O Principe e Eu (Parte 4: Vodca)

Conto de riick como (Seguir)

Parte da série O Principe e Eu

Quatro

Vodca

O restante da semana se passou em um piscar de olhos e sem grandes acontecimentos após o estranho, porém agradável momento que eu havia compartilhado com o príncipe Thomas. Eu o via quase sempre em algumas classes que compartilhávamos e regularmente à noite em nosso dormitório onde conversávamos um pouco antes de irmos dormir.

Griffin havia sido construída há muitos séculos aos arredores de Londres, e, sendo um colégio interno para homens fora o berço de muitas figuras importantes na história da Inglaterra. Ser um colégio inteiro, porém, também significava que os fins de semanas podiam ser particularmente entediantes já que não era permitido aos discípulos deixarem o colégio exceto em dias específicos e com a autorização de seus pais. Em busca de sanar esse problema da falta de entretenimento para a maioria de seus ilustres alunos, a escola Griffin costumava trazer algumas benesses para os estudantes nesses fins de semana, como eu viria a aprender naquele meu primeiro sábado quando um estande da cafeteria Starbucks e outra da padaria Gregg’s fora montada no centro do refeitório onde normalmente ficava o Buffet. Fora um momento de grande alegria para todos, especialmente para mim, sendo um viciado nas batidas de sorvete e café.

A fila em frente ambos os estandes era palpável e o barulho de tantas vozes unidas era ensurdecedor mesmo em um salão de proporções catedráticas como a cafeteria do colégio. Em uma situação como aquela meu instinto seria o de me afastar e não me dar ao trabalho, mas como aquela era uma situação especial. Respirei fundo, atravessei o mar de pessoas e cheguei até o final da fila, pacientemente esperando até que chegasse a minha vez de ser atendido pelo estressado funcionário de boné verde e avental que me cumprimentou com um típico “Bem vindo ao Starbucks, o que você vai querer hoje?”. Pedi um Frapuccino de chocolate com café, passando a quantia em meu cartão alimentício e esperando a bebida no balcão lateral.

A atendente chamou por meu nome e peguei o copo de suas mãos, enfiando o canudo com avidez e chupando o conteúdo até minha garganta, sentindo a doce mistura gelada do chocolate e o café descer até meu estomago. Quando me desvencilhava do mar de pessoas vi meus três amigos: Martin, Daniel e Kyle acenando para mim. Fui até eles e nos dirigimos para fora da cafeteria, até o jardim.

Era um daqueles raros dias ensolarados de começo de inverno. O céu estava claro e azul, com poucas nuvens à vista. Nos sentamos no chão, observando o nada e sentindo a brisa gelada em nossos rostos. Tomei mais um pouco do meu Frapuccino e Martin quebrou o silêncio, me perguntando sobre minhas origens, que eu respondi da melhor maneira possível enquanto tentava não me sentir muito envergonhado.

“Se a sua mãe é brasileira e seu pai é italiano, de onde vem o Smith do seu sobrenome?”, perguntou Martin.

“O meu avô se casou com uma inglesa que morava na Itália, e eles tiveram meu pai, que depois se mudou para Londres e se casou com a minha mãe. Em resumo, o Smith vem da minha avó.”, respondi sem entrar em muitos detalhes, não me sentia confortável falando sobre a minha família desinteressante para pessoas como eles, mesmo que considerasse os três como meus amigos. Daniel me perguntou sobre minha escolha universitária e eu, como havia feito com Thomas, expliquei a ele sobre minhas aspirações ao Direito. Ele me desejou sorte, mas eu podia ver em seus olhos que não era algo que ele desejaria fazer. Daniel era filho de uma famosa escritora de livros de terror, o que explicava a obsessão do filho dela por Zumbis. Kyle era filho de um diplomata inglês e já havia morado em vários países antes de retornar à Inglaterra para estudar no colégio Griffin. Era por isso que ele estava sempre ao telefone, conversando com algum de seus amigos de lugares exóticos como a China, a Índia e do Oriente Médio. Martin era filho de um juiz da suprema corte e que, segundo ele, ficaria extasiado se escutasse meus planos de cursar Direito. Admirei meu amigo por um momento. Não devia ser fácil ter que desapontar as aspirações de um pai, ou pelo menos nunca fazia parecer fácil nos filmes quando o menino rico decide fugir à vontade de sua família. Sorri com solidariedade para ele, tentando mostrar que eu suportava sua decisão de seguir seu sonho de se tornar um piloto e Martin sorriu de volta. Continuamos a conversar até que o sol começou a sumir no horizonte quando decidimos voltar para dentro do calor da escola. Resolvemos nos separando logo em seguida, cada um de nós tinha algum afazer naquela tarde e combinamos de nos encontrarmos no refeitório na hora de jantar.

Resolvi seguir até a biblioteca. Eu tinha muito que fazer na próxima semana e sempre fui do tipo que gostava de deixar tudo pronto antes da hora. É desnecessário dizer que a biblioteca de Griffin devia ser tão grande quanto à biblioteca nacional, já que tudo na escola parecia excessivamente ostentativo. Estantes e mais estantes enchias os dois andares do prédio exclusivo que era usado para estocar todos os volumes, novos e velhos, do acervo do colégio. Ali havia exemplares exclusivos apenas aos alunos da prestigiosa escola e que contavam não apenas a história política, mas a vida de muitas das figuras que os estudantes vinham a conhecer durante suas aulas. Naquele sábado o lugar ainda não se encontrava muito cheio exceto por alguns meninos sentados estudando seus livros e... Thomas. Sentado em uma cabine privada o príncipe tinha um volume grosso a sua frente. Os olhos dele estavam concentrados e passavam rapidamente de um lado para o outro, absorvendo a informação. Pensei em não incomoda-lo mas me senti compelido a ir até Thomas, que não havia percebido a minha presença até que bati duas vezes no vidro da porta que o separava do restante do ambiente. Quando me viu Thomas esboçou um sorriso e se levantou, abrindo a porta para que eu entrasse no espaço apertado com ele.

O saludei com uma boa noite que ele devolveu educadamente antes de se sentar de volta em sua cadeira. Pude ver que o príncipe lia um exemplar sobre a história da História da Arte e se encontrava no período renascentista, com a figura da capela sistina e da estátua de Daví de Michelangelo em cores vibrantes estampada na página aberta. Pelo jeito a decisão dele de cursar História da Arte era séria e me senti mal novamente por tê-lo julgado no outro dia. Para compensar pedi para que Thomas me falasse um pouco sobre o que ele estava lendo e pude ver os olhos dele brilharem com meu interesse.

“Esse é o melhor período, em minha opinião. A atenção aos detalhes e à anatomia. A técnica que usavam para dar vida aos tecidos. As expressões. Tudo era tão perfeito que você se pergunta se são realmente pinturas ou se na verdade são fotografias emolduradas.”, ele falava com uma paixão verdadeira pelo assunto e eu o observava de volta admirado.

“Bom, é melhor eu ir, preciso ler algumas coisas também e aqui não tem espaço para nos dois.”, falei um pouco desapontado de ter que deixa-lo quando Thomas me respondeu com um alegre: “Eu vou com você!”. Acabei me desviando dele para que ele não me visse corar.

Seguimos até uma mesa mais afastada e colocamos nossos livros sobre a superfície de madeira. Nenhum de nós falou mais nada, mas havia algo naquele silêncio que era reconfortante. Depois de algumas horas lendo concentrado soltei um bocejo, me espreguiçando e involuntariamente roçando a minha perna na perna de Thomas. Olhei amedrontado para o meu colega mas ele não parecia ter sentido nada e eu suspirei aliviado, acalmando meu coração que estava acelerado.

“E-Eu preciso ir!”, falei por fim, enfiando o livro em minha mochila e saindo dali antes que Thomas pudesse falar alguma coisa. E ele falou, apesar de eu não ter entendido em meu pânico de deixar a biblioteca.

Cheguei a meu dormitório, ofegante, encostando-me na porta assim que a fechei. Pensei no que eu havia feito e me senti estúpido pela maneira que eu tinha abandonado o príncipe. Se ele perguntasse diria que tinha me lembrado de algo muito importante e que não tive tempo de explicar. Era uma desculpa esfarrapada mas que teria de servir. Eu não acreditava que Thomas se importasse muito com a minha presença naquele momento. Depois que me acalmei peguei meu celular e olhei as horas, já era de noite e o jantar devia estar sendo servido na cafeteria. Desci as escadas e encontrei o Buffet novamente montado onde mais cedo estavam os estandes do Starbucks e do Gregg’s. Servi-me de um pouco de rosbife e fui até a mesa de meus amigos que já limpavam seus pratos.

“John, você gosta de nós?”, Martin perguntou repentinamente enquanto eu enfiava um pedaço de rosbife na boca. Aproveitei a mastigação para pensar na melhor maneira de respondê-lo. Resolvi por algo direto.

“Sim. Por quê?”, falei hesitante, apesar de saber o que viria em seguida.

“Então por que você ainda não nos apresentou ao seu colega de quarto?”, e lá estava à razão de minha amizade com eles finalmente fora trazida a tona. Eu confesso que esperava que ele fosse demorar pelo menos mais uma semana para trazer o Thomas à conversa, mas Martin não era alguém dado a fazer rodeios.

“Eu não sei. Não pensei que vocês queriam conhece-lo.”, é claro que eu sabia, mas admitir a esse fato seria o mesmo que admitir que eu estivesse propositalmente não abordando o assunto.

“É claro que queremos. Ele é o maldito príncipe da Inglaterra. Sabe o que isso significa? Mulheres! Muitas mulheres. Só de sermos vistos com ele todas as garotas vão querer nos conhecer simplesmente para conhecer ele. E eu quero enganar muitas meninas durante nossas férias de verão em fazê-las pensarem que se ficarem comigo eu vou apresenta-las ao príncipe."

Eu não sabia como ele conseguia falar aquilo com uma cara séria, mas ele conseguira. E Daniel e Kyle me olhavam com a mesma obstinação de Martin e eu, sem opção, fiz a única coisa que eu podia: disse a eles que fossem ao meu dormitório depois da hora do jantar.

Terminei de comer e me despedi dos três, dizendo que precisava arrumar minha moradia para a visita deles àquela noite. Enquanto eu me dirigia de volta ao meu quarto rezei mentalmente para que Thomas não estivesse presente e que não voltasse durante toda a noite. Infelizmente assim que eu abri a porta lá estava ele deitado assistindo televisão. Quando entrei o príncipe me cumprimentou com uma boa noite e eu murmurei algo do tipo de volta. Andei até o banheiro e tranquei a porta. Olhei-me no espelho e suspirei, abrindo a torneira em seguida. Joguei água em meu rosto, me enxuguei com uma toalha e sai do banheiro, marchando em direção a ele.

“Thomas, eu preciso lhe pedir um favor”, falei, sem olhar diretamente para ele que retirou o som da TV antes de olhar para mim.

“Certo. O que é?”

Expliquei sobre meus amigos, sobre o interesse deles em conhecê-lo, deixando de lado a parte que Martin desejava usar a popularidade de Thomas em beneficio próprio e de como eu basicamente só havia me tornado amigo deles também por causa da popularidade dele como príncipe. Ele me escutou sem falar nada e por fim acenou com a cabeça, concordando em conhecê-los aquela noite, mas não antes de adicionar:

“Mas não se esqueça de que você fica me devendo um favor.”, e então ele se levantou, pegou uma roupa e foi até o banheiro para se trocar. Por algum motivo àquela cobrança me encheu de um calor estranho no peito.

Depois da hora do jantar a porta de nosso dormitório recebeu três toques ritmados. Levantei-me e encontrei três rostos sorridentes já esperando para entrar e que não vinham de mãos vazias. Os meninos haviam trazido salgadinhos, refrigerante e sorvete. Aparentemente havia uma maratona qualquer na televisão e eles pensaram que seria legal se nós cinco assistíssemos enquanto comíamos e conversávamos. Eu olhei para Thomas e ele respondeu que achava que era uma excelente ideia. Juntamos as duas camas, a minha e a do príncipe, e fizemos uma cama única onde nos deitamos. Martin, Daniel e Kyle ficaram de um lado, pegando a parte da minha cama enquanto eu fiquei no meio, com Thomas ao meu lado, mais para o lado da cama onde sua Alteza dormia. Não era confortável já que ficar no vão dos dois colchões machucava um pouco as minhas costas mas eu não tinha coragem de chegar mais para o lado próximo do príncipe.

A maratona não demorou a começar e os salgadinhos e refrigerantes foram distribuídos e passados de mão em mão. Thomas perguntava várias coisas sobre o seriado e algum dos três meninos (ou os três ao mesmo tempo) respondiam avidamente as perguntas. Depois que o primeiro episódio acabou era óbvio o certo clima de desconforto que pairava sobre nosso grupo e uma sensação literal de desconforto sobre mim à medida que aquela posição em que eu estava se mostrava cada vez mais inconveniente. Tentei virar de um lado mas acabei apenas abrindo o espaço entre as camas e quase caindo.

“Deita mais para cá, John, assim você não cai.”, Thomas falou me puxando pela cintura e me colocando mais próximo dele. Arrepiei, sem acreditar. Lá estava eu, deitado de lado, de costas para o príncipe da Inglaterra, em sua cama. Tudo começou a girar à medida que o calor subir por meu rosto e tive que me obrigar a me lembrar de respirar. Inspira e expira... Inspira e expira, cantei mentalmente, acompanhando o entra e sai de ar de meus pulmões. Felizmente parecia que ninguém tinha percebido meu momento de pânico e excitação e Thomas levantou-se da cama, buscando alguma coisa enfiada debaixo do colchão.

“Que tal nós animarmos essa festa?”, ele falou tirando uma garrafa de Vodca do meio de uma costura desfeita na cama.

Os outros três meninos ficaram extasiados quando viram. Era óbvio que nem em seus mais selvagens sonhos imaginavam em ficar bêbados com o príncipe da Inglaterra e foi com pressa que tomavam goles da Vodka e passavam a garrafa de mão em mão até chegar de volta a Thomas, que tomou uma golada e me passou o frasco. Hesitei, beber não era uma coisa que eu fazia. Na verdade nunca havia feito e não sabia se queria. Martin olhou para mim, com uma expressão que dizia: “Você vai recusar a bebida de alguém da família real?”, e ele também olhava para mim, com seus grandes olhos azuis e seu sorriso malicioso. Sucumbindo a pressão tampei o nariz e tomei um gole, sentindo o álcool subir diretamente à minha cabeça.

Subitamente todo o clima de estranheza desapareceu e a maratona se tornou uma explosão de risos histéricos e momentos embaraçosos. Kyle largou seu celular e pegou uma caneta, jogando outra para Daniel e os dois começaram uma luta imaginaria com sabres de luz. Martin achou um óculos de aviador na mala de Thomas e o colocou, narrando sua aventura como o piloto de um caça real. Eu estava envergonhado e entretido ao mesmo tempo e Thomas gargalhava. Quando deu meia noite o monitor bateu em nossa porta, dizendo que já era hora de irmos dormir. Abafamos uma risada e meus três amigos se despediram de nós, deixando o quarto na ponta dos pés. Fechei a porta e voltei a nossa cama conjunta, embriagado demais para ter força para separa-las.

Thomas estava deitado, assistindo alguma coisa. Deitei-me na minha parte da cama e percebi que ele via um filme em que os dois protagonistas trocavam um olhar longo e significativo, que logo se tornou em um beijo ardente. Demorou até que eu percebesse que eram dois homens se beijando e olhei depressa para o príncipe, que me fitava atentamente. Senti-me corar mas por causa do álcool minhas bochechas já se encontravam estavam bastante vermelhas. Desviei o olhar, mas Thomas segurou meu queixo com uma das mãos enquanto se aproximava. Eu não sabia o que fazer. Senti o ímpeto de fugir mas meu corpo não me obedecia. Um frio repentino tomou conta de mim, deixado minhas mãos e meu rosto gelados. Senti o hálito quente de Vodka de Thomas bater em meu rosto e fechei os olhos. Senti os lábios dele tocarem os meus em um beijo lento e calmo que logo se tornou em um amasso desesperado. Minhas mãos corriam suas costas e seu abdômen musculoso enquanto Thomas segurava meu rosto e deitava-se sobre mim, prendendo-me com seu peso enquanto me beijava. Ficamos nos agarrando por alguns minutos. A boca dele corria por meu rosto, beijando minha bochecha rosada indo até minha orelha. Eu devolvia com a mesma intensidade, explorando cada centímetro do rosto simétrico e forte que ele possuía. Nossas mãos se perderam em nossos corpos quando voltamos a nos beijar nos lábios até que Thomas parou de súbito, enterrando seu rosto em meu pescoço. Respirávamos com dificuldade, recuperando nosso folego depois da avidez que havíamos nos agarrado. Minha cabeça girava e eu passei a mão na testa, focando meu olhar em um ponto na parede. Sem perceber, cai em um sono alcoólico.

Comentários

Há 2 comentários.

Por jv em 2014-02-12 16:54:18
Uau adorei tudo foi ótima essa parte do conto, cada detalhe espero q continue
Por Arcanjo em 2014-02-12 04:08:56
ohhh god!!!