Meio. Cap. 9: (final 1ª temp.)

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Acasos e DEScasos

Viu então quando Max e Fabio andaram novamente por entre as árvores, desta vez seguindo rumo aos gritos que os chamavam, que agora eles ouviam.

Tudo isso vagou pelos pensamentos de Miguel, as lembranças tão puras e lindas de uma idade em descoberta, por mais que cada um deles já estivesse com seus 20 anos, não eram mais adolescentes, mas mesmo assim eram jovens, descobrindo o mundo, descobrindo- se a si mesmos, ele mesmo reviveu suas descobertas nos olhos daqueles meninos, e agora os via ali, em sua frente materializando o desejo e o sentimento.

Fabio olhava fixo nos olhos de Max, não conseguia explicar o que sentia, palavras não eram ditas, o olhar valia por elas, era como se visse nos olhos do outro a suplica que sentia em si. Mas via também seu próprio reflexo, via o brilho castanho claro em destaque nos olhos do seu parceiro, se assim o pudera chamar, a final desde o encontro na mata não haviam sido ditas palavras, era algo tão forte que não conseguiria traduzir em silabas, quando encontrou com Max perdido no bosque nada foi pronunciado, nem um som emitido, apenas ouve aproximação, e toque, até a chegada do professor Miguel anunciando a busca de seus amigos. Mas a noite em seu quarto enquanto tentava dormir, o sono não vinha, somente o que conseguia pensar era no que estava acontecendo com ele, ele não era gay, não gostava de homens, pelo menos nunca gostara antes, ele não conseguia descrever o que era, apenas sentia, sentia algo tão forte que chegava doer no peito, uma necessidade estrondosa de estar com Max, quando Samuel o chamou para ir atrás das meninas, ele apenas o seguiu pela possibilidade de estar novamente na presença de Max. Mas isso estava errado, não podia ser, ele lembrava o que o professor Miguel dissera, que Gay não precisa ter jeito mas sim personalidade, mas qual era a sua? Ele já havia ficado com garotas e gostava, não gostava? Mas era diferente, lembrou então quando “teve” de beijar Max na brincadeira no bosque, ele não queria, ou será que queria? Será que não foi por isso que aceitou tão facilmente, e Max também não discutiu, quem sabe Max também quisesse; Mas quando o beijou, quando tocou seus lábios algo mudou dentro dele, não foi nojo, como ele imaginava que sentiria, nem repulsa, foi diferente, foi algo bom, ele sentiu a pele de Max, o hálito, era como se o mundo desaparecesse a sua volta, mas quando isso aconteceu resolveu parar, pois tinha medo de que fim diferente poderia levar, fingiu nojo cuspindo longe, mas o que queria era poder sentir de novo, mas não ali na frente dos amigos. Mas como ele poderia querer isso? Isso realmente não estava certo – e foi pensando no que era certo ou errado que o sono veio vindo, devagar, muito devagar chegou, e se apoderou de seus olhos os fechando, sua mente voou mais longe ainda, pensou na sua vida, na sua família, o que os outros pensariam, lembrou então do rosto de Max, ele não era um modelo de beleza das passarelas, tinha o rosto comum, olhos castanhos claros, cabelos do mesmo tom, era altamente tímido, não sabia como poderia ser seu corpo pois nunca o vira na piscina, imaginava que fosse muito branco, pois assim era seus rosto, braços e mãos, mas isso não importava, como poderia estar pensando em outro homem ser bonito ou não? Mas com Max era diferente, ele o conhecia a alguns anos, moravam perto um do outro, mas poucas vezes trocara palavras com o mesmo, e 0quando o fizera eram apenas cumprimentos cordiais, então como poderia explicar um sentimento pelo outro? Bom, ou quem sabe fosse esta a razão, a não tentativa de algo, a liberdade, a não esperar nada, e neste ponto ele sabia que o outro sentia o mesmo, pois aceitará o toque, o consentirá o beijo, e o permitirá sentir.

Voltando seus olhos para a realidade atual, Fabio se vê novamente olhando os olhos de Max, o silencio ainda impera sobre eles, ele ainda sente a mão de Max na sua, sente o calor do corpo do outro, então se aproxima mais uma vez, mesmo sem palavra alguma, Max o segue na aproximação, os dois sabem o que vem a seguir, mas desta vez é Max que toma a iniciativa surpreendendo Fabio, Max usa sua mão livre para percorrer o rosto de Fabio, passa primeiro pela boca do outro, depois sobre para os olhos em movimentos circulares, logo sobe para o cabelo, os aproximando mais ainda, e quando estão muito próximos Max Puxa Fabio para si, suas bocas novamente se encontram, seus olhos continuam abertos olhando um o olho do outro, como se estivesse hipnotizados, mas os olhos de Max vai mais longe, lembra do beijo ao redor da fogueira em tom de brincadeira, quando sentiu pela primeira vez o sabor que vinha de Fabio, depois no bosque sente a palma da mão do outro percorrendo sua face lhe dando um prazer indescritível, e agora isso, o puxão no ônibus, o primeiro beijo sem reservas, nenhuma palavra foi dita, em momento algum, era como se elas não precisassem serem ditas, suas mentes se conectavam invisivelmente através do olhar, até mesmo antes do clube quando olhava Fabio passar pela sua casa, quando o via na faculdade, trocavam apenas cumprimentos, mas Max sempre o percebeu, era um rapaz bonito, de atitude, simpático, mas claro, nunca imaginou que isso pudesse acontecer, os beijos não eram superficiais, ele sabia, ele entendia a angustia de Fabio, compreendia que o outro não conseguia entender o que se passava, Max também nunca olhara para meninos antes, não até ver Fabio pela primeira vez anos antes na faculdade, no começo se sentiu estranho, mas depois que entendeu apenas guardou para si, por medo, vergonha quem sabe, apenas fingiu, ou tentou fingir ser normal enquanto em seu intimo tentava afagar este sentimento. Mas agora, agora que sentia o toque de Fabio em sua mão, dentro de um ônibus, cheio de seus colegas de faculdade, onde todos poderiam ver, até mesmo casear deles, isso não os impedia de expressar seu sentimento. Mas e depois? Logo o beijo acabaria, a vida normal retornaria, como seria então? Max parou, se libertou de Fabio, sabia que não devia pensar nisso, mas não conseguia sua cabeça guiava longe, olhou fundo nos olhos de Fabio e percebeu ver a mesma duvida, logo chegariam na cidade e tudo voltaria ao normal, mas qual seria o normal que tudo poderia voltar? Ele pensou em perguntar a Fabio, mas qualquer palavra dita poderia atrapalhar o que ainda restava a ser sentido, então novamente Max se aproximou de Fabio, mas desta vez o outro o recusou, soltou sua mão e se ajeitou na poltrona, Max então se retraiu pressentindo o pior, mas então Fabio passa seu braço pelos ombros de Max, fazendo a volta e o puxando para perto, e assim ficaram, logo Max adormeceu, ou pelo menos fechou os olhos, para em seu interior não precisar ver a imagem do rosto de Fabio, mas foi em vão, assim quando fechou os olhos a face do outro chegou em cheio em sua mente, demorou até pegar no sono.

Não foi muito tempo, pelo menos não pareceu muito, logo Fabio cochicha no ouvido de Max:

- Estamos chegando, acorde. - Max então abre os olhos, Fabio retira a mão de traz dos ombros de Max, que pensa novamente em pedir sobre como seria agora, mas já era tarde Fabio já havia se levantado, estava prestes a seguir para a frente do ônibus e sair, mas então olhou para traz, olhando para Max e falou – Ei Max, você está meio dormindo ainda? – o mesmo sorriu, e puxou Max pelo braço – Vamos, a vida continua.

Os dois saem lado a lado do ônibus, quando cruzam pelo professor Miguel, ele apenas os cumprimenta com os olhos, e um sorriso cumplice, ao saírem pela porta, pegam suas mochilas no bagageiros, estavam prestes a se juntarem com Carla e Juliana quando ouvem um comentário vindo de suas costas:

- Então Fabio, ansioso para o próximo clube, quem sabe no próximo você pega o cozinheiro.

No intimo de Max ele imagina um rápida explosão de Fabio, ele nunca o vira explodir, mas dadas as circunstancias foi o que imaginou, imaginou também que tudo mudaria, como havia previsto no ônibus e visto em seus sonhos, mas não foi o que ouve, nem a explosão nem a mudança, ao ouvir aquilo, Fabio olhou para Max, não bravo nem zangado, apenas sério, pegou com a mão livre a mão de Max, e seguiu andando até se encontrarem com Carla e Juliana, de trás Max ainda escuta risos e mais risos indo direto para o locutor do último comentário; no caminho ele olha para Fabio ainda sério, mas em seus olhos Max pode vê-lo sorrir, e teve a certeza que as coisas não voltariam ao normal, bom, não o “normal” de antes.

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Bom este foi o último cap. desta primeira parte, espero que tenham gostado. Agora darei uma pausa de uma semana, e logo retornarei com a segunda parte(2ª temp.). Espero que tenham gostado!

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