CAPITULO 7 – TAMBOR DOS MORTOS

Conto de Puckerman como (Seguir)

Parte da série TAWAPAYÊRA

“A sombra e a escuridão guiam os olhos famintos da noite”

- Ela não está aqui! – gritava o jovem índio interrompendo minha conversa com o pajé Butantã.

-Quem não está aqui?

-A jovem que veio com ele pajé! Ela estava na oca do curandeiro e sumiu!

-Mas como assim? Pra onde ela foi? – perguntou aflito.

-Ninguém a viu!

-Será que ela foi atrás da Serpentária? Não é possível...

-Meu jovem, aquela índia que andava com você era muito suspeita! Eu acho que você estava procurando o mal no lugar errado! Ele estava ao seu lado o tempo todo e só você não viu!

-Meu Deus... É verdade! Ela é a Serpentária! Foi por isso que o pajé da tribo anterior me cochichou pra ter cuidado com quem eu acolhia! Como pude ser tão burro e não perceber que ela estava me estudando... Maldita!

-E agora o que fará?

-EU sei pra onde ela foi...

-Diga filho, vamos ajuda-lo!

-Não pajé, muito obrigado! Mas essa luta é minha e somente eu posso enfrentar o destino!

Sai correndo da aldeia e peguei um cavalo. Eu sabia onde Jaci iria atacar, no meu ponto fraco. Ela estava indo em direção á Tawapayêra destruir a todos que eu amava! Mas não iria permitir que isso acontecesse, não enquanto eu fosse vivo. Acelerei o máximo que pude e fui em direção ao Rio negro criar uma emboscada.

Quando finalmente cheguei lá, me deparei com uma legião de índios de todas as tribos nas quais eu passei dispostos a me ajudar contra o terrível monstro. Do outro lado do rio estava ela, Jaci, Serpentária em sua forma humana.

-Enfim me descobriu!

-Sua desgraçada! Se fez de minha amiga para tentar me matar!

-Não é todos os dias que um pajé sai de sua tribo para vir atrás de mim, isso me soou divertido e eu quis participar da brincadeira! Adam meu lindo, desista e eu prometo leva-lo comigo para milhares de aventuras por ai!

-Jamais! Eu nunca mais estarei tão próximo á você que não seja para te matar! Como pode levar meu pai? Como pode matar todas aquelas pessoas em Munduruku?

-Hum, não se esqueça do delicioso índio que comi lá em Pataxó! Ah, é verdade! Você achou que estava copulando com ele não é mesmo?! Tão jovem e inocente... Você deve ser delicioso!

-Cala a sua maldita boca! Eu não te perdoo por tudo o que fez! E você pagará com a sua morte...

-Você e esses índios ai atrás de você? Assim que mostrar minha verdadeira face todos eles correm! E você sabe disso...

-Eu sou suficiente para te matar!

-Até seria, mas se você não sabe pequeno pajé, eu sou uma criatura mística! Ou seja, não posso ser morta! Eu sou a lenda! Estou aqui desde a criação, e por esse pequeno motivo ninguém poderá me matar!

Ela tinha razão, não se mata o que não existe de verdade. Serpentária a Boiuna era apenas uma lenda, um mito criado por nós, assim como currupira, o boto, a Iara... Lendas! Não se pode destruir lendas! Eu não sabia o que fazer, e pelo visto ninguém que estava observando a cena, já que no momento em que Jaci se tornou uma cobra gigante novamente, a profecia se cumpriu. Metade dos índios fugiram desesperados, os mais corajosos permaneceram ao meu lado me dando força. Aquela cobra maldita poderia até não morrer, mas sentiria dor, sentiria muita dor. Eu era um pajé e deveria agir como tal, os Deuses nos abençoam, Tupã nos protege e a natureza é a nossa maior arma. O destino ninguém sabia, mas a certeza é que eu e os quinze índios guerreiros que permaneceram ao meu lado, iriamos lutar até o fim!

...

“No troar fúnebre, tambor dos mortos. Réquiem dos mortos ressuscita os guerreiros”

A cena era devastadora, para todos os lados haviam corpos. Os 15 guerreiros foram dilacerados pela maldita rastejante que fez questão de deixar os corpos para que eu carregasse a culpa dos grandes guerreiros que lutaram ao meu lado naquela batalha sem fim.

-Eu lhe avisei que isso não teria um final feliz Adam! Eu sou uma criatura mística, não posso ser derrotada! Todos estão mortos por sua culpa!

-Maldita! Eu não vou te perdoar nunca! Me mata logo desgraçada...

-Te matar? Isso seria fácil de mais, deixarei você viver com o sentimento de culpa! Sua aldeia será a próxima, e soube que alguém de muito longe veio pra te ver, será delicioso matar a todos!

-EU TE ODEIO!!!

Como em um passe de mágica Serpentária sumiu por dentro do rio e segui caminho. Eu não poderia segui-la novamente, não tinha forças, não tinha apoio e sem sombra de dúvidas não poderia permitir que todas aquelas almas fossem perdidas por minha causa. Convoquei a todos os pajés que enviaram seus guerreiros parta a celebração do ritual dos mortos. Reuni todos os corpos em uma única pilha e fiz uma fogueira, os pajés estavam chegando com seus tambores e chocalhos, iniciaríamos o chamado das almas para a terra novamente.

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