Cap. 1 - Piloto

Conto de Ryan Benson como (Seguir)

Parte da série Sangue Bom

Sangue Bom

Esse é o primeiro capítulo de Sangue Bom, galera. Na verdade, essa série surgiu em minha mente desde o dia em que eu comecei a escrever o primeiro capítulo de TL - que foi mais ou menos em fevereiro do ano passado - e tinha até um roteiro programado, mas eu acabei excluindo a série por achá-la um tanto monótona. Meses depois eu li uma história aqui mesmo no site, que se chama "O namorado de minha amiga". Sim, para os que já leram, sabem quando se fala da história as pessoas se referem como a história do "cachorrão e o coelhinho". Eu particularmente derramei muitas lágrimas ao ler aquela história, foi uma experiência que eu guardarei por toda a minha vida, principalmente por saber que foi uma história verídica. Eu fiquei tão emocionado com o amor de Marcelo e Cláudio, que resolvi fazer tipo um "reflexo" da história deles. E então eu comecei a escrever Sangue Bom. Não é uma cópia da outra história, tem personagens diferentes, algumas situações parecidas, mas o que quero transmitir é o seguinte: não há nada mais lindo e mais poderoso do que o amor. Não importa se você é gay, hétero, lésbica... não importa se você é hétero e está apaixonado por um homem. Não importa se você é gay e está apaixonado por uma garota. Rótulos não significam nada. A única coisa que importa é ser feliz com quem te faz feliz. E assim eu espero que vcs se divirtam, chorem, torçam, vivam a história. Um abraço pra vcs e boa leitura! ;)

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Capítulo 1

O amor é algo que nos leva a fazer loucuras. É algo puro. Algo que pode nos transformar tanto por fora como também por dentro. E mesmo que seja um amor proibido, é incrível a sensação de se apaixonar, estar ao lado de quem ama. Meu nome é Felipe. Tenho 20 anos, cabelo castanho escuro, olhos castanhos escuros, corpo definido por freqüentar academia. Faço faculdade de engenharia e estou no segundo ano, na área de engenharia civil. Eu amo matemática e amo desenhar também, então eu tenho certeza que vou amar trabalhar com isso.

Moro num condomínio de classe média alta, em um prédio. E de lá do meu quarto, posso ver a quadra de vôlei, de longe. Não achava vôlei interessante, mas depois que vi os rapazes que costumavam jogar todo sábado... resolvi freqüentar e adorei; logo no primeiro sábado que eu coloquei o pé naquela quadra, mal sentei na arquibancada e um cara me chamou para jogar com ele. Somos amigos até hoje, faz quase dois anos que nos conhecemos. Seu nome é Leonardo, tem a mesma idade que eu, um pouco mais baixo que eu, cabelos pretos, corpo definido e olhos cinzentos. Lindo demais, pena que somos amigos.

Esqueci de mencionar: sou homossexual. E o engraçado é que Leo também é, mas temos apenas uma boa e agradável relação de amizade. Na verdade, ele foi a primeira pessoa da minha vida que soube que eu era gay, já que eu não confiava em ninguém, e fui criado em meio a uma família preconceituosa e religiosa. Meus pais não sabem e eu prefiro que fique assim mesmo. Claro, às vezes eu fico me martirizando para contar a eles, já que eles são meus pais e merecem saber, mas eu prefiro esperar o momento certo.

Leo me dá todo o apoio do mundo. Até porque ele também já passou pelo mesmo que eu, a família se afastou quando soube e até agora não falaram mais com ele. Eu dou apoio a ele também, pois isso afetou muito o psicológico dele, já que ele era muito apegado aos pais. Mas enfim...

Eu tenho uma vida normal, tento seguir em frente apesar de todo o estresse do cotidiano. Tem o estágio que eu faço durante o dia e a tarde, aonde ganho meu dinheiro, e pela noite eu vou à faculdade. Meu chefe vive pegando no meu pé, tipo, o tempo todo, e qualquer coisa que eu faço ele coloca defeito. Fazer o que... eu preciso do estágio para pagar a faculdade, então esse tempo que eu estiver engolindo sapos no estágio não vai ser para sempre, é claro. Eu gosto de sair com o Leo aos sábados depois dos jogos de vôlei, e quando o Leo está ocupado no domingo, eu saio com minha melhor amiga Bianca. Ela é uma mulher de 20 anos, tem o cabelo preto, pele bem branca, olhos cor de mel. Uma gata, mas eu sou gay, então nem pensar (risos).

Bianca, por mais que isso seja estranho, não sabe da minha opção sexual. Não é que eu não confie nela, muito pelo contrário – eu tenho é medo de que ela não goste e se afaste de mim. E se ela se afastar de mim... eu vou entrar em depressão, afinal ela é minha melhor amiga. Bem... essa é a minha vida. Eu sou gay, tenho um amigo gay, uma melhor amiga com quem me divirto sempre (devia ver as piadas baixas que ela conta, essa garota é uma figura gente); e não gosto quando alguém faz algum tipo de piadinha com gays e lésbicas.

Uma vez eu estava no ponto de ônibus, esperando meu transporte chegar, mas aí dois garotos que estavam perto de mim (inclusive até estudamos juntos há anos atrás) viram uma travesti do outro lado da rua. Então eles começaram a fazer vozinhas irritantes, comentários do tipo “olha lá, fulano, o macho da bicha ta bem ali ó...” e outros que nem quero mencionar aqui. Não sei o que a travesti fez, mas eu só sei que cortei a relação que tinha com aqueles imbecis e nem falo mais com eles hoje.

Isto me dá uma raiva imensa no peito. A população LGBTT está buscando seu espaço na sociedade, e estamos até conseguindo. Algumas pessoas já vêem isto como algo normal. Entendem que os homens se sentem bem amando outros homens, que mulheres se sentem bem amando mulheres, que travestis se vêem como mulheres e se sentem bem assim... mas ainda assim há muitas pessoas que têm a mente fechada demais, e se prendem às normas e costumes tradicionais, que apontam e condenam a homossexualidade. Isto é triste.

...

Eu estava numa tarde de domingo muito agradável com Bianca. Estávamos eu, ela e seu namorado. O nome dele era Rodrigo. Ele era loiro, bem musculoso (pelo menos era o que parecia por baixo da camisa pólo super justa em seu corpo), tinha olhos azuis, um pouco mais alto que eu e um sorriso cativante. Na primeira vez que eu o vi, há uns cinco meses atrás, eu fiquei meio bobo. Um pensamento percorreu na minha cabeça: ele é o homem mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Primeiro porque ele é loiro. Não tenho besteira de escolher somente um tipo de homem e rejeitar outros que não sejam daquele tipo; mas eu tenho uma queda por loiros, e é uma séria atração, de verdade. Nem morenos mexem tanto assim comigo como um loiro faz. E o Rodrigo... bem, ele tinha algo especial. O brilho nos seus olhos, seu jeito carinhoso e simpático com as pessoas, seu bom humor com todo mundo... eu sabia no fundo que ele era especial. Mesmo triste por ele não estar solteiro, fiquei feliz por Bianca ter a sorte de ter um namorado como ele.

Estávamos em uma mesa, na praça de alimentação de um shopping. Enquanto Bianca devorava seu sanduíche natural e dietético (ela só compra na Subway; quando vamos ao Burger King ela só falta me fuzilar com o olhar, sabe que eu sei que ela faz uma dieta eterna para perder peso). Eu e o Rodrigo nos acabamos de rir com a cara de coitada que ela faz quando nos vê comendo aqueles hamburgers grandes, suculentos e gordurosos, como ela mesma fala.

Estávamos terminando nosso lanche. Rodrigo estava contando piadas enquanto abraçava Bianca com um dos braços. Então o celular da bolsa dela tocou. Ela pegou e atendeu.

- alô... – ela disse ainda rindo com a piada recente de Rodrigo.

E então o rosto dela mudou drasticamente de expressão. Ela ficou assustada. Séria, preocupada. Depois de falar um minuto e meio no telefone, ela olhou para nós dois.

- o que foi meu amor?... – disse Rodrigo.

- minha tia Diana. Ela está doente.

Nos levantamos e saímos do shopping. Rodrigo deixou Bianca na casa dela e depois foi até o meu condomínio me deixar em casa. Chegamos lá em poucos minutos, já que o trânsito estava livre.

- obrigado pela carona Rodrigo! Diz pra Bia que depois eu vou ligar pra ela, ok?

- ok, Lipe. Nos vemos depois.

Ele me deu um abraço apertado e eu saí do carro. Voltei para casa e encontrei meu pai e minha mãe na sala, lendo um livro cada um.

- oi gente...

- oi filho – disse minha mãe sem olhar para mim – como foi a tarde?

- foi boa.

Não iria falar que Bianca recebeu uma ligação de alguém (algum parente, provavelmente) dizendo que sua tia estava doente. Eu não tinha nada a ver com isso, então não iria falar disso para ninguém.

- o que estão fazendo? Achei que não gostassem de ler.

- e não gostávamos – disse meu pai, que só naquele momento falou comigo – não antes de começarmos a freqüentar a igreja.

- igreja?

- sim. Eu e sua mãe estamos freqüentando uma igreja evangélica.

Pronto, era só o que faltava. Quer dizer, eu respeitava as pessoas evangélicas, é claro, mas o problema é que elas é que não nos respeitam. E se meus pais já tinham a mente fechada... agora a coisa ficou pior, já que a religião vai trazer a eles pensamentos totalmente preconceituosos quanto à homossexualidade.

- hum... – não me atrevi a dizer “legal” ou algo parecido. Aquilo não era legal, e eu não sou falso quanto às minhas opiniões com qualquer assunto.

- só isso que você falou?

- é... o que mais a senhora quer que eu fale?

- ora, você...

- estou com uma dor de cabeça horrível.

- dor de cabeça?

- é. Vou me deitar, acho que daqui a pouco passa.

E eu subi, deixando meus pais ali, viajando naqueles livros que eram nada menos que bíblias. Entrei no meu quarto e fechei a porta, com cuidado. Deitei na minha cama e coloquei uma musica leve no quarto, com meu celular velho. Era velho, ainda funcionava, mas a tela estava toda arranhada, às vezes ele desligava sozinho... e eu usava quase todo o dinheiro do estágio para pagar a mensalidade da faculdade, e o resto (que eu garanto, era bem pouco) eu gastava no shopping com Bianca ou comprando algo que precisava. Ganhar um celular novo, só se alguém tiver a bondade de me dar de presente de aniversário, já que meu aniversário é daqui a um mês.

...

A dona Diana era uma tia de Bianca, irmã da mãe dela. Ela morava do outro lado do país (moramos em Salvador, ela mora em Manaus). Ela já tinha vindo para cá uma vez, visitar a mãe de Bianca, e assim nós nos conhecemos. Ela é uma mulher muito divertida, cheia de vida, ri o tempo todo, super simpática, uma graça. E eu fiquei surpreso, e claro, triste por ela estar doente. Bianca e sua mãe planejaram uma viagem repentina para Manaus, e quando menos esperamos, elas já estavam saindo da cidade.

Rodrigo mal se despediu de Bianca. Quer dizer, ele a levou no aeroporto, eu e ele na verdade. Ela deu um abraço e um selinho em Rodrigo e depois me abraçou, com força. “Cuide dele pra mim, ok?...”, foi o que ela disse no meu ouvido antes de entrar na sala de embarque junto com sua mãe. Rodrigo suspirou. Eu tinha falado com Bianca na noite anterior, e ela disse que não sabia mesmo quando iria voltar para Salvador. Que torcia logo para sua tia melhorar para poder voltar para cá.

Já que aquele dia era um feriado, nem eu nem Rodrigo estávamos trabalhando. Também não tinha aula na faculdade hoje. Nós fomos para o seu carro e saímos do aeroporto.

- então... ela te disse quando vai voltar?

- bem... mais ou menos. Ela disse que não sabia quando iria voltar. Mas que estava torcendo para a tia Diana melhorar.

- eu também estou. Ela é uma pessoa tão legal, tão cheia de vida...

- verdade.

- mas... Lipe, você não me fala muito sobre você e nem eu falo muito sobre mim. Por que a gente não vai a algum lugar agora pra passear?

- é... pode ser. Não tem nada de importante pra fazer mesmo... – eu disse me lembrando dos trabalhos da faculdade, que graças a Deus estavam todos prontos.

- então, Lipe, o que você faz da vida?... Nunca me disse onde trabalha.

- eu trabalho num estágio e faço faculdade de engenharia pela noite.

- hum... super interessante. E qual a área?

- engenharia civil. A melhor de todas – eu disse sorrindo.

- ah... desculpa, mas eu discordo.

- por quê? – perguntei, surpreso.

- sei lá... nunca gostei de cálculos... na verdade, matemática é o meu horror desde pequeno!

Eu dei risada com o que ele disse. Ele também me acompanhou rindo. Sua risada era tão agradável, tão gostosa de se ouvir.

- e você, Rodrigo, faz o que da vida?

- eu trabalho em um estágio assim como você... mas no meu caso eu sou estagiário numa empresa de advocacia. E faço curso de advocacia á noite.

- que legal, Rodrigo... – eu disse – Então eu estava falando com um advogado e não sabia?! Que vergonha... (risos)

- humm... gostei do “advogado”! – ele bagunçou meu cabelo, que era liso e tinha um topete na frente.

- poxa Rodrigo... meu cabelo...

- desculpa (risos)... você é igual a mim. Odeio quando bagunçam meu cabelo.

- então por que fez comigo seu bobo?! – eu disse bagunçando o cabelo dele.

- OK, OK... – ele tentou se desviar, mas eu consegui bagunçar o cabelo dele – aff...

- (risos) viu?... Eu me vinguei!

- malvado...

Ele fez um biquinho muito fofo.

- pra onde vamos?

- vamos dar uma volta no shopping, ver um cinema. Ta passando aquele filme de terror, já está pra sair do cartaz.

- qual?

- o de terror... Annabelle, eu acho. Eu sei que você curte.

- e como você sabe?! – eu disse surpreso, já que não tinha falado isso para ele.

- a Bianca me falou. Você adora filmes de terror, adora ver a cara de pânico das pessoas ao verem a parte assustadora do filme...

- então você sabe muitas coisas sobre mim, não é, seu Rodrigo?...

- com certeza... – ele disse num tom de suspense – eu sei o que você fez no verão passado...

Eu ri muito. O Rodrigo me faz rir mais do que as pegadinhas do Silvio Santos. Ele é muito hilário, e uma coisa legal sobre ele é que ele sabe ser engraçado sem ser vulgar. Muito fofo.

Chegamos ao estacionamento. Depois de estacionar o carro, entramos no shopping e fomos comprar as entradas para o filme. Nossa, gente, o filme “Annabelle” é uma viagem... tem cenas de terror o tempo todo. E, confesso a vocês, mesmo adorando ver a cara de pânico das pessoas ao ver uma cena de terror durante o filme, eu não gosto de assistir filmes de terror no cinema aos domingos e feriados porque nesses dias o cinema enche de adolescentes (principalmente garotas) que enchem a sala de gritos quando algo assustador aparece na tela. Poxa, no máximo eu me encolho na cadeira e começo a rir baixinho (sou muito estranho); e todo mundo grita e depois fica comentando em voz alta durante cinco minutos ou mais “ai que susto”, “nossa to com medo”, “ai ainda to tremendo” e por aí vai. E é por isso que eu não gosto de assistir filmes no cinema aos domingos e feriados.

Mas hoje o filme foi bem tranqüilo. Quer dizer, “tranqüilo” não, afinal é um filme de terror e a gente se assusta o tempo todo; mas dessa vez não teve muita gritaria, acho que foi por causa do horário que a gente pegou o filme (17h15min, quando a gente entrou na sala). O Rodrigo era tão engraçado, às vezes ele pulava da cadeira quando o demônio atacava as pessoas no filme ou quando a mulher gritava de medo no filme. Eu mais ri do que me assustei, e o coitado do Rodrigo saiu do cinema tremendo.

E assim fomos dar uma volta pelo shopping mais um pouco antes de ir. Passamos no Mac e compramos sanduíches, batatas e refrigerantes. Comemos, conversamos, rimos, e o Rodrigo quase me fez engasgar com as batatas fritas fazendo cócegas em mim. Quando finalmente ficamos cansados, Rodrigo e eu voltamos para o estacionamento, pegamos o carro e fomos embora.

...

Uma música começou a tocar assim que Rodrigo ligou o rádio.

“Home – Phillip Phillips”

Eu sorri. Estava começando a musica naquele momento. Rodrigo também sorriu.

- eu amo essa musica...

- eu também.

Ficamos ali, calados. Ouvindo e sentindo a musica. Eu comecei a cantar a letra da musica e Rodrigo olhou para mim, sorrindo.

- você sabe cantar essa musica?...

- sei sim. Canta comigo.

E ele cantou comigo direitinho. Nossas vozes ficaram perfeitamente sincronizadas e no mesmo tom. Foi tão incrível. A voz dele era linda demais, eu não sabia que ele cantava tão bem.

- Rodrigo... sua voz é muito linda!

- sério?... – ele ficou vermelhinho que nem um tomate – a sua também. Foi incrível. E você sabe cantar inglês muito bem... diferente de mim, que sou um desastre (risos)!

- ah mas eu nem sei falar inglês de verdade. Eu só peguei a letra na internet e li até pronunciar tudo certinho. Se quiser eu te ensino!

- hum, eu vou cobrar hein?! – ele deu uma piscadinha.

Assim que acabou a musica, Rodrigo pegou um CD no porta-luvas e colocou no rádio. Uma musica muito linda tocou no rádio. Eu nunca tinha ouvido uma musica tão linda como aquela.

- conhece essa?

- não… ela é linda, Rodrigo… qual o nome?

- Nickelback, Far Away. Verdade, é linda mesmo. Eu mesmo chorei quando a Bianca me mostrou.

- sério? (risos)

- ah Lipe, num ri não... eu sou sensível mesmo...

- eu sei! Não estou rindo da sua sensibilidade. Estou rindo porque não achei que iria conhecer um homem que chorasse por uma musica como você está chorando...

- eu não to chorando.

- ta sim... é só olhar nos seus olhos, estão ficando vermelhinhos.

- ah eu choro mesmo... eu amo essa musica.

- eu também amei. Tem como passar pro meu celular?

- tem sim. Mas só passo se você me der seu número.

- ok – eu disse rindo.

- vai ser bom. Até porque quando você quiser ligar pra mim, conversar comigo... ou quando a gente quiser sair de novo. Sinceramente, eu adorei a sua companhia.

- eu também, Rodrigo. Eu adorei passar essa tarde com você.

Passei meu numero para ele e ele passou o dele para mim. Enquanto não chegávamos em minha casa, ele passava a musica para o meu celular.

- droga...

- o que foi?

- meu celular! – eu disse irritado – ele desligou de novo!

- de novo?

- sim... é que ele ta meio com defeito, às vezes ele desliga sozinho. E a tela touch screen ta toda arranhada, aí quando às vezes eu clico numa coisa e ele seleciona outra... to guardando dinheiro pra comprar outro celular.

- hum... – ele disse pensativo – e qual você pretende comprar?

- um LG Optimus L5. Me disseram que ele é ótimo.

- é mesmo. Meu primo tem um desse.

Para a minha, ou melhor, nossa tristeza, nós chegamos à minha casa.

- bem... assim que chegar em casa posso te ligar?

- pode ser.

- não pense que eu to sendo muito grudento... é que... sei lá, eu gosto de conversar contigo.

- sem problema, Rodrigo! Pode ligar pra mim quantas vezes quiser (risos)!

- então ta... – ele deu um sorriso.

Eu saí do carro e ele saiu também. Fomos até o portão do meu prédio (ele tinha entrado no meu condomínio para me deixar lá dentro) e ele se despediu de mim com um abraço. Ouvi ele suspirando, nosso abraço durou mais do que cinco segundos.

- a Bianca só foi hoje, mas eu já estou sentindo falta dela.

- eu sei, cara... mas relaxa, vai dar tudo certo.

- espero que sim, Lipe. – ele finalmente me soltou – até daqui a pouco...

- daqui a pouco?...

- sim (risos), esqueceu que eu vou te ligar?

- ah é (risos)... Ok, até daqui a pouco!

Ele entrou no carro e saiu. Eu entrei no meu prédio, peguei o elevador e entrei em minha casa. Assim que entrei, meus pais e mais umas três pessoas estavam lá. Todos com suas bíblias nas mãos.

- boa noite...

- boa noite, filho! – disse minha mãe – onde estava?

- passeando com o Rodrigo.

- e quem é esse? – disse meu pai.

- o namorado da Bianca.

Meus pais estavam fazendo uma cara tão estranha, de reprovação, pelo menos foi o que eu pensei.

- eu... vou para o meu quarto. Com licença.

Todos responderam e eu fui para o meu quarto. Peguei uma toalha e fui tomar um banho. Depois disso, resolvi ficar pelo quarto mesmo, esperando aqueles estranhos saírem para eu poder comer minha comida com privacidade. Esperei um pouco, usando meu PC (já que o celular estava quebrado), fuçando no facebook, vendo as atualizações de alguns amigos. E também as fotos de uma página que Leo sugeriu que eu curtisse. Era uma viagem aquela página, eles postavam todo dia fotos de homens de cueca, gays, às vezes se agarrando, gente, to falando sério, eu não era assim tão pervertido antes de conhecer o Leo (risos).

Num momento eu vi a foto de um loiro de cueca ,de barba, de tatuagens, e meu mundo parou de vez por uns segundos. Mas de repente alguém entra pela porta do quarto e eu, rapidamente, fechei a página do facebook.

- Felipe... – disse minha mãe – por que não veio jantar?

- eu fiquei distraído com o PC, até esqueci. Mas já estou indo.

- ainda bem que eles já foram... mulher, que vergonha que esse menino fez a gente passar! – disse meu pai entrando no quarto.

Eu fiquei calado, sem entender nada.

- Felipe, desde quando você raspa as pernas?! – disse minha mãe.

- desde sempre... – respondi naturalmente.

- como assim? Quer dizer que você faz isso há muito tempo e a gente nem percebeu?!

- mas... qual o problema de raspar as pernas?

- o problema, Felipe... homens não raspam as pernas!

Aquilo foi o maior absurdo que meus pais já falaram.

- pai... em primeiro lugar, homens raspam as pernas sim. Segundo, raspar as pernas é uma questão de higiene. E terceiro, se homens não raspam as pernas, isso não faz de mim um homem, não é?! – falei com sarcasmo - Fala sério, gente!

- acha que estamos brincando?! – disse minha mãe – escuta aqui, Felipe, eu não falei isso antes porque eu não percebi que você fazia essa loucura, mas se você fizer isso de novo... você vai ver só!

- o que?! Mas isso é um absurdo!! O corpo é meu e eu faço dele o que eu quiser!

- não, não é não. É o diabo que está colocando essas idéias malucas na sua cabeça, para fazer você mudar sua natureza!

- mudar minha natureza?! Que papo é esse?!

- Deus fez o homem para ter pelos! Quem raspa os pelos é a mulher! Você é homem, você não pode raspar os pelos!

- mãe, você está falando um absurdo! Eu raspo as pernas sim, e vou continuar raspando. Muitos homens raspam as pernas, os braços, o sovaco, as costas... isso não tira a masculinidade de nenhum homem! Na verdade, homens que não têm pelos no corpo chamam atenção entre as mulheres porque elas vêem que esses homens estão se cuidando! Poxa, gente...

Eu saí do meu quarto deixando eles falarem sozinhos.

- se você se raspar de novo, Felipe, Deus vai te castigar! Você sabe que desobediência é pecado!

Eu coloquei fones de ouvido e fui para a cozinha preparar algo para comer. Eu nunca tinha tido esse tipo de discussão com meus pais. Aquilo me surpreendeu, eu não imaginava que eles iriam implicar comigo só porque eu raspo as pernas.

Depois de comer, o que eu fiz rapidamente para não ter que ouvir outro sermão, voltei para o meu quarto. Tranquei a porta, coloquei o alarme no celular, escovei os dentes e fui me deitar. Assim que me deitei, peguei no sono e adormeci.

Continua...

Comentários

Há 7 comentários.

Por thsereno em 2015-03-16 23:20:04
História em Salvador, lugar certo hahaha. Esperando os outros :B
Por Andrey em 2015-02-14 16:29:47
Nossa está história é tão perfeita quanto Teen Life, fiquei um tempinho fora e já encontro você com Sangue Bom aqui, kkkkk, bom esperarei pelo capítulo 2 até lá Ryan Benson, bjos :*
Por Nickkcesar em 2015-02-10 17:31:14
Essa serie vai ser tão perfeita quando teen life . e sobre raspar as pernas , da primeira vez que fiz meus pais quase me mataram mas eu continuei raspando e hj é " normal " pra eles
Por HÓRUS em 2015-02-09 12:56:02
Amei o seu texto e vou acompanhar o decorrer dessa história sensacional. Aguardo com ansiedade o capítulo 2.
Por BielRock em 2015-02-08 22:11:11
Você como sempre arrasa nas suas histórias. Eu também li a história do Coelhinho e do Cachorrão, e adorei a história deles . Enfim , a história do Lipe também é ótima e eu gostei bastante . Ela fala exatamente como muitos jovens se sentem com os pais e com a família em geral ,porque sempre vai ter um preconceito idiota de qualquer um . O Rodrigo é um ótimo raoaz , eu gostei dele , eça minha preferência é os loiros também , adoro um loirinho forte . Chega babo . kkkkkk . Cara , continua adorando .
Por Ruth M. em 2015-02-08 21:13:40
EU tenho um LG Optimus, uhul. Mas enfim, gostei bastante dessa série, parece que vai haver muita coisa boa pela frente, e sobre raspar as pernas: eu acho o máximo isso, super quente, delírio total. E pais preconceituosos até por causa de pelos? Isso vai ser barra pro Felipe. Já estou ansiosa pelo próximo capítulo.
Por olivera em 2015-02-08 19:16:01
Gostei bem enteresante ;)