Cap. 05:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Sangue e Desejo

Meus olhos abriram rápido, como se fosse um susto, tentei levantar meu corpo, mas algo me impediu, olhando para minhas mãos, ainda atordoado, as percebo amaradas com correntes, era prata, correntes de prata, meus pés também presos, me deixando praticamente imóvel, me sacudi no que parecia ser uma cama, mas não poderia chamar aquilo de um quarto, as paredes eram de madeira bruta, sem janelas, apenas um porta feita do mesmo material, a cama onde eu estava era o único móvel no recinto, o silencio era torturante, comecei a gritar, não por ajuda, mas por atenção, urrava, chamava alguém qualquer um que fosse, puxava meus braços, mas as correntes o seguravam me imobilizando, o metal queimava em minha pele, mas eu sabia que não poderia ser lua cheia a menos que eu estive dormindo a semanas, e se isso acontecesse logo a transformação começaria, mesmo sem ver a lua, era poderia ser sentida. Um vento soprou sobre meu corpo, vindo não sei de onde, foi então que percebi que estava nu. A porta então se abriu, e meus gritos sessaram, por ela um senhor de meia idade passou, antou até mim, e com o que parecia ser um pequeno cocho me deu água para beber, tentei resistir no começo, ele me segurou e me forçou a engolir, logo ele saiu sem nada falar, voltei a gritar, quando uma mulher adentrou a sala, era de uma beleza estonteante, seu corpo era proporcional a sua altura, curvas torneadas, longos cabelos loiros, e cintilantes olhos azuis, ela sorriu para mim, mostrando dentes brancos e alinhados, foi em minha direção e com uma chave que tinha nas mãos abriu os cadeados que prendia minhas pernas na cama, veio até meus braço, mas antes de abri-las, segurou em minhas mãos, e meu corpo parou.

Como um susto abro meus olhos, não sei quanto tempo passou, mas o lugar e diferente, agora uma escuridão me rodeia, não sei onde estou, mas meus braços e pernas estão livres, então fico em pé, o piso é frio, é terra, ando para um lado e depois para o outro, ainda me sinto meio desorientado, quando ouço uma voz, melódica e calma:

- É melhor você se aclamar Miguel, você ainda deve estar um pouco dormente! - Sinto a voz se aproximar e tento encontrar o dono da voz, mas era como se ela viesse de todos os lados e ao mesmo tempo de nenhum: - Sei que você deve estar cheio de perguntas, e só posso lhe disser que não lhe responderei todas, mas na hora certa tudo será esclarecido – a voz continua se aproximando até surgir atrás de mim o mesmo homem de meia idade que me ofereceu água em uma concha, ele se senta no chão, e com a mão me mostra o chão a sua frente, sinto um peso no corpo, fazendo com me sente no local indicado por ele, minha cabeça está confusa, com raiva, e medo, mas minha boca não consegue pronunciar nada: - Sei que você quer falar e não consegue, mas este é um local, onde sons não são permitidos, por isso você terá de falar por sua mente, assim como minha voz percorre sua cabeça. - Miguel novamente olha para todos os lados sem nada ver, distinguir ou entender: - Eu sei o que está se preguntando, mas só poderei responder se perguntar a mim! – Miguel olha para o homem a sua frente, não entende mas tenta, falar em sua mente certo.

- “Onde estou? que lugar é este? Quem é você? ...” – O homem o interrompe:

- Calma meu jovem, não muitas perguntas de uma vez – o ambiente muda, uma luz invade o local, e esta luz tem força, meu corpo começa a sentir sua presença, é a lua, adentrando sem ser convidada, mas não é lua cheia, então meus instintos de lobo voltam a adormecer, e meus olhos se voltam para o homem a minha frente: - você está na floresta, isso responde sua primeira e segunda pergunta, já a terceira é muito mais simples, eu sou seu líder, ou melhor dizendo o líder do seu bando.

Como se uma vela acendesse em sua cabeça, as lembranças voltam a tona, Miguel se lembra de Fernando, do homem com cabeça de touro em sua casa, se lembra de ter sido apagado:

- Vocês me sequestraram porque eu não quis entrar no seu bando idiota de lobos solitários e infelizes? E o Fernando o que ouve com ele?

- Na verdade Miguel – ele responde calmamente em seus pensamentos – o fato de nós o termos sequestrados – sua voz soa irônica – foi exatamente para protege-lo do seu amigo Fernando!

- Do que você tá falando, me proteger do Fernando, que maluquice e essa?

- Seria muito mais fácil a gente mata-lo e pronto, resolveria o seu e o nosso problema, mas e tudo muito mais complexo, ele é filho do alfa, e isso geraria um problema bem maior.

- Como é que é? – por mais que sua voz fosse na sua cabeça, quando disse isso soou quase como um grito:

- Miguel, você já deve ter ouvido falar do Caçador? – Miguel concordou com a cabeça:

- Sim, vi disso nas minhas pesquisas, mas isso era lenda!

- Assim como homens se transformando em lobos nas noites de lua cheia- ele diz irônico- pois assim como nos homens lobos, também existem eles, os Caçadores, que estão ai para nos matar, nos aniquilar, nos caçar!

- Ta eles existem, mas e daí o que o Fernando tem a ver com isso? – ele faz uma pausa – não você não está dizendo que o Fernando é um Caçador? Ele nem sabia que eu era um lobo quando começou a me investigar!

- Bom Miguel, isso é o que ele disse a você, o que ele fez você acreditar, ou, realmente não sabia, e soube depois, os fatos não importam, o que importam são os atos, ele quem sabe não sabia, mas agora sabe, e é nosso dever como matilha proteger nosso irmãos.

- Se ele quisesse mesmo me matar, para que todo este trabalho, era simplesmente me matar e pronto, e no mais ele é um policial, a droga de um policial, porque você acha que ele é um caçador?

- Eu não acho Miguel, eu sei, e ele é o filho do Alfa, por isso não podemos mata-lo!

- O que? Filho de quem?

- Assim como nós homens lobos, temos nosso lideres, temos nosso Alfa, nossa raiz, nosso primeiro Homem lobo, os caçadores também tem.

- Tá, mas se ele fosse filho do Alfa ele não deveria ser mais velho, tipo, umas centenas de anos, pois pelo que pesquisei, dês de quando existem homens lobos, existem seus caçadores.

- Sim você está certo nessa, mas ele não é necessariamente filho unigênito do Alfa, mas um descendente, um descendente em potencial!

- Potencial de que?

- De ser o líder deles.

- Isso tudo é muita informação, muito pra minha cabeça, ok, digamos que isso tudo é verdade, que ele é um caçador e quer nos matar, porque ele ainda não me matou, pois vou lhe dizer, ele teve várias oportunidades.

- Eu – o outro titubeia – eu não sei – voltando a assumir sua postura autoritária – mas prefiro não esperar para descobrir, nós tentamos contato com você várias vezes, na noite na sua casa, depois na casa dele, na floresta, mas você sempre deu um jeito de nos machucar e se livrar da gente, tivemos de agir de outro modo, então mandamos A fera atrás de você.

-A fera, o toro você diz, mas o que ouve com o Fernando, ele estava gelado quando toquei ele.

- É o veneno da fera, mas assim como você Fernando já deve estar acordado.

- Na minha casa? – pergunta desconecto:

- Na verdade aqui!

- Aqui?!

O homem se levanta, Miguel sente seu corpo leve, e consegue ficar em pé, o homem começa a andar e Miguel o segue, não porque era forçado, mas porque sabia aonde ia, sabia que iria ver Fernando, eles andam pela escuridão da floresta iluminada pela luz prata da lua nova, Miguel começa então a ver as árvores, a sentir as folas e folhagens rasteiras batendo em sua perna, sente a brisa suave da noite na mata, sente o cheiro e o ouve o cantar dos grilos:

- Antes você não ouvia porque apenas eu estava em sua mente, agora você já esta livre, para ver, ouvir e sentir- desta vez a resposta veio em palavras compostas e Miguel ouviu a voz do homem saindo pela boca, não pela sua cabeça, apesar do outro ter lido seus pensamentos.

Continuaram andando até chegarem a um rio, continuaram andando pela margem, até Miguel avistar uma cachoeira, o barulho da água caindo, juntando a escuridão da noite dava um ar assustador a tudo aquilo, mesmo assim seguiu firmo atrás do homem que o guiava, desta vez adentrando a cachoeira onde havia uma caverna, o homem pegou então uma lanterna, olhou para Miguel e sorriu:

- Somos lobos, não homens das cavernas.

Miguel teria achado graça o comentário, não fosse sua aflição em encontrar Fernando e tirar a limpo toda esta história de caçador. Eles andaram pelo interior da caverna até adiante verem uma luz, eram tochas acesas e presas a pedestais de 2metros, que serviam para iluminar aquele espaço, mais adiante Miguel pode ver grades de um canto a outro da caverna, mas a luz das tochas não chegava la, e de dentro apenas a escuridão se via, Miguel olhou para seu guia afim de alguma resposta, o outro apenas concordou com a cabeça, Miguel andou até as grades, quando chegou perto apenas ouviu uma respiração, calma vinda do fundo da escura grade, quando ele presente algo vindo em sua direção, se afasta das grades e ve Fernando bater de cara com elas, esticando seus braços para fora, quando o mesmo ve se tratar de Miguel, se larga, olha nos olhos do outro, seu olhar era de cansaço e fúria ao mesmo tempo:

- Miguel, como você está, você está bem, me tira daqui, vamos embora deste lugar. - o homem de meia idade se aproxima de Miguel: - Foi ele Miguel, ele me prendeu aqui.

- Fique quieto caçador – grita o outro, pela primeira vez alterando o som de sua voz, Miguel se assusta, mas Fernando apenas demostra ter sentido ainda mais raiva: - Você não saíra desta prisão, pois enquanto você estiver sob o nosso controle estaremos livres do seus irmãos caçadores.

Fernando olha de Migue para o homem, quando Miguel fala:

- Fernando você é mesmo um caçador? – o outro abaixa a cabeça – Você só se aproximou de mim por eu ser um lobo, para me matar?

- Não – o outro o interrompe com um grito – eu não ... eu não iria te matar, e eu não sabia de você, eu ... – ele abaixa a cabeça – eu desconfiei sim de inicio, mas so tive certeza quando o vi se transformar, mas eu não iria matar você, se eu quisesse fazer isso eu teria feito já, quantas oportunidades tive para isso – ele olha nos olhos de Miguel – eu nasci um caçador, estava no meu sangue, na minha família, assim como você nasceu um lobo, não foi escolha nossa, mas é nossa a escolha de o que fazemos com isso, nem eu nem minha irmão nunca caçamos ou matamos nada nem ninguém.

- Não se deixe levar Miguel – diz o homem a Miguel, demonstrando rancor por Fernando – ele é um caçador, descendente do alfa, deve ter vários truques para hipnotizar sua caça, e nos somos sua caça.

- Não Miguel – Fernando se defende – você sabe que não é ...

- Chega – Miguel grita os interrompendo – chega dessa discussão, pra mim já deu – ele se vira em direção a saída.

- Miguel acredita em mim – grita Fernando – eu nunca te machucaria!

É quando um uivo se ouve atravessando a caverna gerando um eco ensurdecedor:

- AUUUUUUUUUUUUUUU

Eles vem então um lobo correndo até eles, pula sobre as grades as quebrando ao meio, Fernando se voa longe, o lobo se aproxima dele, lambe seu rosto, Fernando reconhece Miguel, se levanta cambaleando e sai de sua prisão, o outro homem está estirado no chão, desmaiado, o lobo e Fernando saem da caverna, passam pela cachoeira, andando pela floresta, o lobo vai na frente e Fernando anda atrás se agarrando nas arvores, até que cai no chão, o lobo vira e volta até Fernando, vê então um estilhaço das grades cravado fundo na perna direita de Fernando, com os dentes o lobo puxa o estilhaço o lançando no chão, então ele lambe o ferimento, o sangue era farto na região, Fernando rasga sua camisa para amarrar a perna quando sente o lobo rosnar para ele, o lobo segue a lamber o ferimento até limpar todo o sangue sujo, então Fernando amarra o pedaço de tecido, se levanta e segue atrás de Miguel, eles saem da floresta, Fernando olha para o céu e ve uma lua nova, e não entende como Miguel se transformou, mas continua a segui-lo, eles andam mais uns metros, até Fernando desabar no chão e fechar seus olhos.

Quando Fernando abre os olhos o ambiente ao seu redor é todo branco, vê então tubos que vinham até ele com um liquido branco, reconheceu então se tratar de um hospital, tentou se levantar, mas sentiu um fisgam em sua perna, uma enfermeira que passava pelo quarto vendo a cena entrou e acomodou Fernando de volta na cama, ajeitando seu travesseiro, sua perna e conferindo seu soro:

- O que aconteceu? – Pede Fernando desconfiado:

- O senhor não se lembra? – Pede a enfermeira:

- Eu lembro o que ouve, mas como vim parar aqui?

- Pois é, é até um fato engraçado, um cachorro lhe trouxe – ele segura o riso – um cachorro bem grande na verdade, ele lhe arrastou até a porta do hospital e começou a uivar, o atendente foi ver o que era e tocar o cão embora e lhe encontrou.

- E o cão? – pede preocupado:

- Saiu correndo! – ela faz uma pausa – Mas ele volta toda a noite e fica parado la fora uivando, o pessoal do hospital já esta pirado.

- Toda noite, mas quanto tempo estou aqui?

- Você já esta aqui a uns 5 dias. Você teve um contusão seria na perna, ferimentos por todo o corpo, uma perfuração próxima a costela esquerda e perdeu muito sangue, tem sorte de estar vivo, na verdade, tem e um cão sorte de estar vivo, que raça e aquela, ele e bem grande.

- É um lobo – ele responde contendo o riso, a enfermeira se assusta, e sai do quarto, ele fala entre risos:- O meu lobo.

Ao abrir os olhos Fernando da de cara com Samanta sentada em uma poltrona de frente para ele, ela estava seria, e ao vê-lo abrir os olhos ela se levanta indo até ele, em tom sério começa:

- Quando me falaram que um cão enorme lhe trouxe até o hospital eu achei que era uma piada, quando eu vejo aquele bicho parado na porta do hospital toda noite uivando para a lua eu não quis acreditar, até uma enfermeira me falar que você disse que era um lobo, o seu lobo, ai foi o fim da picada.

- Eu estou bem sim, obrigado pela preocupação – ele fala contendo o riso – e bom dia para você também maninha, afinal faz tempo que não lhe vejo, pois quando eu acordava você não estava mais aqui.

- É, pelo visto você já trocou também seu horário do dia para a noite, foi só para ouvi-lo uivar.

- Bom na verdade foi sim, eu já pedi para a enfermeira deixar ele entrar, mas eles são bem severos com isso por aqui, nada de animais. – ele ri.

- Você acha graça Fernando, ele é um homem lobo – ela olha para os lados e baixa seu tom – ele é um homem lobo, e nossa família caça homens lobos, nos não dormimos com eles.

-Até onde me lembro você havia adorado ele.

- Isso antes de saber que ele era um deles, eu bem sentia um certo cheiro forte de cachorro, mas achei que fosse impressão minha.

- Fique sabendo que eu adoro aquele cheiro.

- Por favor meu irmão, para de agir com um adolescente vivendo um romance proibido, você não é Romeu, e se fosse, eu não quero aquele fim para você.

- Maninha, ele me tirou do meio da matilha, eles provavelmente iriam me matar ou algo parecido – ele ri – mas ele me tirou de la, e me trouxe sei –la como até a porta do hospital, eu nunca faria mal a ele.

- Eu sei disso não to falando pra você matar ele, mas pelo menos para se afastar. É perigoso, para todos.

O médico entra no quarto, cumprimenta Samanta com a cabeça e sorri para Fernando:

- E ai, meu paciente mais famoso dos últimos tempos.

- Famoso, eu por que?

- Bom, eu diria que ser trazido ao hospital por um lobo já e motivo suficiente, e ser esperado por este lobo ajuda muito mais – o médico ri.

Fernando o acompanha no riso, e Samanta fica séria, pega sua bolsa e sai porta a fora, quando chega lá fora, faz a volta no hospital a procura de Miguel, encontra o lobo uivando embaixo do que seria o quarto de Fernando, uivando olhando para o segundo andar, ela chega perto dele:

- Eu não sei como nem porque, mas é perigoso para você e para ele, isso não é certo, se afastem, se afasta dele, é o melhor para os dois, e você sabe que eu estou certa, parem de agir como dois adolescentes vivendo um romance proibido, isso não é um filme de romance, isso é vida real.

O lobo a encara em silencio, olha para o segundo andar, para o quarto de Fernando, uiva mais uma vez, se vira para a estrada e vai embora, Samanta pega o caminho inverso e volta ao estacionamento do hospital, se aproxima de seu carro, pega as chaves na bolsa, e ouve um barulho atrás de si, olha para os lados, mas estava tudo vazio, apenas alguns carros ocupavam as vagas destinados aos funcionários do hospital, ela se vira para seu carro, põe a chave na porta, e cai no chão, em seu pescoço um seringa vazia, ela e puxada pelas pernas.

Comentários

Há 1 comentários.

Por PedrãoC em 2016-03-05 23:53:51
Muito bom mesmo ! Parabéns