Capítulo 1 - Parceiros de Parquinho
Parte da série Best Friends Forever ?
Aqui estou eu... Primeiramente quero ressaltar que estou escrevendo Eu Você e Ele ( para aqueles que tenho certeza que perguntarão ) então não se preocupe. E muito obrigado pelos comentários de vocês, principalmente o Mic, que me deu um ótimo incentivo. Mas não também a todos vocês que estão lendo isso agora.
Está obra nasceu do nada na minha cabeça, aqui eu deixo minha seriedade e vou rumo a louca. Mas é claro... sempre mantendo a formalidade que é necessária no contexto. E devo lembrar-lhes de que possui muitos erros na escrita e até de lógica, pois não pude revisar, estou postando isso aqui o mais rápido que posso para vocês. Me desculpem mesmo pelos erros... afinal, até mesmo as obras dos meus grandes favoritos John Green e J. K. Rowling tiveram de ser revisadas por erros. Então novamente me perdoem.
E eu entrei em contato com alguns leitores, o Flavio e o Biel Rocky, "tamo junto manos, vocês são bem irados"... E Garoto Comum, eu te adicionei no facebook e te mandei mensagem, mas você não respondeu, bem... mesmo assim eu peço desculpas.
Mas chega de lenga lenga e vamos "sinbora" com o texto...!
***
Capítulo 1 – Parceiros de Parquinho
Eu acordo com o barulho de algo inumanamente ensurdecedor vindo do corredor do
andar de cima. E é claro, pela cauda acinzentada erguida para cima – como forma de
protesto por esquecerem de pôr a ração na vasilha – Bichano abre a porta do quarto que
eu sempre esqueço de trancar com um empurrado de mãos; Corrigindo: De patas. Patas
gordas e felpudas, e pelo que posso assentir: silenciosas e traiçoeiras. É sério... esse gato
é o “cão”, se os gatos não caíssem de pé eu juro que já teria joga-o janela a baixo a muito
tempo.
Estico o braço esquerdo pelas cobertas da minha cama, pegando o urso velho que eu
durmo sempre com ele, – Ok, não sou infantil – e miro bem no gato que já se estar sobre
os meus pés.
Um miado berrante e ensurdecedor sai pela boca do gato. O urso rodopiou no ar, e por
fim caiu no canto do quarto. Já o gato saiu em disparada pela porta, levando consigo
algumas meias e cuecas minhas que estavam em seu caminho.
- EU JÁ DISSE PRA NÃO BATER NELE! – E ai está a voz berrante da minha irmã.
- DA PRÓXIMA VEZ LEMBRE-SE DE POR A RAÇÃO DELE! – eu berro em resposta.
Outro barulho se estende pelo corredor, talvez até mesmo parecido com um carro
alegórico em um desfile de Carnaval em Fevereiro no Brasil, ou simplesmente um copo
de metal caído no chão perto ao pé de alguém.
- DÁ PRA PARAR DE GRITAR...? TEM GENTE QUERENDO DORMIR AQUI!? – a voz
do meu irmão caçula, Aidan, se junta a gritaria.
- VOCÊ TAMBÉM ESTÁ GRITANDO! – minha irmã retruca.
- MAS É....
Meu irmão tenta terminar a seu berro... mas uma voz mais severa e amedrontadora se
estende:
- E É MELHOR PARAREM DE GRITAR. NINGUÉM VAI DORMIR AQUI... ACORDA
TODO MUNDO...! – minha irmã mais velha sessa a gritaria.
Bem, e este sou eu, Ian Patrick vivendo em uma típica família louca norte americana. E
essa é mais ou menos – mais pra mais do que pra menos – a nossa rotina matinal. Acordar
em meio a gritos – ou gatos chatos enlouquecidos pela fome - escovar os dentes, talvez
até mesmo se esquecer de tomar um banho, tomar o café da manhã... escutar o que eu
costumo dizer: “O Sermões dos Sermões”, que o que mais ou menos se resume a:
“Escovou os dentes? Tomou banho? Vá pra escola! Não temos leite, vão comer cereal
puro!” É sempre a mesma coisa...
E eu me levanto, esfregando a mão no meu rosto pálido, eu xaqualho o rosto tentando
amenizar a preguiça, mas a tentativa se resume em uma preguiça a inda maior, cujo
minhas pálpebras parecem ainda mais pesadas por estarem sucumbidas por um sono
profundo. Deslizo para dentro do banheiro, tomo um banho rápido, faço “mil e uma
poses” a lá Galã de Seriado em frente ao espelho que fica em cima da pia do banheiro do
meu quarto enquanto escovo os dentes. Justo quando eu faço a pose a lá Galã de Filme
Romântico, meu irmão mais velho que eu, Leo, entra no meu banheiro apressado. Eu me
espanto envergonhado, o que consiste em: Minha toalha caindo, e pasta de dente
misturada a minha saliva escorrer pelo meu queixo!
Leo dá um tapa no meu traseiro, causando uma leve ardência, e eu retruco meio
incomodado:
- O que faz no meu banheiro? – eu digo um pouco alto.
- A minha privada entupiu! – ele responde apressadamente, enquanto tira o “Leozinho”
– apelido fútil que ele mesmo quem pôs em seu pênis – para fora da cueca, e um som de
cascatas ecoa pelo vaso sanitário.
- Leonard eu já disse pra você usar o desentupidor!
- Aidan pegou para brincar de duelo de espada com os moleques da rua! – ele diz
prestando atenção em seu xixi caindo “Leozinho” a baixo.
- Eca...! – eu grunhi – Mas isso não te dar o direito de invadir meu quarto, meu banheiro
e mijar na minha privada!
- Relaxa...
Ele balança o “Leozinho”.
- Já terminei! – ele dá uma tapinha nas minhas costas enquanto eu me distraio me
enrolando novamente na tolha e limpando o queixo.
Ele sai pela porta, e pelo que posso julgar o barulho alto, ele fecha a porta do meu quarto
como se fosse uma geladeira velha.
- Ótimo! Agora vou ter de tomar outro banho! – eu sussurro.
Eu termino o banho, e saio do quarto de calça jeans preta e uma camisa verde escura.
Enquanto eu caminho pelo corredor vejo minha mais nova irmã, Carie, pondo a ração
na vasilha do gato. E quando meu olhar encontra o dela, este está submetido a repúdio
por eu ter atirado um simples urso de pelúcia no gato. Talvez ela não saiba que gatos
não morrem por tiros de urso de pelúcia, são até mesmo imunes a pedaços de pau. Dona
Chica que o diga...!
Minha família quase toda está reunida na cozinha, faltando apenas Carie. Lillie minha
irmã mais velha cuida da torradeira atenciosamente enquanto luta severamente para
completar um jogo de Palavras Cruzadas. Ela pega caneta e tira a tampa com os dentes,
vejo que encontrou a primeira palavra...! Meu irmão Aidan, aproveita a falta de atenção
de Lili e arranca a cabeça de seus bonecos, e altera entre eles. Nunca vi o Batman com a
cabeça do Wolverine! Leo come sem passividade alguma, seu cereal, de forma que ele
não decide se come ou meche em seu celular.
Eu me aproximo e pego os bonecos da mão de Aidan, e o forço com o olhar a comer seu
cereal. Eu dou um “peteleco” na orelha de Leo causando nele um pequeno pânico, ele
tira o olhar do que mais pareciam peitos na tela de seu celular, e volta a comer o seu.
Então corro para o lado de Lillie e retiro as torradas da torradeira que de tanta falta de
atenção, estão na maior parte queimadas. Lillie nem mesmo me ver passar, ignora por
completo o cheiro de pão queimado pairando pela cozinha e continua a desvendar
palavras na revistinha.
Me sento ao lado de Leo, lendo as mensagens dos grupos em seu Whats App. E em uma
fileira inteira de mensagens, apenas vi: Peitos, Peitos, Peitos, Peitos... Eu dou um sorriso
sacana enquanto ele me mostra as mensagens. Aidan esgueira-se entre o espaço dos
braços de Leo esticando a cabeça para ver a tela do celular. Eu estico minha mão para
tentar afastar a cabeça dele, mas Leo segura meu braço:
- Deixe que ele veja, assim não vira bixa! – ele sussurra perto ao meu ouvido.
Enquanto meu irmão, de apenas oito anos olha, nós notamos uma pequena elevação na
parte superior acima do zíper de sua calça jeans. E Leo e eu soltamos um riso abafado,
de forma que Lillie nem mesmo nota.
Carie vem descendo as escadas, ela escova com as mãos seus cabelos cor avelã enquanto
carrega nos ombros sua mochila cor de rosa com várias flores e borboletas estampadas.
Seu olhar encontra a pequena elevação na calça jeans de Aidan, e então ela levanta o
dedo apontando para a “coisa” e sua boca se abre assustada.
- Lillie, o Aidan está de pau duro! – ela grita baixo o que dou graças por os vizinhos não
escutarem nossas atrocidades.
- LEO.... IAN! – Lillie grita tirando em fim a atenção das revistinhas de Palavras
Cruzadas.
- E você sabe o que é pau duro? – eu especulo curioso para Carie.
- IAN! – Lillie grita impassível.
Leo e eu nos levantamos às pressas, pegando nossas mochilas no canto da porta, nem
mesmo me lembro de pegar uma torrada, cujo a chances de levar uma revista de Palavras
Cruzadas no rosto é eminente. No quintal em frente de casa, Leo pega a bicicleta, e sobe
em cima dela equilibrando o guidom. Eu subo nos apoios das rodas traseiras, e me
seguro em seus ombros. Ele pedala até a rua, e Lillie aparece na porta:
- SEUS...! – ela quase solta um palavrão mas a vizinhança é algo que minha irmã presa;
apenas as aparências, ela é uma legítima Patrick!
- ATÉ MAIS! – eu respondo com um berro seguido de um aceno. E Leo pedala até a
escola.
***
Nós chegamos bem cedo, e isso resulta em presenciar alunos conversando por todos os
cantos. O couro de vozes mesmo em murmúrio é ensurdecedor. Chego ao lado de Leo,
nos sentando pelo banco de concreto – quê, é extremamente desconfortável. E que muita
das vezes deixa o traseiro dormente – Meu irmão senta como se fosse parir um filho, o
ângulo das suas pernas é impressionante. Eu empurro sua perna esquerda, o que
consiste em ele se sentar de forma educada. Então ele envolta o braço esquerdo pelo meu
ombro por cima do banco, e estuda o local para ver se tem alguma “presa fácil”.
Eu nunca gostei de namorar garotas da escola, pois é algo extremamente deselegante e
desconfortável. Ter de estar sempre na presença dela, o tempo todo, seja no refeitório,
ou pior... se o seu horário de aula coincidir com o meu! O que resulta em chatices o tempo
todo, mãos bobas descansando “acidentalmente” por cima da minha perna, quase em
cima da “terra prometida”. O que me faz perder a concentração na aula, e assim
sucessivamente uma grande e bela reprovação no final do ano letivo. Mas meu irmão
não liga para toda essa “babaquice” de se concentrar na aula. Até mesmo por que, como
ele mesmo diz: “Homem que é Homem pensa com a cabeça debaixo!” Ou seja... a
primeira piranha que aparecer boiando ele pesca!
O meu olhar encontra um belo busto, e um quadril que requebra calorosamente a nossa
frente. Leo se levanta com rapidez, e quando dou por mim, ele já está com a mão em
volta dos quadris esbeltos da garota, eu assenti com a cabeça para ele que me olha com
um sorriso em piscadela por cima dos ombros dela. Talvez até mesmo ela tenha gostado,
mesmo de costas para mim, eu posso ver o sorriso empregado em seu rosto. Não posso
negar, nós da família Patrick temos o dom do charme absoluto. Óbvio, como alguém
poderia negar olhar nos olhos azuis de qualquer membro da família? Ok, 1) Estamos na
américa do norte, olhos azuis não são tão raros assim e 2) Os olhos de Aidan nem são
azuis, estes desfrutam de um perfeito tom acinzentado. 3) Mesmo com Aidan, e a grande
concorrência de meia dúzia ou até mais de olhos azuis nesse país, nós Patrick’s
continuamos sendo um colírio para os olhos.
Eu resolvo entrar para a primeira aula, cujo a mais entediante e guardada bem no
cantinho do meu coração onde eu guardo as mágoas, possui o professor mais chato e
fedorento que eu já tive ao longo dos meus dezesseis anos de vida. Ao entrar na sala,
meio par de olhos me reparam com atenção, de modo que eu sinto uma gota de vergonha
escorrer pela minha garganta.
- Atrasado Sr. Patrick! – o professor Gregory Hook asseteou com os dedos cruzados e
cotovelos apoiado a sua mesa – Devo pôr em sua ficha?
- Desculpe-me – eu forço um vocabulário culto – É que me perco em devaneios quando
sento no banco da praça.
Ele deu um sorriso de canto de boca, que daqui eu já sinto nojento e asqueroso. Os alunos
presentes na sala se submeteram rapidamente a pequenos risos abafados. E quando eu
ouço, eu lanço meu olhar a uma fileira inteira deles, estes, e a sala inteira se cala em
perfeita sincronia. Graças ao irmão muitas-das-vezes-chamado-de-esquizofrênico e
desprovido de educação – mesmo que isso machuque completamente a integridade
moral da Família Patrick – não preciso me preocupar em desavenças na escola. Pôs o
nome Leo, seguido de Patrick é temido por todos no prédio.
- Entendo Sr. Patrick, adolescentes costumam ser grandes pensadores. Contudo... terei
de pedir que não repita isso. Irei deixar passar dessa vez...
Eu me aproximo dele com rapidez ao terminar a frase, mesmo com um estomago
embrulhado eminente. E estendo a mão direita em cumprimento, quase dando graças
por não me meter em mais uma enrascada, mas Sr. Hook afasta os dedos, e com o
indicador erguido ele diz:
- Más... – ele dá uma grande ênfase no Á, e eu especulo o quanto de oxigênio lhe custou
para formar a palavra – só dessa vez! – Sr. Hook termina a frase e olha com atenção
minha mão erguida.
Eu assenti com a cabeça, e Sr. Hook pressiona sua mão áspera a minha.
Dou de costas para o Sr. Hook, nosso professor de álgebra. E longe de seu olhar
atencioso, eu limpo minha mão direita na cintura da minha calça jeans preta. Ao me
sentar em uma mesa vazia aos fundos da sala, uns cinco alunos me fitam atenciosamente.
Ignoro todos os cinco pares de olhos, de forma que apenas enxergo cálculos matemáticos
desenhados no quadro verde com giz branco. Logo todos voltam o olhar ao Sr. Hook
que dá início a inumanamente entediante aula de álgebra. E eu especulo que certamente
estão me estudando para saberem se o irmão mais novo de Leo Patrick, realmente
carrega consigo o grande sobrenome dele.
Ao sinal da campa, não somente eu como todos soltam um ar aliviado. E não sei se disse
antes mas: COMO EU ODEIO ÁLGEBRA! Meu cérebro está inteiro coberto de pequenos
flashes de cálculos algébricos, de “inúmeros-números-numéricos”, e de um pequeno –
aparentemente não tão pequeno assim – gravador de voz, que palpita severamente a
minha mente com a forma como o Sr. Hook diz: Sete o que consiste mais ou menos em:
“SÉRRRTE” de uma forma dita bem rápida.
Eu saio pela porta, como se esta fosse o último pedaço de bolo de chocolate do mundo,
e em pé escorado nos armários de braços cruzados, meu irmão, Leo, me espera
passivelmente. E quando ele me vê, me dá um sorriso de quem acabou de ter as bolas
chupadas. Ao caminha em minha direção, um vão de alunos medrosos se abre como se
meu irmão fosse o dono do tempo e ele consegue traçar livremente seu caminho. Sua
mão me dá dois tapinhas nas costas, e escorado junto a ele em frente ao meu armário ele
decide me contar a história de como teve suas bolas chupadas.
O enredo todo da história do meu irmão consiste apenas em: 1) A garota possuí a boca
mais quente do mundo. 2) A forma como ela alternava entre os testículos. 3) Nunca peça
para uma garota que usa aparelho chupar as suas bolas!
***
O grande lance de ter um irmão esquizofrênico-louco-bipolar, é que no refeitório você
come seu lanche sossegado, no vestiário não tem meia dúzia de caras reparando se o seu
pênis é menor que o deles só para tirar sarro da sua cara no corredor, e muito menos
você não tem de se preocupar de sua casa correr o risco de ficar coberta de papel
higiênico e ovos podres no Hallowem. Mas o ápice da coisa mesmo é que Leo jamais
cometeu algum delito a qualquer membro da escola. E o que me refiro a delitos: Enfiar
a cara de algum CDF no vaso sanitário, andar de skate no corredor com uma arma
carregada com xixi e sair atirando em todo mundo, tacar bomba fedorenta no vestiário
feminino, entre outras coisas absurdas. Quero dizer: Leo jamais cometeu algo absurdo
assim para ser considerado particularmente por todo um “menor infrator”. Meu irmão
é tão dentro da lei quanto eu. Eu imagino que em um futuro próximo um cidadão de
bem qualquer estará sendo apreendido por pagar a conta de luz com antecipação.
Minha rotina no refeitório é sempre a mesma, sentar em uma cadeira vazia aos fundos.
Comer meu lanche enquanto ignoro um rodizio de alunos interesseiros querendo puxar
amizade comigo só por eu ser irmão de Leo Patrick. O que resulta em meia dúzias de
garotas gostosas do ensino médio dando em cima de mim, e eu, como o virgem-CDFenrustido
que sou, ignoro todas elas. Mas quando os negócios fora da escola me
procuram, eu não êxito em aceitá-los, se bem me entendem... E também muitos garotos
aspirantes a valentão, mas estes eu ignoro com um olhar a lá Leo Patrick que
ironicamente eu herdei, e estes aspirantes a valentões apenas se concluem em aspirantes
a escoteiros; não que eu tenha preconceito com os escoteiros. Não vejo mal alguém em
ser um!
Hoje a rotina continua de acordo com o roteiro de todos os dias. E no que posso dizer,
até um pouco cansativa, pôs meus olhos já estão quase inchados de tanto eu revira-los
para alunos interesseiros. Mas algo me chama atenção, talvez não só a minha mas do
refeitório inteiro. Algo que mais parece dois armários servindo de apoio para Estátua da
Liberdade que segura com a mão a Torre Eiffel no lugar da tocha, e talvez até o Big Bang
acima da famosa torre da França. Ok, nunca havia visto garotos tão altos assim, nem
mesmo eu que possuo 1,80 de altura sou tão alto.
A representação do gigante-que-João-se-surpreenderia-se-visse, para em frente à mesa
em que estou, e inacreditavelmente os lábios da coisa se curvam em um sorriso sereno.
A medida em que eu estudo o olhar calmo da coisa, ela se senta na cadeira da mesa a
frente. Eu tento revirar os olhos na tentativa de que a coisa entenda e saia procurando
outra mesa, mas meus olhos já estão inchados que qualquer tentativa seria uma
catástrofe eminente. Há olhos fitando com atenção a coisa sentada a minha frente, e até
mesmo eu encontro-me envergonhado mesmo estando acostumado. Eu tento soltar uma
palavra mas se eu abrir a boca eu vou engoli-la como um litro de Soda qualquer. O clima
frio paira pelo refeitório, mas mesmo assim meu suor escorrer em uma gota na minha
perna esquerda que treme quase frenética.
Aparentemente a coisa percebe meu estado nervoso, e logo contradiz a minha crise de
pânico:
- Desculpa, eu fiz alguma coisa? – a coisa diz, a pouca luz do sol que entra pelas janelas
do refeitório ilumina o seu rosto, e uma silhueta de sua face entra em relance. Dois
grandes olhos inumanamente azuis de brilho opaco – mesmo que reluzente e saudosos
- uma barba negra aparada mas ainda volumosa rodeiam a boca pequena rosada e de
silhueta esbelta. As sobrancelhas são salientes e grossas, tão negras quanto a barba e o
cabelo, e este, o cabelo, está como se a coisa estivesse enfiado o dedo em uma tomada
elétrica, mas de forma ordenada. O cabelo é todo arrumado para cima, cujo proporciona
a coisa uma aparência jovem e saudável.
Eu balanço a cabeça, olhando a coisa, respondendo sua pergunta. A coisa/ele se
impulsiona para trás meio em que um espanto calmo, e suas sobrancelhas grossas se
contorceram e a testa franziu. – Você é sempre assustado assim? – A coisa/ele especula
novamente.
- Não. Contudo... não havia me deparado com alguém tão alto e forte assim. Cara... você
usa anabolizantes? – eu aproximo meu rosto um pouco dele murmurando para talvez
não entregá-lo de bandejas para o jornal da escola.
Ele remove o plástico do canudo da caixinha do seu suco de pêssego com um sorriso
meio pasmo e impassível para mim. Ele responde:
- Não. Não uso anabolizantes, e aconselho-te a não usar. Se estiver pensando na
possibilidade... – ele enfia o canudo na caixinha e o enfia nos lábios.
A caixinha do seu suco de pêssego emite um grunhindo. Quando eu o olho por relance,
enquanto tomo o meu leite dentro do copo de papel, eu solto um riso cuspindo o leite
novamente no copo. Ele me olha com a testa franzida, e um sorriso de canto de boca
novamente impassível. Limpo o leite nos meus punhos e olho para ele:
- Logo que entrou eu tive uma crise de pânico por você ser monstruosamente forte e alto.
Agora, tomando esse suco de pêssego no canudinho, não parece tão monstruoso assim.
- Eu sei que eu sou o cara que toma o suco de pêssego de gosto nada agradável, da forma
mais sensual possível! – ele põe o canudo de volta a boca, mas desta vez ele lambe a
ponta do canudo com a ponta da língua – novamente – inumanamente avermelhada. E
em seguida põe o canudo na boca com um olhar penetrante e sensual.
A cena foi hilária, o que foi o suficiente para mim me submeter a uma crise de risos
desenfreados. Eu nem me importo com a meia dúzia de olhares especulando o motivo
da minha “catástrofe risonica” – palavra que eu mesmo inventei e que está registrada no
meu dicionário de trezentas páginas intitulado: “Palavras Absurdas”. Se quiser uma
cópia, está sendo disponibilizada gratuitamente, acesse meu site:
http/:www.comosedarmalemliteratura.com.br – eu não me importo, e continuo a rir.
Mas minhas crises de risos se sessam instantaneamente, pôs justo Leo aparece entrando
no refeitório. Ok, este não é o horário de seu lanche. Mas como todos nessa escola tem
medo dele – até mesmo o diretor – ninguém se incomoda com a sua presença. Incomodar
eu digo, no sentido de manda-lo de volta para a sala de aula, pôs todos esquecem que
eu existo instantemente e voltam a comer os seus lanches e fofocar sobre a vida dos
outros alunos.
Leo senta sem reverencia no banco, sem nem mesmo se apresentar para o indivíduo, cujo
o nome é desconhecido para mim. E ele parece averiguar algo dentro de sua cabeça.
- Ian... – ele diz – Como você sabe que está apaixonado? – ele especula ainda olhando
para o teto.
- Eu sou um Patrick, o amor não é o nosso forte! – eu digo sem freios – E não venha me
dizer que você está apaixonado pela garota que chupou suas bolas! – meus lábios se
contorcem em forma de repudio.
Leo assenti de forma debochada. Ele balança a cabeça enquanto revira os olhos.
- Ok...ok! Mas eu gostei de como ela fez o lance todo. Você entenderia se não fosse um
virgem CDF! – ele diz roubando o sanduiche da bandeja do meu lanche e mordendo um
pedaço.
- Eiiii senhor gostosão, eu já recebi uma chupada! – eu digo com desdém.
Leo suga a ponta da língua no céu da boca, fazendo a produzir um “Tisch” debochado.
Ele diz:
- Quem?
- A garota do outro lado da rua onde moramos! – digo e pego de volta meu sanduiche
de suas mãos.
Leo arqueia a sobrancelha e logo uma expressão de espanto toma conta do seu rosto.
- Lecy a magrela ossuda que tem nome de cadela? – ele segura um riso.
- Não... a outra do lado da casa dela. – eu digo e mordo um pedaço do sanduiche.
- Ashley a gostosa peituda? – ele abre os olhos espantados.
- Sim...!
Leo levanta, e tufa seu peito de forma orgulhosa, e aponta com os dois indicadores para
mim:
- Isso ai Ian Patrick, dê orgulho pro irmão aqui!
Leo se vira, sem nem mesmo esperar uma palavra minha e sai caminhando de forma
entusiasmada. Eu olho de relance para ele cruzando a porta do refeitório e dobrando a
esquerda. Me recupero de nossa conversa, tomando um pouco do leite, mas logo cuspo
tudo de novo no copo lembrando que está tudo babado; Ok, sou o único cara na face
dessa terra que tem nojo da própria saliva. O cara a minha frente me olha com repúdio,
e pelo que posso julgar, até mesmo um pouco de ódio.
- O que foi? – eu pergunto meio encabulado.
- Você pegou a minha irmã? – ele diz.
As minhas pupilas se dilatam ao máximo, e minha perna esquerda levemente se move
para fora do banco da mesa do refeitório. Eu olho os braços do cara, são quase que dois
troncos de madeiras, mas nada tão exacerbado, o que ainda assim me faz sentir um medo
abafado. Eu olho aqueles azuis, que estão submetidos a um olhar profundo, como o mar
em uma noite de lua cheia.
- A... – eu engasgo – Eu não sabia que você era irmão dela.
- Que decepção Ian, como se eu não soubesse da sua fama.
- Corrigindo: A fama do meu irmão, eu apenas sou um fragmento minúsculo de sua
sombra. – eu pondero, mesmo não sendo a hora e nem o local exato para isso.
- O mesmo tom sarcástico do seu irmão. Muitos falam a respeito da sua personalidade,
e parece que todos os elogios estão errados. Você não nada diferente dos outros maníacos
chamados Patrick’s!
- Você não está no direito de me julgar... Tyler Woodson! – enfim me recordo do nome
dele, os como eu não pude reconhecer o olhar de Tyler Woodson? Ainda me lembro das
manhãs no parquinho de perto de casa, quando ele me enchia de bolinhas de neve
durante o natal ou quando eu dava o azar de nevar. O fato é que Tyler é o inferno em
pessoa, o que consiste em meu ódio total a ele e suas idiotices! – Tampouco, no que
desrespeito a minha família. Não é o seu pai que está preso por tráfico de armas?
Ele me puxa pela gola da minha camisa verde, me olhando bem no fundo dos olhos com
ira. E a boca se abre num retruco:
- Fala baixo, ou vai querer que eu arranque todos os dentes da sua boca! – sua boca está
tão próxima ao meu nariz, que até posso afirmar que: Closeup White Now é o seu creme
dental!
- Eu não tenho medo de 70 quilos de puro anabolizantes!
- Ora seu... – o canto dos lábios se arqueia e eu vejo o seu canino perfeitamente branco.
O refeitório inteiro para apenas para ver a briga. Cassandra Johnson, a Editora-Chef do
jornal da escola prepara seu caderninho que ela guarda no bolço da jaqueta com um lápis
na mão; Ela morde a borracha na ponta do lápis esperando o ápice da briga. Wendy, a
gostosa-peituda-líder-do-time-de-torcida-da-escola se vira junto as outras garotas do
time e parecem até formar um triangulo para animar a briga. Os garotos do time de
futebol, sentados na mesa da lateral perto a parede com os quadros do lanche do dia,
soltam urros e os punhos fechados sobem o ar. Eu olho para todos aqueles apreciadores
de “treta” e uma adrenalina começa a acelerar meus batimentos cardíacos. Ian Patrick
não sentia isso a muitos anos, desde a última vez em que socou um moleque da rua por
roubar seu pirulito.
Com as mãos eu empurro Tyler, que cai pra trás, fazendo a cabeça colidir com o chão e
ele soltar um berro seguido de um palavrão: “Filho da...”. Subo em cima da mesa, e me
jogo em cima dele, que apenas se apoia com as mãos. Eu fecho o punho e soco a cara
dele, e a cada soco desenfreado, é recompensando com um urro da multidão. Tyler tenta
segurar minha mão, mas parece que nem é tão forte assim. E depois de meus dedos
estiverem doloridos – por acidentalmente eu acertar o chão quando ele tentou se desviar
– eu saio de cima dele.
Ele se levanta limpando um pouco de sangue do lábio inferior, me olhando com desdém.
- Qual foi a necessidade disso Ian? Eu não queria brigar com você! – ele diz impassível.
- Isso foi por falar mal do meu irmão e da minha família. E também pelas bolas de neve
e de areia que você tacava em mim!
- Acerto de contas? Não queria que você levasse isso para o lado pessoal. Além do mais...
minha irmã é uma chupadora de bolas mesmo! – ele diz, soltando um ar de preocupação
com os dentes perfeitos de sua boca.
- Você deveria dar mais valor à sua família seu pedaço de bosta! – eu digo impaciente.
Ele se recompõe, sugando o oxigênio do ambiente para os pulmões. Com o dedo
indicador ele tapa o fluxo de sangue no seu lábio inferior, e com a outra mão desce o
bolço da calça jeans escura. O seu olhar procura o meu, e quando o encontra, até sinto
um pingo de arrependimento.
- Parece que agora estamos quites Ian, tudo o que eu tenho de fazer agora é te pedir
desculpas. – ele diz.
- “Tisch” – eu contorço os lábios – Você é o único cara que pede desculpas depois de
levar uma surra. Mas sinto que devo te pedir desculpas também. – eu ergo a mão direita.
Ele aperta minha mão, e meia dúzia de olhares se encontram confusos no refeitório. E
pelo que posso assentir, até mesmo eu. Contudo, devo me recordar que Tyler Woodson
foi meu melhor amigo na infância, e que nossa amizade era como a do Tom e Jerry – um
desenho que eu assistia quando pequeno – Nós brigávamos para caramba, nos
estapeávamos, xingavámos um ao outro, mas ele não vivia sem mim tanto quanto eu
não vivia sem ele. Mas justo no natal dos meus nove anos Tyler teve de ir embora para
o Alabama com a sua mãe depois dela se divorciar de seu pai – por ela não aguentar
aquele mais aquele psicopata – O que consistiu em eu ter de brincar sozinho naquela
droga de parque vazio, pois Leo não era tão próximo de mim assim como nos dias de
hoje.
Ao baixamos as mãos, todos se viram com uma cara de paisagem quando o diretor entra
no refeitório atrás de saber o motivo de toda a confusão. Mas ao seus olhos verem que
os envolvidos eram um cara que mais parecia uma pilha de armários, e o outro o irmão
mais novo de Leonard Patrick. Ele dá de costas como o covarde que é, e some pela porta.
Tyler sorri com o sangue escarlate escorrendo nos lábios, e com os olhos luminosos, ele
diz:
- Covarde... – se refere ao diretor.
- Covarde é você que não revidou! – eu digo sem freios.
- Ei...! Quando pequeno eu te dava uma surra! – ele diz impassível.
- Correto, mas parece que eu cresci, e que testosterona é a única coisa boa da puberdade!
– eu mostro meus bíceps a ele.
- Ok senhor fortão, o que acha de uma revanche depois da aula? – Ele pergunta.
- Seria um prazer acabar com você de novo Sr. Woodson! – eu digo com os dentes a
mostra, e um ar de seriedade impregnado em mim.
Tyler assentiu com um sorriso esbranquiçado, e antes que eu pudesse perguntar se ele
certamente está bem, ele vira de costas, rumo ao banheiro. Já estava achando a conversa
meio entediante, todo esse lance de reencontro de amigos de infância é meio careta pra
mim. Embora em momento algum Tyler tenha demonstrando que sentiu a minha falta
durante sete anos. Talvez eu não admita, mas eu senti falta do cara que atirava bolas de
neve em mim.
***
O sol nasceu fraco essa manhã, e o aquecedor parece ter dado pane, pois o clima frio que
paira em meu quarto é de congelar os dedos dos pés. Esta manhã minha rotina matinal
continuou a mesma, em meio a euforias dos gritos de Lillie e Aidan que não quis tomar
banho por queixar-se da água gelada eu me arrumei e desci até a cozinha, onde Lillie
sentada na cadeira da mesa-redonda-e-pequena da cozinha come um cacho de uvas que
não-sei-onde-ela-arranjou enquanto termina o jogo das Palavras Cruzadas de ontem.
- Não temos leite, Ian, vai ter de comer cereal puro! – ela diz sem ao menos me ver chegar.
- Não tem mais, comi o último resto da caixa! – Aidan diz de forma impassível e
sonolenta com a boca cheia de flocos de nozes e bananas.
- Ok... eu como torradas! – digo caminhando até a cozinha.
- “Hum” – Leo grunhi ao lado de Aidan, mordendo um pedaço de torrada – Desculpa
Ian, comi os últimos pães!
Eu reviro os olhos, e novamente sem me ver, Lillie puxa do bolço de sua calça uma nota
de dólar. Caminho até ela, pegando a nota toma amassada, e quando vejo o grande
número eu retruco:
- 5 dólares?
- Uma sacola de Pães-de-Fôrma não é tão cara Ian, agora dá pra ir comprar logo...? – ela
diz impassível – “Tisc”, óbvio que é Abraham Lincoln! – ela diz debochada, e pelo que
posso ler no quadrado pequeno da revistinha de Palavras Cruzadas, o “Tisc” da minha
irmã consiste em: “Presidente dos Estados Unidos”.
Eu dou de ombros, e caminho até a porta. Ao girar a maçaneta, uma fresta se abre e uma
parte do que parece o cabelo de castanho de Carie pode se ver, eu pego minha jaqueta
no cabide perto a porta e caminho até ela. Sentada na escada da varanda, Carie, está com
o olhar abobalhado e os cotovelos apoiados nos joelhos, e o queixo apoiado nas palmas
das mãos. Ela está submetida a um olhar preso na janela de persianas fechada no andar
de cima da casa dos Woodson’s. Reparo o jeito como o sorriso dela faz a curvatura, e
com cautela me sento nos degraus da escada ao lado dela.
- O que está olhando? – eu indago olhando o ângulo gordo de suas pupilas.
- A casa dos Woodson’s! – ela responde sem freios, ainda com o olhar preso a janela da
casa.
- Ok, mas por que?
- Por que se não estou errada aquele é o quarto da perfeição!
- “Hum”, aquela é a casa dos Woodsons’s, então acho que está enganada pequena Carie.
A perfeição não dorme naquele quarto!
- ENGANO seu! – me irmã diz alternando entre o alto e baixo na voz – HOJE ele veio
aqui. E eu vi ELE entrando ali. E fechando aquelas persianas!
- Ok... estamos falando de quem? – eu pergunto impassível.
- Do garoto que veio hoje atrás de você, mas você estava tomando banho, então eu
mandei ele voltar depois, e até agora ele não voltou! – Carie diz de uma forma
desenfreada.
- Não me diga que Brody saiu da cadeia...! – eu digo espantado, lembrando que devo
cinquenta dólares para ele, por emprestar para comprar um celular de um cara da escola;
Sim, na escola tem idiotas que vendem iPhone por cinquenta pratas!
- Esse não, é outro! – ela me tá uma cotovelada no braço, o que é um alívio para mim.
- Ok, então só pode ser um ex-magrelo-ossudo que atende pelo nome de Tyler! – eu digo
já com os fôlegos nas últimas de tanto especular quem seria o indivíduo que minha irmã
aparentemente está apaixonada.
- Talvez seja esse mesmo... Ar... – minha irmã solta um suspiro – Ele é tão lindo! – vejo
suas bochechas corar.
- Carie, não sei se percebeu mas ele tem o dobro da sua altura e é bem mais velho....
muito, mais muiiiiito mais velho que você, ou seja... – ela vira o olhar para mim – Vá
procurar outro cara pra se apaixonar!
Minha irmã me olha enojada:
- Você não é meu pai. Meu pai é um bêbado maluco que deve estar jogado em alguma
calçada por ai! – ela diz com desdém.
- Olha aqui garota, vai tomar seu café da manhã ou eu juro que vou arrancar esses
cabelos da sua cabeça!
- Isso é uma ameaça? – ela aperta os olhos, fazendo-os enrugar nas laterais.
- Talvez... leve isso como um ultimato!
Carie, levanta enraivecida, sem olhar para meu rosto e bate à porta atrás de mim. Um
estalo alto soa quando a porta se fecha, então eu olho de relance por cima dos meus
ombros estudando o perímetro. Tudo indica que estou sozinho, o que consiste em: Carie
vê que não tem nada na geladeira e nem nos armários para comer, então rouba a tigela
de cereal de Aidan, então Lillie perde os fios da cabeça de tanta raiva dos meus dois
irmãos mais novos brigando, e pela porta se abrindo... Leo foge da briga, e dá tchau pra
mim em cima de sua bicicleta, de certeza foi à procura de alguma presa fácil por ai que
abaixe suas calças e chupe suas bolas.
Escorado no último degrau da escada na varanda, um saco preto repousa a procura de
que alguma mão corajosa pegue-o e o ponha dentro da lata de lixo, e é o que eu faço.
Enquanto eu fecho a lata, olho de relance para a porta da frente da casa dos Woodson’s,
Tyler vem descendo os degraus da escada, e quando me vê acena para mim com um
sorriso. Ele caminha até a mim.
- Bom dia Patrick! – ele diz atravessando a rua de trafego vazio, por não estar próxima a
avenida.
- Bom dia Woodson, veio me trazer o jornal que puseram na sua porta por engano, meu
caro vizinho? – eu imito aqueles diálogos retro de filmes antigos americanos.
- “Ó sim – e veja só... Tyler reconhece o meu tom brincalhão e imita um sotaque retro -,
e você viu que abriu uma nova loja de suvinis na esquina da nossa rua, vizinho? Parece
que poderemos comprar nossas merdas com mais facilidade agora!”
Tyler põe seus pés calçados em um par de botas pretas de couro na calçada em frente à
minha casa.
- “Hum” – eu digo com desdém entediado com a conversa – Parece que você não mudou
nem um pouco Tyler Woodson. Exceto por deixar de ser um garoto magricela ossudo
que nunca teve sorte com garotas! – Tyler quando pequeno não tinha uma aparência
agradável, e pelo que posso afirmar: Magrelo, alto, dentuço das juntas ossudas. Com
onze anos de idade, quase a ponto da puberdade, Tyler não conseguia pegar nem se quer
Lecy – a garota que tem nome pra por em cadelas – então o cara era mestre na
masturbação, o que muita das vezes resultava em eu chama-lo de “Mão Peluda” – graças
a uma lenda que diz que se você se masturbar vai ter pelos nascendo nas palmas das
mãos.
- Um ótimo dia pra você também Ian-bipolar-que-gosta-de-mudar-de-assunto-de-umahora-
pra-outra! Deve dar graça aos céus por você não ter algo vergonhoso ao qual eu
possa me lembrar. Ok... – ele deu uma breve pausa com o seu sorriso sereno – exceto por
seu meu ex-saco-de-pancadas!
- Ok, seus murros não doíam tanto, eu apenas urrava de dor pelo simples fato de osso
doer!
- Bem, pelo menos não estou mais magricelo, agora sou homem de verdade. Mas e você
pequeno Ian, vejo que não mudou tanto assim também. Exceto por aprender a bater em
alguém de verdade.
- “Pequeno Ian não”, apenas Ian! – eu pondero – De fato Leo me ensinou a me defender
com alguns golpes de caratê.
- Mas e o lance da iniciativa do seu pai a te ensinar a revidar? – ele retrucou.
- Leo disse que um bastão de baseball não daria jeito, e que o risco de eu ser preso como
menor infrator era eminente. Consequentemente na cadeia eu apanharia ainda mais por
ser o filho de Jhon Patrick, que colou a metade dos detentos lá dentro por motivos que
muita das vezes foi sua culpa. Então resolveu me dar umas aulas de caratê! – eu digo
limpando as mãos na minha jaqueta e olhando Tyler com atenção.
- Mesmo? Não me lembro de Leo saber golpes de caratê! – ele diz confuso.
- Aprendeu com Brody um pouco depois de você ir embora!
- “Hum”, Brody sempre teve aptidão para dar aulas de como socar a cara de alguém
mesmo! – ele diz sem receios de falar mal do irmão psicopata que ele tem.
Tyler olha por cima dos meus ombros, esforçando um pouco para reconhecer algo, mas
suas tentativas são suas sobrancelhas salientes e grossas contorcidas.
- Ai... quem é a garota? – ele diz pra mim apontando com os lábios para trás.
Eu olho de relance, e Carie está com o rosto quase colado no vidro da janela. E quando
me vê, sai em desespero envergonhada em perceber que estamos falando dela.
- Minha irmã Carie.
- Por que ela correu feito uma louca? – ele ri enquanto desliza as mãos nos bolsos das
calças.
- Inacreditavelmente ela ficou apaixonada pela sua.... abre aspas... “beleza”! – eu digo
em deboche.
- “Hum”, então acho que vou aproveitar para dar uns amasso nela!
- Ela só tem doze anos seu pedófilo!
- Você fez minha irmã de quinze pagar um boquete em você, e por que não faria o mesmo
com a sua!?
- Por que você tem seis anos de diferença a ela, e eu tenho um de diferença a sua irmã.
Além do mais, eu não fiz a Ashley me chupar, foi ela quem quis. Como homem, eu não
recusei!
De algum modo desconhecido para mim, Tyler rir feito o biruta que ele é. O modo como
ele passa a mão na barriga, buscando folego, o jeito como os dentes perfeitamente
alinhados e que não parecem mais os de um coelho formam o sorriso dele amistoso, é
tudo meio novo para mim. Por fim, Tyler termina de rir no que eu pensei que seria uma
eternidade e ele diz:
- Bem, pelo menos o senso de humor continua o mesmo!
***
Alguém já disse que as lojas de penhores são um tanto quanto curiosas? O jeito como a
tinta parece envelhecida mesmo que ainda estejam frescas, por ser uma época do ano em
que curiosamente os lojistas pintam as suas lojas em sincronia. E tudo o que eu mais
gosto na aparência delas é a pequena coberta das portas de entrada que parecem
sobrinhas quadradas com as bordas cortadas em triângulos de pontas curvas. Me agrado
em ver as listras muitas das vezes de cor amarelo e vermelho, azul e branco, verde escuro
e branco... Gosto de passar por essa parte do meu bairro com frequência, por também
possuir uma floricultura com as mais diversificadas espécies de flores: Tulipas, Rosas
Brancas e Vermelhas, Cravos, Lavanda, entre outros. Consistindo no frescor da brisa
levar consigo os perfumes das flores suaves, fazendo-os repousar por toda a rua,
consequentemente tornando a única rua mais cheirosa desse bairro.
Depois de uma luta enraivecida com Tyler Woodson por eu não querer que ele me
acompanhasse até a padaria, resolvi deixa-lo me fazer companhia. Sua justificativa foi
que: “Estou com saudade daquele ponto do bairro”! Ok, relevei, mas ele gosta de ficar
elogiando o cheiro dos pães assando no forno que sai da porta da cozinha da padaria. O
que faz alguns clientes, e Kimberly Paterson – uma garota gostosa do bairro, que
ironicamente resolveu vir comprar pães nessa padaria que fica a uns QUATRO
QUARTEIRÕES de sua casa logo quando Tyler resolve vir comigo. -, pensarem que ele
é um louco que nunca sentiu cheiro de pães assando, e soltarem murmúrios seguidos de
sorrisos que me deixam meio envergonhado.
Eu dou um cotovelada na barriga durinha de Tyler.
- Acho melhor você parar de ficar empinando esse nariz. Não é cocaína não! – eu
sussurro ao lado dele olhando de relance as pessoas risonhas.
Ele assentiu com a cabeça, e me dá um sorriso.
Resolvi não comprar pães de forma, ao invés disso: Uma sacola cheia de biscoitos com o
que mais parece uma chuva de chocolate que estavam cinquenta centavos cada, ou seja,
dez biscoitos deliciosos para preencher meu estomago que de tão vazio até rosna.
Ao sair da padaria, nós dobramos a esquina direita perto de uma loja de itens
penhorados: chaveiros, enfeites para estantes, alguns livros, e na maioria “pulseiras do
tempo”; uma espécie de pulseira onde você pendura algo que recorda o local para onde
você viajou, na loja em questão certamente tem miniaturas pequenas da Estátua da
Liberdade para pôr na pulseira. O que é algo inútil, pois nesse bairro, turista é como o
Cold Play dando show de graça, ou seja... algo raro! – não que seja impossível é claro,
toda esperança é compensada um dia.
Eu lanço um biscoito na boca, olhando toda a rua a nossa frente vazia, com as portas das
casas fechadas. Hoje por algum motivo besta que eu não sei explicar não teve aula na
minha escola, e como a metade dos jovens do bairro estudam lá, estão dentro de casa
com preguiça de sair. Ou simplesmente por desejarem dormir um pouco mais. Mas eu
como corajoso que sou para sair nesse frio que me submete a um bater de dentes, estou
felizardo por sair nessa manhã de terça feira sem ter que lidar com adolescentes rindo e
falando alto na rua. Tyler ao meu lado parece se sentir tão confortável quanto eu, mas
ele mesmo assim fecha os olhos fracamente por arder com o vento gelado.
- Está frio não é mesmo! – eu tento puxar conversa.
- Sim – ele diz quase que em um sussurro ainda olhando a rua vazia a frente. – Talvez
hoje a noite neve.
- Ótimo, só assim eu tenho a chance de revidar as bolas de neve em você cara, depois de
longos sete anos de ausência!
Ele sorri.
- Ok, então eu vou rezar assim que chegar em casa para não receber uma enxurrada de
bolas de neve, o que quita todas as inúmeras que eu joguei em você.
Eu assenti com a cabeça, e dou com o cotovelo em seu braço.
Em algum minuto ao pararmos na calçada em frente ao cruzamento da rua, Tyler se
prende a pensamentos distintos a mim, mas logo ele sessa a minha curiosidade por saber:
- Ei... pela primeira vez desde que cheguei aqui Ian Patrick, tive uma ideia genial.
- Seria digna de um lugar no Guiness Book? – eu retruco.
- Não, melhor ainda. Talvez até o Prêmio Nobel de genialidade logística! – ele diz com
grande ênfase no Prêmio Nobel.
- “Genialidade Logística”, essa palavra existe? Seria está uma categoria de premiação
que daria ao sortudo inteligente a tão sonhada estatueta de ouro? – eu digo com um ar
de seriedade quase coincidindo com os Jornalista do Noticiário das Nove.
- Bem, talvez, mas esquece o lance do Prêmio Nobel, e foca toda a sua atenção no que eu
vou dizer agora – ele se vira a mim, e respirando fundo com o diafragma resolve matar
a curiosidade que deixou pairando no cruzamento das ruas 11 e 12 – O que acha de
visitarmos o parquinho de perto das nossas casas?
Eu dou um sorriso de canto de boca.
- Sabe Tyler... talvez esta seja mesmo a melhor ideia que você teve em todos os seus
dezoito anos de vida!
***
O lugar é nostálgico até, não venho aqui faz sete anos, corrigindo... seis, pois no ano
seguinte da ida de Tyler para o Alabama, eu vim aqui sozinho, com os meus dez anos
de idade. Eu sentei na gangorra que nós nos impulsionávamos, e que variadas vezes
deixou minhas virilhas doloridas, olhando para toda aquela grama cobrindo o chão, na
espera de que o meu único amigo, corrigindo: meu melhor amigo, saísse pela casa de
aparência brega, e voltasse a brincar comigo por mais uma vez. Mas ele não voltou.
O parquinho não mudou até então. A gangorra continua a mesma, mas a tinta amarela
está descascada com o desgaste do tempo e da água da chuva. O balanço de ferro de
apenas dois lugares, está como a sete anos atrás, os assentos de madeira
inacreditavelmente continuam com o verniz intacto. As correntes de aço perderam o
brilho, e o ferro que suspende os dois balanços está enferrujado. Já a caixa de areia que
muita das vezes me proporciono horas no banho em busca de tirar toda aquela areia que
entrava em lugares difíceis de ser tiradas – e até micoses nos dedos dos pés – está coberta
pelo gramado que não foi aparado, eu apenas a reconheço pelo enorme anel de plástico
vermelho que circundava o que antes era areia.
- Você disse que viria me visitar no verão! – eu digo olhando para o balanço que uma
vez me proporciono um estudo completo do gramado do parquinho, e no que
desrespeito a estudo completo, eu digo: Cara a cara, ou melhor... Cara e grama! Tudo
graças a Tyler Woodson que empurrou com muita força o balanço – Ok, eu confesso que
não segurei direito nas correntes.
- Eu te mandei cartas!
- Uma na verdade – eu corrijo ele –, que não diminuiu muito a vontade de ter meu melhor
amigo de volta!
Depois de um verão passar, e Tyler não aparecer, todas as esperanças de ter meu melhor
amigo e parceiro de parquinho tinha ido por água a baixo. Mas em uma manhã de
quarta-feira, enquanto eu estudava meu livro escolar – tentava na verdade, a gritaria
naquela casa das brigas de Lillie e Leo adolescentes era ensurdecedora. Nem mesmo sei
como Carie conseguia dormir no seu quarto, tampouco Aidan que era apenas um
bebezinho -, Lillie bateu na porta do meu quarto alegando que chegara correspondência
para mim, o que logo de cara eu estranhei, pois naquela casa só chega contas; contas de
luz, água, a hipoteca, os cartões que John não pagava... esse tipo de coisa. Mas ao pegar
a carta que continha o que parecia o CEP do remetente de algum lugar no Alabama, e
um selo que ironicamente continha um Sol acima do mar azul e uma pequena parte do
que parecia uma praia desenhados, eu tive certeza que Tyler havia lembrado de mim.
Quando eu abri o envelope branco, me deparei com um pedaço de folha do que parecia
uma agenda dobrada ao meio. A folha datava 13 de Fevereiro – o que logo eu conclui
que a carta só chegara uns dois dias depois – continha a caligrafia itálica e bem escrita
em caneta azul de Tyler Woodson que em alguns parágrafos até estavam traçados os
erros de sua escrita. Então eu comecei a ler as primeiras palavras:
“Caro Ian, mil desculpas por não poder ir te visitar ai em Mississipi, é que o falta dinheiro para pagar minha passagem de
avião. Pois minhe minha mãe não me permitiu voltar por motivos óbvios (O lance dela com o meu pai). Então me desculpe
novamente por não cumprir minha promessa de te visitar no verão. Fugir não seria algo inteligente vindo de mim, pois nem
conheço as ruas do bairro que moro. Eu estou morrendo de saudades do Brody, mesmo ele me batendo o tempo todo, e
também da pequena Ashley, mas a falta maior mesmo que sinto é a sua, meu melhor amigo e parceiro de parquinho. Me
desculpe por sentir falta de tacar bolas de neve em você no natal, é que esse notol natal foi chato demais, apenas fiquei dentro
de casa e não pude me divertir nem um pouco. Tudo o que eu mais queria era poder voltar para ai, com você e meus irmãos, e
também pra perto do meu pai. Estou com dificuldades para fazer novas amizades aqui na escola, já que ninguém quer fazer
amizade com um garoto magricela que nem eu. Ou seja... só aumenta ainda mois mais minha vontade de te ver de novo. E
puxa... acho que a carta está grande demais, então acho que vou ter que parar por aqui! Por último quero te lembrar mais
uma vez que sinto sua falta, e ainda guardo a bola de baseball que você me deu! Um forte abraço, do seu melhor amigo e
parceiro de parquinho: Tyler Scott Woodson."
Quando eu terminei de ler a carta, eu a pus dentro da gaveta da cômoda ao lado da
minha cama, e talvez ainda hoje ela esteja lá dentro em algum lugar. E só com ela
conclui que jamais eu veria Tyler novamente, e que daqui pra frente teria de fazer
novos amigos, e talvez até procurar outro parceiro de parquinho. Mas, foi só com a
ausência de Tyler, eu percebi que não era bom em fazer amigos tanto quanto ele. No
mês seguinte, Março, eu esperei mais uma carta de Tyler Woodson, mas ela não
chegou. E assim foi em Abril, Maio, Junho, Julho.... e isso se repetiu durante uns três ou
quatro anos, quando eu esqueci de vez quem foi Tyler Scott Woodson.
- Me desculpa, é que minha mãe tem o lance de ser super protetora. Então ela vigiou
todas as minhas atividades extra curriculares, me impedindo de enviar cartas ou fazer
qualquer telefonema que seja para o Mississsipi! – ele diz olhando comigo o balanço de
ferro.
- Nossa, não sabia que Margarete era tão malvada assim. Embora eu ainda posso julgar
pelo nome... – eu olho para ele com um sorriso.
- Ei...! Minha mãe não possui nome de mulher malvada. Ela só não queria que eu fosse
igual ao meu pai, tampouco igual ao meu irmão! – ele retruca.
- E ela esteve coberta de razão esse tempo todo, pois se não, você estaria agora dentro
de uma cela de prisão por tráfico de armas ou por roubar lojas de penhores!
- Que seja – ele dá de ombros – Mas eu ainda senti falta de casa, bem... – ele se corrigi –
da minha antiga casa. E dos meus irmãos.... a pequena Ashley... o Brody... Bem... – ele
suspira bem fundo e me olha – E de você meu ex-melhor-amigo parceiro de parquinho!
Eu dou um sorriso sereno, e lhe dou com o cotovelo no braço. Tyler sorri, e sussurra
algo baixinho que eu não escuto.
Os olhos dele reparam o grande carvalho a nossa frente, e por um minuto ele se
mantem quieto, ali, do meu lado, apenas observando o carvalho que é grande de
tronco grosso e folhas volumosas que nos
impede de ver através delas, este mais parece ter anos de vida.
- Você dizia que essa árvore era mágica! – solta um sorriso abobalhado.
- Sim... eu sei, mas agora é vergonhoso! – os meus lábios se curvam em um sorriso, e
meus olhos se fecham de tanta vergonha por antes eu ser uma criança que tinha uma
imaginação muito louca.
- Você ainda acha que os Elfos estão escondidos ali no meio das folhas? – ele diz em
controversa a minha vergonha.
- Eu tenho quase a certeza que eles estão olhando nós dois nesse exato momento! – eu
digo caindo no papo dele.
- Você acha que eles lembram de nós dois?
- Sim... como eles podem esquecer as atrocidades que nós fizemos aqui? Acha que
talvez eles tenham se esquecido que foi aqui que Ian Patrick caiu de cara no chão? – eu
digo sem freios – ou talvez que foi nessa gangorra que Tyler Woodson bateu com as
bolas que ficaram doendo o dia inteiro?
No momento exato nós dois não conseguimos prender o riso, então nós fazemos um
dueto de risadas. Tyler passa a mão no abdome, que pelo que posso reparar, é o novo
jeito dele de rir. Assim como os dentes brancos a mostra. Nós paramos de rir juntos,
pois já se estava tornando uma eternidade. Então Tyler acrescenta:
- Nós realmente éramos dois loucos parceiros de parquinho!
- Acho que continuamos sendo! – eu pondero.
Ele assentiu com a cabeça, dando um sorriso.
- Bem, mas acho que não tem mais como nos dois brincarmos aqui. Ou iremos parecer
dois caras loucos no parquinho velho da vizinhança!
- Nisso eu tenho de concordar!
***
O meu quarto é grande até, é o único quarto da casa que possui banheiro. Obviamente
os quartos com banheiros ficam para os pais, mas na minha família é diferente. Por
motivos que jamais soube esse quarto foi dado para mim. Ele é espaçoso, minha cama
de solteiro fica de frente para a porta. Ao lado dela, fica a cômoda velha, que em cima
repousa um abajur de trocentos anos nunca tirado dali. Na parede direita, perto a uma
mesinha de estudos, está uma estante de livros. Cujo todos eu já li por completo, de A à
Z – sou o único no planeta a organizar os livros por ordem alfabética? – gosto de ler
nas horas vagas, até mesmo as vezes costumo ler fazendo alguma coisa. Seja
preparando ovos mexidos, passando pano debaixo da minha cama, trocando de roupa,
deitado, estudando – O que consiste em: Estudar cálculos.... Lorde das Trevas é o vilão
mais irado do planeta.... Poemas líricos... Triz e Quatro... História dos Estados Unidos...
Hazel Grace vendo Isaac chorar depois de cair à tona que o “Sempre” não coincide com
“Para-Sempre” .... – O lance de você gostar de ler é algo herdado, minha mãe era uma
grande leitora e psicóloga, que por motivos ilógicos ficou meio louca e abandou cinco
filhos, deixando sobre o cuidado de um alcoólatra que não vejo faz três dias!
Eu deito na minha cama, observando o teto do meu quarto. Observando o quanto ele é
branco, puro... silencioso. E talvez seja por isso que Annabeth, minha mãe, o tenha
deixado para mim, por de alguma forma ela prever o futuro. Não que ela seja uma
paranormal, mas sim por ela saber exatamente quanto o teto dele se parece comigo.
Enquanto meu irmão está por ai procurando contrair alguma doença no pau, meu pai
jogado em alguma calçada, Aidan aprendendo a ser um tarado igual ao Leo, Carie
chegando a puberdade feminina antes da hora, eu estou aqui: silencioso como o teto do
meu quarto, procurar a paz, e o caráter que antes os Patrick possuíam.
***
No dia seguinte eu acordo um pouco cedo demais, o que resulta em Ian Patrick
rondando o quarto com um livro na mão só de cueca, com a cara inchada, os olhos
pesados e os ombros curvos a espera das 06:00 da manhã. O relógio na parede em cima
da minha porta indica 05:20, ou seja, faltando apenas trinta minutos para a então
esperada hora de ir a escola. Mas esta parece uma eternidade, e eu leio meio capítulo
do livro em minhas mãos sem pressa alguma.
A Residência Patrick está silenciosa hoje, de forma que apenas o ranger da estrutura
um pouco velha da parede do meu quarto e o som do ar saindo pelo aquecedor – que
de forma inesperada resolveu pegar -, pode-se ouvir na casa. Ainda que meus
pensamentos estejam estão recitando de forma repetitiva: “Você está, você está, vindo para
a árvore, onde eles penduraram um homem que dizem ter assassinado três. Coisas estranhas
aconteceram aqui. Não seria estranho, se nos encontrássemos à meia-noite na árvore de
enforcamento.” A frase repete diversas vezes, até que eu olho de relance o relógio na
parede: 06:05. As horas passam rápido...
Eu corro para o banheiro, tomando um banho, escovando os dentes debaixo do
chuveiro, e saindo, vestindo a cueca, a calça, a camisa... Quando eu chego na cozinha,
vejo apenas Lillie pela primeira vez em dois dias sem uma revista de Palavras
Cruzadas nas mãos. Com a mão direita ela dá uma mordida em uma barra de cereal, e
com a esquerda meche os ovos na frigideira com a espátula. Ao vê-la percebo que ao
menos uma parte da minha família está a salvo. Lillie é a irmã mais responsável e
genial que se pode ter. Depois de nossa mãe ter nos deixado para John, ela decidiu
cuidar de nós como a mais velha. O que resultou em um canso cobrindo seus ombros
ossudos. Minha irmã já foi uma jovem esbelta qualquer de vinte e três anos, mas hoje
os olhos azuis estão enrugados, os cabelos castanhos estão com as pontas ressecadas, o
corpo que antes tinha tantas curvas quanto as ruas-que-traçam-caminho-em-um-morro-
qualquer hoje está magro e quase sem vida. A vaidade de Lillie foi deixada de
lado por razão do fardo enorme que ela tem de carregar que é cuidar dos quatro
irmãos mais novos.
- Bom dia Ian – ela diz me olhando pegar a garrafa de leite na geladeira atrás dela.
- Bom dia – respondo de volta – Fez compras?
- Sim... Margo deu 200 pratas de antecipação para mim – Margo é a dona de uma
lanchonete onde Ellie trabalha, uma senhora muito gentil pelo que posso assentir – isso
depois de eu implorar muito a ela.
- Entendo! – eu dou um riso curto.
- Deu pra comprar algumas coisas para a geladeira. Mas não deu pra comprar o livro
que você me pediu para a escola! – ela diz parecendo triste.
- Tudo bem Ellie, eu vou ver se arranjo um trabalho hoje depois da escola. Além disso...
o livro eu dou o jeito de comprar.
- Ok... – ela dá uma pausa, tirando a frigideira do fogo e pondo dos ovos dentro de um
prato – Me ligaram da sua escola faz pouco tempo.
Quando ela diz, eu arregalo os olhos. Me parece que o diretor não é tão covarde assim,
a ponde de ligar a minha casa atrás dos meus responsáveis. Ok, eu relevo, e engulo em
seco.
- O que disseram...?
Ela se vira olhando pra mim, pondo a mão esquerda na cintura.
- Um Texugo morreu afogado dentro da caixa de água da escola. O que resulta você de
férias pelo prazo de uma semana até que a higienização da caixa d’água tenha sido
completada.
- Como ele foi parar lá? – eu especulo sentando na mesa já aliviado por não ser alguém
atrás de mim por socar a cara do último ano no refeitório da escola.
- Eu perguntei a mesma coisa – ela senta comigo na mesa pondo o prato com ovos
mexidos e duas fatias de bacon perto da minha tigela de cereal – Eles me responderam
que... Bem.... Eu não entendi muito bem o que o diretor disse... – realmente ele tem
uma voz esquisita – Mas pelo que entendi... “Até então nós não sabemos!”
- Tanto mistério pra isso, mas eu meio que senti pena do Texugo.
- Ok, também senti, mas Texugos mortos afogados não são bem um assunto
adequando para se discutir justo na mesa do café da manhã. – ela diz um pouco
enojada.
- Concordo...!
***
Eu como uma tigela de cereal, e meia hora já se passou, Aidan foi pra escola assim
como Carie, e Leo saiu de bicicleta para mim depois de dizer algo de forma rápida que
entendi apenas um pouco: “Eu... casa....Wendy....bolas”. Lillie fora trabalhar, o que
resulta em mim sozinho na casa. E o que um cara de dezesseis anos no auge da
adolescência faz sozinho em casa...?
Respondo: Tira um cochilo!
Enquanto eu me preparo para dormir no sofá da sala, já com o controle da tevê em
cima do peito depois de minha mão sucumbida de um sono profundo não aguentar
mais o peso do controle, de repente ouço alguém bater na porta. E eu me levanto na
maior preguiça de cima do sofá, reviro os olhos e caminho até a porta da sala. Quando
eu abro, me deparo com figura de 1,90 de altura chamada Tyler Woodson, que com um
sorriso cortês no rosto carrega nas mãos bem em frente ao peitoral uma bola de
baseball.
- Amenos que esta bola de baseball esteja autografada por alguma estrela do esporte,
sugiro que dê meia volta! – eu digo com desdém apontando com o indicador esquerdo
para a bola.
- Não, mas tem importante valor sentimental pra mim!
Eu olho pra ele, com as pálpebras pesadas. Solto um “Tisc” pela boca, e fecho
lentamente a porta na cara dele. Mas como esperto que ele é, e já até podia esperar isso
vindo Tyler Woodson, ele põe o pé na porta antes mesmo que eu feche-a. O seu rosto
passa pela fresta, e sem esforço algum ele entra por ela.
- É melhor você ter algum motivo para ter vindo aqui. Me tirou de um quase cochilo!
- Bem, acharam um Texugo morto na caixa d’água da escola, e fiquei sozinho em casa,
Ashley foi pra escola. E a senhora que faz companhia a ela resolveu ir embora, então
resolvi vir aqui, com a ideia na cabeça de que você poderia me levar em uma Tour pelo
bairro.
- Uma Tour pelo bairro? Jura...?
- Achei que seria uma boa ideia...!?
- Ok, então eu acho que você pensou que eu teria carro. Mas é claro que você sabe que
eu não tenho... O bairro é pequeno, mas meus passos são curtos!
- Por favor... – ele diz em obsequio – pelos velos tempos!
Eu suspiro fundo.
- Ok... ok....!
Ele sorri, e joga a bola de baseball para cima e depois a apara com a mão direita.
- Acho vou dar um jeito de quebrar o cadeado da corrente que prende a bicicleta de
Brody.
- Não acho uma boa ideia, Brody nos mataria se soubesse que nós roubamos a
magrelinha! – Magrelinha é a bicicleta velha de Brody, não sei por qual motivo ele pôs
esse nome na pobre coitada, o que mesmo passando o tempo - no que desrespeito uns
dois anos ao qual ele comprou de uma cara que estava vendendo na rua, no que parece
foi roubada –, não deixa ser engraçada.
Ele contorce as sobrancelhas um pouco confuso.
- Lecy não vai com nós...!
- Não é a Lecy... é a bicicleta dele mesmo!
Tyler olha para o teto da minha casa, e por um estante parece pensar bem ao fundo
algo. Mas o seu olhar se volta a mim novamente.
- Pelo que entendi.... “Magrelinha”.... Seria a bicicleta dele.... Ou não?
- Sim, aquele pedaço de museu se intitula “Magrelinha”!
Tyler assentiu com a cabeça, demonstrando que não achou tão engraçado assim o
nome da pobre bicicleta. Ele escorrega os dedos da mão esquerda na calça jeans, e com
a outra põe a bola de baseball no bolço do seu moletom cor de vinho com a estampa de
Harvard.
- De qualquer forma meu pai deve ter uma Chave Inglesa em algum lugar daquela pilha
de entulho na garagem.
- É óbvio, essa é a arma reserva dele quando a AK-47 não está disponível! – eu digo
sem freios.
Ele dá uma gargalhada de curto prazo e diz:
- Ok, talvez tenha razão. Pelo menos ele sabe o que é uma arma de verdade, diferente
do seu pai que tem um arsenal de bastões de baseball! – ele diz com desdém, mas ainda
o julgo pelo sorri que não foi maldoso.
- Bastões de baseball são bem úteis! – eu pondero.
- A não ser que queira ir parar na cadeia... Ok.... Chave Inglesa te levariam para lá...
- E AK-47... Pistolas Semiautomáticas.... Snipers de longo alcance... Metralhadoras... –
eu adiciono.
Nós rimos juntos, e Tyler diz:
- Ok, você me pegou!
***
Continua...