Capítulo 01 - Surgido das lágrimas
Parte da série Príncipe Plebeu
Comecei a escrever no meu diário com a clássica "Meu Querido Diário". Escrevi essa pequena frase como o primeiro passo dado. Perguntei a minha mãe como quem não quer nada, ou pra tirar uma dúvida, se meninos tinham "diário". Foi a partir dessa pergunta que a minha mãe começou a perseguir uma história que ela não queria acreditar: A de que eu fosse gay. Ela me respondeu com toda a sinceridade possível, e com uma visível decepção no rosto, que não; meninos não tinham diário. Meninas sim, mas meninos não. Os meninos tinham "agendas", em que poderiam escrever trechos dos seus melhores ou piores dias. Então ela me encarou de uma forma que ela nunca tinha olhado. E ela manteve esse olhar frio e mudo até hoje.
Falei com a minha melhor amiga na época, a Tarcyla. Quando ela soube que queria ter um diário, ficou super feliz, e até me mostrou o dela. Estava quase lotado, muitas páginas falavam da sua festa de aniversário, da sua vida escolar, do menino que ela gostava e das vontades que sentia de fugir de casa toda vez que era contrariada pelos pais. Eu deixava alguns recados e dedicatórias no seu diário, que ela guardava com muita alegria. Foi aí que decidi comprar o meu. Juntei moedas por exatos dois meses, até comprar um caderno simples, desses de capa dura que se usa em reforços escolares.
Comprei e escondi de todos. Nos primeiros dias, ficava apenas olhando as folhas vazias e o cheiro de novo, esperando minhas primeiras histórias. Com o primeiro "Meu Querido Diário", contei sobre minha vida pessoal e escolar, meus sonhos, e minha relação familiar conturbada. Minha mãe, que sempre me tratara com carinho, tentando tapar o vazio que foi criada com a ausência presente do meu pai, que nunca me amou. Eu era o filho caçula dos seis filhos que já tinha, e filho único do seu segundo casamento.
Eu sempre gostei de meninos. Desde os 6 anos, em que brincava na rua com as meninas e ficava observando os meninos brincarem de pega-pega ou futebol. Enquanto eu brincava com as meninas de jogo da velha, pula corda e rabiscar em folhas sorteando quem de nós iria se casar e com quem, em que cidade iria morar, e quantos filhos teria, os meninos me xingavam, me achavam estranho e me apelidavam com nomes humilhantes. Principalmente no colégio.
E foi lá que aconteceu o meu primeiro romance...
Antigamente isso era desconhecido, mas hoje é popular. Sofria muito Bullying. Era empurrado de escadas, beliscado, e xingado. As meninas eram meu escudo. Enquanto conversávamos no pátio, os meninos provocavam, xingavam, mas minhas colegas sempre me defendiam. Tinha raiva de todos. Menos um. O Jonathan, moreno de cabelos cacheados, magrinho e sorriso bonito, sempre me olhava ou não ficava perto deles quando eles me xingavam. Um dia, as meninas não vieram, e meu dia foi um inferno. Correndo por todo o pátio, tentando fugir das pedradas, e pilhas que eram jogadas contra mim. Invadia sempre a sala da diretora, onde ela as vezes me salvava. Me escondi na sala de aula, e o Jonathan me seguiu. Sentei no fundo da sala, e não percebi quando ele entrou.
- Oi. - ele disse.
- Oi. Olha, eu não sei porque vocês fazem isso comigo, eu to quieto aqui, me deixa em paz. -respondi tenso.
- Calma... Não vim fazer nada com você. Só vim dizer que não concordo com o que eles fazem. - respondeu.
- Se você não concorda, porque me zoa ? - indaguei.
- Eles pegam no meu pé porque eu não falo nada, se eu não te zoar, eles também vão ficar no meu pé... - disse se sentando do meu lado e pegando na minha mão.
Minhas mãos suaram e meu coração acelerou. Ele ficou envergonhado e olhou pro chão, mas não largou a minha mão.
- Eu não sei porque, mas eu gosto de você... Te acho legal... - disse olhando pra mim e apertando minha mão.
- Ahmm... eu também gosto de você... você é legal, não me xinga e... - eu disse, sentindo meu rosto esquentar.
- E... ? De que forma você gosta de mim? - perguntou, curioso.
- Ah, eu gosto de você... mas não como amigo, tipo brincar e tal... Olhei pra baixo e ele se levantou e soltou minha mão, ficando de frente pra mim. Mas antes que ele pudesse falar alguma coisa, três das seis colegas que estudavam comigo, entraram na sala, depois de chegarem bastante atrasadas.
Nos assustamos, e ele passou por elas, dizendo um "oi". E depois que ele sumiu no corredor, elas fecharam a porta e começaram a bater palmas, comemorando.
- Para, gente! - falei envergonhado.
- Ele se declarou pra você? - perguntou uma.
- Nã-nãoo, que isso gente, ele gosta de meninas. Ele só disse que tinha pena de mim. - respondi envergonhado.
- Pena... sei... - zombou uma.
- Acho que ele ia se declarar pra você e a gente atrapalhou... - riu a terceira.
- Aff gente, nada a ver - respondi, e acabei pensando alto com um "Quem dera que fosse".
Antes que eu pudesse corrigir, elas me abraçaram e deram pulinhos com um sonoro "Hmmmm" kkkk.
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No fim do dia, ele me parou na porta da escola e disse que queria falar comigo. Eu disse pra ele me contar no dia seguinte, e ele concordou. Falou comigo de mãos dadas e quando saiu, coloquei a mão que ele havia segurado no meu rosto e quando me dei conta, minhas colegas estavam me olhando e me enchendo de perguntas. Não queria admitir, mas eu estava muito a fim dele, desde sempre. Neguei tudo, mas não tinha como negar quando no dia seguinte, ele me deu um beijo na bochecha, me fazendo ficar corado e tímido, e minhas amigas comemorando de longe. Ele queria me dizer que também gostava muito de mim, mas não como amigo.
O tempo foi passando e fomos ficando cada vez mais íntimos. Ele me defendia dos amigos dele, conversava bastante comigo, lanchávamos juntos e minhas colegas começaram a ficar com ciúmes, e por fim, elas se juntaram a nós, formando um clubinho secreto. Enquanto elas ficavam olhando pra ver se ninguém via, ele me beijava na boca e eu me sentia o garoto mais feliz do mundo.
O fim do ano foi chegando e quase todos do colégio desconfiavam que estávamos juntos. No último dia de aula, a professora presenteou os alunos com as melhores notas do ano letivo, e estávamos lá, eu, Jonathan, e minhas colegas. Fui vaiado pelos meninos, mas a professora disse umas boas verdades. Na saída do colégio, pouco antes da minha vizinha vir me buscar, ele me beijou de um jeito intenso e que me deixou meio sem ar, enquanto uma colega minha observava pra ver se não vinha ninguém e as outras colegas ficavam na rua conosco, pra avisar algo. O beijo estava tão bom que nem percebi o tempo passar. De repente a respiração dele estava pesada, e percebi que ele estava tentando segurar as lágrimas mas elas saíam sem controle dos seus olhos, num sofrimento mudo. Passei minha mão em seu rosto perguntando o que havia acontecido, e ele me revelou que estava prestes a se mudar. Nunca mais eu o veria. Então não consegui segurar as minhas lágrimas e chorei também, mas desesperadamente. Ele me abraçou, chorou junto, e disse que não queria me ver assim.
Não conseguia acreditar. Depois de sete meses de carinhos, beijos e bilhetes apaixonados, ele iria sumir entre meus dedos. Simplesmente iria e não voltaria mais. Ele me disse que não conseguia pensar em mais nada e me abraçou tentando me consolar. Ele me deu seu último beijo, e nesse momento, o portão se abriu, fazendo com que alguns colegas e a diretora que estava no fundo do corredor visse nosso beijo. Ela fez escândalo, mas eu e minhas colegas negamos tudo. Ele me deu um ultimo abraço antes de entrar no ônibus, e ficou chorando pela janela. Eu não conseguia ficar em pé e as minhas colegas me ampararam. O ônibus partiu, e ele ficou me olhando pela janela até o ônibus virar a esquina e eu continuei triste e com crises de choro por mais 4 meses. Até que meus pais decidiram por fim se mudar para outro bairro.
Doeu. Chorei quase todas as noites. Não conseguia pensar em nada que não fosse o Jonathan. Seus olhos, seu abraço, e seu beijo. O último beijo. O mais lindo e apaixonado de todos, era também o último. Sonhei com ele quase todas as noites, ele vindo me encontrar, me abraçando, dizendo que não ia se afastar de mim, que me amava, até que ele começava a desaparecer e eu acordava desesperado toda madrugada. Fiquei até doente, minha mãe me levava em vários hospitais, e sempre relatava ao médico minhas altas febres, a ausência de fome e a tristeza profunda. Fui me recuperando pouco a pouco, mas nunca esqueci. As lágrimas dele que caiam no meu rosto e se juntavam as minhas cortavam meu coração. E assim surgi. Surgi de duas lágrimas que compartilharam a mesma dor.
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Olá, meu nome é Rodrigo, tenho 19 anos...
Então gente, esse é minha primeira série, primeira postagem, primeiro tudo. Gostaria que vocês me ajudassem comentando, porque to fazendo essa série baseando na minha vida. Não sei se pode, se não é recomendado, mas decidi fazer isso pq sim. kkkkk De zero a 100%, 90% é verdade e 10% é informação omitida ou trechos ficticios criados por mim. Tecnicamente, vocês vão ler minha vida ai, então... kkkkk Apesar de ser "adulto" cronologicamente falando (tenho 19 anos, e tem gente que diz que sou mto novo, e tem gente que diz que to ficando velho), a adolescência tá chegando pra mim agora, tenho crises de choro, to assistindo animes, to shippando casais ( apesar de dizer que eu nunca faria isso pq é coisa de nerd/geek/vinhado e olha eu aqui rsrs). Enfim, me ajudem comentando se gostaram ou não, e sugestões serão bem vindas. Bjinhos :*
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