Apenas mais uma de amor... e sexo - Introdução

Conto de Rodrigo S. M. como (Seguir)

“Este é oficialmente o ponto final da minha vida.” Naquele dia eu escrevi esta frase várias vezes em uma folha de papel, mas em todas arranquei a página e joguei no lixo. A idéia de por um fim à minha vida me ocorreu muitas vezes durante aquela semana, mas o sentimento de responsabilidade me impediu. Além disso, isto seria um ato de covardia e egoísmo que ele jamais perdoaria. Ele, meu pai, meu melhor amigo, se foi sem que eu tivesse ao menos a chance de me despedir. Bom, eu estou devaneando e deixando você que está lendo sem entender nada né? Vou tentar por um pouco de ordem no meu caos mental e começar do começo.

Meu nome é César Augusto, mas todos me chamam de Guto. Tenho 17 anos, estou terminando o ensino médio e faço cursinho também. Pretendo cursar Direito, digo Filosofia. Ah sei lá! Eu tenho 1,74m de altura e peso 69kg, sou bem branco, tenho cabelos castanhos escuros e olhos da mesma cor. Meus amigos me acham muito parecido com o cantor Troye Sivan. Eles dizem que a única diferença é que eu não tenho olhos azuis. Não sei de onde eles tiraram isso, mas tudo bem, aceito o elogio. Bom eu tenho um irmão dois anos mais novo, o Nick, que está no auge da aborrecência e por isso se comporta como um rockstar dentro de casa e na escola. Ele pratica remo e isso faz com que ele seja bem forte, assim todos perguntam se eu sou o irmão caçula dele. Ele adora quando isso acontece e fica o resto do dia me zoando. Minha mãe, Maria Cândida, tem uma loja de artigos de decoração e passa lá umas 18 horas do dia dela. Meu pai se chamava Antônio e ainda é muito difícil pra mim falar dele, mas vou tentar.

Meu pai era professor universitário na Federal da minha cidade, Belo Horizonte. Era um grande profissional. Ele lecionava história e política antiga e era especialista em Roma Antiga, com 6 livros publicados. Apesar do currículo invejável, meu pai era um homem muito acessível, amante das coisas simples, da natureza, da liberdade e do conhecimento. Tinha um senso de justiça muito forte e por isso ganhou, injustamente, fama de comunista no meio acadêmico. Certa vez escreveram no quadro-negro antes que ele entrasse na sala de aula: Petralha filho da puta. Em resposta meu pai escreveu um artigo no jornal da universidade sobre discursos de ódio e como isso representava um exercício antidemocrático. Enfim, meu pai era meu ídolo. Nós conversávamos por horas como dois amigos. Ele se empolgava com meus planos de cursar filosofia e nós só parávamos quando minha mãe se aproximava, pois ela não suporta a ideia e quer que eu seja advogado, como todos os homens da família dela.

Há um ano e meio atrás minha vida desmoronou. Por volta das 23 horas de uma sexta-feira, meu pai estava voltando da faculdade quando parou em um sinal vermelho de uma avenida pouco movimentada da cidade. Foi quando 2 homens armados o abordaram. Meu pai foi assassinado em uma tentativa de assalto. A polícia ainda trabalha com a hipótese de que ele tenha reagido, eu tenho absoluta certeza que não foi isso, mas não importa mais. Meu pai está morto e com ele um pedaço de mim. A notícia caiu como uma bomba na minha família. Minha mãe e o Nick entregues à dor não eram capazes de raciocinar de forma prática. Minha sorte foi que meu tio Eduardo tomou todas as providências para o velório e eu precisei apenas falar com a imprensa em nome da família.

Duas semanas depois, passada a fase das visitas de condolências, minha casa parecia outro lugar que eu não mais reconhecia. Minha mãe passava os dias pensando em como conseguiria manter seu padrão de vida caríssimo sem o meu pai. Meu avô materno foi um advogado importante que participou da Assembleia Nacional Constituinte de 1987, fez fama e fortuna nos anos seguintes, mas após sua morte nenhum dos 4 filhos foi capaz de administrar o que herdou desse patrimônio. Nós vivíamos do salário do meu pai, que era muito bom, e das vendas de seus livros. A loja da minha mãe dá mais prejuízos que lucros, é apenas uma forma dela se manter relevante para as amiguinhas ricas dela. O que meu pai nos deixou seria mais que suficiente para vivermos, se não fosse a alienação da minha mãe. Meu irmão encontrou uma fuga para a dor se ausentando o máximo possível de casa. Eu o via apenas na escola. Isso quando ele aparecia por lá, já que depois da morte do meu pai o Nick se aproximou muito do João Pedro, um primo nosso da parte materna, de 22 anos. Apesar de o Nick ter apenas 15 anos, João Pedro levava ele e outro primo nosso, o Saulinho, para todos os lugares onde ia, leia-se, baladas e mais baladas.

Assim, eu fiquei ainda mais sozinho do que já era. Não tinha nenhuma conexão com o mundo externo depois que perdi meu pai. Só ia à escola e ao cursinho. Depois voltava para casa, me trancava no quarto e só saía de lá para comer e ouvir os delírios megalomaníacos da minha mãe. Até que numa quinta-feira igual a tantas outras conheci Caio. Foi quando as coisas começaram a mudar...

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