jogar um pouco.
- E aquele meu que eu te dei? – eu pergunto confuso.
- Lester vendeu por vinte pratas pro Jeff.
Oque? Aquele vídeo game era quase uma raridade. Foi o segundo que meu pai me deu. Eu só dei ele pro Leroy porque eu já tinha me enjoado dele, e meu pai comprou um novo que é o meu atual agora.
- Deve ser um inferno viver naquela casa com o Gamter... – eu reviro os olhos.
- Nem me fale – Leroy se joga na cama num suspiro.
***
Acordei disposto hoje, é terça-feira, um dia depois da segunda. Ou seja... um dia depois do pior dia da semana. Com cuidado eu tiro meus pés da cama para não acordar Leroy que dorme tão profundamente que está quase babando. A minha sorte é que ele não ronca. Só baba e grita, mas não ronca...
Oque eu faria primeiro? É claro... o banheiro me espera para uma ducha revigorante.
Vagarosamente eu fecho o box do banheiro para não fazer barulho e acordar Leroy. Ligo o chuveiro. Água quente mesmo, faz um frio danado lá fora. Algo quentinho cai bem nessas horas. Com cuidado massageio meus cabelos coberto pela espuma do shampoo.
Eu posso ouvir o barulho do box do banheiro se abrindo. Não tenho dúvidas em quem seja, Leroy costuma entrar no banho comigo as vezes quando ele está com muita preguiça. E é o que ele está agora, a cara inchada de sono dele o entrega.
Eu não me importo em tomar banho com Leroy, costumávamos tomar banho juntos quando pequenos. Mas sempre tivemos um acordo. Da cintura para baixo não se olha!
- Bom dia... – ele diz parecendo um zombie enquanto mete a cabeça debaixo do chuveiro.
- Bom dia Leroy. Cadê o ânimo? Hoje é terça, hoje tem educação física! – eu digo tentando animá-lo.
- Tanto faz... agora deixa eu tomar um banho bem gostoso. Espero que quando eu sair desse banheiro você já esteja arrumado. Não sei pra que tanta demora para vestir uma roupa para ir a escola!? – ele diz entediado.
- Não enche Leroy... – eu digo e fecho o box.
Banho tomado, dentes escovados. Agora o que me resta é me vestir... Mas o que eu visto?
Eu abro a porta do closet – sim, sei que closet é algo meio feminino. Mas quando meu pai comprou a casa da imobiliária, todos os quartos vieram com closets. Eu acho prático, e cabe mais coisas dentro. Ainda serve para pôr minha guitarra e mais algumas coisas, quando eu canso de velos nos cantos do meu quarto. A tarefa é fácil... joga tudo no closet! – olho minhas camisas, algumas novas e algumas que eu não uso a um bom tempo. Decido então pegar uma verde, combina com meus olhos. Enquanto a calça, vou de preto. E o meu tênis, a... aqui está minha coleção. Uma prateleira inteira deles. Tênis é minha paixão! Mas agora eu vou por esse preto mesmo por que só é um simples dia de aula.
Roupa vestida, então eu deslizo para fora do closet.
Bem na hora, Leroy saiu no mesmo estante em que pus o pé para fora. Ele parece me olhar entediado, Leroy parece sempre está de mau humor em todas as manhãs. Mas logo se anima ao tomar um bom chocolate quente.
- Ótimo. Pelo menos não vou ter de te esperar por muito tempo... – ele dá de ombros.
Leroy... sempre reclamando de tudo.
- Eu vou te esperar lá em baixo. Sua roupa está... - eu tento terminar a fala mais ele interrompe.
- É claro que eu sei onde está! – ele diz confuso.
Bem esperto da parte dele, há sempre uma roupa dele aqui em casa. Toda vez ele esquece algo, uma camisa, uma calça, um tênis, o celular dele.... Minha mãe não se preocupa em lavar as roupas de Leroy, ele é quase da família. Suas roupas estão junto as minhas no closet, lavadas passadas e perfumadas. Minha mãe é realmente genial.
Eu desço os degraus da escada e logo adentro a sala de jantar. A luz do sol reflete sobre a mesa de vidro. O lustre de cristal acima da mesa insiste em brilhar mesmo com suas luzes apagadas. Minha mãe, está sentada ao lado de meu pai que está comendo uma fatia do delicioso bolo de cenoura de minha mãe – Vai por mim, eu também odeio cenoura, mas esse bolo é maravilhoso – Minha irmã logo fecha a cara quando me ver, deve estar irritada por ontem a noite. Meu pai deve ter percebido, pôs ele está com um sorriso meio torto nos lábios.
- Bom dia – eu digo a todos.
- Bom dia filho. Cadê o Leroy? – minha mãe pergunta.
- Ele está trocando de roupa – eu digo.
Minha mãe, sempre preocupada com os demais. Denise Foster é o nome dela, dessa doce e adorável mulher. Aos trinta e oito anos ela não possui se quer uma ruga ou marca de idade. Parece uma jovem de vinte e poucos, talvez seja esse o motivo pelo qual ela combina tão bem com meu pai. Os olhos azuis e o cabelo cor de oliva se igualam aos de Emily. Se eu posso apontar um problema nela, talvez tenha um... o fato de ela me ligar perguntando se eu estou bem todas as vezes que saio com meus amigos. Eu tenho dezesseis anos, mas ela insiste em dizer que ainda preciso dos cuidados dela. Talvez ela esteja certa. Meu pai nem se preocupa. É só chegar e, “E ai meu velho. Me empresta uma grana pra eu sair com a galera ai?” ele dá sem nem mesmo hesitar.
- Eu fiz esse chocolate quente especialmente para ele. – ela diz com o lindo sorriso que só ela tem.
- Você ainda vai matar ele de diabete! – eu digo.
Meu pai dá uma risada na mesa e então começa a bagunçar meu cabelo.
- Só você mesmo para me fazer rir tamanha seis horas da manhã. – ele põe a mão nos olhos tentando ofuscar os risos.
Minha mãe vive empanturrando meu melhor amigo de guloseimas. Sempre tem uma fatia de bolo de chocolate reservada para ele. É apenas isso que ela faz, ficar o dia inteiro em casa fazendo os deveres de uma mãe. Os bolos que ela faz são incríveis. A cada semana tem uma receita nova. Depois que ela aprendeu mexer no computador, só sabe procurar receitas de comidas na internet, é o passa tempo dela. Não que eu ache ruim ela me chamar de uma partida de RPG só para procurar uma receita na internet, eu acho o máximo toda a semana ter algo novo a mesa. Comer a mesma coisa todos os dias enjoa. Semana passada ela fez uma torta de morango deliciosa, comi tanto que eu tive certos problemas com o banheiro.
- Esse bolo de cenoura está uma delícia mãe. – eu mal consigo dizer com a boca cheia.
- Ricky olha os modos – ela faz cara feia – Mas, que bom que gostou. Eu fiz especialmente para você e o seu pai. Sei que os dois adoram bolo de cenoura. – ela diz orgulhosa.
- Nisso nós temos de concordar – meu pai está com o dedo erguido – Não é mesmo Junior?
- Sim Richard... – então nós rimos juntos.
Junior, meu pai quase não me chama assim. Apenas quando está feliz. Richard Foster Junior é o meu nome. Sou muitas vezes chamado de Ricky pelos mais chegados. Dizem que é mais prático. Minha mãe prefere me chamar de Ricky também, pôs ela diz que Richard Filho é meio estranho. Nisso eu tenho de concordar!
- Bom dia... - Leroy vem entrando pela porta.
Camisa preta, causa preta, e um tênis vermelho. Leroy sabe bem o que é estilo. Talvez tenha aprendido com os caras da rua dele. Às vezes eu saio com ele depois da aula e vou até a sua casa, os caras do bairro dele são feras na dança de rua. Leroy aprendeu quase todos os paços que ele sabe com Jeff, o homem elástico. Como ele ganhou esse apelido? Simples... o cara parece que não tem ossos! Os movimentos dele são incríveis. Eu aprendi alguns com Leroy e ele. Mas nem eu, e nem Leroy superamos Jeff. Eu e Leroy nos sentimos meio deslocados em meio aos garotos do bairro dele, dois branquelos em meio a um monte de negros. Alguns não curtem nós dois, tem preconceito por sermos brancos. Mas Jeff e seus amigos sempre nos tratam bem. Já até fomos para uma competição de dança de rua com Jeff. Aquele dia foi irado!
- Um... cheiro de chocolate quente. – Leroy empina o nariz – Com creme... – ele fecha os olhos e dá um suspiro seguido de um sorriso relaxante – Sra. Foster sabe mesmo o que é um chocolate quente de verdade.
- Bom dia Leroy. Eu fiz do jeitinho que você gosta. – Diz minha mãe.
Não muito doce, um pouco de creme por cima... talvez uma gota de limão. Esse é a receita do chocolate quente preferido de Leroy. Minha mãe sempre prepara para ele. Às vezes eu provo um pouco, mas não sou muito fã de chocolate como Leroy.
- Um... está delicioso! – Leroy fecha os olhos satisfeito com o gosto.
Minha irmã dá um sorriso debochado enquanto olha para Leroy. E eu já sei o porquê. Ele tá com um bigode de chocolate.
- Leroy... – eu levanto e pego um guardanapo.
- Oque? – ele diz.
Eu estico meu braço, e então passo o guardanapo de pano levemente sobre o bigode de chocolate dele.
- Pronto! – eu digo e então começo a rir.
- Que lindo... agora só faltou o beijinho! – Emily diz em piscadela.
- Ciúmes? – Leroy diz com um sorriso sacana no rosto.
- Mas o que? – Emily diz espantada.
Eu diria o mesmo se ela não fosse uns três anos mais velha que ele. E além do mais, ela tem namorado.
- Relaxa... eu não sentiria nada por você mesmo! – Leroy dá de ombros.
Meu pai e minha mãe então começam a rir. Não sei o que é pior que Leroy e Emily brigando. Talvez eu saiba... nós três juntos!
Leroy já tomou seu chocolate quente. Eu já comi meu bolo de cenoura... agora nós teremos de ir à escola. Mas antes...
Eu estico meu braço sobre a mesa e roubo alguns pãezinhos recheados com queixo e creme, sem minha mãe ver. Ela foi a cozinha com meu pai, e Emily já saiu. Leroy está lá fora com a mochila na costa me esperando.
Dois é o suficiente para mim e Leroy, ele não come muito no café da manhã. Assim como eu.
Eu pego minha jaqueta bege em cima do sofá, e também minha mochila.
- MÃE, PAI... NÓS JÁ VAMOS! – eu grito um pouco alto para eles me ouvirem da cozinha.
Eu então escuto o barulho de minha mãe lá da cozinha. “TUDO BEM. ATÉ LOGO!” ela diz.
Eu fecho a porta e olho para Leroy em pé.
- Vamos... – ele diz com um sorriso.
Nós vamos andando mesmo. Meu pai vai um pouco tarde para o trabalho hoje, então eu não quis lhe dar o trabalho de nos deixar na escola. O ônibus escolar não passa aqui em frente à minha casa. Ele só passa nos locais onde moram os menos afortunados. O bairro onde eu moro é de classe alta, então ele não passa no local pelo fato de os pais levarem os filhos a escola de carro. Leroy antes pegava o ônibus escolar para ir à escola, mas de tanto ele dormir na minha casa, o motorista o Sr. Harry – Um homem barrigudo que fede a bacon. Aquele bigode dele é assustador – parou de passar em frente à casa dele, pois só era viajem perdida. Quando ele não dorme na minha casa, ele tem de pegar o ônibus normal.
Escola Particular Williams High School, ou só Willi’s mesmo. Aqui está ela. Minha linda e adorável escola. Com sua fachada toda em vidro. O campo com o chafariz em frente a ela é o lugar preferido para os populares. Meu local preferido é o Jardim atrás dela, é imenso, com alguns bancos de madeira envernizada para nós aproveitarmos o ar livre. Ao lado do prédio principal está o ginásio, onde se pratica o queimado e basquete, e mais algumas coisas. Ainda tem a piscina de natação lá atrás, junto com a imensa quadra para o futebol dos meninos. Eu posso dizer que minha escola é perfeita. Tem tudo que nós precisamos.
Eu entro pela porta da frente e logo vejo o corredor cheio de alunos conversando freneticamente. Na biblioteca estão os nerds, estudando como sempre. A sala do diretor John fica logo ao lado da sala dos professores.
Eu e Leroy passamos ligeiros a frente a sala do diretor John. Ele nem nos percebe pois está ocupado olhado para a tela do seu computador. O diretor John tem uma certa raiva de Leroy, pois no nono ano, Leroy consegui tirar ele do sério. O maluco conseguiu provocar uma guerra de comida no refeitório. A culpa nem foi de Leroy praticamente, foi tudo culpa dos Falcon’s...
Eu e Leroy caminhamos até a sala do clube de dança. Geralmente eles fazem suas reuniões no ginásio. Mas hoje eles estão aqui na sala deles mesmo. Podemos ver alguns dos novatos no clube dançando, seus movimentos são bons, mas não chegam a impressionar. E ali está ele, sentado na cadeira vermelha e alta, perto ao quadro de troféus, Jason Scott o melhor de todos aqui. Ele foi quem conseguiu o troféu nas nacionais no ano passado.
Eu e Leroy fazíamos parte do clube de dança, mas saímos. Este é o nosso segundo ano no High School, então nós queríamos experimentar novas coisas esse ano.
Depois de ver a novata asiática dançando. Eu cutuco Leroy.
- Vamos lá pra fora. – eu digo no seu ouvido.
- Hunrum... – ele lança um olhar veloz, enfurecido pois parece que quer ficar mais um pouco. Mas então se vira e começa andar até a porta.
Eu caminho até ele e tento seguir seus passos. Leroy não gosta de perder uma boa apresentação de dança, talvez tenha se enfurecido com isso.
- Espera Leroy.
Ele se vira com a cara fechada.
- Desculpa... é que estava chato lá dentro. – eu digo calmo.
- Relaxa, não fiquei com raiva. Eu só estou apressado para ir no banheiro! – ele diz baixinho.
Eu dou uma risada e ele sai andando até o banheiro masculino.
Caminho até a biblioteca. Eu entro e começo a procurar Bob Wood. As imensas prateleiras com livros organizados por cores são meio engraçadas. Eu estudo aqui a anos e é a segunda vez que entro na biblioteca. Mudou bastante desde a última vez. Agora tem algumas mesas com luminárias para os leitores. Atrás do balcão alto está Peter Hughes, com seus óculos redondos. Suas feições de rato são meio engraçadas, ele possui algumas sardas no rosto. O cabelo negro bem curtinho. Peter foi aluno a algum tempo atrás, agora é o bibliotecário da escola.
Eu caminho até o balcão. Peter nem me nota, pois está lendo um livro calmamente em pé perto ao computador.
- Licença, Peter... – eu bato as unhas no balcão assustando-o com o barulho.
Ele dá um pulo espantado para trás de leve. Então ajeita os óculos com o indicador para me ver melhor. Pobre Peter... ele tem miopia.
- A... Ricky, pensei que não gostasse de ler!? – Eu quase que esqueci da voz de Peter. Como eu pude esquecer? Ele fala calmo, como se não tivesse vontade para falar. Soa quase como “Ri...cky”.
- Que isso... eu não vim aqui para ler. Eu vim atrás do Bob Wood. Você viu ele? – eu digo.
- No terceiro corredor a direita – Peter diz. Ele abaixa a cabeça e então volta a ler novamente.
Eu viro de lado, e olho os cinco corredores separados por estantes de livros. Terceiro a direita, onde os livros estão separados em cores azul e preto.
- Peter... – eu me viro ao balcão novamente.
- Oque? – ele volta o olhar a mim.
- Foi bom te ver de novo cara! – eu lhe mando um sorriso cortês.
Peter retribui com um sorriso. E então estende o braço, e eu aperto sua mão.
O que Peter Hughes tem de esquisito ele tem de legal. Nós fomos amigos ano passado. Peter tem dezenove anos atualmente. Mesmo mais velho que eu, eu sempre dava atenção para ele. Me doía ver Peter sentando sozinho ao fundo do refeitório. Foi quando eu fiz amizade com ele. Ele terminou os estudos ano passado. Diretor John conseguiu um cargo de bibliotecário para Peter, pois ele conhece todos os livros dessas estantes. Ele passava a maioria do tempo lendo os livros da biblioteca. Além do mais, depois que a antiga bibliotecária se aposentou, a escola ficou precisando de um substituto. E aqui está Peter!
Eu caminho pelo corredor de livros. Aos fundos eu vejo algumas mesas com alguns alunos lendo. Eu logo chego ao final. Bob está ao canto lendo um livro silenciosamente.
- Bob, eu estava atrás de você! – eu então sento na cadeira gelada ao seu lado. – O que está lendo?
- Ulfric o Grande. – ele me mostra a capa do livro. Um homem montado em um cavalo branco com o título escrito em alto relevo.
- Interessante... o que conta o livro? – eu pergunto.
- É sobre um rei, que ver seu reino sendo destruído.
- Mas o que acontece com o reino? – eu estou faminto por uma boa história.
- Bem... ainda estou tentando descobrir. Ulfric se apaixona por uma linda donzela, ainda estou nessa parte. – Bob diz.
- Pois quando você terminar, eu quero que me conte tudo! – eu digo.
Sempre me interesso por histórias envolventes. Algo medieval sempre me chamou atenção. Estou ansioso para saber o que aconteceu com o reino de Ulfric, será que ele morre? E a pobre donzela?
Eu consigo ler algumas partes junto com Bob.
“Tão bravo e forte era Ulfric. Se apaixonou por a linda donzela. Pensou ele que está talvez seria a futura rainha de seu reino. Um rei sozinho era Ulfric, em meio a uma guerra contra os rebeldes”
- O que vocês fazem aqui? – Leroy tira nossa atenção do livro.
Leroy... ele sempre vai estragar as melhores partes.
- Lendo... – eu digo sem intender – O que mais se faria em uma biblioteca?
- Bem... – Leroy põe a mão nos bolsos de sua calça, e se embalada com os pés – Não sei... comer escondido!?
- Isso soou como um deboche! – Bob Wood retruca.
- Também achei! – eu digo.
Leroy parece estar em busca de uma resposta. Eu posso ver em seus olhos que ele está nervoso.
- Não... que isso Bob!? Eu não disse por mau! – Leroy diz envergonhado, e então passa a mão em seu pescoço.
- Pois bem... – Bob Wood se levanta – É isso que eu faço as vezes mesmo!
Bob enfia a mão no bolço e começa a puxar algo. Parece um sanduiche. É um sanduiche! Está enrolado em um plástico para proteger da sujeira do bolço de Bob.
Ele então desembrulha a ponta, abre aquela enorme boca e dá uma mordida na ponta.
É assim que nós estamos, eu e Leroy, olhando assustados para a enorme cratera que a boca de Bob Wood deixou no sanduiche.
- Licença – Peter Hughes então chama nossa atenção – Desculpa Bob, mas eu vou ter de pedir para você se retirar. É proibido comer na biblioteca! – Ele parece não gostar muito do que fez. Mas eu entendo. Regras são regras!
- A... desculpa Peter – Bob diz envergonhado.
- Tudo bem... – Peter então nos guia até a saída.
Eu chamo Leroy para a primeira aula. Será espanhol, a sala do professor Dan fica no segundo andar.
A escola é enorme, é tão fácil de se perder aqui dentro. Três andares, o primeiro possui o refeitório, a biblioteca, a sala do diretor e o pátio para os fundos. Há salas de professores espalhadas por todo o prédio, mas também tem o laboratório de química, a sala de informática, e também a de mídia onde as vezes nós assistimos alguns filmes. Parece um cinema lá dentro.
A melhor escola de Nova York, é particular mas vale apena gastar meu dinheiro aqui. Leroy consegue pagar com o dinheiro que ele ganha na oficina do pai dele – mentira, as vezes eu é quem dou dinheiro pra ele – Eu posso dizer que sou sortudo em estudar em um lugar como esse.
Aqui estamos na aula de espanhol. É uma das melhores aulas da escola. Professor Dan é hilário, ele as vezes gosta de dançar tango ou sei lá o que é aquilo. Mas tenho de dizer que não é nada bonito, só causa crises de risos a todos aqueles que veem.
- Eu quero que vocês repitam comigo. Buenos dias – ele diz riscando o quadro verde com o giz branco.
- Buenos dias... – todos na sala dizem juntos.
Tenho de dizer... essa aula está um tédio. Estou quase babando sobre a mesa de tanto sono que ela está me dando.
- Ai loirinho... – eu ouço alguém me chamar na mesa ao lado.
Eu olho para o lado, Kyle Henderson está me chamando. Ele parece querer algo. Nós quase não nos falamos, Kyle é meio metido. Ele fala comigo as vezes quando quer uma cola, mas quase não faz mais isso depois que conheceu Alice, uma garota nerd que senta ao lado dele. Kyle é lá o que chamamos de queridinho aos olhos de todos do Willi’s. Alto, forte, cabelos ruivos e olhos azuis bem clarinhos. Se tivesse um concorrente para o mais bonito da sala, Kyle Henderson estaria lá presente, ele se orgulha de sua aparência. Está sempre ajeitando o cabelo caído sobre o rosto.
- O que foi? – eu cochicho.
- E ai? – ele diz.
- E ai o que?
- E ai, e ai, e ai!? – ele diz confuso.
Talvez só esteja querendo falar comigo.
- E ai. – eu dou de ombros.
Eu sinto alguém bater em mim de leve com o cotovelo do outro lado. Leroy está olhando para frente de cara fechada.
- Será que dá para parar de falar? Eu estou tentando prestar atenção na aula. – ele diz baixinho.
Leroy Hart prestando atenção na aula? Há... há... conta outra! Talvez só esteja com ciúmes por eu estar falando com outra pessoa. Leroy não gosta que eu faça muitos amigos, ele não quer que eu deixe ele de lado. Ele é meio cabreiro e eu sei por quer... Falcon’s, o time de futebol da escola está de olho em mim para entrar no time. Talvez pense que eu esqueça dele depois de entrar no time.
- Tudo bem senhor estudante! – eu digo e me escoro na cadeira. Peito erguido, queixo para frente. Agora é hora de estudar!
Não se passaram nem três minutos, e eu já estou entediado de novo.
Veremos o que eu tenho para fazer. Talvez eu deva ficar cutucando Leroy que está olhando atentamente o professor. Ou então eu volte a falar com Kyle, mas Leroy não vai gostar. Então eu vou falar como o... u é? Cadê o Bob Wood?
- Você viu o Bob? – eu cochicho para Leroy.
Ele franzi a testa e me olha incomodado.
- Não sei, talvez esteja comendo o seu sanduiche por ai. Ou sei lá, lendo um livro na biblioteca. Agora se me der licença eu voltarei a prestar atenção na aula. – ele vira o rosto.
- Chato! – eu digo
***
Até que enfim a aula acabou, agora nós teremos educação física. Minha querida educação física.
Eu caminho para o vestiário masculino sozinho, não sei onde Leroy está. Deve estar por ai enchendo alguém.
Eu entro no vestiário, vou até o meu armário. Duas voltas para a direita, uma para a esquerda e pronto, destrancado! Eu até gosto desses armários, vermelhos e bem reforçados, as vezes eu perco meu doritus dentro deles. No meu armário do vestiário só tem minha roupa de educação física, no do corredor tem meus cadernos, e é claro, meus pacotes de doritus perdidos. O do Leroy é cheio de adesivos de guitarra, dançarinos de hip-hop e uma foto de nós dois juntos quando pequenos. Eu me lembro de ser bonito quando pequeno, mas na foto do armário de Leroy eu estou caneludo e feinho...
Eu visto meu uniforme. Não tem ninguém no vestiário, acho que os caras da minha sala perderam o horário.
Não... ai estão eles. Berrantes como sempre, rindo feito um bando de cavalos. Eu posso ver Ryan jogando a bola de futebol para cima e logo aparando. Todos estão aqui, menos Leroy e Kyle, tampouco Bob Wood.
Eu saio do vestiário e caminho para o pátio dos fundos. Aqui estão os fundos da escola. A minha frente está a extensa calçada com o jardim. O caminho que a calçada dá termina com o campo de futebol que é rodeado pelas arquibancadas. A direita está a enorme piscina da escola. Eu posso ver a equipe de natação treinando para o torneio desse ano. Ano passado eles não saíram tão vitoriosos, terceiro lugar foi o que eles conquistaram.
Hoje nós iremos jogar futebol, não futebol americano, mas o normal.
Eu caminho até o campo, eu me sento na grama verdinha próximo ao nosso professor de educação física, o Sr. Russel. Um homem alto de cabelos curtos, ele é forte por conta dos treinos e da malhação. Sr. Russel possui um cavanhaque que se encaixa perfeitamente no formato quadrado de seu rosto. Ele é o segundo melhor professor da escola, sempre está nos animando e nos ajudando com as coisas. Se tem um professor que nós podemos contar, esse é o Sr. Russel.
- Olá Ricky, como tem passado? – Sr. Russel estende a mão para cumprimentar-me.
- Bem, e o senhor? – eu aperto sua mão. Sr. Russel tem um aperto de mão firme! Eu juro que senti meus ossos espremerem nesse aperto.
- Senhor!? – ele então dá uma risada – Me chame apenas de Charles!
- Tudo bem – eu dou um sorriso – Charles!
- Onde estão os demais alunos? – ele mira a calçada do jardim, em busca de alguma alma viva por ali.
- Eles estão no vestiário. Logo, logo estão berrando por aqui! – eu então viro o rosto e olho as líderes de torcidas, Cat’s, ao fundo do campo treinando.
E lá está ela, a treinadora delas, berrando com um megafone como sempre. Sra. Ross, ou só treinadora Amy, essa sim eu posso chamar de senhora. Não por ser mais velha, e sim pelo fato de ela querer sempre que a tratamos com respeito. A mulher é uma bruxa! As Cat’s devem sofrem nas mãos daquela mulher.
Apesar da treinadora bruxa delas, as Cat’s são perfeitas. Corpos cheios de curvas, o uniforme vermelho e branco delas combina bem com seus traços. A treinadora Amy só convoca as garotas mais bonitas da escola para ser uma Cat’s. O treino pode ser pesado, a treinadora pode ser uma bruxa. Mas elas dão saltos perfeitos no ar. A líder do time é Megan, uma mistura de mexicana com americana. Metida como sempre, Megan gosta de atormentar a vida das outras garotas da escola. Acho que talvez ela devesse ser filha da treinadora Amy, porque ambas as duas são o inferno em pessoa.
- MAIS! EU QUERO MAIS MOVIMENTOS SUAS SEM GLUTEOS! – é quase impossível não ouvir os berros da treinadora de onde eu estou.
- Essa ai é maluca! – Charles diz enquanto ajeita as bolas de futebol no saco.
- Eu quem o diga... – eu digo. Então nós dois rimos juntos.
Sentado eu envolto meus braços em minhas pernas. Então encosto meu queixo em meus joelhos e fico esperando os demais alunos para a aula começar.
Eu posso ouvir os passos atrás de mim. Também os berros das vozes dos garotos. Pouco se escuta as meninas falando o quanto o uniforme deixa elas gordas.
- Já se era hora! – Charles com uma bola no braço caminha até os alunos.
- Foi mal professor... perdemos o horário! – Alex diz. O garoto repetente da sala.
- Bem, vamos começar. Todos aqui... – Charles diz.
Ele põe a bola no chão e apoia o pé sobre ela. Planos de jogo, apenas isso, planos de jogo. Talvez os meninos jogarão contra as meninas, o que é uma injustiça. Então eu acho que será separado. As meninas jogaram alguma outra coisa.
- Tudo certo! – Charles bate na palma da mão e põe o apito prateado dele na boca.
Ele quase apita, mas logo faz uma cara estranha enquanto olha para a calçada no jardim.
Todos nos viramos. Ali está o motivo. Os garotos do time de futebol estão vindo para o campo com o treinador Frank.
- O que eles fazem aqui? Hoje o campo não é nosso? – Leroy diz.
A... ai está Leroy, já estava me perguntando onde ele estava.
Eles param em frente a nós. Todos nós olhamos eles atentamente, confusos não sabendo o porquê de eles estarem aqui.
- Hoje tem o treino do time de futebol! – Treinador Frank diz.
- Mas agora eles terão aula de educação física! – Charles diz ríspido.
- Você pode dar aula para eles no ginásio! – Frank então fecha a cara.
Poucos sabem, mas o treinador Frank e o professor Charles não se dão muito bem. Eles praticamente se odeiam, talvez seja pelo fato de Charles brigar um dia com ele por querer ser o treinador dos Falcon’s. Charles quase perdeu o emprego por conta disso. Mas ele pediu perdão a John, que não pensou duas vezes em retomar a palavra. Charles é um bom professor, John não perderia ele de modo algum. Frank o odeia por conta disso, até hoje ainda tenta demitir Charles.
Charles abaixa a cabeça, eu sei que ele está se segurando para não dar um soco no rosto de Frank. Ele se vira e apita bem baixinho.
- Atenção aqui pessoal.
Nós então nos juntamos e escutamos o que ele tem para dizer.
- Hoje não terá futebol. Eu peço desculpas por isso. Jogaremos queimado ou handebol no ginásio.
Todos começam a resmungar. Mas entendem o que o professor Charles quer passar para nós.
Eu olho para os jogadores do time de futebol rindo de nós. Eu posso ver ele, o capitão do time, Gabriel Hudson. Ele parece rir meio envergonhado. Mas eu não me engano, o cara é um monstro! Ele sempre se reúne com Max e os outros garotos do time para bater nos nerds da escola. Gabriel é o líder deles, não só no time como no grupo. Mais forte, mais rico e também o mais invejado de todos. Alto, por volta dos dezessete anos. Gabriel é louro, tem os olhos azuis. Ele pega a maioria das garotas da escola. Poucas são as Cat’s que não passaram pela sua mão.
Nós então caminhos para fora do campo.
Eu então olho para trás, eles ainda riem mas caminham para o centro do campo. Eu posso jurar que Gabriel estava olhando mim. Pôs quando eu me virei, ele virou a cabeça rapidamente. Isso me deixa com um certo receio, talvez eu tenha entrado para a sua lista. A lista daqueles que ele procurar bater depois da aula!
Aqui estamos no ginásio. Eu me sento nos bancos ao redor do centro. Não é grande, mas também não é pequeno. O ginásio é coberto por um telhado curvo. O piso é de madeira que brilha graças os cuidados do zelador Gary – um velho ossudo, que vive resmungando – Acima da cesta de basquete tem o quadro eletrônico que marca os pontos nos jogos. Eu me sento aqui sozinho. Bob Wood ainda não apareceu. Leroy parece que vai jogar basquete com os garotos. Eu jogaria até, mas não estou com espirito para ficar batendo uma bola no chão e jogando em uma cesta. Só gosto de fazer isso quando minha mãe pede para mim retirar o lixo. Eu abro a balde de lixo e miro bem. Sempre acerto. O velho Mouse – um senhor que mora ao lado da minha casa - sempre assisti aos meus arremessos da janela de sua casa. Um grito seguido de um viva sempre são minha recompensa.
Leroy parece que não é ruim em nada mesmo – só em cantar – Ele joga basquete tão bem que parece se destacar melhor que os outros. Já marcou uns cinco pontos contra os meninos do outro time. Sempre os marca com uma enterrada perfeita. As meninas parecem que se contentaram em apenas ficar torcendo. Eles mechem os braços freneticamente como se fosse um jogo de basquete profissional.
Eu posso ver Kimberly Patterson torcendo feito uma louca. Ela sempre foi assim, dramática! Lembro-me da aula de química, quando Bob Wood errou em um experimento e conseguiu provocar uma nuvem de fedor insuportável. Fedia a carne seca estragada. Kimberly quase desmaio em meio ao laboratório. Quase não... ela desmaiou! Quando acordou ficou se perguntando onde estava, o que tinha acontecido. Eu aposto que ela sabia, e só era mais um teatrinho dela.
- LEROY, LEROY, LEROY! – ela grita em um coro junto as meninas.
Ele parece ter gostado, posso ver o sorriso no rosto. O sorriso que só Leroy Hart consegue fazer. É meio torto, pode ser ver a metade dos seus dentes branquinhos. Leroy consegue qualquer uma com esse sorriso.
Kyle parece meio que irritado por não ter seu nome em meio aos vivas que as garotas mandam. Eu posso o ver de onde estou. Ele penteia a franja para o lado com as mãos. Ele sempre faz isso quando está nervoso. Kyle não deve estar aceitando o fato de Leroy receber mais elogios que ele.
Leroy se move rapidamente com a bola quicando na palma de sua mão. Ele então se prepara, dedos relaxados, um movimento de leve, essa é a técnica dele. Leroy vai dar uma enterrada.
- NÃO! – As garotas gritam em um coro.
Foi proposital. Todos nós vimos, está muito claro.
Leroy no chão olha sem intender para Kyle. Eu vi que Kyle o empurrou na hora em que ele iria marcar o sétimo ponto contra a equipe de Alex.
“Priiiiiiiiiiii” o som ensurdecedor do apito de Charles toma conta do ginásio.
Continua...