Cap. 07:
Parte da série OS FILHOS DA LUA
Legna ajeitou a fita no braço do novo amigo!
- Só há duas noites no ano quando os Demônios realizam essa cerimônia de casamento. Samhain e Beltane. Sendo assim, não desmaie, porque vai perder a cerimônia de hoje, e então terá de esperar seis meses pela próxima.
- Não pretendo perder meu casamento, Legna. Estou um pouco nervoso, é verdade, mas não vou desmaiar. A menos que as emoções sejam intensas demais e... Legna, como consegue filtrar tudo isso?
- Acho que já me habituei. Desprezo o que é inútil e bloqueio o que me perturba. Levei alguns anos para aperfeiçoar as barreiras que utilizo agora. Quer que eu me afaste? Acha que vai ajudar em alguma coisa?
- Não, por favor. Você é a única que me mantém em pé no momento.
- É interessante que minha empatia a afete sem nenhum esforço de sua parte, mas quando absorve os poderes de um homem você tenha de se concentrar para usá-los.
- Às vezes fico em pânico, também. Mas acho que é a fonte do poder que determina minha reação. Os homens precisam se concentrar para usar suas habilidades. Você, ao contrario, tem de se concentrar para não usar as suas.
- Não é bem assim. Transportar exige grande concentração.
- Isso explica por que estou aqui, não explodindo no Peru ou em algum outro lugar qualquer.
Legna riu.
- Pronto - disse. - Você está lindo.
- Obrigada. Por tudo. Devia ser Corrine ao meu lado, mas ela esta tão doente! E você sempre me tratou com bondade e generosidade. Isso significa muito para mim.
- Para mim também. Fico honrada por saber que me considera digna de ocupar o lugar de sua irmã.
- E eu fico muito feliz por poder contar com sua amizade. Depois do que aconteceu...
- Esqueça. Também cometi erros e gafes quando estava sendo treinada. É normal. Podemos ir?
- Sim, é claro. Só preciso entender por que tenho de congelar o traseiro no meio do bosque!
Legna riu.
- É a tradição. Seu parceiro deve encontrá-lo e carregá-lo para o altar. Isso simboliza a intenção de nunca permitir que nada os separe. Levá-lo ao altar simboliza seu dever de ajudá-lo a superar obstáculos para que, juntos, vocês possam viver momentos de intensa felicidade.
- É muito romântico. Mas um pouco machista...
- Não é nada machista. Dividir responsabilidades e um dos pilares da igualdade. A noiva no caso o noivo, deve amarrar a fita que simboliza o acordo de união no pulso do noivo. A fita branca simboliza honestidade, amor e fidelidade, e deixando-se amarrar, o noivo declara que sempre proverá a ao outro e a família, como o outro o proverá também. O preto é a promessa de que eles farão tudo que puderem para proteger a união, os filhos e a perpetuação da essência de nossa cultura.
- Mas você amarrou uma fita vermelha a ponta da fita preta. O que isso significa?
- Não há uma explicação. Senti que seria justo lembrar que você tem sua própria cultura, e que ela terá o mesmo direito a perpetuação em seus filhos.
- Ah, agora estamos falando como progressistas!
- Ei, eu nunca disse que era antiquada! Agora vá. Vou avisar Jacob que você está pronto e esperando por ele. Boa sorte. Desejo que seja muito feliz!
- Obrigada, Legna.
Isac ficou sozinho no bosque, sentado sobre uma pedra ao lado de um pinheiro. Depois de ajeitar o casaco cor de prata e as fitas, ele cruzou os braços para resguardar o calor do corpo. A noite era gelada, e podia sentir cheiro de neve no ar, embora fosse apenas outubro.
- Depressa, Jacob. Estou congelando o traseiro nessa droga de frio!
- Vim o mais depressa que pude, considerando que seria mais sensato percorrer os últimos metros a pé.
Isac virou-se sorrindo e ficou em pé, saltando para os braços de Jacob.
- Já posso ate ver a cena em alguns anos... Papai, como foi o dia de seu casamento? Ah, meu filho, as primeiras palavras que sua mãe disse foram: "pensei que ia ter de casar com o traseiro congelado!".
- Muito romântico.
- É uma chance considerável. Venha, meu pequeno, quero me casar com você a tempo de desfrutar da lua cheia. - Ele a tomou nos braços para carregá-lo. - Infelizmente, vamos ter de ir caminhando.
- De minha parte, não tenho do que reclamar.
- É melhor parar de beijar minha orelha, ou vou acabar tropeçando e caindo. E você não vai gostar do tombo. Vai sujar seu casaco.
- Siga em frente, Defensor. Eu posso esperar mais um pouco... Bem pouco!
- Fique quieto! Quero chegar na cerimônia do meu casamento com um mínimo da minha dignidade intacta. Pelo Destino, em que estou me metendo?
-Agora... em nada. Em uma hora, mais ou menos... Espero que em mim.
- isac!!
- Por que estão demorando tanto? - Elijah reclamou.
- Seja paciente - Legna o censurou, encolhendo-se ao lado do irmão. Ele a manteria aquecida enquanto os três esperavam pelos noivos.
- Jacob! Ponha-me no chão imediatamente, ou vou acabar me casando com outro!
A voz de Isac soou estridente na noite gelada, meio aborrecido, meio debochado. Os três convidados respiraram aliviados, mas não por muito tempo. Jacob realmente carregara o noivo desde o bosque, mas sobre um ombro, exibindo o traseiro de Isac sob o conjunto prateado.
Elijah não conteve o riso. Legna emitiu uma exclamação horrorizada. Noah manteve-se imóvel.
- Por que a surpresa? - o Rei perguntou. - o que esperava desses dois?
- Você merecia o castigo, seu provocador!
- Jacob, por favor, está me embaraçando!
- E sair do bosque com uma ereção visível num raio de quilômetros não teria sido embaraçoso?
- Eu já pedi desculpas!
Jacob deixou o noivo no chão diante do altar. Isac encarou o trio que os esperava, ajeitando os cabelos que haviam caído sobre seu rosto. Ele agia como se estivesse chegando em uma limusine.
- Isac, Jacob, coloquem-se diante do altar - Noah os instruiu serio, apesar do brilho em seus olhos. - Isac, segure a mão direita de Jacob na sua mão direita.
Ele estendeu o braço onde levava amarradas as fitas, segurando a mão do noivo.
- Agora, amarre as fitas em torno do pulso de Jacob. Enquanto cumpria as orientações de Noah, Isac sentiu Legna se colocar atrás dele e segurar seus ombros. Elijah fazia o mesmo por Jacob.
- Os dois Demônios que agora guardam suas costas ai estão para demonstrar que apóiam sua união. Eles não vão soltá-los até que a união se complete, e depois disso vocês se sustentarão, apoiarão e protegerão até o fim de seus dias. Jacob, o Defensor, amado por esse homem, guardião do coração, da alma e da vida de seu amado, ajoelhe-se diante dele para expressar reconhecimento pela benção de tê-lo como parceiro de vida, de tê-lo como sua alegria e o centro de seu destino.
Jacob ajoelhou-se e cravou os olhos nos dele.
- Isac, você é meu destino - disse, levando a mão dele aos lábios.
- Levante-se, Jacob. Isac, o Defensor, amado por esse homem, guardião do coração, da alma e da vida de seu amado, ajoelhe-se diante dele para expressar reconhecimento pela benção de tê-lo como parceiro de vida, de tê-lo como sua alegria e...
Nesse momento, Legna gritou, chamando a atenção dos presentes.
- Legna, esta me machucando! - Isac protestou ao sentir os dedos da amiga cravados em seus ombros.
Assim dizendo, Isac virou-se para ver o que perturbava Legna e identificou o terror nos olhos dela. Outro grito soou na escuridão. Um som horrível.
- Legna! - Isac segurou-a pelos braços. Noah também gritou. Havia pavor em sua voz.
Os pés e as pernas de Legna desapareciam. Ela gritava desesperada, tomada por uma horrível agonia, e agarrava-se ao amigo. Jacob tentava separá-los.
Isac compreendeu o que estava acontecendo. Havia um nome para o que testemunhava ali, e o evento tinha ramificações terríveis.
- Não! Não! - gritou, tentando manter ali o que restava de Legna, agarrando-se a ela com desespero. - Isac! Solte-a! - Jacob gritou.
- Não! Legna, lute! Não se entregue!
De repente, uma dor intensa o tomou de assalto. Uma intensa agonia. Uma explosão cor de laranja o atingiu como uma onda atômica, fragmentando seu corpo até a última molécula.
Jacob gritou ao sentir que a mão de Isac escapava da dele. As fitas se partiram. Ele e Legna haviam desaparecido por completo.
- Isac! Isac!
- Jacob, acalme-se!
- Elijah, como pode ser? Ele não é Demônio! Não pode ser intimado! Quem saberia fazer tal coisa, quem teria noção de sua importância?
Ninguém sabia responder. O chão tremeu. Lava incandescente jorrava das frestas abertas no solo. Noah extravasa sua ira. Elijah tentou conter a deflagração reunindo rapidamente nuvens carregadas de chuva. Depois, segurando o Rei pelos braços, ele o sacudiu para chamar sua atenção.
- Jacob! Noah! Não podemos perder tempo! Só nós podemos corrigir o que acaba de acontecer aqui. Temos de combinar nossas forças, e temos de começar agora! Nós três!
Jacob sabia que a situação era critica. Nenhum Demônio jamais havia escapado ileso de uma intimação. Mas Isac não era Demônio, e Legna... Lutariam por ela. Nem que fosse sua última missão como Defensor, Jacob jurou recuperar os dois e destruir aqueles que os haviam intimado.
Noah respirou fundo, recuperando a calma e reunindo forças. Não mediria esforços para os trazer de volta.
- Quatro, Elijah. Somos quatro - disse Noah. - Vá buscar Gideon. E quando os encontrarmos... - o Rei olhou nos olhos de Jacob. - É melhor lembrar quem você é e qual é seu dever. Se ela sofrer, mesmo que só por um segundo...
- Ela não vai sofrer. Jamais desapontarei a confiança que meu Rei depositou em mim. Eu juro! Elijah! Você é o capitão guerreiro! Ordeno que vá buscar Gideon agora!
Elijah partiu num funil de vento.
- Confie em mim, Noah - Jacob pediu mais uma vez. - E confie em Isac. Ele saberá o que fazer. Ele vai proteger Legna.
- Confio em vocês, Defensor. - Noah arrancou as fitas que ainda pendiam do braço de Jacob. - Espero poder terminar em breve o que começamos aqui esta noite.
- Dois pelo preço de um! - Ouviu-se uma voz masculina.
- Impossível! - exclamou outro homem.
- Não está vendo? Temos dois. Não é impossível.
- Você! Demônio! Qual é o significado disso?
Houve um assobio sinistro, longo, e em seguida Isac ouviu uma voz horrível que só escutara uma vez antes.
- É... inédito, meu amo. Dois. Dois. Não mereço uma recompensa? Liberte-me, meu amo.