Meio. Cap. 8:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Acasos e DEScasos

No outro dia pela manha, todos os jovens reunidos na porta do clube, cada um com sua mala ou bolça a espera do ônibus que os levaria de volta a cidade, ao convívio de seus familiares, a faculdade, a vida cotidiana, tudo voltaria ao normal em poucas horas; a vida agitada de cada um deles logo seria retomada.

No meio destes estava Carla, ao seu lado Juliana e Max junto delas, conversavam alegres, contavam as amenidades da ultima noite no clube, como haviam dormido mal pela ansiedade de voltar para suas casas, parecia coisa de adolescente, o primeiro passeio longe de casa, mas na verdade estes dias no clube fora uma fuga. Uma real fuga de suas vidas pacatas e monótonas, uma forma de agitar as coisas. Mas agora prestes a voltar, era engraçado a aflição em retornar.

Alguns minutos depois o ônibus chegou, os que estavam na frente foram acomodando suas bagagens no porta malas, e foram entrando, um a um, foram passando pela porta, cumprimentando o motorista, e se dirigindo a alguma poltrona, se acomodando para a viagem que levaria pouco menos de duas horas, mas o suficiente para muito mais conversa.

Carla entrou e foi puxando Juliana que por sua vez, segurava firme o braço de Max, passaram pela porta, cumprimentaram o motorista, que haviam visto apenas no dia que os trouxera ao clube, passaram pelas primeiras poltronas se dirigindo ao fundo, mas no meio do caminho Juliana e sente presa, olha para traz e percebe que na verdade fora Max que ficou preso, viu então Fabio o segurando pelo braço, Max então solta o braço de Juliana que segue pasmada para o fundo do ônibus com Carla, ela vê então Fabio e Max fazerem o mesmo percurso, mas indo mais ao fundo na última fileira de poltronas.

Ao passarem por elas Max apenas as cumprimenta com o olhar, Fabio segue como cego para o fundo, se senta na ultimo assento, e puxa Max ao seu lado. Juliana ve então Samuel entrar no ônibus como perdido, Juliana imaginava o porque, devia estar procurando por Fabio, ao avista-lo, Samuel estranha a presença de Max ao lado do amigo, se dirige ao fundo mas no caminho uma moça, de longos cabelos loiros, cintilantes olhos azuis, com uma pele clara e brilhante pela luz do sol que adentrava as janelas, o chama, indicando um lugar vago e dizendo para se sentar, Samuel se senta, atordoado pela presença da bela moça ao seu lado, curioso por ver Max ao lado de Fabio, e inquieto pela moça ter o convidado a sentar.

Do outro lado Juliana ainda olhando para o fundo observando quando Fabio pega desajeitado na mão de Max, que apenas segue o gesto; ela vê ainda quando Fabio se aproxima de Max, cada vez mais perto, ela assiste quando Fabio toca sua boca na de Max, os lábios de ambos se movendo, percebe então a cumplicidade do ato, a simplicidade do toque. As mãos de ambos continuam entrelaçadas, as bocas ainda se completam uma a outra; por um segundo Juliana se volta para frente e vê Samuel partilhando da mesma cena que ela, com a mesma cara de assombro que ela, mas no fundo Juliana percebe que não tem o que estranhar, que ela já sabia, que seu íntimo já a dizia isso aos gritos, olhou novamente para trás, mas desta vez eles não estavam mais colados, suas mãos continuavam juntas, seus olhares ainda eram guiados um ao outro, como se falassem em silencio, como se dissessem “eu estou aqui”. Juliana pensou em falar a Carla o que virá, contar tudo que sucederá, quando estava prestes a contar a amiga, se voltou novamente para Max e Fabio, os viu tão cumplices, tão tranquilos um na presença do outro, que mudou de ideia, e novamente com um reflexo olhou para frente do ônibus, Samuel estava entretido conversando com a nova amiga, mas mais a frente outros olhos a seguiram, era o professor Miguel, ele encontrou seus olhos, um sorriso no canto dos lábios indicava que ele também havia visto a cena, depois uma piscadela para ela representavam a conivência do silencio. Juliana então se deitei na poltrona, perdida em pensamentos, fechou os olhos, reviu em sua mente o beijo, a caricia, a serenidade, reviu também o pedido de silencio feito pelo professor Miguel com um simples piscar de olhos, e ai sua mente vagou e ela dormiu.

Já nas primeiras poltronas Miguel ajeitava todos em seus lugares, o ônibus já estava em movimento quando ele viu Max e Miguel darem um beijo apaixonado, tão natural quanto fora o encontro no bosque, veio então a mente de Miguel o encontro que teve com os meninos um dia antes no meio do bosque, ele havia visto que Carla, Juliana e Max entraram no bosque e logo atrás as seguindo Fabio e Samuel, resolveu então seguir também para evitar aborrecimentos futuros, já dentro do bosque, rodeado de arvores, encontrou Fabio e Max sozinhos, estavam tão próximos um do outro, então percebeu o que acontecia; Não queria interromper, então esperou, sua curiosidade e seu fraco por romantismo barato lhe fez ficar olhando a cena de desenrolar, Fabio se aproximou de Max, suas mãos se encontraram, assim como se encontraram no ônibus, seus olhos se cruzaram e ficaram fixos, eram olhares suplicantes, a respiração de ambos havia ficado pesada, perceptível pela tensão em seus músculos, Fabio tomou a inciativa e se aproximou mais de Max, a mão livre tocou a face do outro, percorreu a bochecha, passou pelos olhos, pelo nariz chegando a boca, uma caricia suave, leve como a brisa com o único intuito de sentir o calor do outro, fez então a volta não pescoço de Max, os aproximando mais, tudo ocorreu no mais legítimo silencio, era tudo tão forte, como se nem a própria natureza fizesse menção de barulho para não atrapalhar. Foi então que Miguel ouviu gritos, reconheceu as vozes de Samuel, Carla e Juliana chamando pelos amigos perdidos, Olhou novamente para Max e Fabio, mas ambos continuavam alheios ao mundo, perdidos em suas próprias ações, então teve de intervir, saiu de onde estava escondido se mostrando para eles, ao verem a presença de Miguel se separaram rapidamente, logo vieram as tentativas desenfreadas de Fabio tentando explicar que não era o que parecia, Miguel apenas os olhou, por um milésimo sequer se esquecera do porque interrompera, lembrando quando tinha a idade deles e algo parecido ocorrera, e ele também tentara desconversar, em vão claro, mas logo voltou a realidade em questão:

- Meninos, não importa o que estava acontecendo aqui, mas seus amigos os estão procurando, e é melhor vocês irem, antes que vocês tenham de dar estas explicações a eles.

- Mas Professor – ainda quis se defender mais uma vez Fabio – eu só queria deixar claro ... – Miguel o interrompe:

- Fabio, você não precisa me esclarecer nada, lembre-se o que eu disse ontem a noite, eu falei sério – olhando para Max – vamos seus amigos os esperam.

Viu então quando Max e Fabio andaram novamente por entre as árvores, desta vez seguindo rumo aos gritos que os chamavam, que agora eles ouviam.

Tudo isso vagou pelos pensamentos de Miguel, as lembranças tão puras e lindas de uma idade em descoberta, por mais que cada um deles já estivesse com seus 20 anos, não eram mais adolescentes, mas mesmo assim eram jovens, descobrindo o mundo, descobrindo- se a si mesmos, ele mesmo reviveu suas descobertas nos olhos daqueles meninos, e agora os via ali, em sua frente materializando o desejo e o sentimento.

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