Capítulo 3

Conto de Ruth M. como (Seguir)

Parte da série Até o fim

Volto para dentro de casa e me jogo na cama refletindo sobre o que aconteceu. Arrepender eu não me arrependo, talvez um pouco de culpa por ele estar passando por aquela merda, mas ele estava bem, ele estava sorrindo, isso tem que ser bom. Fico divagando sobre o que aconteceu e acabo cochilando, acordo apenas quando ouço a porta da frente se abrir.

-Artur? Ouço minha irmã me gritar lá embaixo.

-No quarto.

-Ok

Depois de um tempo ouço ela me chamar novamente.

-Desce aqui agora, Artur.

Levanto-me desço para a cozinha.

-O que há Nanda?

-Por que há uma porção de algodão sujo de sangue no lixo?

Eu não escondia nada da minha irmã, sempre fomos bem unidos, e depois que meus pais morreram nossa relação apenas se intensificou.

-Havia uns caras batendo em um colega meu, então eu o trouxe aqui para limpa-lo e fazer alguns curativos.

-E você bateu nos caras?

Eu concordo.

-Eram cinco contra um, eu não podia deixa-lo assim.

Ela acena.

-Tudo bem. Ela tira seus sapatos e abre a geladeira. –O que mais aconteceu?

Eu suspiro. É simplesmente impossível esconder algo da Fernanda, a menina deveria deixar a veterinária e passar para advocacia.

-Depois o convidei para ficar e vemos um filme.

-E?

-E o quê?

-E aconteceu alguma coisa?

Aos quinze anos eu disse para a minha irmã sobre a minha opção sexual, ela me aceitou e me deu o completo apoio.

-Aconteceu, nós ficamos.

Ela abre um enorme sorriso.

-E como ele é?

Eu puxo uma cadeira e me sento, ela abre os armários, pega uma panela e a enche de água.

-Ele é lindo. Loiro, com dois belos olhos que se parecem com duas esmeraldas, um corpo lindo, um jeito encantador ,traços finos. Ele se assemelha a um anjo.

Olho para Nanda e ela está com uma cara estranha.

-O que foi?

-Mesmo quando você está namorando e eu te pergunto como o cara é você apenas fala: ”tem um belo par de nádegas”, “gatinho”, “fofo”, “tem cabelo grande”, mas nada como essa descrição.

-Já ia me esquecendo, ele tem uma bunda linda de morrer, causaria inveja ate em você, ele é gatinho, fofo, e o cabelo dele é levemente ondulado e cortado em um estilo surfista.

Ela ri e bagunça meu cabelo.

-Acho que alguém está apaixonado.

Eu dou de ombros e me levanto para ajuda-la a fazer a comida, jantamos e conversamos sobre outras coisas. Fecho a casa e subo para o meu quarto. Tomo meu banho, procuro por um par de boxers e me enfiei debaixo das cobertas, procuro pelo meu celular e mando uma mensagem pra o Gabriel.

“Dormindo”

Poucos segundos depois ele responde.

“Não”

“Por quê?”

“Estou lendo”

“O que?”

“Livro”

“kkk Qual?”

“Sherlock Holmes; O vale do medo”

“Parece chato”

“Nem um pouco”

“Estou te incomodando?”

“Não”

“Você está melhor?”

“Melhor que o esperado”

“Tomou o remédio para aliviar a dor?”

“Tomei”

“As contusões clarearam?”

“Bem pouco”

“Isso acontece a quanto tempo?

Ele demora a responder.

“Foi a primeira vez”

“Não minta para mim”

Ele demora novamente.

“Dois anos”

Merda! Dois anos que essa merda vem acontecendo? Ele tem que estar brincando.

“Sério?”

“Sim, desde que me assumi.”

Jogo meu travesseiro contra a porta e soco a minha cama. Merda! Merda! Merda!

“E porque você não tentou fazer alguma coisa?”

“Sempre que eu tentava fazer algo eles apenas me batiam mais.”

A visão daqueles caras batendo no Gabriel volta a minha mente, e pensar que isso acontece a dois anos.Estou completamente arrependido de não ter matado esses caras. Eu não sou uma pessoa violenta, mas se houver a chance eu não a irei descartar.

“Porque você não disse aos seus pais?”

“Meu pai se separou da minha mãe quando ele soube que ela estava grávida de mim, e eu e minha não temos um relacionamento muito bom desde que eu me assumi.”

Meu peito se aperta e eu ligo para ele.

-Oi.

-Oi.

-Como você esta?

-Feliz. Ao menos ela não me expulsou de casa.

-Eu sinto muito.

-Tudo bem.

-Não, não está tudo bem.

-Mais vai ficar.

Sua voz é fraca ao telefone e eu não insisto no assunto, mudo de assunto e conversamos sobre a escola e sobre nós mesmos. Quando já estava tarde ele disse que precisava dormir e desligou, mas eu não consegui dormir. Por volta de cinco da manhã me levanto da cama, e resolvo mandar o estresse embora, coloco meus shorts, uma regata, calço meus tênis, conecto meus fones e vou correr deixando o Ozzy gritar sua música nos meus ouvidos.

"Our destiny connected,

Invited, unexpected,

Life isn't fair, but still it

goes on (goes on)"

Volto para casa já são seis e vinte, tomo meu banho, me visto e desço para a cozinha. Nanda ainda não acordou, como meu cereal, escovo meus dentes e vou para a escola. Sento-me em um canto da quadra onde havia um pouco de sol e meu olhar foi puxado para o outro lado da quadra onde Gabriel e seus colegas estavam entrando na sala, ele parecia feliz. Eu aprecio bastante ele ter amigos que o aceitem numa boa, principalmente aquela baixinha meio oriental, ele parecem ser muito amigos.

O sinal toca, enfio minhas mãos nos bolsos e vou para a sala, me sento na minha carteira e pouco tempo depois a professora entra. Durante as aulas a única coisa que estudo é o Gabriel, ele é bem aplicado aos estudos, sua atenção esta totalmente voltada para o que o professor fala e em nenhum momento ele olha para trás. O sinal para o intervalo toca e todos saem da sala, ficando apenas eu e ele, e eu sei porque ele não sai, isso era culpa daquele bando de vagabundos no final do corredor.

-Gabriel.

Ele olha para trás e sorri.

-Oi. Eu sorrio de volta. –Venha cá.

Ele fica um pouco indeciso mas acaba por se levantar. Ele puxa uma cadeira e se senta ao meu lado, deslizo meu nariz pela curva do seu pescoço e inalo profundamente seu perfume, nada cheira como ele, algo refrescante e doce.

-Não, alguém pode nos ver. Ele fala se afastando.

-Eu não me importo.

Nossas respirações ficam ofegantes e eu me afasto.

-Porque você não sai com seus amigos?

-Eu não gosto.

-Isso tem algo a ver com aqueles abutres no final do corredor?

Ele desvia o olhar.

-Não.

-Gabriel.

-Talvez.

Eu me levanto, seguro sua mão e começo a leva-lo para a porta, mas ele resiste.

-Não Artur, não.

-Vai ficar tudo bem.

-Não. Por favor.

Eu paro e me viro para ele.

-Calma, eu não vou te obrigar a ir lá fora. Escovo meus dedos nos cabelos da sua nuca e ouço alguém chama-lo, ele se afasta deixando minha mão cair e voltar para a lateral do meu corpo.

Lucas entra na sala sorridente, abraça Gabriel e meu sangue ferve, ele o beija na bochecha e meu sangue esta borbulhando.

-Tudo bem, lindo?

Gabriel concorda.

-Precisamos conversar.

-Sobre o que? Lucas pergunta chegando mais perto.

Gabriel me olha querendo privacidade e eu suspiro.

-Conversamos depois, Gabriel. Ele assente e eu saio da sala.

Me sento em um banco colado a parede e olho para o final do corredor onde as franguinhas estão com as asinhas quebradas, sorrio para eles e Gerson tenta vir em minha direção, mas suas amigas de pena o seguram e não o deixam sair de lá. Fico totalmente confortável no banco e uma garota se senta ao meu lado.

-Oi. Ela diz.

Eu a olho da cabeça aos pés, é a ruiva amiga do Gabriel.

-Oi.

-Eu vi você encarando aqueles caras lá do fundo e vim te avisar para ficar longe deles, não vale a pena.

Eu olho para eles e percebo que alguns estão com o olho inchado, andando mancando, machucados no rosto e sorrio para mim mesmo.

-Tudo bem.

Ela percebe que eu estou rindo e me encara.

-Você fez isso?

Eu dou de ombros e a boca dela faz um perfeito O.

-Meu Deus, eu não acredito. Ela olha para e eles e depois para mim e sorri. –Quer saber de uma coisa? Já estava na hora de alguém dar uma lição nesses caras, ele se acham muito.

Ela beija minha bochecha e vai embora. Espero o sinal tocar e volto para a sala, durante o resto das aulas e tento prestar a atenção nos professores, mas é difícil.

No final da aula vejo as galinhas agrupadas, Gabriel sai e eles o começam a segui-lo de longe, eu os observo e vou atrás dele, novamente no terreno baldio eles puxam o braço do Gabriel, mas eu sou mais rápido e solto o Gabriel do aperto da mão de Gerson.

-Vão embora.

-Não. Gerson late.

Ao menos eu tentei ser diplomático. Jogo minha mochila no chão e ele parte para cima de mim tentando me acertar em um soco, mas eu desvio e lhe dou um soco na boca do estômago, ele se curva e lhe dou uma cotovelada nas costas, ele cai no chão e chuto suas costas. Outro cara vem para cima de mim, ele tenta me chutar, mas eu defendo com o meu antebraço, cara idiota, não sabe nem chutar, mas eu vou lhe mostrar como é um belo chute. Ele não é alto, então eu grito, ele fecha seus olhos por um minuto e é tempo suficiente para mim levantar minha perna e o peito do meu pé ir de encontro a sua orelha, ele imediatamente cai no chão. Outro se aproxima de mim, ele é bem alto, ele tenta me dar um soco direto, mas eu me abaixo, o seguro pelo tronco e o jogo para trás, ele cambaleia mas não cai, chuto sua coxa duas vezes, ele se desconcentra um minuto e eu soco sua cara e ele cai no chão. Um vem pelas minhas costas, mas eu lhe recebo com uma cotovelada no estômago, ele se curva e o seguro pela cabeça o fazendo vir de encontro com o meu joelho, o solto e ele cai no chão também. O último eu o puxo pela camisa e o jogo no chão em cima do Gerson.

-Não se levante. Ele concorda assustado.

Pego minha mochila no chão e vou até o Gabriel, limpo os nós dos meus dedos e acaricio seu rosto.

-Tudo bem?

Ele concorda, mas seu corpo treme. Seguro sua mão na minha e caminhamos até a minha casa, tiro nossas mochilas e sento no sofá o puxando comigo, eu o abraço e sussurro no seu ouvido.

-Calma, vai ficar tudo bem.

Suas mãos apertam as minhas costas e me deito, ele apoia sua cabeça na curva do meu braço e entrelaço minhas pernas nas suas, ele parar de tremer e afago seu cabelo com carinho, em poucos minutos ele adormece, seu pequeno corpo agarrado ao meu. Ficamos assim por horas, até que o ouço resmungar, ele se senta esfrega os olhos e coça o nariz.

-Você é tão bonitinho quando acorda. Eu digo acariciando sua bochecha.

Ele vira sua cabeça de lado e me encara por um momento e eu sorrio.

-Me desculpe. Ele passa a mão sobre o seu cabelo. –Te machuquei?

-Nem um pouco.

Eu o puxo de volta e ele se deita sobre o meu peito.

-Eu dormi muito?

-Um pouco.

Seu estômago ronca e nos rimos.

-Vamos comer alguma coisa.

Ele escora seus quadris contra a bancada e me observa esquentar nossos pratos no micro-ondas, nos sentamos á mesa e almoçamos em um silêncio confortável. Depois subimos e o levo para o meu quarto, ligo a televisão em um canal qualquer e me sento na cama apoiando minhas costas contra a cabeceira, ele tira seus sapatos e se senta no meu colo.

-Onde você aprendeu a lutar?

-Depois que meus pais morreram eu precisava de algo para me distrair, então me enfiei em um ginásio e comecei a praticar aulas de Muay Thai e Boxe.

-Sinto muito pelos seus pais. Como aconteceu?

-Eu tinha onze anos. A pista estava molhada e escorregadia e eles não conseguiram fazer a curva e caíram estrada abaixo.

-Eu sinto muito.

-Eu também.

Ele acaricia minha bochecha e me beija.

-Hoje eu conversei com o Lucas.

-E o que houve?

-Eu disse que não queria mais nada entre a gente.

Eu sorrio para ele.

-Eu gosto disso.

Ele se abaixa e encosta sua testa na minha, seus olhos se fecham e sua boca calmamente encontra a minha, sinto seus lábios macios contra os meus e ele coloca um braço em volta do meu pescoço e me puxa para mais perto, eu agarro sua cintura e correspondo ao seu beijo, nossas línguas brincam juntas de um lado para o outro, ele beija meu pescoço fazendo uma pequena trilha até a minha mandíbula e tira minha camisa fora. Ele espalha seus dedos sobre o meu peito e me acaricia.

-Você é tão lindo. Ele fala baixinho.

-Não mais do que você. Ele cora e tomo sua boca para a minha novamente. Durante toda a tarde nos beijamos e trocamos caricias, quando o sol estava quase se pondo ele foi embora, e a noite nos conversamos por mensagens até dormir.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Lucas&Bruno em 2015-01-19 12:05:10
Amei...
Por lucasapaixonado em 2015-01-19 03:11:48
Adorei sua série , sério , continua <3 mto bomm , e não demore para postar mais capitulos , obrigado :3
Por olivera em 2015-01-19 02:50:54
Gostei muito vou aconpanhar sua serie
Por paulinho12 em 2015-01-18 22:42:36
Muito bom, vc escreve muito bem!