Capítulo 1
Parte da série Eu Você e Ele
Aqui está o primeiro capítulo da nova série, uma melhora de Você é Só Meu! Espero que gostem, comentem dando suas opiniões. Aguardo aqui :p
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- Então, acho que você precisa melhorar um pouco.
Só me restou ele Bob o Bobão. Sim, Bob o Bobão é o apelido que damos ao nosso colega de classe, Bob Wood. Ele está sempre tropeçado nas coisas, enrolando a língua para falar... uma vez eu peguei ele falando sozinho. Sua aparência não é muito agradável, gordinho espinhento de cabelos cacheados, Bob Wood esquece que comer não é tudo na vida. Uma vez alertei ele sobre seu apetite peculiar, e como resposta, ele abriu aquela enorme boca dele toda suja de mostarda e enfiou um cachorro-quente inteiro nela. Aquela cena foi... arg., nem gosto de lembrar. Apesar de suas doidices, Bob é um bom amigo, quase sempre está por perto. Sem falar no seu bom gosto para comidas, pizza, eu amo pizza assim como Bob.
Ele está me ajudando com meu trabalho de álgebra. Sim, Bob é máster em álgebra. Enquanto a mim... bem, vamos deixar quieto.
E ai está Leroy, o matador dos reis... ops, Leroy Hart (tenho de parar de jogar jogos medievais) com o jeitão dele de andar, peito erguido sorriso torto, parece meio requebrar, mas não, é o charme que ele tem mesmo. Leroy sempre arranca suspiros por onde ele passa, mas é claro, quem resisti aos seus lindos olhos azuis!?
Ele vem entrando em meu quarto na maior cara de pau. Creio que minha mãe nem o viu entrar. Ela já se acostumou com ele, que nem liga mais para ele entrando sem pedir permissão, ela não reclama. É melhor ele entrando pela porta da frente do que pela janela do meu quarto. Eu odeio quando ele faz isso. Sempre me pega de surpresa quando estou dormindo. Eu ainda me lembro de verificar todos os dias se a trava na janela está bem presa. Mas pelo que Leroy é, creio que não é uma simples trava que irá impedi-lo de me dar um susto durante meu precioso sono. Às vezes eu me pergunto se ele não é um ninja...
- Ricky Foster estudando álgebra? – ele diz de uma forma debochada – Acho que tinha algo a mais no meu café!
- Há, há, há... engraçadinho. Tão engraçado que esqueceu que você tem alergia a café!? – eu digo o lembrando. Sim, Leroy tem alergia a café. É meio idiota, quem é que tem alergia a café? Mas, não estamos falando de qualquer um, e sim de Leroy.
- E ai Leroy, qual é a boa? – Bob Wood levanta-se e dá uma leve ajeitada em seus óculos de fundo de garrafa.
- E ai Bob, e as gatinhas? – Leroy diz. Acho que ele está de deboche, mas pelo que posso julgar em seu olhar saiu naturalmente.
Além de atrapalhado e guloso, Bob Wood tem uma certa... má sorte para garotas! Ano passado ele tentou algo com a Jennifer, a líder de torcida “gostosa” da escola no ano passado. Uma bofetada na cara dele foi o resultado de sua estupides. Eu disse para ele não pegar na bunda dela, mas ele não deu ouvidos. Até hoje Leroy ainda tira alguns segundos junto com os outros caras da sala para tirar sarro da burrice de Bob Wood. Pobre Bob, quase sempre está sozinho. Eu sempre sento-me ao seu lado para ele não se sentir só, enquanto a Leroy o meu chulé senta junto a nós apenas para nos encher.
- Bem... – Bob dá uma engasgada.
- Leroy, será que dá para parar de ser idiota? Talvez pudesse me ajudar aqui nessa tarefa. – eu digo e aponto para meu caderno sobre a mesa do meu quarto.
- Eu não vim para te ajudar a fazer tarefa escolar. Eu vim pelo bolo de chocolate da sua mãe. SENHORA FOSTER! – ele me assusta com seu berro.
Ele cruza os braços e se escora na porta. Talvez esteja esperando uma resposta de minha mãe.
- OQUE FOI LEROY? – o grito abafado de minha mãe quase não se deu para ouvir.
Leroy e suas loucuras. Ele parece amar minha mãe. Parece não... ele ama! As vezes ele a chama de mãe. Eu, assim como minha mãe não dizemos nada. Ela até gosta de Leroy, praticamente o tem como o seu segundo filho homem. Um pingo, talvez o menor que seja de ciúmes brota em mim toda vez que vejo ela dando mais atenção a Leroy do que a mim. Não posso o julgar, sinto pena de Leroy. Sua mãe morreu em um acidente de carro quando ele tinha seis anos. Ele mora atualmente com seu pai Walter. Os dois cuidam de uma oficina junto com seu outro irmão mais velho Lester. Os negócios pararam depois da morte de sua mãe, mas logo eles voltaram firme e forte alegando que não poderiam pôr a culpa nos negócios da família, e que foi apenas um acidente, e todos morrem um dia. Eu admiro a bravura dele, nem sei como seria se eu perdesse minha mãe. Leroy quase entrou em depressão, mas eu estive lá com ele desde o começo e o ajudei, bem, meu pai na verdade. Richard meu pai e o Sr. Walter sempre foram amigos, eu também tinha seis anos quando a Sra. Hart faleceu, eu ainda me recordo do dia.
Nós estávamos no Dock’s, a lanchonete antiga do bairro. Eu estava feliz com meu pai, aquela era a noite dos homens, a noite em que nós saímos e assistíamos ao jogo de futebol americano na TV velha sobre a parede da lanchonete. Estavam todos ali, o Sr. Griffin com seu filho, o Sr. Harrison e seu filho Billy, e mais alguns dois homens do bairro. Alegres por ter faltado o trabalho só para assistir ao jogo das finais dos Nick’s com seus filhos. Eu me lembro de estar comendo uma porção de batata-frita e tomando meu refrigerante que era quase uma raridade - minha mãe só me deixava tomar sucos naturais - O jogo estava em empate, só faltava uma bola a ser pega para os Nick’s ganharem. Foi quando o celular do meu pai tocou, ele atendeu, quase nunca ignora uma chamada. Eu pude ver em sua expressão facial que não era boa coisa. Ele pegou sua jaqueta e pôs seu boné. “Vem Ricky precisamos ir” ele disse me puxando da cadeira às pressas. Eu estava assustado, o que seria dessa vez?
Ele me pôs no carro e olhou bem se o cinto de segurança estava bem preso, então entrou velozmente no carro e girou a chave. Eu o olhava, sua expressão assustada, sua barba por fazer, ele desviou o olhar a mim por um milésimo de segundo enquanto dava a ré e saia do estacionamento. O caminho foi às cegas para mim, não sabia onde estávamos indo. A rua que dava a minha casa já se desmanchava em meio ao escuro da noite atrás de nós. Foi então que ele parou em frente a uma casa. As persianas estavam fechadas, mas eu pude ver a luz da sala acesa. Meu pai desceu do carro, abriu a porta ao meu lado e tirou o cinto de segurança. “Vem rapazinho, desce” ele ordenou e então eu desci do carro. Segurei sua mão assustado e ele me guiou até a porta da casa. Ele tocou a campainha, não demorou muito até que se pode ouvir passos vindo até a porta.
Um homem alto e forte estava a porta, seus olhos marejados chamaram minha atenção. Tudo o que eu vi foi meu pai abraçando bem forte aquele homem que parecia chorar ao ombro de meu pai. “Vai ficar tudo bem Walter, não chorar amigão” meu pai parecia consolar o homem.
Nós entramos e meu pai se sentou ao sofá junto ao homem. “Ela morreu Richard. Ela morreu e eu não pude fazer nada” ele dizia ao meu pai chorando. Meu pai segurava o ombro de seu amigo firmemente. Sr. Walter parecia chorar intensamente, mas ainda assim mantinha a postura de um pai. Seus filhos estavam sentados na escada, ele não queria que eles o vissem chorando. Eu estava encostado no braço do sofá, assustado, eu não sabia onde estava, e nem porque aquele homem estava chorando. Quem morreu? Ela quem? Perguntas essas se passavam por minha cabeça naquele momento. O rapaz mais velho se levantou da escada e caminhou até a nós.
“Não chora pai” o garoto disse ao se sentar ao lado de seu pai ao sofá.
Eu olhei para o outro garoto sentado na escada. Por um segundo passou-se pela minha cabeça de que ele precisava de minha ajuda. Tudo o que eu fiz foi caminhar até ele. Me sentei ao seu lado e olhei para ele curioso.
“Eu me chamo Ricky” eu disse estendendo a mão com um sorriso. “Eu me chamo Leroy” ele respondeu com um sorriso meio falho. Ele apertou minha mão e em seguida enxugou as lágrimas de seu rosto. O azul de seus olhos quase se perdia na vermelhidão causada pelo seu choro.
“Por que vocês estão chorando?” eu pergunto curioso como qualquer outra criança. “Minha mãe morreu!” ele responde.
Eu pude sentir algo descer pela minha garganta naquele momento. Me senti quase um lixo por seu estúpido o bastante de ter perguntado. Ele me olhava com os olhos lacrimejados, eu senti pena dele. Minha reação na hora foi dar um abraço nele.
“Não chora” eu disse enquanto o abraçava.
Palavras curtas, mas eu sei que lhe serviram de grande valor.
Aquela noite foi certamente a pior de todas para Leroy, ainda hoje ele acorda gritando pela morte de sua mãe. É quase que impossível dormir com ele, sempre me acorda com seus gritos, mas eu o compreendo. Eu ainda tiro um tempo para esperar ele dormir toda vez que ele passa a noite aqui em casa. Espio sua cabeça próxima aos meus pés cobertos pelas meias, eu estico meu dedão do pé e cutuco a orelha dele para ver se ele estar dormindo. Só assim eu me certifico de que ele está. Se não... ele me dá um chute com o pé que as vezes acerta meu ouvido fazendo-o zumbir. Talvez ele não saiba o motivo de eu o cutucar toda vez, nem quero que ele saiba. Prefiro não lembrar-lhe da morte de sua mãe, então eu aceito pacificamente os chutes que ele me dá quando eu erro a cronometragem de seu sono.
E hoje dez anos depois do falecimento de sua mãe, Leroy está aqui. No meu quarto me enchendo a paciência. Mas o que eu faria sem esse chiclete?
Ele sai pela porta, com certeza foi atrás de uma fatia de bolo de chocolate. Leroy ama chocolate, pode-se perceber pelo seu bafo que cheira a brigadeiro. Sempre encontro uma barra de chocolate dentro de sua mochila, eu pego sem me preocupar em ele me brigar, ele não se importa, somos quase que irmãos. Além do mais, eu não me importo quando ele rouba meu lanche no intervalo da escola.
- Acho que deveríamos voltar a fazer o último exercício. – eu digo e me viro para ver Bob que está sentado sobre a cadeira ao meu lado.
- Não precisa se preocupar, eu acabei de responder ele. – Bob diz se levantando – Agora, eu vou pra casa. Soube que minha mãe fez lasanha, eu não posso perder essa... – ele pega sua mochila apressado e sai pela porta.
- Bob, nunca perde um bom prato de comida. – eu murmuro baixinho enquanto reviro os olhos.
E não é que ele respondeu tudo mesmo!? Tudo feito, o que me resta agora é relaxar. Ou melhor... jogar um bom jogo no computador.
Eu tiro o computador do descanso e início logo uma partida no meu jogo preferido, Bladesfire, um joguinho medieval que gira em tordo de um personagem e... affz, coisa de gueek.
- A não... – eu escuto alguém resmungar atrás de mim com o tom de voz abafado. – De novo esse jogo Ricky? Pensei que eu havia excluído ele.
Leroy só sabe reclamar. E no que se refere a tudo o que eu faça, ele sempre vai reclamar. Ele odeia Bladesfire, sempre gostou mais de FPS, as vezes até joga uns jogos de corrida, mas RPG pra ele é fora de cogitação.
- Leroy para de reclamar. – eu digo sem tirar o olhar da tela do PC.
- Não...
É isso, só falta esse chefe e eu avanço um nível. Só mais um golpe e... mas o que?
- Agora eu quero ver você jogar.
- LEROY SEU GRANDE CABEÇA DE VENTO, EU VOU TE MATAR!
Eu avanço furioso em cima de Leroy que rir loucamente. Esse grande cabeça de vento desligou o PC, logo quando eu iria matar aquele boss, só faltava aquele e eu subia para o nível cinquenta. Eu vou matar ele, só pressionar esse travesseiro sobre o rosto dele, até que eu não sinta mais sua mão suja de chocolate sujar minha camisa branca.
Tá, eu ainda sinto pena do Leroy. Então darei essa chance a ele.
- Se desligar meu jogo de novo eu te mato com esse travesseiro! – eu digo irritado pegando o travesseiro sobre a cama onde eu joguei Leroy com raiva.
- Tá eu prometo. Apesar de eu não saber como você me mataria com um travesseiro. – diz ele ainda em risos.
Eu tiro minha camisa suja e jogo sobre a cama.
- Fiu, fiu... – Leroy imita um assovio – Assim você me mata de vez! – ele diz debochadamente olhando meu corpo.
- Sai fora Leroy. Além do mais, valeu por ter sujado minha camisa novinha.
Eu abro a cômoda ao lado da cama e puxo uma camisa limpa. Aqui, talvez preto seja imune a Leroy. O que eu estou dizendo? Essa peste não tem inseticida que der jeito.
- Agora melhorou. Quase fico sego com o brilho do seu corpo. – diz Leroy.
- A é? E por acaso eu brilho?
- Não... mas branco desse jeito parece refletir o sol! – ele diz rindo.
- Você também é branco Leroy! – eu digo sério.
Ele fecha a cara e olha para cima com cara de quem está raciocinando algo.
- A é... esqueci!
Leroy, acho que o apelido de bobão deveria ser dado a ele e não a Bob. Apesar de esperto, Leroy as vezes consegue fugir da razão. O que faz dele único! Sempre gostei desse jeito dele de ser, uma hora ele está sério, outra está rindo, outra está tão burro quanto uma mula! Talvez esse seja o motivo de eu ter escolhido ele para ser meu melhor amigo. Leroy, é divertido, sempre me faz rir. Mas também sempre está presente nas horas mais difíceis. Ainda me lembro de quando eu caí de bicicleta, ralei o joelho, ele me ajudou a me levantar. Quase me carregou até em casa, mas eu neguei e disse que estava tudo bem. Ainda desconfio que a sugestão de me carregar foi só para se exibir. Sorte a dele de ser mais forte que eu. Não que eu seja fraco, mas Leroy é o dobro de mim. Eu sempre digo que aonde eu posso encontrar uma moeda, Leroy sempre vai achar algumas a mais. Ou seja, no que eu sou bom, Leroy é sempre um pouco mais!
- Anda Leroy afasta, eu quero dormir um pouco. Você pode dormir se quiser também, eu estou exausto! – eu me deito sobre a cama e pego um travesseiro.
Eu cheguei da aula direto para o quarto para fazer meu exercício com Bob, ele me ajudou bastante, estou devendo uma a ele. Enquanto a Leroy... mas que droga Leroy gosta de invadir minha cabeça com seu nome.
Eu me viro e finjo me preparar para meu sono. Eu sinto algo cutucar minha orelha, o pé de Leroy gelado.
- Oque foi Leroy? – eu murmuro baixinho.
- Deixa eu dormir do teu lado? – ele diz.
- Você está do meu lado Leroy! – eu digo tirando o pé dele da minha orelha.
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Tá Leroy, eu deixo! Se você prometer não ficar falando demais... – eu digo me afastando um pouco.
Ele se levanta, e então deita sua cabeça ao lado da minha. Eu fecho os olhos e me viro. Posso sentir o braço de Leroy envolvendo minha barriga.
- O que é isso Leroy?
- Nada, é que eu não vou consegui dormir. Eu ando... eu ando pensando nela... você sabe! – ele diz triste.
Sua mãe, Leroy voltou a pensar em sua mãe. Eu prometi cuidar dele toda vez que ele se sentisse assim. Então eu vou deixar ele dormir assim comigo, só dessa vez.
- Tudo bem Leroy, você não precisa explicar. Agora dorme! – eu digo fechando os olhos novamente.
Aos poucos eu adormeço com Leroy.
Continua...